2015
Projeto História. São Paulo, v.73, 2022.
JAN/ABR: OUTROS 1922: MODERNISMOS E MODERNIDADES NO BRASIL
Apresentação
- · APRESENTAÇÃO
- Yvone Dias Avelino, Aldrin Moura Figueiredo
Editorial
- · POR UMA POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DAS REVISTAS ACADÊMICAS NA ÁREA DE HISTÓRIA
- Luiz Antonio Dias
Artigos Dossiê
- · A HISTÓRIA CONTADA PELOS DABACURIS SELVAGENSANTROPOFAGIA E HISTORIOGRAFIA DA AMAZÔNIA
- Heraldo Márcio Galvão Júnior
- · ECOS DE 1922O MODERNISMO PARAENSE NO SISTEMA LITERÁRIO BRASILEIRO
- Fernando de Moraes Gebra
- · MODERNISMO, REGIONALISMO E O LUGAR DO FUTEBOL NA FICÇÃO DE JOSÉ LINS DO REGOUMA LEITURA DE ÁGUA-MÃE
- Bernardo Borges Buarque de Hollanda
- · REVERBERAÇÕES DA SEMANA DE 1922DI CAVALCANTI “ANTES DE TUDO” UM PINTOR ATEMPORAL
- Rodrigo Rodrigues, Aninha Duarte
- · TERRA DE ICAMIABA DE ABGUAR BASTOS E A FUNDAÇÃO DO ROMANCE AMAZÔNICO
- Marcos Valério Reis
- · UM “IDEAL MODERNO” NAS ALAGOAS DE MÃOS PRETAS
- Anderson Almeida
- · UM PAULISTA RUMO AO BRASIL PROFUNDOVIAGENS, TRADIÇÕES POPULARES E ENGAJAMENTO NACIONAL EM MÁRIO DE ANDRADE (1927-1929)
- Alberto Luiz Schneider, Samara Chiaperini de Lima
- · A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1992 REVISITADA PELA DRAMATURGIA DE CARLOS QUEIROZ TELES, SOB A DIREÇÃO DE FERNANDO PEIXOTO, NO CONTEXTO DA RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA (1972)
- Rosangela Patriota, Alcides Freire Ramos
Entrevistas
- · MARIA IZILDA SANTOS DE MATOSMEMÓRIAS, HISTÓRIAS E TRAJETÓRIA INTELECTUAL
- Luís Reznik, Paulo Cesar Gonçalves , Rui Aniceto Nascimento Fernandes
Artigos livres
- · KI-ZERBO E M’BOKOLO DUAS GERAÇÕES DE HISTORIADORES DE BILAD ES-SUDAN
- Larissa Oliveira e Gabarra, Heuler Costa Cabral
- · LATINIDADES LUSÓFONAS E CONSERVADORASO PENSAMENTO POLÍTICO DE ANTÓNIO SARDINHA (1887-1925) E PLÍNIO SALGADO (1895-1975) NAS REDES INTELECTUAIS CATÓLICAS ENTRE PORTUGAL E BRASIL NA DÉCADA DE 1920
- Pedro Ivo Dias Tanagino
- · PLANOS DE ASSISTÊNCIA AOS DESVALIDOS DAS SECAS NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL (1878-1915)
- Jose Freitas Sousa
- · TRABALHO E ADOECIMENTO NO GOVERNO VARGAS (PARAÍBA, 1930-1945)
- Leonardo Querino Barboza Freire dos Santos
Resenhas
- · HISTÓRIA SOCIAL DA POBREZA NO BRASILFONTES, MÉTODOS E INTERPRETAÇÕES
- Avelino Pedro Nunes Bento da Silva
- · MARCO NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA NEGRA NO BRASILO MASSACRE DE 17 DE NOVEMBRO DE 1889
- Ênio José da Costa Brito
Notícias
- · O FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DO BRASIL (1954)UM RETRATO PELA IMPRENSA
- Bruna Carolina de Oliveira Rodrigues
Publicado: 2022-05-01
L’épistémologie historique: Histoire et méthodes | Jean-François Braunstein, Iván Moya Diez e Matteo Vagelli
Jean-François Braunstein | Foto: Zoé Ducournau
L’épistémologie historique. Histoire et méthodes (Paris: Éditions de la Sorbonne, 2019), organizado por Jean-François Braunstein e seus ex-alunos Iván Moya Diez e Matteo Vagelli, reúne algumas das comunicações apresentadas nas edições de 2015 e 2016 das Journées d’épistémologie historique.
Mais ou menos no mesmo período, meu colega Marcos Camolezi e eu fizemos e publicamos, no segundo número da revista Intelligere, uma entrevista com Braunstein, então supervisor do nosso estágio de pesquisa na Université Paris 1. Num dos momentos mais interessantes da conversa, Marcos lembrou que, nas décadas finais do século XX, a Epistemologia Histórica “parecia uma ocupação de velhos, um assunto fora de moda” e, antecipando uma resposta vindicadora, questionou: “qual a situação da epistemologia histórica hoje?” (Almeida; Camolezi, 2015, p.159). Leia Mais
A festa do Divino Espírito Santo: uma homenagem ao patrimônio cultural Marabaense | Ramon de Sousa Cabral
Festa do Divino em Marabá | Imagem: Correio de Carajás
O livro A festa do Divino Espírito Santo: uma homenagem ao patrimônio cultural Marabaense foi organizado por Ramon de Souza Cabral, que atua na Fundação Casa da Cultura de Marabá (PA), especificamente no NAEEP- Núcleo de Arqueologia, Etnologia e Educação Patrimonial. Um trabalho de pesquisa primoroso, constituindo contribuição importante para os festejos da cidade, desde a coleta das fontes documentais à escolha das imagens fotográficas que ilustram suas 200 páginas. O autor teve a preocupação de trazer histórias e trajetórias da festa do Divino Espírito Santo na cidade de Marabá. Um projeto que teve início com a preocupação da Casa da Cultura em registrar manifestações populares, memórias e práticas culturais marabaenses. A questão era não deixar no esquecimento, e sim escrever suas histórias, preservar, manter viva as diversas atividades culturais presente em Marabá. E a Festa do Divino foi o projeto que deu a largada.
A Festa do Divino faz-se presente nesse livro, não de forma homogênea, mas de forma múltipla, com representações e apropriações que o tempo deixou moldar. Em suas páginas encontramos relatos e memórias de homens e mulheres que compõem os 17 grupos do Divino da região. Ramon Cabral não apenas participou dessa escuta, mas vivenciou, acompanhou e fotografou momentos que permitiram transitar pelas especificidades da festa. Cores, fé, devoção, promessas, sentimentos e memórias cruzam-se no bailar do corpo, ao estender a bandeira, em vários movimentos. As fitas coloridas, dispostas ao vento, dão o sentido da festa. Louvar e agradecer ao Divino Espírito Santo, membro da Santíssima Trindade, é o ponto chave desse encontro ao som de cantos religiosos. Leia Mais
Os feitos e os efeitos das cotas raciais no Brasil: avanços, desafios e possibilidades | Escritas do Tempo | 2022
Professores criam grupo para defender implantação de cotas raciais na UEM | Imagen: Maringá Post
Depois de mais de uma década de intensa discussão sobre a legalidade e a constitucionalidade do sistema de vagas reservadas para negros no ensino universitário, em 26 de abril de 2012, a Suprema Corte Brasileira, por meio da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, declarou a constitucionalidade do Plano de Metas de Inclusão Étnico-Racial instituído pela Universidade de Brasília UnB). Para a Suprema Corte, as cotas, ao utilizarem do critério racial para inclusão destes homens e mulheres negras nas universidades, estavam exercendo uma política de reparação e construindo possibilidades de ampliar a igualdade material e simbólica no Brasil.
O reconhecimento constitucional das cotas pelo STF foi normatizado por meio da Lei Federal 12.711/2012, também conhecida como Lei de Cotas, que garante a reserva de 50% das matrículas nas universidades e institutos federais de educação a alunos oriundos de escolas públicas. O texto legislativo ainda estabelece que as vagas reservadas às cotas sejam subdivididas, metade para estudantes de escola públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo per capita e metade para estudantes de escolas públicas com renda superior 1,5 salário-mínimo. Em ambos os casos, também será levado em conta percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Leia Mais
Escritas do Tempo. Marabá, v.4, n.10, 2022.
- “Os feitos e os efeitos das cotas raciais no Brasil: avanços, desafios e possibilidades”
Editorial
- Editorial
- Karla Leandro Rascke, Erinaldo Vicente Cavalcante, Geovanni Gomes Cabral, Marcus Vinicius Reis
Apresentação de Dossiê Temático
- Os Feitos e os Efeitos das Cotas Raciais no Brasil: avanços, desafios e possibilidades
- Delton Aparecido Felipe, Vera Regina Rodrigues da Silva
v. 4 n. 10 (2022) Dossiê: Os feitos e os efeitos das cotas raciais no Brasil
- Cotas raciais, movimento negro e os núcleos afro-brasileiros: O caso da UEM
- Caroliny de Souza do Nascimento Cardoso, Marivânia Conceição Araujo, Daniara Thomaz Fernandes Martins
- O Movimento Negro, o NEABI/UFAL e a implementação do Programa de Políticas de Ações Afirmativas da Universidade Federal de Alagoas (2003-2022)
- Danilo Luiz Marques, Rosa Lúcia Lima da Silva Correia
- Protagonismo negro nas políticas públicas: a Lei de Cotas em tempo de avaliação no Congresso Nacional
- Arilson Dos Santos Gomes
- O Dualismo Político de Igualdades Raciais na Educação: das cotas e do engodo meritocrático para a população negra
- Amanda Salomão, Marivania Conceição Araujo; Caroliny Souza Nascimento Cardoso
- Cotas Raciais e Comissões de Heteroidentificação como Direito de Minoria: contexto e desafios
- Delton Aparecido Felipe
Artigos
- O 4 de fevereiro de 1992: história e política na Venezuela contemporânea
- Anatólio Medeiros Medeiros Arce
- Os Pretos do Rosário no pós-Abolição: experiências de uma Irmandade negra em Laguna (SC) no final do século XIX
- Julio Cesar da Rosa
Resenhas
- Patrimônio Imaterial de Marabá: a Festa do Divino em cores, fé e devoção
- Geovanni Gomes Cabral
Expediente
Publicado: 2022-04-30
Lentes/ memórias e histórias: Os fotógrafos Lambe-Lambes em Aracaju (1950-1990) | Cândida Oliveira
Lentes, memórias e histórias: os fotógrafos Lambe-Lambes em Aracaju (1950-1990) é o livro de Cândida Oliveira, jornalista e mestre em História, lançado no final do ano passado. O livro é produto de dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Sergipe, em 2020, sob a orientação do professor Claudefranklin Monteiro Santos, e sob o crivo da seleta banca: os também professores Antônio Lindvaldo Souza e Edna Maria Matos Antonio, da Universidade Federal de Sergipe, e Severino Vicente da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco.
O subtítulo que enuncia o objeto do livro é curioso para muitos. A expressão “lambe-lambe” está dicionarizada como “fotógrafo ambulante” e designa, literalmente, um dos atos da sua produção: “testar [com a língua] qual era o lado do papel fotográfico que tinha a emulsão” para não correr o risco de perder o “foco” e a “nitidez” da fotografia (Moraes, 2013, p.166). Esse processo e a estratégia de capturar imagens e vendê-las imediatamente, nas ruas, praças ou em estabelecimentos provisórios, disseminou-se na passagem do século XIX para o XX – e não é improvável que sobreviva em muitos lugares do Brasil. Cândida Oliveira já pesquisava esse assunto desde 2005, revelando conhecimento do objeto de pesquisa e convívio com os fotógrafos entrevistados, o que lhe deu a empatia necessária para a utilização da metodologia da história oral. Leia Mais
Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos | Leonardo Augusto de Carvalho
Intitulada Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos, a obra é resultado de um curso de especialização em Saberes e Práticas na Educação Básica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CESBEP/UFRJ), em 2018, na qual são condensados questionamentos que emergiram das experiências de Leonardo de Carvalho Augusto, a partir de seu trabalho na educação básica como professor de História e as reflexões alcançadas a partir da pós-graduação. Dessa forma, pode conciliar questões do mundo contemporâneo com indagações próprias ao ensino de História.
O livro tem como objeto a escrita didática em torno de um tema: a Guerra Fria. Influenciado pela teoria da história alemã atrelada à história dos conceitos de Reinhart Koselleck e da Didática da História de Jörn Rüsen, Carvalho Augusto investigou como os conceitos que dão realidade à Guerra Fria foram mobilizados e em que medida contribuíram para a constituição de um sentido a partir da narrativa dos livros didáticos. Leia Mais
Tempo & Argumento. Florianópolis, v.14, n.35, 2022.
Rompendo fronteiras: da história comparada à história transnacional
DOI: https://doi.org/10.5965/2175180314352022
Editorial
- · Editorial
- Silvia Maria Fávero Arend, Reinaldo Lindolfo Lohn, Maria Teresa Santos Cunha
- · Por uma política de valorização das Revistas acadêmicas na área de História (Editorial Suplementar)
- Fórum de editores de periódicos da área de história (ANPUH-BRASIL)
Dossiê
- · Apresentação
- Maria Inácia Rezola, Leandro Pereira Gonçalves
- · História Global como Rizoma: possibilidades e limites de uma nova abordagem
- Jaime Ricardo Gouveia, Levi Silva Lemos
- · Processos locais e História Global no estudo da Raia do Baixo Guadiana (Portugal e Espanha)
- Pedro Albuquerque, Francisco José García Fernández
- · “O Brasileiro”: sociabilidade, categorização social e estatuto transnacionais oitocentistas
- Isabel Corrêa da Silva
- · A América Latina no intercâmbio global do Museu Alemão de Higiene em Dresden (1919-1930)
- Pedro Felipe Muñoz, Stefan Rinke
- PDF (English)
- · Aparições e Devoções Marianas: a formação de uma cultura visionária em Portugal e seus usos no projeto de Restauração Católica (1917-1950)
- Carlos André Silva de Moura
- · A questão indígena durante a ditadura militar brasileira e a opinião pública estrangeira em perspectiva transnacional
- Paulo Cesar Gomes, Carlos Benitez Trinidad
- · Sob a perspectiva global: as solidariedades transnacionais das e às mulheres brasileiras exiladas na França e em Portugal
- Eloisa Rosalen
- · Para Além da Lusofonia: o Toronto Committee for the Liberation of Portugal’s African Colonies (TCLPAC) do Canadá e a Luta Anticolonial em Angola e Moçambique (1972-1975)
- Marçal de Menezes Paredes
- · A conformação de uma comunidade discursiva transnacional: intelectuais anticomunistas na América Latina durante a Guerra Fria
- Julio Lisandro Cañón Voirin
- PDF (English)
- · Cinema latino-americano, festivais europeus e redes de solidariedade
- Carolina Amaral de Aguiar
- · Los tecnócratas y la forja de redes tecnocráticas (o no) en las dictaduras ibéricas
- Angeles González-Fernández
Artigos
- · Pensar com os mitos: sobre ecologia nos boitatás de Franklin Cascaes
- Maria Bernardete Ramos Flores
- · “A exaltação da figura do advogado”: a mobilização da OAB/RS durante a prisão de comunistas em 1975
- Dante Guimaraens Guazzelli
Ensaios
- · Desequilíbrio de histórias parte II: uma iniciativa em torno de um problema
- Marcelo Rósbson Téo
Entrevista
- · Pânico moral, infância e tempo presente nos Estados Unidos: entrevista com Paul M. Renfro
- Paul M. Renfro; Igor Lemos Moreira
- PDF (English)
Resenhas
- · Aparentemente, muitas coisas
- Luciana Mendes dos Santos
Publicado: 2022-04-30
Discurso e (pós)verdade | Luzmara Curcino, Vanice Sargentini e Carlos Piovezani
Vanice Sargentini | Foto: Matheus Mazini/São Carlos Agora
O livro Discurso e pós-verdade, organizado pelos professores Carlos Piovezani (UFSCar), Luzmara Curcino (UFSCar) e Vanice Sargentini (UFSCar), resultou da quinta edição do Colóquio Internacional de Análise do Discurso (CIAD) realizada na Universidade Federal de São Carlos em setembro de 2018, que trouxe à discussão a relação entre a verdade e a ordem do discurso e o seu impacto nas sociedades democráticas. A publicação reúne textos dos palestrantes que participaram do Colóquio e traz pontos de vista oriundos não apenas da Análise do Discurso, mas também da Psicanálise e da História, de maneira que é possível ter uma visão ampla da questão da (pós)verdade dado o caráter interdisciplinar do evento.
No primeiro capítulo, Roger Chartier (EHESS/Paris), em Verdade e prova: retórica, literatura, memória e história, mobiliza diferentes autores ligados a diversos campos do saber para pensar a verdade em tempos de revisionismo histórico e distorção dos fatos. Partindo de Foucault, Ginzburg e Ricoeur, o autor aprofunda a reflexão sobre o conceito de verdade trazendo a herança grega para a discussão sobre autoria e autoridade em suas relações com o sagrado, a retórica e a prova. Assim, ele procura entender a verdade levando em conta as condições históricas de possibilidade nas quais a validade do dizer tinha que ser submetido ao crivo da prova e da autoridade. Leia Mais
Boletim do Tempo Presente. Recife, v.11, n.04, 2022.
Artigos
- Sopravviverà la storia all’ipertesto? Qualche spunto sulla scrittura della storia ai tempi di internet
- Anita Lucchesi
- Propagandas antinazistas no cinema e nos quadrinhos estadunidenses e seus usos em sala de aula
- Luca Lima Iacomini, Nathalia Santos Pezzi
- Rememorar não é apenas lembrar:o sofrimento do Holocausto como referencial ético- político
- Suzana Melo de Oliveira
- Debates sobre o Ensino do Holocausto como um tema sensível no âmbito do Ensino de História
- Jhonatan Felipe Pereira Machado
- A literatura como recurso no trabalho com a história do Holocausto nos anos iniciais do ensino fundamental
- Luzilete Falavinha Ramos, Elisa Maria Dalla-Bona
Resenhas
- Discurso e (pós)verdade
- Luciano Taveira de Azevedo
Publicado: 2022-04-29
História Unisinos. São Leopoldo, v.26, n.1, 2022.
JANEIRO/ABRIL
Artigos
- De laicas a religiosas. Las órdenes femeninas en el entramado colonial cubano de los siglos XVII, XVIII y XIX
- Arevalo Salazar Adrian, Torres Gómez de Cádiz Hernández Alejandro
- pdf (Español (España))
- Mujeres y espacios terapéuticos en Chile colonial: Las prácticas médicas del Monasterio Antiguo de Santa Clara de Santiago durante el siglo XVIII
- Alejandra Cecilia Fuentes
- pdf (Español (España))
- “Parecia que athé o Céu se fachara ao clamor do Povo aflito”: epidemia no Grão-Pará (1748-1750)
- Antônio Otaviano Vieira Júnior
- Qualidades na historiografia: notas sobre as hierarquias das qualidades usadas para designar os chefes praticantes das atividades manuais e mecânicas nos Mapas Populacionais de Minas Gerais, 1831-1832
- Rodrigo Castro Rezende
- La mirada científica imperial británica sobre la cultura y naturaleza en el desierto del Pacífico Sur Americano, 1830-1880
- jose Antonio González, Claudio Enrique llanos
- pdf (Español (España))
- “Se necesita un muchacho de 12 a 14 años para sirviente”. Niños en el servicio doméstico, Concepción y Santiago de Chile, 1860-1895
- Pedro Valenzuela Reyes
- pdf (Español (España))
- Mortalidad de niños en la Provincia de Tacna (Chile, 1900-1930)
- Pablo Sebastián Chávez Zúñiga, José Julián Soto Lara
- pdf (Español (España))
- História e documento: fato ou fábula?
- Maria Cecilia Conte Carboni, Lucrécia D´Alessio Ferrara
- Palabras silenciadas. Resistencias y control cultural durante el Estado Novo de Getúlio Vargas
- Gabriela de Lima Grecco
- pdf (Español (España))
- Vestígios de uma época: Pessoa de Morais e a historiografia da “revolução brasileira”
- Ricardo Ramos Shiota
- Mulheres e Engenharias no sul do Brasil: gênero, história e ciência
- Luciana Rosar Fornazari Klanovicz
- (Neo)fascismo à brasileira: o debate midiático entre o impeachment e a eleição de 2018
- Fabio Bacila Sahd
Resenhas Críticas
- Os movimentos da História a partir do livro Jinga de Angola: a rainha guerreira da África, de Linda Heywood (2019)
- Júlia Tainá Monticeli Rocha
- Escravidão, uma antiga serpente de múltiplas peles
- Paulo Cesar Gonçalves
Notas de Pesquisa
- The Anti-Military Collage of Sylvia Plath: Gender and North American Emotional Regime during the Cold War
- Letícia Portella Milan
- pdf (English)
- Acervos e Fontes
- A Coleção Casa dos Contos da Fundação Biblioteca Nacional
- Pablo Mont Serrath
Publicado: 2022-04-02
Ensino de História e Historiografia digital | Marcela Albaine Farias da Costa
Ensino de História e Historiografia escolar digital, de Marcela Albaine Farias da Costa, como explicitado no título, discute a relação entre os fenômenos da Historiografia escolar digital e a prática do Ensino de História em escolas da educação básica. Construído em quatro capítulos (além da introdução e da conclusão), o livro é resultado de uma tese de doutorado em História, defendida na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), sob a orientação da professora Keila Grinberg, avaliada pelos professores Anita Almeida (UNIRIO, Sonia Wanderley, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rodrigo Turim (UNIRIO) e Bruno Leal, da Universidade de Brasília (UnB).
Hoje, Marcela Costa cumpre estágio pós-doutoral na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e já é reconhecida na área de História como um dos poucos especialistas nos estudos sobre Historiografia Digital, sobretudo pelos textos que publicou e pelos laboratórios e projetos com quais se envolveu na última década. O seu livro, contudo, foi por nós escolhido por representar um objeto de fronteira entre os domínios da Pedagogia, Ciência da Informação, Ciência da História e Ensino de História e, principalmente, por sugerir, potencialmente, um modelo de trabalho acadêmico para muitos dos mestrandos que iniciam suas pesquisas acadêmicas na área do Ensino de História.
A introdução do livro é empregada para anunciar as ameaças que o ensino de história, professores e alunos de história e a população em geral vem sofrendo nesses tempos de pandemia e de obscurantismo político. A autora faz considerações autobiográficas sobre sua formação e a construção da tese, anuncia categorias e pressupostos – “o ‘digital’ como condição de pensamento” forjado mais nas práticas que no suporte (p.21) – e apresenta os quatro capítulos que constituem a obra.
No capítulo primeiro – “Cultura digital e políticas do currículo” –, a autora mapeia a presença da cultura digital nas políticas de currículo, configuradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB) e na Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Para tal, mobiliza a categoria de “ciclo de políticas” sugerindo observá-la nos documentos em suas dimensões de “política proposta”, “política de fato” e “política em uso”, baseando-se nos escritos de Stephen Ball e Richard Bowe. Ao mobilizar os três documentos, a autora confirma que as tensões e relações de poder, em um contexto de dominação e resistência, contribuem para diferentes interpretações e práticas possíveis de implementação das políticas públicas mencionadas. A autora critica a associação do termo “tecnologia digital” e “inovação” como sinônimos e denuncia as ameaças ao ensino de história (a exemplo do avanço das ideias conservadoras), bem como as respectivas implicações no fazer docente na sala de aula e no âmbito da pesquisa. Segundo a autora, os PCN apontam para a hipervalorização do “tecnicismo educacional” em detrimento da ação dos sujeitos no tempo. As DCNEB trazem a expressão “era digital”, estimulando a criação de métodos didático-pedagógicos e exigindo, segundo a autora, muito do que o professor poderia oferecer. Além disso, ainda nas DCNEB, as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) podem ser trabalhadas de forma transversal. No que diz respeito à BNCC, publicada em um contexto de forte instabilidade política, a autora destaca o apelo emocional provocado pelas TICs e a incorporação vaga do digital sem subsídios ao professor sobre o adequado emprego.
No segundo capítulo – “Cultura digital como objeto de estudo dos Professores” – pesquisadores em Ensino de História” – a autora apresenta e discute produções que incorporam “cultura digital” como objeto de estudo. A pesquisa é realizada em base de dados e anais de congressos da área de História, com destaques para três fontes: 1) eventos acadêmicos; 2) dissertações de mestrado; e 3) grupos ou linhas de pesquisa do Brasil. Ela assume que o universo pesquisado não dá conta de todos os profissionais envolvidos em práticas e trabalhos voltados para os conceitos que a sua pesquisa se propõe a estudar. No decorrer da análise, contudo, a autora constata o crescimento da utilização de termos digital e virtual nas pesquisas dos autores selecionados, principalmente nos trabalhos apresentados no Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, cujo público é constituído, dominantemente, por interessados nas práticas de sala de aula. No banco de dissertações do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória), a autora encontrou produções que ajudaram na construção do seu argumento, principalmente as que fazem referência às expressões “gamificação”, “ensino híbrido”, “tecnologias digitais”/”gamificação”, “plataformas digitais”, “aplicativos”, “Google” e “podcast”. O capítulo é encerrado com uma percepção de que é crescente a presença na produção, em termos quantitativos, no material examinado, além do aumento de trabalhos referentes à “cultura digital”, radicados nos campos da História e do Ensino de História.
No capítulo terceiro – “Cultura digital nas escolas a partir da voz dos alunos: a primeira ida ao campo da pesquisa” – a autora retoma o conceito da cultura digital no espaço escolar e aborda o uso de novas fontes de pesquisa histórica, notadamente as ferramentas da tecnologia da informação na educação (em hardware ou software), como geratriz de ensino e aprendizagem de História sem recusar, contudo, os saberes pedagógicos tradicionais e os saberes individuais dos estudantes. Propõe investigar até que ponto, na sociedade contemporânea, os níveis de modernização digital distintos no ambiente escolar e/ou a condição socioeconômica dos estudantes podem interferir na sua formação intelectual e social. Nesse ponto, a autora questiona sobre o grau de entendimento que os jovens possuem sobre as TICs e possível implicação dessa variável na relação ensino-aprendizagem. Em tal sentido, a autora manifesta sua dificuldade para constatar as possíveis deficiências geradas em decorrência da ausência de equidade no contato ou posse com as novas ferramentas. A autora também assume o desconhecimento sobre as estratégias que o público-alvo, escolhido aleatoriamente em unidades públicas e privadas, emprega para a superação dessas dificuldades. A maior parte do capítulo, contudo, é dedicada a examinar as noções de tempo histórico partilhado pelos alunos, mediante a percepção de habilidades caras à tarefa (seriação e simultaneidade, por exemplo), e as formas como representam o tempo, empregando recursos não digitais. Assim, através dos resultados de uma oficina intitulada “Representações no Tempo”, voltada à rememoração de fatos pessoais, interagentes com fatos em escalas, local, nacional e global, a autora conclui que a cultura digital é universal, atravessa costumes e condições materiais do indivíduo e está enraizada na escola, apesar das visíveis diferenças estruturais que marcam os sujeitos dessa instituição.

Estudante 2, escola, ano 9, escola B. Linha do tempo com foco na história mundial (ataque terrorista na França, rompimento da barragem em Mariana, ataque às Torres Gêmeas, furacão Katrina, morte de Michael Jackson), incorporando referências da história nacional (rompimento da barragem em Mariana e saída da Dilma) (Costa, 2021, p.138).
No quarto e último capítulo – “Cultura digital nas escolas a partir da voz dos alunos: a volta ao campo de pesquisa” –, classificado como continuidade do anterior, a autora propõe a observação e análise e o uso direto da tecnologia digital na experiência discente de narrar histórias de vida e, novamente, do modo como são relacionadas as dimensões mundial/nacional/local, em turmas do 6º e 9º ano das escolas investigadas (uma escola privada e outra pública, da rede federal de ensino, no Rio de Janeiro). A autora também objetiva investigar e descrever a preferência dos alunos pelo impresso e/ou pelo tecnológico mediante oficinas com a possibilidade de uso de material impresso e do suporte digital. No curso do capítulo, a autora confessa que, antes de ir a campo, conjecturava que os alunos escolheriam o digital, em consonância com o conceito “nativos digitais” de Marc Prensky (conceito utilizado para descrever a geração de jovens nascidos a partir da disponibilidade das informações rápidas em rede). No entanto, a autora percebeu que a ocorrência do contrário. Ela compreende tal resultado como algo plenamente justificável diante da (im)possibilidade de acesso, dos problemas de infraestrutura das instituições, o (des)estímulo das escolas, de questões legais, entre outros aspectos condicionantes. Para medir o grau de preferência dos alunos por cada meio de maneira efetiva, segundo a autora, a igualdade de acesso seria necessária tanto ao meio impresso, quanto ao meio digital. Ao final do capítulo, a autora conclui que a ideia de linearidade temporal é frequente nas representações dos alunos e que a presença dos recursos digitais não significa mudança radical, seja de emprego da “lógica da tecnologia” (p.222).
O livro que acabamos de resumir em suas principais ideias, possui, contudo, insuficiências. Algumas são pouco expressivas, como a não esclarecida e justificada definição dos marcos temporais, nos quais se inscreve a pesquisa, a excessiva repetição da descrição das turmas e das suas atividades, a exemplificação redundante de trabalhos.
Outras insuficiências apresentam maiores empecilhos a compreensão imediata do texto. Falta clareza na exposição dos objetivos, na introdução, como também no decorrer do texto, na retomada das respostas às questões anunciadas na seção conclusiva do livro e, principalmente, no esperado (embora não obrigatório) anúncio da área de pertencimento dessa pesquisa, que apresenta elementos mesclados de teoria da História, teoria da aprendizagem e de teoria do currículo, mas pouco revela elementos de epistemológica da ciência da História. A maior insuficiência, por fim, está na obscura definição de “historiografia escolar digital” e na omissão (como objetivo) do exame das noções de tempo histórico dos alunos, que compete com a busca pela noção e importância do recurso digital.
Não obstante as insuficiências apontadas, o livro possui as suas virtudes, das quais ressaltamos três. Em primeiro lugar, ele apresenta momentos indicadores de bom uso dos rudimentos de pesquisa. Observem que a autora evidencia a importância do entendimento do conceito de Pesquisa e Docência, no que diz respeito à atividade de pesquisa básica e à atividade de ministrar aulas para adolescentes, à descrição detalhada de cada uma das oficinas e a exposição de tabelas que facilitam o processo de análise e de reanálise por parte do leitor. A autora também é feliz na sua escolha para a experimentação. Ela explora questão básica para o ensino de História: entendimento do tempo histórico. Ela o faz mediante as habilidades de datação, cronologia, anterioridade, posteridade, simultaneidade, transformação e frequência, aproximando esses elementos à realidade individual e estabelecendo uma conexão entre a história de vida com a história brasileira e a história mundial.
Em segundo lugar, a autora tece considerações sobre a prática docente e toma posições progressistas no que diz respeito ao Ensino de História. Defende a ideia de professores como mediadores e orientadores da aprendizagem, dependentes de conhecimentos e atualizações constantes, critica o fato de as políticas públicas incorporarem a tecnologia e o digital sem apontar estratégias que subsidiem o trabalho dos professores, bem como o desprezo pelo papel do docente na construção dessas políticas.
Em terceiro lugar, o livro apresenta teses conscienciosas e que contribuem para o fortalecimento do campo da pesquisa do Ensino de História. Essa positividade está, por exemplo, na afirmação de que a tecnologia da informação está enraizada na sociedade de uma maneira ampliada, ainda que existissem (e existam) barreiras socioeconômicas para tal, na percepção de que a escolha do impresso pelo digital acontece em parte por conta dos problemas de acesso, inviabilizando resultados mais consistentes, na defesa do uso das TICs, como ferramenta para inclusão digital nas escolas, e na apresentação, mesmo que de forma fragmentada, de possibilidades de uso das TICs em sala.
Em síntese, tanto pelas insuficiências como pelas virtudes que apresenta, como também pelos desafios de investigar questões de ensino-aprendizagem na fronteira da Ciência da Informação, da Pedagogia e da História, o livro de Marcela Costa deve ser lido por todo mestrando que se empenha na pesquisa sobre Ensino de História e, não apenas pelos que se interessam por temáticas que envolvem a discussão sobre os artefatos (entre os quais a narrativa histórica), as práticas, as compreensões os fins escolares adjetivados pela palavra “digital”.
Sumário de Ensino de História e Historiografia escolar digital
- Prefácio | Sonia Wanderley
- Introdução
- Cultura digital e políticas de currículo
- 1.1. Olhares sobre os Parâmetros Cutriculares Nacionais (PCNs)
- 1.2. Dialogando com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica (DCNEB)
- 1.3. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em pauta
- Cultura digital como objeto de estudos dos professores
- 2.1. Mapeando eventos da área
- 2.2. Investigando as dissertações do ProfHistória
- Cultura digital nas escolas a partir da voz dos alunos: a primeira ida ao campo de pesquisa
- 3.1. A primeira versão da oficina pedagógica “Representações do tempo: História(s) narrada(s)”
- 3.2. Dialogando com as fontes: aspectos gerais
- 3.3. Continuando a escuta: interconexão das histórias narradas
- 3.4. Sobre o tempo e a tecnologia
- Cultura digital nas escolas a partir da voz dos alunos: a volta ao campo de pesquisa
- 4.1. A segunda versão da oficina pedagógica “Representações do tempo: História(s) narrada(s)”
- 4.2. O porquê da escolha pelo digital
- 4.3. Análise das produções digitais
- 4.4. Um balanço comparativo: em defesa da historiografia escolar digital
- Conclusão
- Referências
- Anexo 1 – Planejamento da oficina “Representações do tempo: história(s) narrada(s)”
- Anexo II – Folha didática utilizada na oficina
Resenhistas
Douglas Silva é professor do Colégio Estadual Olavo Bilac em Aracaju-SE, da Escola Municipal Maria das Graças Souza Garcez em Itaporanga d’Ajuda e aluno do Mestrado em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Publicou entre outros trabalhos Cidadania em um Universo Relacional: População de Rua em Aracaju-SE projeto de iniciação científica do PBIC/CNPq. Email: Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9099513651518567; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1036-2270; Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100008474169903; Instagram: @douglasleoni13; Email: douglasleoni99@gmail.com
Elemi Santos é professora do Colégio Municipal Professora Maria Verônica Matos do Nascimento, no município de Antas (BA) e do Centro Educacional Professora Maria Ferreira da Silva, no município de Nova Soure (BA), é aluna do Mestrado em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7957222155239656; Orcid: https://orcid.org/orcid=0000-0003-0744-7908; Instagram: prof.elemi; e-mail: elemisantos1@gmail.com
Johnny Gomes é professor da Escola Estadual Nossa Senhora da Conceição e do Canoa Cursos, em Lagoa da Canoa (AL) e aluno do Mestrado em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Publicou, entre outros trabalhos, Cinema e Didática: proposta de sensibilização a partir da obra “Vida Maria” (2007). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8051279606440569; Orcid. https://orcid.org/0000-0002-6676-894X. Instagram: gomesjohnny; Email: johnnygomes83@gmail.com
Viviane Andrade Passos é professora do Colégio Estadual Cícero Bezerra, da Escola Municipal Tiradentes no município de (Nossa Senhora da Glória- SE) e aluna do Mestrado em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7026713252936689; Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4077-3916; Facebook: /viviane.andrade.56863; Instagran: vivi.andrade_23; Email: viviane-andrade22@hotmail.com
Para citar esta resenha
COSTA, Marcela Albaine Farias da. Ensino de História e Historiografia digital. Curitiba: CRV, 2021. 212p. Resenha de: GOMES, Johnny P.; SANTOS, Elemi; SILVA, Douglas; PASSOS, Viviane Andrade. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.5, p.21-26, maio/jun. 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/o-digital-no-ensino-resenha-de-ensino-de-historia-e-historiografia-escolar-digital-de-marcela-albaine-farias-da-costa/> Acessar publicação original.
Elementos de Didática da História | Alfredo Braga Furtado
Elementos de Didática da História, como o próprio título sugere, foi escrito por Alfredo Braga Furtado para subsidiar o trabalho docente dos estudantes de bacharelado e licenciatura em História e auxiliar na formação continuada dos profissionais da área. (p.47). Faz parte de uma extensa coleção do próprio Furtado, que abrange manuais do mesmo gênero (e com igual título) para diversas áreas, como a “Didática das Ciências Sociais”, “Didática das Engenharias”, “Didática do Turismo” e a “Didática da Psicologia.
Tal fertilidade em termos de manuais de ensino é explicada pelo autor em longo relato autobiográfico. Com graduação e mestrado na área da computação, foi no doutorado em Educação Matemática que Furtado despertou para a Pedagogia e a Didática, áreas nas quais atuou, ministrando disciplinas de “Estrutura e Funcionamento da Educação Básica”, “Didática Geral”. Depois de produzir os Elementos de Didática da Computação, encorajou-se a replicar o modelo nas outras áreas e literalmente submeteu o seu trabalho “à avaliação do leitor”, que é o que fazemos agora, principalmente em relação às duas áreas que tenho maior familiaridade: a licenciatura em história e as questões que envolvem o mundo digital e a educação. Leia Mais
O polímata: uma história cultural – De Leonardo da Vinci a Susan Sontag | Peter Burke
O polímata: uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag foi publicado, simultaneamente, no ano de 2020, em língua inglesa pela Yale University Press e em língua portuguesa pela Editora Unesp. Mais recente livro do historiador inglês Peter Burke – professor da Universidade de Cambridge e considerado um dos intelectuais mais conceituados a respeito da Idade Moderna europeia e da história cultural –, traz uma narrativa cativante que se destaca pela “erudição e clareza”, como descreveu o jornalista João Pombo Barile (2021), e por “seu caráter pedagógico”, como sugeriu a professora e escritora Carlota Boto (2021).
O livro trata da história cultural de pensadores/as que influenciaram, sobremaneira, seus períodos históricos e os subsequentes, por meio de saberes vastos e de uma prolífica atuação no trabalho da produção do conhecimento, a exemplo de Hipátia de Alexandria, Cristina de Pisano, Alberto, o Grande, Leonardo da Vinci, Francis Bacon, Blaise Pascal, Comenius, Marie de Gournay, Sóror Juana Inés de la Cruz, Gottfried Wilhelm Leibniz, Giambattista Vico, os irmãos Wilhelm e Alexander von Humboldt, Charles Darwin e, entre alguns mais recentes, Norbert Elias, Umberto Eco, Susan Sontag e Michel de Certeau. Burke traz relevo “sobre indivíduos e pequenos grupos interessados no quadro geral nos detalhes, muitas vezes dedicados à transferência ou ‘tradução’ de ideias e práticas de uma disciplina para outra” (p. 16). Em outras palavras, indivíduos e grupos que se empenharam em aprofundar seu olhar sobre assuntos mais específicos como a ampliar seu campo de visão por meio das relações e associações promovidas com outras disciplinas, matérias e intelectuais. Leia Mais
Uma brevíssima História da UFS | Itamar Freitas
Como afirmo acima, o título é dissimulado, mas não enganador. Uma brevíssima história da UFS não faz o percurso clássico da fundação da Universidade Federal de Sergipe, nos idos de 1968, aos dias atuais, empregando narrativa curta ou suporte de poucas folhas. O breve tem a ver com o recorte temporal. É uma história de dois dias de experiência da instituição. Os dias de anúncio da intervenção e da posse da interventora – Liliádia da Silva Oliveira – designada pelo ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, ocorrida em 23 e 24 de novembro de 2020.
Conversei com o autor a respeito do gracejo do título e ele me explicou se tratar de um texto produzido para a sala de aula, destinada às suas turmas de História da Educação em Sergipe. A disciplina ganha um tema a cada período e tem orientação ativa, no que diz respeito à pesquisa histórica. Os alunos não apenas leem histórias da educação, mas também são convidados a escreverem histórias ou memórias sobre a sua experiência educacional, como faz o professor Fábio Alves, na disciplina Introdução à História da Educação. Naquele período, o tema era a Universidade Federal de Sergipe. Assim, uma das tarefas dos alunos era escrever narrativas sobre objetos de natureza diversa que retratassem experiências da e/ou na Universidade. Poderia ser a história de um aluno, um grupo de alunos, um professor, uma autobiografia, uma memória, a história de uma edificação, de um grupo de animais que circulam o campus ou uma efeméride. Leia Mais
Sæculum. João Pessoa, n.33, jul./dez. 2015 / n.39, jul./dez. 2018.
Sæculum. João Pessoa, n.33, jul./dez. 2015.
Número Temático “O Oitocentos”
Organizadora: Cláudia Engler Cury (UFPB)
PUBLICADO: 2015-12-31
- EXPEDIENTE
- · Expediente
- EDITORIAL
- · Editorial
- DOSSIÊ
- · MIGRANTES NO IMPÉRIO DO BRASIL: A TRAJETÓRIA DE JEAN BAZET NAS ORIGENS DA VILA DE NOVA FRIBURGO, 1820-1858
- Rodrigo Marins Marretto
- · PROJETOS E PERSPECTIVAS NA CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO BRASILEIRA (1822-1840)
- Leonardo Bassoli Angelo
- · ENTRE A IGREJA E O IMPÉRIO: DOM MARCOS ANTONIO DE SOUSA, O PRIMEIRO BISPO DO BRASIL INDEPENDENTE
- Joelma Santos da Silva
- · O HERÓI DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR VOLTA DO EXÍLIO: MANOEL DE CARVALHO PAES DE ANDRADE E AS LUTAS POLÍTICAS REGENCIAIS (PERNAMBUCO, 1831-1835)
- Manoel Nunes Cavalcanti Junior
- · OS GUARANIS NAS PRECARIEDADES DA GUERRA: O IMPACTO DO RECRUTAMENTO NAS MISSÕES ORIENTAIS (RIO GRANDE DE SÃO PEDRO, PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX)
- Max Roberto Pereira Ribeiro
- · PRISÕES NO BRASIL OITOCENTISTA: ROTINAS E VIVÊNCIAS NA CASA DE DETENÇÃO DO RECIFE NA DÉCADA DE 1860
- Flavio de Sá Cavalcanti de Albuquerque Neto, Robson Pedrosa Costa
- · A GUARDA CÍVICA DO RECIFE: A UTOPIA DE UMA FORÇA POLICIAL GUIADA PELA CORTESIA NAS DÉCADAS FINAIS DO BRASIL IMPÉRIO (1876-1889)
- Wellington Barbosa Silva
- · DRAMAS DO IMPÉRIO CHEGAM À REPÚBLICA: A LUTA DOS VETERANOS DA “GUERRA DO PARAGUAI” PELOS DIREITOS SOCIOECONÔMICOS PROMETIDOS DURANTE O CONFLITO, CEARÁ (1870-1940)
- Maria Regina Santos de Souza
- · SERTÃO PROLETÁRIO: POBREZA, PATERNALISMO E TRABALHO NO CEARÁ OITOCENTISTA
- Tyrone Apollo Pontes Candido
- · POPULAÇÃO, COMPADRIO E TRAJETÓRIAS DE GENTE NEGRA NA CIDADE DA PARAÍBA OITOCENTISTA
- Solange Pereira Rocha
- · “CARREGANDO AS PEDRAS DO PECADO”: A REFORMA CATÓLICA DEVOCIONAL NO SERGIPE OITOCENTISTA
- Magno Francisco de Jesus Santos
- · UMA RIQUEZA NAS MATAS DO RIO GRANDE: O EXTRATIVISMO, OS FAZENDEIROS E OS TRABALHADORES DO MATE NO SÉCULO XIX
- Cristiano Luís Christillino
- · ESCRAVOS E EX-ESCRAVOS NA PECUÁRIA: A CENTRALIDADE DA ESCRAVIDÃO NA ECONOMIA RURAL (RIO GRANDE DO SUL, SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX)
- Carina Martiny
- · AS REDES DE RELACIONAMENTOS E O ESPAÇO DE ATUAÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS NO IMPÉRIO DO BRASIL: BANANAL, 1850-1888
- Marco Aurélio dos Santos
- · LITIGANDO PELA LIBERDADE NO BRASIL OITOCENTISTA: RELAÇÕES ESCRAVISTAS EM UM CONTEXTO FRONTEIRIÇO (ALEGRETE, PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO SUL)
- Marcelo Santos Matheus
- · ENTRE A MEDICINA, A POLÍTICA E A POESIA: A TRAJETÓRIA DO DR. ANTONIO DA CRUZ CORDEIRO NA PROVÍNCIA DA PARAÍBA NA SEGUNDA METADE DO OITOCENTOS
- Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano
- · RELATOS DE UM EXPLORADOR INGLÊS: UMA PERSPECTIVA DA VIAGEM DE FRANCIS GALTON PELO SUDOESTE DA ÁFRICA (1850-1852)
- Fabiana Lopes da Cunha, Leonardo Dallacqua de Carvalho
- · A ESCRITA DA HISTÓRIA NO BRASIL OITOCENTISTA: O LUGAR DA PROVÍNCIA DO CEARÁ
- Leandro Maciel Silva
- · O ENSINO DE HISTÓRIA NA ESCOLA DE PRIMEIRAS LETRAS NA PARAÍBA: PÁTRIA NACIONAL E PÁTRIA LOCAL (1837-1914)
- Antonio Carlos Ferreira Pinheiro
- · O CONTRATO HISTÓRICO CONTRA O DIREITO NATURAL: A CRÍTICA À REVOLUÇÃO FRANCESA E O NASCIMENTO DO CONSERVADORISMO MODERNO NA OBRA DE EDMUND BURKE
- Paulo Henrique Paschoeto Cassimiro
- · OS INTELECTUAIS: QUESTÕES HISTÓRICAS E HISTORIOGRÁFICAS – UMA DISCUSSÃO TEÓRICA
- Rubens Arantes Correa
- RESENHAS
- · POR GERAÇÕES SÃS E FORTES: NOS RASTROS DE UM MODELO HÍGIDO DE EDUCAÇÃO ESCOLAR PRIMÁRIA NA PARAHYBA DO NORTE
- Wilson José Félix Xavier
Sæculum. João Pessoa, n.34, jan./jun. 2016)
PUBLICADO: 2016-06-30
- EXPEDIENTE
- · Expediente
- EDITORIAL
- · Editorial
- DOSSIÊ
- · JEAN GERSON E A VIDA CONTEMPLATIVA PARA AS MULHERES LAICAS (SÉCULO XV)
- Letícia Gonçalves Almeida
- · MINORIAS RELIGIOSAS NO IMPÉRIO PORTUGUÊS: O CASO DOS MUÇULMANOS MAPILAS DO MALABAR (1498-1656)
- Joseph Abraham Levi
- · CÂMARAS E COLONIZAÇÃO: QUESTÕES HISTORIOGRÁFICAS E UM ESTUDO DE CASO
- Thiago Alves Dias
- · “DESASOCEGO E INQUIETAÇÃO” NA CAPITANIA DO SIARÁ GRANDE: O CONFLITO ENTRE CONQUISTADORES, AGENTES DA GOVERNANÇA E POPULAÇÕES LOCAIS (1699-1748)
- Rafael Ricarte da Silva
- · AS SIBILAS E A PINTURA DE FALSA ARQUITETURA DA CAPELA DE NOSSO SENHOR DO BONFIM: SINGULARIDADE PERSUASÓRIA NA DIAMANTINA DO SÉCULO XVIII
- Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani
- AS SIBILAS E A PINTURA DE FALSA ARQUITETURA DA CAPELA DE NOSSO SENHOR DO BONFIM SINGULARIDADE PERSUASÓRIA NA DIAMANTINA DO SÉCULO XVIII
- · AS ACADEMIAS LITERÁRIAS E A POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO AUTÔNOMO EM TERRITÓRIO COLONIAL (BAHIA, SÉCULO XVIII)
- Eduardo Borges
- DADOS DO AUTOR
- RESUMO
- · VAPORES E ESCRAVOS NO PENEDO, ALAGOAS, NA DÉCADA DE 1850
- Luana Teixeira
- TEIXEIRA_DADOS
- TEIXEIRA_RESUMO
- FIGURA 1
- FIGURA 2
- FIGURA 3
- · VISÕES DA REPÚBLICA BRASILEIRA EM REVISTAS ILUSTRADAS EUROPEIAS, 1889-1890
- Arthur Valle
- · VIAGENS NO TEMPO: MEMÓRIAS DO ESCRIVÃO JOSÉ JOAQUIM DO CARMO GAMA SOBRE UMA ESTAÇÃO DE CURA
- Marina Haizenreder Ertzogue
- · IGREJA E ESTADO, CASAMENTO E FAMÍLIA (BELÉM, 1916-1940)
- Ipojucan Dias Campos
- CAMPOS DADOS
- CAMPOS RESUMO
- · PEDRO RODRIGUES MARTINS, UM APAIXONADO PELO SIGMA: O PERCURSO DE UM INTEGRALISTA PARANAENSE (1935)
- Luiz Gustavo de Oliveira
- · A TRAJETÓRIA POLÍTICA E INTELECTUAL DE GORBACHEV E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA URSS
- Moisés Wagner Franciscon
- · A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (2012-2014): O PERMANENTE LEGADO AUTORITÁRIO EM QUESTÃO
- Dmitri Felix Nascimento
- RESENHAS
- · UN RECORRIDO POR LA HISTORIA DE LA AMÉRICA PRECOLOMBINA: UNA RESEÑA DE HOMENAJE Y DESPEDIDA
- Horacio Miguel Hernán Zapata
- · OUTRAS PALAVRAS: SOBRE MANUAIS E HISTORIOGRAFIAS
- Wilton Carlos Lima da Silva
Sæculum (nº 35, jul./dez 2016), Número Temático “Patrimônio e Centros Históricos”
PUBLICADO: 2016-12-31
- EXPEDIENTE
- · Expediente
- DOSSIÊ
- · “O CASAMENTO DA VOVÓ”: UMA CANÇÃO POMERANA EMIGRANTE
- Danilo Kuhn da Silva
- · TÃO PERTO, TÃO LONGE: O ESPECTADOR DE CINEMA ILHADO NA PONTE
- Fábio de Godoy Del Picchia Zanoni
- SEM TÍTULO
- · HISTÓRIA, PATRIMÔNIO E INTERCULTURALIDADE: PERCURSOS METODOLÓGICOS NA HISTÓRIA ENSINADA
- Jaqueline Ap. M. Zarbato
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- · CONVERSANDO SOBRE PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
- Telma Bessa Sales
- · “PARA ASSIM MELHOR CONSERVAR A DESUNIÃO”: O PATRIMÔNIO RELIGIOSO E FORMAÇÃO DA VILA DE DIVINA PASTORA (1782-1818)
- Ane Luise Silva Mecenas Santos
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- · ESPAÇO, HISTÓRIA E MEMÓRIA: OS POTIGUARA NA PARAÍBA
- José Manuel da Silva Simões
- · A HISTÓRIA, A MEMÓRIA E A LITERATURA: APONTAMENTOS PARA A INTERPRETAÇÃO DE NARRATIVAS AMAZÔNICAS
- Euclides Antunes Medeiros, Olivia Macedo Miranda Cormineiro
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- · EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA HISTÓRICA: ALGUMAS EXPERIÊNCIAS E CONSIDERAÇÕES
- Ângelo Emílio da Silva Pessoa
- · TURISMO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: UMA TRAJETÓRIA (POUCO CONHECIDA) DE INTERAÇÕES
- Mirza Pellicciotta, Karina Toledo Solha
- RESENHAS
- · ‘O CULTO MODERNO DOS MONUMENTOS’ E O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA ATUALIDADE
- Nelci Tinem, Mércia Parente Rocha
- ENTREVISTA
- · UMA HISTORIADORA DO TEMPO PRESENTE: ENTREVISTA COM MARIA HELENA ROLIM CAPELATO
- Josineide da Silva Bezerra, Regina Maria Rodrigues Behar, Tiago Bernardon de Oliveira
Sæculum (nº 36, jan./jun. 2017)
PUBLICADO: 2018-03-27
- EXPEDIENTE
- · Expediente
- DOSSIÊ
- · CARLOS GARDEL COMO PATRIMÔNIO CULTURAL NA ARGENTINA
- Alessander Mario Kerber
- RESUMO
- DADOS DO AUTOR
- IMAGEM 1
- IMAGEM 2
- · PROTAGONISMOS, MILITÂNCIAS E QUERELAS INSTRUCIONAIS NA TRINCHEIRA RELIGIOSA: COMBATES PELA ESCOLA CATÓLICA NA PARAHYBA DO NORTE (1894-1922)
- Ramsés Nunes e Silva
- · CORDEL E RELIGIOSIDADE: A FIGURA DO PROTESTANTE NA OBRA DA PRIMEIRA GERAÇÃO DE CORDELISTAS
- Micheline Reinaux de Vasconcelos
- · A POLÍTICA EDUCATIVA DO COLONIALISMO PORTUGUÊS E A DISPUTA DAS MISSÕES CATÓLICAS E PROTESTANTES EM ANGOLA (SÉCULOS XIX-XX)
- Giselda Brito Silva
- · MULHERES PROPRIETÁRIAS NAS CAPITANIAS DO NORTE, SÉCULOS XVII-XVIII: BALANÇO HISTORIOGRÁFICO E APONTAMENTOS
- Ana Lunara da Silva Morais
- · DUZENTOS ANOS DE 1817: CAMINHOS HISTORIOGRÁFICOS E ALGUMAS DISCUSSÕES SOBRE A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
- Breno Gontijo Andrade
- · ELITES LOCAIS, ENFERMIDADES E TERAPIA CASEIRA EM UMA FREGUESIA DO BRASIL MERIDIONAL: O CASO DO TRATAMENTO DE MARIA FERREIRA DE OLIVEIRA (FREGUESIA DE MORRETES, PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1839-1840)
- André Luiz Moscaleski Cavazzani, Sandro Aramis Richter Gomes
- · “AS MÃOS E OS PÉS DO CHARQUEADOR”: O PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO CHARQUE E UM PERFIL DOS TRABALHADORES ESCRAVOS NAS CHARQUEADAS DE PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL (1830-1885)
- Jonas Moreira Vargas
- · A “AVOENGA E QUINHENTISTA INSTITUIÇÃO SERVIL”. DEBATES SOBRE ESCRAVIDÃO NA PRIMEIRA LEGISLATURA POR VOTO DIRETO NO BRASIL (1881-1884)
- Alexandra do Nascimento Aguiar
- · A REORGANIZAÇÃO DO PCB EM ALAGOAS (1980-1982)
- Rodrigo Costa
- RESENHAS
- · DOCUMENTOS AFETIVOS: CARTAS, AMOROSIDADES E REVOLUÇÕES NO MUNDO ATLÂNTICO (1946-1960)
- Elio Chaves Flores
Sæculum (nº 37- jul./dez. 2017), Número Temático “História Cultural”
PUBLICADO: 2017-12-20
- EXPEDIENTE
- · Expediente
- SEM TÍTULO
- DOSSIÊ
- · CULTURA CARMELITA EM AÇÃO: A CONSTRUÇÃO DA ORIGEM ELIANA DA ORDEM DE NOSSA SENHORA DO CARMO
- André Cabral Honor
- · FÉ E CULTURA BARROCA SOB O MANTO MERCEDÁRIO: DEVOÇÃO, RELIGIOSIDADE E VIVÊNCIAS A PARTIR DA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS DE MARIANA (1749-1822)
- Vanessa Cerqueira Teixeira
- · PEDRO AMÉRICO E O NACIONALISMO ROMÂNTICO CONSERVADOR
- Lúcio Flávio Sá Peixoto de Vasconcelos
- · CAZUMBA & CAZUMBÁ: HISTÓRIA, NARRATIVA E AS ‘FRONTEIRAS IDENTITÁRIAS’ NO RECÔNCAVO BAIANO (SÉCULOS XIX-XXI)
- José Bento Rosa da Silva
- · HISTÓRIA DA BELEZA E PRÁTICAS EDUCATIVAS DE ADESTRAMENTO DOS CORPOS FEMININOS NO BRASIL
- Joedna Reis de Meneses, Azemar dos Santos Soares Jr., Edna Maria Nóbrega Araújo
- · SOU DESTE CHÃO! MARCAS DE FERRAR GADO, PRÁTICAS E (IN)SENSIBILIDADES NA EDUCAÇÃO DO HOMEM DO NORDESTE
- Iranilson Buriti de Oliveira
- DADOS
- · MODERNISMO, FUTURISMO E POLÊMICAS LITERÁRIAS NA REVISTA CARETA (1909-1922)
- Joachin de Melo Azevedo Sobrinho Neto
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- · A ‘HISTÓRIA DA CULTURA BRASILEIRA’ E O MODERNISMO-CONSERVADOR NA DITADURA CIVIL-MILITAR (1972-1976)
- Tatyana de Amaral Maia
- DADOS DO AUTOR
- RESUMO
Sæculum (nº 38, jan./jun. 2018)
PUBLICADO: 2018-06-30
- EXPEDIENTE
- · EXPEDIENTE
- V-VI
- DOSSIÊ
- · WALTER BENJAMIN E THEODOR W. ADORNO NO PROBLEMA DO MÉTODO
- Renato Silva Melo
- · A RECOMPOSIÇÃO DA HISTORIOGRAFIA FRANCESA APÓS A CRISE DE HEGEMONIA DOS ANNALES
- Rodrigo Bianchini Cracco
- · HISTÓRIA, ENSINO DE HISTÓRIA E LIVRO DIDÁTICO: A FORMAÇÃO DOCENTE EM DEBATE
- Erinaldo Vicente Cavalcanti
- · O LUGAR DO ENSINO DA HISTÓRIA NO PROJETO PEDAGÓGICO DA MODERNIDADE
- Ana Luiza Araújo Porto
- · AS NARRATIVAS “CÉLTICAS” DE VIAGEM PARA O OUTRO MUNDO (ECHTRA; IMMRAM; LONGES E FÍS): FONTES HISTÓRICAS PARA UMA HISTÓRIA CULTURAL DA IRLANDA ANTIGA E MEDIEVAL
- Dominique Vieira Coelho dos Santos
- DADOS E RESUMO PARA O ARTIGO
- DADOS E RESUMO PARA O ARTIGO
- · BEM COMUM E COMUNIDADE: ALGUNS FUNDAMENTOS DA POLÍTICA MEDIEVAL (SÉCULOS XIII-XIV)
- Felipe Augusto Ribeiro
- · OS VERSOS DE EUSTACHE DESCHAMPS COMO FONTE PARA A HISTÓRIA CULTURAL DA FRANÇA NA BAIXA IDADE MÉDIA
- Carmem Lucia Druciak
- · A RELAÇÃO BREVE DE FREI PAULO DO ROSÁRIO: RELATOS SOBRE O PRIMEIRO ATAQUE HOLANDÊS À CAPITANIA DA PARAÍBA (1631)
- Leandro Vilar Oliveira
- · A POLITIZAÇÃO DO REGRESSO AO IMPÉRIO DOS VETERANOS DA GUERRA DO PARAGUAI
- Rodrigo Goyena Soares
- · UMA FACA DE DOIS GUMES: MOBILIZAÇÃO MILITAR E CAPACIDADE ADMINISTRATIVA DURANTE A GUERRA CIVIL AMERICANA
- Arnaldo Lucas Pires Júnior
- · O COMBATE MÉDICO AO ALCOOLISMO NO BRASIL DO SÉCULO XIX
- Alisson Eugenio
- · DETRATORES E DEFENSORES DA IMIGRAÇÃO ITALIANA PARA O BRASIL: O DECRETO PRINETTI DE 1902 E A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE 1906
- Giovani Balbinot
- · A ESTERILIZAÇÃO NA PERSPECTIVA EUGÊNICA DE RENATO KEHL NA DÉCADA DE 1920
- Leonardo Dallacqua de Carvalho
- SEM TÍTULO
- SEM TÍTULO
- · A GESTÃO DE CAMILLO DE HOLLANDA NA PARAHYBA (1916-1920): REDES DE SOCIABILIDADE E ATUAÇÃO POLÍTICA
- Ingrid Karla Cruz Biserra
- · OS DIREITOS AUTORAIS EM DISCUSSÃO NO BRASIL DURANTE O SÉCULO XIX
- Jean Bastardis
- · CIDADE, POLÍTICA E URBANISMO: DEBATES E DESAFIOS NO RECONHECIMENTO DE UM CENTRO HISTÓRICO METROPOLITANO
- Cleusa Maria Gomes Graebin, Danielle Heberle Viegas
- ARTIGO COM A NOMINAÇÃO DAS AUTORAS
- ENTREVISTA
- · INQUIETUDES TEÓRICAS E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS: ENTREVISTA COM ROGER CHARTIER
- Ana Maria Veiga, Guilherme Queiroz de Souza
- RESENHAS
- · RELIGIÃO E HISTORICIDADE: A BATALHA PELA ORTODOXIA ISLÂMICA NO CALIFADO ABÁSSIDA
- Alfredo Bronzato da Costa Cruz
- DADOS DO AUTOR
- RESUMO
- CAPA DO VOLUME RESENHADO
Sæculum. João Pessoa, n. 39, jul./dez. 2018.
Número temático “As Ditaduras Militares no Brasil e no Cone Sul: História, historiografia e memória”
PUBLICADO: 2018-12-17
EXPEDIENTE
- DOSSIÊ: AS DITADURAS MILITARES NO BRASIL E NO CONE SUL: HISTÓRIA, HISTORIOGRAFIA E MEMÓRIA
- · As ditaduras no Cone Sul: um passado presente, um debate urgente!
- Tatyana de Amaral Maia, Paulo Giovani Antonino Nunes
- · A atuação do Serviço Nacional de Informação (SNI) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB): a vigilância sobre os dirigentes universitários (1976-1985)
- Paulo Giovani Antonino Nunes
- · O movimento estudantil em 1968 pelas lentes do Conselho de Segurança Nacional
- Antonio Mauricio Freitas Brito
- · Automotores Orletti e a perseguição contra os uruguaios na Argentina: Ditaduras de Segurança Nacional, Terrorismo de Estado e conexão repressiva no Cone Sul
- Enrique Serra Padrós
- · A Operação Condor e a Emenda Koch
- Waldemar Dalenogare Neto
- · A ditadura e os rastros da repressão no sudeste paraense: desvelando memórias sobre a Casa Azul
- Janailson Macêdo Luiz, Naurinete Fernandes Inácio Reis, Idelma Santiago da Silva
- · A Liga Anticomunista Mundial e a Confederação Anticomunista Latino-Americana: um caso de cooperação anticomunista intercontinental na América Latina (1972-1977)
- Marcos Vinicius Ribeiro
- · Na mira contra as esquerdas: o catolicismo anticomunista nas Cruzadas do Rosário em Família na América Latina na década de 1960
- Anderson José Guisolphi
- · Partido político, conservadorismo e ditadura militar: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) na Paraíba (1964-1968)
- Dmitri da Silva Bichara Sobreira
- · “Ciganos da construção”: a divulgação de acidentes de trabalho na construção civil pela imprensa durante a ditadura militar brasileira
- Ana Beatriz Ribeiro Barros Silva
- · Autoritarismo e democracia em perspectiva: o golpe de 1964 no Brasil através da imprensa colombiana
- Elaine Schmitt, Nashla Dahas
- · A consolidação da ditadura no Brasil segundo a visão de Bernardo Neustadt na revista argentina Todo (1964-1965)
- Helder Gordim da Silveira
- · Polícia política, inteligência e segurança na ditadura militar (1964-1984)
- Thiago da Silva Pacheco
- · Aporias de uma dupla crise: história e memória diante de novos enquadramentos teóricos
- Marcos Napolitano
- · Verdade factual, mentira organizada e ditadura militar brasileira: alguns apontamentos a partir das reflexões de Hannah Arendt
- João Teófilo
- · Escrever o passado, pensar o presente: historiadores e a batalha pela memória da ditadura militar chilena
- Fernanda Luiza Teixeira Lima
- · História, memória e leituras do passado: o que as apropriações sobre Dom Paulo Evaristo Arns e o Cel. Brilhante Ustra no tempo presente podem nos ensinar?
- Sônia Meneses, Egberto Melo
- · Corpos narrados nas memórias das ditaduras do Cone Sul
- Cristina Scheibe Wolff
- · “A guerra não acabou”: a escrita e a disputa do passado sobre a luta armada no Araguaia através das memórias dos militares
- Wellington Sampaio da Silva
- · Do Desterro aos porões da ditadura: a memória e as subjetividades de uma militante na resistência política
- Ary Albuquerque Cavalcanti Junior
- · Ditadura e reivindicações por democracia: memórias feministas e a questão do trabalho doméstico (1964-1990)
- Soraia Carolina de Mello
- · A arte do inventar: artesanatos de presos políticos em um presídio da ditadura civil-militar (1964-1985)
- Airton de Farias
- DOSSIÊ
- · Quando a história fala pela boca da classe dominante: a história da historiografia brasileira como crítica da ideologia (1973)
- Diego José Fernandes Freire
- · “A sempre leal cidade da paraíba”: culturas históricas e culturas políticas em uma capitania do império português (séculos XVII e XVIII)
- Mozart Vergetti de Menezes, José Inaldo Chaves Júnior
- · As pretas minas do Rosário nas margens da liberdade: mobilidade social e heranças da diáspora. (São João del-Rei, séculos XVIII e XIX)
- Leonara Lacerda Delfino
- RESENHAS
- · As lutas pelo passado e a construção de um futuro democrático na América Latina
- Ana Marília Menezes Carneiro
Faces da História. Assis, v.1, n.1, 2014 / v.2, n.2, 2015.
Faces da História. Assis, v.2, n.2, 2015.
Olhares sobre o medievo: fronteiras e problemas
Publicado: 2015-12-30
- Apresentação
- Apresentação
- Andréa Puydinger de Fázio
- Apresentação de Dossiê
- Ligia Cristina Carvalho, Pâmela Torres MICHELETTE, Raquel de Fátima PARMEGIANI, João Paulo CHARRONE
- Artigos para Dossiê
- O Rei e a LeiAlgumas reflexões em torno das obras jurídicas de Alfonso X
- Olga Pisnitchenko
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- Aqui jaz Arthurliteratura arturiana no medievo e seu reflorescimento na idade contemporânea
- Caio Fernando Flores Coelho
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- Limites saxonicarumFronteiras militares na Inglaterra Anglo-saxônica e na Saxônia continental, séculos IX e X
- Vinicius Cesar Dreger de Araujo
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- Definindo alteridadeum estudo sobre as noções de raça e etnia nas Siete Partidas e na Primera Crónica General de España de Afonso X
- Carolina Ferreira de Figueiredo
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- Repensar as muitas Idades Médiasos estudos medievais e a historiografia nacional
- Rodrigo Prates de Andrade
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- Entre a arte e a ciênciaas visões sobre a cartografia medieval
- Thiago de Borges
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- Entrevista
- Entrevista com Hilário Franco Júnior
- Ligia Cristina Carvalho, João Paulo Charrone, Pâmela Torres Michelette, Raquel de Fátima parmegiani
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- Artigos Livres
- Nósos e Lógosdoença e comunicabilidade no Orestes de Eurípides
- Mateus Dagios
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- Olhares sobre o Méxicoa América Latina sob a perspectiva surrealista
- Tânia Gomes Mendonça
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- Uma representação literária da construção da identidade nacional no Méxicoo caso de Juan Rulfo
- Paulo Ferraz de Camargo Oliveira
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- “O medo da morte é o remorso da felicidade”O Outono do Patriarca de Gabriel García Márquez, uma perspectiva histórica
- Alexandre Queiroz
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- Tradução
- Devemos reiniciar a História?
- Danilo Alves Bezerra
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- Resenha
- Forjando o historiadorperiodização e longa Idade Média
- Gerson Ribeiro Coppes Jr
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- Uma abordagem antropológica da Idade Média
- Bruno Uchoa Borgongino
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Faces da História. Assis, v.2, n.1, 2015.
O lugar sem limites: América Latina em perspectiva
Publicado: 2015-07-30
- Equipe Editorial
- Equipe Editorial V2N1
- Gilvana Gomes
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- Apresentação
- Apresentação
- Deivid Aparecido Costruba, Wellington Amarante Oliveira, Patrícia Trindade Trizotti
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- Apresentação de Dossiê
- Andréa Puydinger de Fázio, Carlos Alberto Sampaio Barbosa, Priscila Miraz de Freitas Greco
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- Artigos para Dossiê
- Gênese e atualidade da noção de América Latina: uma reflexão sobre o sentido histórico da integração continental
- Fabio Luis Barbosa dos Santos
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- Francisco Curt Lange e o Americanismo Musical nas décadas de 1930 e 1940.
- Fernanda Nunes Moya
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- A América Latina de Glauber Rocha: um projeto de integração latino-americana no filme A idade da terra (1980)
- Quezia Brandão, Wagner Pinheiro Pereira
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- Um “empreendimento pioneiro”: o catálogo da Co- leção Latino-Americana do MoMA (1931-1943).
- Eustáquio Ornelas Cota Jr
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- Cuba nas universidades brasileiras: análise da produção nos programas de pós graduação em História (1971-2014)
- Renato Cesar Santejo Saiani
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- O Extremo Norte da América do Sul: A Guiana Inglesa e o Suriname no século XIX
- Iuri Cavlak
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- Os caminhos do descaminhorelações transfronteiriças entre Brasil e Argentina – comércio e contrabando para São Borja E Santo Tomé
- Marcus Vinicius da Costa
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- O Jornal do Commercio e as representações sobre a Argentina na crise do Brasil Império (1870- 1889)
- Paula da Silva Ramos
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- O papel da imprensa na circulação de ideias e de intelectuais antifascistas entre a Argentina, Uruguai e a França (1933-1939)
- Angela Meirelles de Oliveira
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- Entrevista
- Entrevista com Álvaro Vázquez Mantecón
- Andréa Puydinger de Fázio, Priscila Miraz de Freitas Grecco
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- Artigos Livres
- Proposta de um método para a análise das continuidades, passado-presenteO caso da dança entre os xi’iui (pames) de Santa María Acapulco
- Raúl Aguilera Calderón
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- O patrimônio da Santa Casa de Misericórdia da Bahia no século XVIII
- Augusto Fagundes da Silva dos Santos
- O cotidiano dos meninos internados no Seminário de Santana na cidade de São Paulo (1825 – 1868)
- Robson Roberto da Silva
- O conservadorismo do jovem Eduardo Pradoum exercício de história intelectual (1878-1879)
- Rodrigo Perez Oliveira
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- Que samba é esseas disputas pela autenticidade do samba
- Vanessa Pironato Milani
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- Resenha
- Alegro ma nom troppocomicidade como missão polítca em Oduvaldo Vianna Filho
- Robson Roberto da Silva
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Faces da História. Assis, v.1, n.2, 2014.
História e Filosofia: elos e confrontos entre genealogia e hermenêutica na historiografia
Publicado: 2014-12-30
- Apresentação
- Apresentação
- Danilo Alves Bezerra, Patrícia Trindade Trizzotti
- HTML
- Apresentação
- Hélio Rebello Cardoso Júnior, Rodrigo Bianchini Cracco, Thiago Viotto da Silva
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- Artigos para Dossiê
- A genealogia de uma historiografia genealógicaa escrita da história anarquista pós-estruturalista
- Fabrício Pinto MONTEIRO
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- Interações entre historiografia e filosofia gregaa noção de kairós em Isócrates como alternativa ao filósofo do mito da caverna platônico
- Diogo Quirim
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- O ser e a históriaUma análise da ontologia histórica em A memória, a história, o esquecimento de Paul Ricoeur
- Lucas de Almeida Pereira
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- O conceito dialético de interpretação na filosofia hermenêutica de Paul Ricoeur
- Filipe Caldas O. Passos
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- Tradução
- Tudo está estremecidopor que a filosofia da história floresce em tempos de crise?
- João Roolfo Munhoz Ohara
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- Entrevista
- Entrevista com José Carlos Reis
- Tiago Viotto da Silva, Rodrigo Bianchini Cracco
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- Artigos Livres
- A visão do bispo visigodo Isidoro de Sevilha em sua obra Sentenças sobre o modelo ideal de Monarca
- Pâmela Torres Michelette
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- Entre discursos e práticasa atuação do jornal “O Nordeste” no combate aos “maus costumes” (1922 – 1927)
- Maria Adaiza Lima Gomes
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- As cartas de Londresa participação de George Orwell nas páginas da revista nova-iorquina Partisan Review durante a Segunda Guerra Mundial (1941-1946)
- Matheus Cardoso da Silva
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- J. Koellreutter e a Revista Música Vivaapontamentos sobre a modernidade musical brasileira
- Leandro Candido de Souza
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- Super-heróis da década de 1960Guerra Fria e mudanças sociais nos comics norte-americanos
- Lucas Suzigan Nachtigall
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- A construção da categoria política sem-terra a partir do jornal Terra Livre (1954-1964)
- Ramon Torres Araújo
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- Resenha
- CAMARGO, Daisy de. Alegrias engarrafadas: os álcoois e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do século XX. São Paulo: Editora Unesp, 2012. 220 p.
- Luis Gustavo Martins Botaro
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Faces da História. Assis, v.1, n.1, 2014.
Impressos periódicos: debates e perspectivas
Publicado: 2014-07-30
- Equipe Editorial
- Equipe Editorial – V1N1
- Gilvana Gomes
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- Apresentação
- Apresentação
- Tania Regina de Luca
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- Apresentação
- Danilo Alves Bezerra, Lígia Cristina Carvalho
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- Artigos para Dossiê
- Em busca de uma visão mais abrangente da história do jornalismo e o exemplo argentino do grupo Clarín
- Mauro César Silveira
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- Entre tipografias, impressos e caricaturas: imprensa ilustrada na monarquia de D. Pedro II
- Renan Rivaben Pereira
- Mercure de France: de Donneau de Visé à Alfred Vallete, da série moderne à maison d’édition
- Camila Soares López
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- As representações sobre a mulher nas páginas do jornal católico mato-grossense A Cruz (1910-1915)
- Tânia Regina Zimmermann, Ana Carolina Oliveira Carlos
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- A redenção da raça negra em uma perspectiva internacional: discursos do garveysmo no jornal O Clarim da Alvorada
- Flavio Thales Ribeiro Francisco
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- A imprensa baiana e o americanismo na Segunda Guerra (1942-1945)
- Raquel Oliveira Silva
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- Revistas de intelectuais exilados como objeto de pesquisa: o caso de Araucaria de Chile e Encuentro de la Cultura Cubana
- Raphael Coelho Neto, Thiago Henrique Oliveira Prates
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- O duo de Estrasburgo e Paul Leuilliot: o nascimento da Revue des Annales d’Histoire Économique et Sociale
- Andrew Guilherme Okamura Lima
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- Artigos Livres
- A santidade episcopal e sua relação com o poder político e civil na Gália da segunda metade do século VI
- João Paulo Charrone
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- Representações da singularidade estética em Goiás a partir de Veiga Valle (1806-1874)
- Raquel de Souza Machado
- HTML
- Resenha
- HOBSBAWM, Eric. Tempos Fraturados: cultura e sociedade no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 358 p.
- Jonathan Marcel Scholz
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- Tradução
- Saudades do Brasil: O mistério do samba ou a arte do desvelamento
- Alexandre Andrade da Costa
- Entrevista
- Entrevista com Marie-Ève Thérenty
- Anelize Vergara, Deivid Aparecido Costruba, Patrícia Trindade Trizotti
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Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.15, n.2, 2015.
Pesquisa Qualitativa e Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em Educação
- Apresentação do dossiê Pesquisa Qualitativa e Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em Educação
Dossiê | Pesquisa Qualitativa e Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em Educação
- Formação de professores: percursos e perspectivas na formação qualitativa de professores da Educação do Campo
- Adriana dos Santos Prado Sadoyama, Leonardo Santos Andrade, Maristela Vincente de Paula, Neila Maria Mendes Borges, Serigne Ababacar Cisse Ba, Vagner Rosalem
- Perspectivas Metodológicas para a Educação Matemática a Distância
- José Mário Costa Junior, Rony Cláudio de Oliveira Freitas
- Triangulação metodológica para definir perfis educacional EVAs
- Gonzalo Samaniego Erazo, Luis Marqués Molías
- Um percurso metodológico da inserção no mundo das crianças das culturas digitais
- Fernando Silvio Calvacante Pimentel
- Ressignificação da Prática Docente na perspectiva dos Recursos Educacionais Abertos
- Josevânia Teixeira Guedes, Hortência de Abreu Gonçalves, Marilene Batista da Cruz Nascimento
- Tecnologias Digitais nos Projetos de Redesenho Curricular do Programa Ensino Médio Inovador: Entre Limites e Possibilidades
- Eliana Scremin Menegaz, Geovana Mendonça Luardi Mendes
- Expectativas de professores quanto a inclusão do livro didático digital na sala de aula do ensino médio
- Alexander Dutra
- Usos e compreensões das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): um olhar da juventude
- Luiz Rafael Andrade
Artigos Gerais
- Estilos de Aprendizagem na Educação a distância: Um estudo de caso no curso de graduação de Administração Pública da UFF
- Alessandra dos Santos Simão, Júlio Cesar de Andrade Abreu, Márcio Moutinho Abdalla
- O blog como instrumento pedagógico na disciplina Língua Portuguesa: motivação e inovação nas aulas de Ensino Médio
- Thaís Tenório, Patrícia da Silva Oliveira, Denise da Silva Batista Viana, André Tenório
Bibliografia Comentada
- Bibliografia Comentada em Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais
- Luis Paulo Leopoldo Mercado
Publicado: 2015-12-28
Outros Tempos. São Luís, v.12 n. 20, 2015.
Dossiê: O Congresso de Viena e a América portuguesa
Apresentação
- APRESENTAÇÃO
- CHRISTIAN CWIK, MARCELO CHECHE GALVES, MÁRCIA MILENA GALDEZ FERREIRA
Artigos
- PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS DO GRÃO-PARÁ: o peso das relações entre as províncias no xadrez da independência (1822-1825)
- ANDRÉ ROBERTO DE ARRUDA MACHADO
- A OCUPAÇÃO DA TERRA NAS NARRATIVAS DE CARMO BERNARDES E JOSÉ MARIA AUDRIN: sertão dos vales do Araguaia e Tocantins (1900 -1950)
- OLIVIA MACEDO MIRANDA CORMINEIRO
- “EU MORO COM MEUS PAIS”:as representações da família realizadaspela juventude roqueira da década de 1980
- GUSTAVO DOS SANTOS PRADO
- A IGREJA CATÓLICA E AS DITADURAS DO CONE SUL (1960-1980)
- ENRIQUE SERRA PADRÓS
- ANTES DA PIANOLATRIA: flautas, violas e tambores nas práticas musicais da primeira metade do século XIX
- MARCOS LOBATO MARTINS
- BUMBA MEU BOI DO MARANHÃO NOS JORNAIS LUDOVICENSES: notícias da construção de uma inserção (1980-2000)
- JÚLIA CONSTANÇA PEREIRA CAMÊLO
- HISTÓRIA E MEMÓRIAS REACENDIDAS: a apropriação Terena da escola
- VERA LÚCIA FERREIRA VARGAS, IÁRA QUELHO DE CASTRO
Dossiê
- RORAIMA COMO UMA DAS GUIANAS: o vale do Rio Branco e a “Ilha da Guiana”
- ANDRÉ AUGUSTO DA FONSECA
- A DISPUTA SOBRE OS LIMITES ENTRE GUIANA FRANCESA E PORTUGUESA (1801-1817)
- CHRISTIAN CWIK
- POSSÍVEIS ANÁLISES SOBRE A PRODUÇÃO DE ALGODÃO NO MARANHÃO (1755-1818): relacionando o conceito “segunda escravidão” com práticas de crédito
- LUIZ ALBERTO COUCEIRO, REJANE VALVANO CORRêA DA SILVA
- MANIFEST DESTINY OR CONTINUITY AGENDA: contextualising British imperial policy in the southern Caribbean before and after Vienna
- MICHAEL TOUSSAINT
- EL IMPACTO DE LA ELEVACIÓN DE BRASIL A REINO UNIDO A PORTUGAL Y ALGARVES, BAJO LA ÉGIDA DEL CONGRESO DE VIENA
- VERA LUCIA VIEIRA
- ENTRE VIENA E VERONA: uma estratégia para os dois mundos (1815-1822)
- WILMA PERES COSTA
Estudo de caso
- ECOS DE VIENA EM TEMPOS DE REVOLUÇÃO DO PORTO
- MARCELO CHECHE GALVES
Entrevista
- Dale Tomich – Binghamton University
- CHRISTIAN CWIK, LUIZ ALBERTO ALVES COUCEIRO, RAFAEL DE BIVAR MARQUESE, REJANE VALVANO CORREA DA SILVA
Resenhas
- A DIPLOMACIA PORTUGUESA NO CONGRESSO DE VIENA (1815): a trajetória do primeiro Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein
- ROMARIO SAMPAIO BASILIO
- INFORMAÇÕES EDITORIAIS
- Anissa Ayala Cavalcante
Publicado: 2015-12-22
EaD em Foco. Rio de Janeiro, v.5, n.3, 2015.
Editorial
- Editorial v. 5,, n.3, 2015): 5 Anos da Revista EAD em Foco!
- Esteban Lopez Moreno, Luiz Gustavo Ribeiro Rolando
Artigos Originais
- A Polifonia no Discurso Pedagógico do Tutor
- Maira Penteado
- A Importância do Ambiente Virtual de Aprendizagem em um Curso de Graduação com Base nas Percepções de Alunos a Distância
- Thaís Tenório, Marilda Adlong Laudelino, André Tenório
- O Emprego do e-Mail e do Facebook na Educação a Distância com Base nas Percepções de Alunos e Egressos
- Thaís Tenório, Taís Rodrigues Marques, Nívia Patterson, André Tenório
- Formação de Professores na Educação a Distância e a Prática Reflexiva
- Nádia França Teixeira, Patrícia Vasconcelos Almeida
- A EaD no Brasil e o Processo de Democratização do Acesso ao Ensino Superior: Diálogos Possíveis
- Felipe Augusto Fernandes Borges
- As Novas Condições Sócio Técnicas para uma EaD 2.0
- Rubem Damião Soares Nogueira
- Educação a Distância (EaD): Processos de Mediação e Uso das Tecnologias em uma Abordagem Transdisciplinar
- Daniela Da Costa Britto Pereira Lima, Lívia Soares de Lima Sousa
Estudos de Caso
- Estágio de Docência e Projetos de Extensão numa Licenciatura em Língua Estrangeira em EaD no Espírito Santo
- Mariza Silva de Moraes
- Percepções de Tutores sobre as Competências Comportamentais
- André Tenório, Cláudio Oliveira da Gama, Thaís Tenório
Publicado: 2015-12-19
Ícone. Porto Alegre, v.1, n.1, 2015 / v.3, n.3, 2018.
Ícone. Porto Alegre, v.3, n.3, 2018.
Publicado: 2018-12-06
- Expediente
- Ícone Ícone: Revista Brasileira de História da Arte
- Editorial
- Ícone Ícone: Revista Brasileira de História da Arte
- A Capa
- Clarice Sena Panizzon
- Sumário
- Ícone Ícone: Revista Brasileira de História da Arte
- Artigos
- Colonialismos e discursos raciais: as Castas de Luis de Mena e o criollismo no México do século XVIII
- Juliana Proenço de Oliveira
- Hanna Levy e a exposição-reação da Galeria Askanasy
- Aline Alessandra Zimmer da Paz Pereira
- Sonia Delaunay: mulher simultânea
- Camila Stella Maggioni Pastori, Laura Amaral Sambaqui Gruber
- Permanências do espírito romântico na arte do século XX
- Mariana Garcia Vasconcellos
- Ponderações sobre uma arte postal de cunho político na América Latina
- Charlene Cabral Pinheiro
- A profissionalização da mulher no Campo artístico
- Ana Claudia de Moura Cabral
- Frederico Morais: crítica de arte a serviço da emancipação
- Victor Velu Fonseca Zaiden Soares
Ícone. Porto Alegre, v.2, n. 2, 2016.
- Editorial
- Equipe Editorial Revista Ícone
- Artigos
- O classicismo na fotografia de Luiz Carlos Felizardo
- Marcelo de Souza Silva
- A experiência do Caos na criação da obra de arte
- Pedro Miguel Arrifano
- Coletivo Gambiologia: por uma produção artística em favor do estímulo do pensamento crítico sobre a contemporaneidade
- Venise Paschoal de Melo, Luciana Martha Silveira
- Sim ou Zero: entre uma forma de vida coletiva e a invenção de si (com arte)
- Edmilson Vitória de Vasconcelos
- Oficina Plantiniana: a Revolução nas Artes Gráficas e no Imaginário Coletivo Ocidental
- Fernanda dos Santos Silva
- Animação no universo contemporâneo: o sincretismo dos desenhos animados e sua relação com o público infantil
- Aylana Teixeira Pimentel Canto
- Os Primeiros Tempos do Cinema Silencioso no Brasil
- Cleber Fernando Gomes
Ícone. Porto Alegre, v.1, n.1, 2015.
Publicado: 2015-04-12
- Artigos
- “O que é bom para o lixo é bom para a poesia”: Uma aproximação com a matéria poética de Rosângela Rennó
- Elvio Antônio Rossi
- Upgrade do Macaco e Metagrafismo: artistas reunidos em busca de uma visualidade não dogmática
- Luiza Abrantes da Graça, Bianca Knaak
- Crítica ao espetáculo da violência: Dora Longo Bahia e as ocupações
- Andréia Duprat
- Convergências entre processos e tecnologias de figuração na Arte: da pintura, fotografia à imagem digital
- Denis Siminovich
- Pensar por si mesmo
- Cláudio Jansen Ferreira
- A Interpretação de Imagem na História da Arte: questões de método
- Diana Silveira de Almeida
- Tradução
- Venus in Exile
- Wendy Steiner
- Editorial
- Equipe Editorial Revista Ícone
- Entre Luz Vertical e Sol Sombrio: Uma Leitura de David com a cabeça de Golias, de Caravaggio
- Andrei Moura
Pourquoi enseigner l’histoire? MARTIN (Lc)
MARTIN, Jean-Clément Martin (dir.), « Pourquoi enseigner l’histoire ? », Revue internationale d’éducation, n° 69, 2015. Resenha de: SYNOWIECKI, Jan. Lectures, 09 déc., 2015.
À l’heure des particularismes religieux, des tensions identitaires, des lignes de fracture traversant les sociétés et des conflits régionaux, il est particulièrement salvateur de se demander non seulement pourquoi, mais comment enseigner l’histoire. Les contributions proposées dans ce numéro de la Revue internationale d’éducation révèlent, par la diversité géographique qu’elles embrassent, la pluralité des façons de transmettre le récit de la muse Clio, que celle-ci revête les habits du récit, de la discipline scientifique, du passé ou des faits considérés comme vrais. Dans les États centralisés (France, Russie, Vietnam, Colombie) où les programmes scolaires sont uniformes, comme dans les États fédéraux (Canada et Allemagne) où l’élaboration des contenus dépend des régions fédérées, la problématique de la transmission d’un récit commun et émancipateur se pose avec acuité. Des pays et régions aux traditions historiographiques aussi différentes que l’Afrique du sud post-apartheid, le Japon, l’Allemagne ou le Trentin Haut-Adige sont traversés par des préoccupations étonnamment similaires quant à l’enseignement de l’histoire même si, en creux, ils y apportent des réponses différentes, nous invitant par là à considérer la variété des pratiques pédagogiques. Une réflexion transnationale sur l’enseignement de l’histoire est d’autant plus bienvenue que les demandes exogènes, émanant du corps politique ou de la société civile, ainsi que la compétition entre mémoires concurrentes, complexifient la transmission des savoirs historiques. Car ces savoirs répondent aux impérieuses nécessités de former des citoyens autonomes et critiques, ancrant l’enseignement de l’histoire dans une perspective résolument civique.
La première question que pose le dossier est celle de la production d’un récit unificateur et, corollairement, celle de l’intégration de mémoires plurielles. L’une des réponses apportées à ce défi consiste à produire et à transmettre une matrice narrative uniforme et verticale, qui tend à étouffer les velléités particularistes, comme ce fut le cas au Maroc à travers les trois générations de manuels scolaires qui ont suivi les réformes de 1970, 1987 et 2002. Mostafa Hassani-Idrissi montre bien à quel point la volonté de transcender les identités particularistes a conduit à forger une image homogène de la communauté nationale, soucieuse de réduire la dichotomie entre arabophones et amazighophones et de réifier le territoire national pour l’abstraire de l’espace des tensions sociales, tout en glorifiant des héros et figures tutélaires qui participent d’un véritable « Panthéon scolaire ». À cette approche verticale se conjugue un emboîtement horizontal des identités, puisque les manuels scolaires marocains, jusque récemment à tout le moins, témoignaient d’une histoire indissociablement liée à celle du Maghreb. Patricia Legris insiste de son côté sur l’uniformité des programmes scolaires français qui, tout en intégrant avec parcimonie les spécificités, ultramarines notamment, entendent ne pas céder aux sirènes localistes et régionalistes afin de garantir l’indivisibilité de la République sur le plan politique et de l’enseignement de l’histoire sur le plan pédagogique, même si l’échelle européenne devient de plus en plus prégnante dans les programmes d’histoire. Mais la production et la transmission d’une histoire cohérente peut devenir une véritable gageure dans des régions frontalières, aux identités culturelles et linguistiques multiples, à l’instar du Trentin Haut-Adige étudié par Émilie Delivré. Dans le Trentin, l’autonomie est bel et bien de mise dans la mesure où l’interprétation des programmes d’histoire est décidée au niveau régional, tandis que dans le Haut-Adige, l’interprétation dépend de la communauté linguistique, puisque trois aires pédagogiques et linguistiques, relevant de trois administrations scolaires sont discernables, une allemande, une italienne et une ladine, proposant chacune un programme d’histoire spécifique et in fine un enseignement linguistiquement cloisonné. Toutefois, la collaboration récente entre chercheurs, enseignants et pédagogues a permis de réfléchir à un enseignement novateur, à la fois en prenant en compte la spécificité frontalière et multilinguistique de la région et en proposant un cadre interprétatif historique commun et réconciliateur, entreprise qui s’est soldée par la rédaction d’un manuel d’histoire du Tyrol commun aux trois groupes linguistiques. Dans ce cadre, les initiatives promouvant l’intégration des minorités anciennes ou récentes par le truchement de l’histoire locale et régionale ainsi que le croisement de plusieurs points de vue historiographiques sont encouragées. La constitution d’un récit intégrateur n’est cependant pas toujours aisée, comme l’atteste le cas de la Russie qui, nonobstant la réaffirmation en 2014 de la nécessité d’une échelle régionale et ethnoculturelle, à travers le « Standard historique et culturel », continue de penser sa généalogie fédérale sur le mode impérial1. Aleksei Killin rappelle la centralité des valeurs de l’orthodoxie et de cet élément de la mythologie nationale qu’est la Russie comme empire, où les relations avec les peuples périphériques ou voisins sont abordées par le prisme conflictuel, et non au travers des interactions et des influences croisées. L’exemple de la Colombie, développé par Sergio Mejía Macía, confirme quant à lui la difficulté d’impulser un enseignement commun lorsque l’État évite tout système public, universel et obligatoire et promeut la liberté éducative des établissements privés, conférant à l’enseignement de l’histoire une dimension particulièrement hétéroclite et fragmentaire.
Ce recueil explore également les intimes relations qui unissent l’histoire et le politique. Edward Vickers, en analysant de près la question de l’enseignement de l’histoire au Japon, nous rappelle à quel point, depuis 1995 notamment, le révisionnisme nationaliste et les politiques de droite ont tendu moins à favoriser la réflexion critique par l’étude de l’histoire qu’à projeter une image positive du pays, amnésique des massacres de l’armée japonaise en Asie, de l’unité 731 ou de l’utilisation des « femmes de réconfort »2. Le choix des manuels scolaires incombe aux autorités préfectorales, et même si la Société japonaise de réforme des manuels d’histoire et diverses associations de droite ont exercé en 2001 des pressions pour que les conseils chargés de l’éducation choisissent eux-mêmes le contenu des manuels, il s’avère que les membres de ces conseils sont nommés par les maires puis approuvés par les autorités locales. Depuis 2012, le gouvernement d’Abe utilise les leviers nécessaires pour minorer les crimes de l’armée japonaise dans les manuels et, parallèlement, mettre l’emphase sur le statut de victimes des nippons ainsi que sur l’héroïsme japonais. Néanmoins, ces diverses pressions n’émanent pas simplement d’en haut et doivent composer avec des revendications de la société civile et d’associations qui partagent cette volonté de dissimuler des sujets encore largement tabous au Japon. Bien que les immixtions du politique conjuguées à un « passé qui ne passe pas » – pour reprendre l’expression d’Henry Rousso – ne soient pas la norme, il apparaît au fil de ce recueil que l’histoire endosse quasiment partout des fonctions éthiques et civiques. Au Vietnam, examiné par Hoang Tanh Tu, il s’agit non seulement d’acquérir les connaissances élémentaires sur l’histoire nationale et mondiale, mais d’éduquer au patriotisme et aux traditions du pays. En Allemagne, comme le prouvent Rainer Bendick et Étienne François, en dépit d’une très grande diversité de programmes selon les Länder, l’enseignement de l’histoire, à la croisée de l’instruction civique, politique et éthique, comporte une dimension normative omniprésente puisque l’élève doit acquérir non seulement des compétences ciblées, mais apprendre à élaborer un jugement autonome à partir d’exercices pratiques et de jeux de rôle. Au Canada enfin, si la conscience historique n’est pas aussi forte qu’en Europe, l’histoire joue un rôle majeur dans l’éducation à la citoyenneté, comme l’indiquent Penney Clark et Louis Le Vasseur.
L’un des grands mérites de ce numéro de la Revue internationale d’éducation est de nous rappeler à quel point la transmission de la discipline historique est inséparable des enjeux mémoriels et des demandes de la société. En Afrique du sud, la fin de l’apartheid a eu un effet particulièrement ambivalent sur l’enseignement de l’histoire. D’une part, la discipline historique s’est avérée fondamentale dans la formation démocratique des jeunes générations de la période post-apartheid et d’autre part, la transition éducative a été entravée par un manque de consensus sur les nouvelles politiques à mener, par une confusion administrative ainsi que par une faible représentation des spécialistes de l’enseignement de l’histoire dans l’élaboration des programmes, ce qui a conduit à marginaliser l’’histoire dans un contexte mémoriel douloureux. Bill et Leah Nasson nous indiquent à ce titre que l’on a préféré répondre aux nécessités de l’économie de marché ainsi qu’aux exigences de l’avenir, au détriment d’un passé fracturé. Bien que le South African History Project, impulsé par Kader Asmal, et le « Réseau d’histoire nationale » aient entrepris d’améliorer substantiellement l’apprentissage de l’histoire et d’étendre les supports pédagogiques et les ressources, force est de constater qu’après 2005, l’histoire s’est sédimentée et a été réduite à un ensemble de compétences quantifiables à acquérir, contribuant à une forme d’amnésie collective et à une régression des connaissances historiques. À l’inverse, les urgences du devoir de mémoire conjuguées à la reconnaissance de la responsabilité de l’État français dans certains épisodes historiques, comme la rafle du Vélodrome d’Hiver, ont accentué les débats sur les complexes relations qu’entretiennent mémoire et histoire, d’autant plus que les craintes de voir promulguée une histoire officielle par les lois mémorielles ont agité la communauté enseignante.
Enfin, l’attention portée aux frontières – mouvantes – de la discipline historique constitue l’un des indéniables apports de ces contributions. Ainsi, au Canada, certaines provinces et certains territoires associent l’histoire et la géographie avec d’autres sciences sociales, tandis qu’en Allemagne l’alliance avec la géographie est très rare, du fait du discrédit dont souffre cette dernière, alors même que tous les enseignants d’histoire sont bivalents. Une question, ébauchée seulement dans l’article consacré au Vietnam, mériterait toutefois d’être davantage explorée : celle du lien entre les décideurs, les autorités, les enseignants et les élèves, dans le cadre d’une sociologie de la réception des programmes scolaires. Le cas vietnamien est d’autant plus instructif qu’il illustre un véritable décalage entre une très forte centralisation des programmes, la tentative d’organiser des activités variées et le désintérêt des élèves vietnamiens pour l’histoire, dans un contexte pédagogique où la mémorisation importe davantage que la compréhension.
Il demeure que ce recueil complet et exhaustif, enrichi d’une fort utile bibliographie commentée, pose autant de questions qu’il n’en résout, tant l’enseignement de l’histoire répond à la diversité des contextes locaux et des enjeux nationaux. Mais là est véritablement la force de cet ensemble d’articles : nous montrer que, quelle que soit la diversité des situations et la polyphonie des enseignements de l’histoire, prédomine la sempiternelle interrogation sur la place de l’histoire dans la société.
Notes
1 Le « Standard historique et culturel » est un guide programmatique adopté en 2014 pour l’ensemble de la Fédération de Russie et élaboré par des chercheurs de l’Académie des sciences de Russie. Il propose une histoire plus culturelle et anthropologique, même si l’apprentissage de la geste des grands individus et des biographies de personnages célèbres demeure central.
2 L’Unité 731, officiellement créée pour réaliser des expérimentations bactériologiques visant à prévenir des épidémies, a servi de support pour des expérimentations et vivisections sur des cobayes humains, notamment en Mandchourie dans les années 1930. Les « femmes de réconfort » désignent quant à elles les esclaves sexuelles utilisées par l’armée impériale dans les territoires conquis en Asie, notamment durant la Seconde Guerre mondiale.
[IF]Negritude e pós-africanidade: crítica das relações raciais contemporâneas | Carlos Gadea
A temática de relações raciais, no Brasil e em outros contextos, como nos Estados Unidos, está, há muito tempo, na ordem do dia. As situações de conflito permeadas pelo racismo – tal como os casos de violência policial contra os negros – fazem emergir, nesses países, um sem número de discussões sobre a questão racial em suas diversas manifestações, sejam elas sociais, políticas, econômicas ou culturais.
A consciência do conflito e da discriminação por diversos atores sociais, tal como os ativistas dos movimentos negros e parte expressiva da Academia, tem ensejado, também, no Brasil e alhures, reflexões sobre o enfrentamento político do racismo em suas dimensões de identidade social e pertencimento cultural, expressas em noções como “raça”, “negritude” e “africanidade”. Negritude e pós-africanidade: crítica das relações raciais contemporâneas, do uruguaio Carlos Gadea, sociólogo e professor da UNISINOS, tem como proposta precípua justamente analisar as configurações e os vínculos entre identidades étnicas e sociais traduzidos nas vivências contemporâneas das relações raciais, no Brasil e nos Estados Unidos.
A hipótese central é a de que, nesses países, o “espaço da negritude”, que para o autor consiste em uma espécie de lugar social atravessado por identificações raciais, performances subjetivas e interesses práticos dos grupos implicados em relações raciais, estaria passando por sensíveis modificações nas últimas décadas.
Gadea parte de uma indagação geral inquietante: na atualidade, o “espaço da negritude” apenas teria sentido no âmbito de uma negritude ancorada na africanidade, através da ideia de ancestralidade, de memória histórica ou de um marcador como a cor da pele? A percepção da heterogeneidade crescente dos espaços da negritude, em contextos urbanos de diferenciação social e individualização se desdobra em perguntas adicionais: só se pode compreender o que representa o “negro”, ou as identidades raciais, a partir do racismo? Quais são as características das relações raciais na contemporaneidade, em diferentes contextos?
O livro é fruto de uma pesquisa de pós-doutorado realizada pelo sociólogo na Universidade de Miami, em 2012. Nessa experiência em solo norte-americano foram levadas a cabo as pesquisas e observações que serão o mote inicial para a percepção atualizada e comparativa sobre as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos, presentes no Capítulo 1, intitulado “Contextos e situações do espaço da negritude”. Miami, uma cidade profundamente multicultural, encerra, em sua complexidade própria, diversos espaços da negritude, formados por populações negras oriundas do Alabama, Geórgia, Jamaica, República Dominicana, Haiti. A cidade é o local onde, em 2012, ocorreu o controverso assassinato do jovem afroamericano Travyon Martin por George Zimmerman, um policial branco e “latino”. A reação de protesto da população negra de Miami, ainda que tenha mobilizado uma memória de violência e discriminação e justaposto os negros de forma geral contra um inimigo institucional comum, parecia não estabelecer como evidente em si mesma uma ligação entre os signos da negritude e uma percepção racializada dos conflitos e da sociedade. Esse aparente paradoxo entre ideias de cor/raça e identidade étnica é explorado pelo autor através da análise das contradições e ambiguidades envolvendo a inserção das comunidades haitianas e dominicanas da capital da Flórida na relação mais genérica com a comunidade negra – ou afro-americana – da cidade.
Uma sexta-feira por mês os haitianos de Miami realizam um encontro cultural no chamado “Little Haiti Cultural Center”, no bairro homônimo. As frequentes idas do sociólogo a esse evento resultaram na impressão de que o Haiti culturalmente representado era contemporâneo, diaspórico e imprevisível. Os haitianos não formam, evidentemente, uma comunidade homogênea; rejeitam, ademais, uma identificação automática com os “afroamericanos”, criando e atualizando sua identidade em termos de uma comunidade nacional imaginada. Nesse sentido, o espaço da negritude entre os haitianos não afirmaria a evidência de uma pertença ao discurso da memória coletiva ou da africanidade; o “pertencimento”, na realidade, reveste-se de ambiguidades para essa comunidade: por um lado, são “negros” no sistema de classificação racial dos EUA, e por essa razão são discriminados também; por outro, essas pessoas “falam” politicamente como membros da diáspora haitiana, tal como se materializou no decorrer dos protestos pela morte de Travyon Martin.
Entre os dominicanos da mesma cidade há ainda outras problemáticas identitárias. Eles seriam particularmente “indecisos”, ambíguos, frente às categorias raciais hegemônicas – “brancos”, “negros”, “latinos”. De um ponto de vista social e do fenótipo eles são “negros”, mas culturalmente se identificam como “hispânicos” – ou “latinos”. Uma característica dos dominicanos seria o fato de se constituírem socialmente como “individualidades”, e não propriamente como uma “comunidade” lastreada em uma experiência cultural comum. Não apenas não residem em um mesmo bairro quanto também não consideram terem sido deslocados compulsoriamente para os EUA – fosse por escravidão (como os afro-americanos) ou problemas econômicos em seu país de origem (latinos de forma geral). Deste modo, não vivenciam os mesmos laços de solidariedade “racial” com os negros norte-americanos nem ativam a memória de um passado escravista para construir sua identidade étnica.
Há, além disso, um traço a diferenciá-los e singularizá-los: o uso da língua espanhola. Tais particularidades servem de mote para o autor fazer uma crítica contundente ao Atlântico Negro (2001), de Paul Gilroy, livro que praticamente ignorou as histórias negras de língua espanhola e portuguesa – o Brasil, nesse caso. Gilroy parece pensar o Atlântico Negro tendo como matriz empírica e epistemológica a realidade das relações raciais nos Estados Unidos. Ora, a vivência cotidiana dos dominicanos negros, idiossincrática pela linguagem/idioma, é encenada também a partir de uma espécie de cultura nacional imaginada, “latina”, questionando assim os pressupostos sociológicos, culturais e empíricos que são mobilizados para pensar a experiência negra nos Estados Unidos como uma matriz homogeneizada em princípios como “consciência racial”, “memória da escravidão” ou “africanidade”.
Na sequência, ao final da primeira parte do livro, Gadea se debruça sobre um contexto brasileiro específico: o dos jovens negros de Porto Alegre (RS). O autor foi ao Parque da Redenção, lugar de grande movimentação cultural e de pessoas na capital gaúcha. O parque também é ocupado por jovens negros, que são em sua maioria oriundos dos bairros periféricos da cidade. Aí eles perfazem uma saída de seu contexto – estigmatizado – de origem, estabelecendo uma existência dual nos diversos espaços em que sua negritude é tornada visível. Essa “saída” seria expressão de processos de individualização e diferenciação social – próprios de culturas urbanas – vivenciados por esses jovens, que engendram assim “jogos de reversão” de adscrições socioraciais, desconstruindo essas identificações em nome de atitudes de autodeterminação. Tal experiência encontra o que é afirmado – e questionado – ao longo do livro: a negritude desses jovens não parece ter na “pertença racial” um lastro empírico evidente, nem na “ancestralidade” ou “africanidade” um eixo automático de identificação. O espaço da negritude, para esses sujeitos sociais, é produto de negociações e disputas simbólicas e semânticas, posto que sua presença no Parque da Redenção problematizaria os nexos entre o “corpo negro” e os processos de subalternidade.
Em uma tarde de domingo o dito sociólogo foi conversar com os jovens. Ao questioná-los sobre sua negritude, notou que esta era percebida – e constituída – menos por uma ligação com um “mundo afro-brasileiro” imaginado do que pela consciência da diferença que emerge do racismo em situações de tensão e conflito no cotidiano citadino – como ser barrado em uma festa, colocado na parede pela polícia, etc. Esse espaço na negritude é, portanto, relacional, ou seja, não existe uma negritude preexistente ao jogo das relações sociais/raciais. Não se trata de negar que esses jovens não tenham uma “consciência de si” enquanto negros, mas que os signos sociais da negritude existem “entre parênteses”, em “estado de suspensão”, vindo à tona nas situações de crise e conflito.
O segundo – e último – capítulo, “O reverso da negritude e o avesso da africanidade”, consiste em uma ampla reflexão teórica, ancorada nas percepções mais empíricas e situacionais do capítulo anterior. Prosseguindo em seu exame acerca das mudanças no espaço da negritude na contemporaneidade, o autor busca fortalecer o argumento de que, do ponto de vista da etnicidade, as lógicas das relações sociais, na atualidade, pari passu à racialização, colocam em jogo determinados processos de individualização e diferenciação social, problematizando nexos política e sociologicamente consagrados entre negritude e africanidade. Uma fina matriz sociológica simmeliana aqui está presente, na medida em que se afirma que o alargamento e a diversificação do campo de experiência e das interações sociais dos indivíduos negros reforçaria, paradoxalmente, sua vivência e identificação propriamente individual. Isso implicaria em repensar, por exemplo, a ideia de “gueto”, do ponto de vista dos supostos elos entre ideais comunitários e de pertença racial – tal como visto pela Escola de Chicago para o caso norteamericano. Se o gueto é espaço e metáfora de determinadas relações raciais e formas de negritude – ao menos nos Estados Unidos –, ele, todavia, não representaria as novas dinâmicas individuais e sociais pelas quais se constroem e se atualizam os espaços da negritude, material e simbolicamente falando. As experiências dos negros haitianos e dominicanos de Miami e dos jovens negros porto-alegrenses seriam testemunho dessas novas configurações.
Os sentidos da negritude são questionados: se ela representou, política e intelectualmente – para o Movimento Negro brasileiro, nos anos 1970 –, uma “tomada de consciência de ser negro”, como pode ser entendida na atualidade? De que forma coloca em xeque as estruturas epistemológicas que o Ocidente moderno criou para definir a humanidade em termos de hierarquia racial? O autor então investe sobre a noção-chave de “africanidade”:
A africanidade é um espaço de elaboração discursiva e política que pretende sintetizar a pertença coletiva de um grupo humano a uma comunidade presumivelmente fundamentada em determinadas especificidades históricas e culturais referenciadas no continente africano (p. 87; grifo do autor).
A africanidade, nessa definição, tem uma dimensão tanto pedagógica quanto de uma técnica de subjetivação, para a população negra, visando ao reconhecimento enquanto etnicidade particular e cultura comum, lastreada na ideia de uma ancestralidade. A consciência sobre essa africanidade seria condição para o autorreconhecimento enquanto “sujeito negro”. A perspectiva “afrocêntrica” presente nessa noção de africanidade é criticada pelo autor, pois esse “lugar” epistemológico não comportaria a compreensão das atitudes e comportamentos, por exemplo, dos jovens negros urbanos, não abarcando, necessariamente, as dinâmicas da vida social dos negros brasileiros em sua complexidade e multiplicidade.
A esposada leitura de autores como Stuart Hall e Michel Foucault impossibilita pensar o sujeito como dado a priori, anterior às relações sociais e discursivas que o produzem e o atualizam constantemente. Gadea diz ser necessário pensar em outras variáveis dos conflitos racismo e do antirracismo. Uma dessas variáveis estaria presente na ideia de “códigos de urbanidade”, o que implica em analisar as relações entre as cidades e as etnicidades que as habitam, nos espaços simbólicos e de sociabilidade nos quais a negritude é permanentemente dispersada e reconfigurada. A vivência dessa urbanidade diversificaria as experiências e as possibilidades de afiliação grupal dos jovens negros – o principal grupo social a que o autor se refere, no contexto brasileiro. A negritude, e aqui está uma reflexão importante, estaria para além da ideia de africanidade, e também da própria noção de comunidade. Desta forma, as referidas mudanças no “espaço da negritude” seriam atravessadas por uma marcante dualidade: “[…] por um lado, o que se pode entender como uma aproximação crescente de múltiplos contextos sociais de referência e, pelo outro, uma diferenciação social geradora de uma experiência da individualidade e da negritude muito particular.” (p. 112).
As pertenças aos grupos estão se diversificando e transformando também as experiências individuais dos “jovens negros”, na medida em que a individualização e a diferenciação social – Simmel (1977 [1908]) – levariam ao enfraquecimento dos laços entre os indivíduos mais imediatos e possibilitariam a construção de outros [laços] com indivíduos socialmente mais distantes. Tal processo é visto aqui de forma positiva, pois essa diversificação tenderia a enriquecer o caldo sociocultural no qual se dão as relações raciais – e no qual se criam novas formas de combater o racismo e pensar o antirracismo.
O livro de Carlos Gadea trabalha com um amplo espectro de questões, eixos temáticos e perspectivas teóricas. Percorre vários campos do conhecimento, especialmente a sociologia dedicada às relações raciais. Com esta sociologia se estabelece um bom diálogo, especialmente com autores da vertente pós-colonial, como Paul Gilroy (2001), Stuart Hall (2000; 2003), Sérgio Costa (2006) e Lívio Sansone (2004). Da obra de Costa pode-se dizer que se compartilha de uma perspectiva comparativa e transnacional de entender a questão racial no Brasil contemporâneo; com Sansone há uma tentativa de compreensão da negritude brasileira em um leque analítico mais plural e multifacetado, para além de discursos calcados exclusivamente na ideia de etnicidade.
Uma das contribuições mais relevantes da obra está em analisar a maneira como os ditos processos de individualização e diferenciação social no Brasil atual, próprios de contextos urbanos, dão novas configurações a discursos sobre identidade, modificando a morfologia das relações raciais e os entendimentos e desafios em torno do racismo e antirracismo em “espaços da negritude” constantemente transformados. As reflexões de Gadea sobre as ligações entre urbanidade e negritude fornecem interessantes possibilidades teóricas e campos de estudo para os cientistas sociais, seja no Brasil ou em outras sociedades.
É preciso dizer, contudo, que o trabalho poderia ser mais bem fundamentado empiricamente, especialmente em relação aos “jovens negros urbanos” da periferia de Porto Alegre. Não fica clara a opção em se ater apenas a esse grupo. Na realidade, pouco se fica sabendo sobre eles: os “jovens negros”, que fundamentam uma série de percepções sobre relações raciais no Brasil, são em número de seis. Quem são eles? De que periferia portoalegrense eles provém? Ainda que as percepções sociológicas se mostrem de fato muito pertinentes, uma “amostragem” tão reduzida é própria para se falar sobre uma complexidade que está na base dos argumentos centrais do livro? Tal ponto, ainda que fragilize, não desqualifica a abordagem teórica mais geral de Negritude e pós-africanidade, que traz um conjunto de questionamentos fundamentais para se refletir sobre os “espaços da negritude”, no Brasil e em outros contextos, a partir de olhares complexos e plurais.
Referências
COSTA, Sérgio. Dois atlânticos: teoria social, anti-racismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Ed. 34, 2001.
HALL, Suart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
SANSONE, Livio. Negritude sem etnicidade. Salvador/Rio de Janeiro: Edufba/Pallas, 2007.
SIMMEL, Georg. Sociología. Madrid: Ed. Revista de Occidente, 1977 [1908].
Rafael Petry Trapp – Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense. Bolsista Faperj. E-mail: rafaelpetrytrapp@gmail.com
GADEA, Carlos. Negritude e pós-africanidade: crítica das relações raciais contemporâneas. Porto Alegre: Sulina, 2013. Resenha de: TRAPP, Rafael Petry. Espaço(s) da negritude. Aedos. Porto Alegre, v.7, n.17, p.539-545, dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Interpreting Early India – THAPAR (RMA)
THAPAR, Romila. Interpreting Early India. New Delhi: Oxford University Press, 1992. 181p. Resenha de: CARVALHO, Matheus Landau de. Olhares historiográficos sobre a Índia antiga: As contribuições de Romila Thapar para uma reflexão sobre a interpretação da história e da sociedade antiga da Índia. Revista Mundo Antigo, v.4, n.8, dez., 2015.
Publicado pela Oxford University Press em 1992, Interpreting Early India é uma obra da historiadora indiana Romila Thapar que reúne seis ensaios sobre historiografia e interpretação da história e sociedade antigas da Índia. A partir de uma ênfase sobre abordagens em história social, a autora defende, em linhas gerais, a importância de se entender e localizar várias perspectivas bem estabelecidas sobre o passado indiano para se chegar a um entendimento esclarecido de situações contemporâneas, como as disputas entre hindus e outras comunidades indianas, sem deixar de lado a ampla variedade de opiniões e visões disponíveis sobre o passado indiano, particularmente acerca de religião e sociedade na Índia antiga. Leia Mais
Migración peruana en Santiago: prácticas, espacios y economías – GARCÉZ H (EA)
GARCÉZ H., Alejandro. Migración peruana en Santiago: prácticas, espacios y economías. Santiago: Ril Editores, 2015. Resenha de: CORTÉS, Vicente. Estududios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.51, dic., 2015.
- ¿Qué es “un problema de espacio”?
¿Qué es lo que un etnógrafo puede decirnos acerca del espacio? El libro Migración peruana en Santiago, del profesor Alejandro Garcés (Universidad Católica del Norte), aborda “un campo de fenómenos que describen la presencia y la diferencia que la migración peruana introduce en el espacio urbano [de Santiago]” (14-15). El problema parece, de esta forma, fácilmente definido: un problema de concentración de migrantes peruanos, y la ocupación o territorialización del espacio público, que dan lugar a una “aglomeración de lo peruano” (15). Problema de espacio inmediatamente correlativo y coextensivo a un problema identitario, o mejor —como dice con precisión el auto—, a un problema de denotación.
- De la antropología a una etnografía fenomenológica
No habría que equivocarse, sin embargo. No hay unidad hipostasiada de “lo peruano” ni mucho menos la intención de delimitar “el espacio de lo peruano”. El autor pretende, a la vez, mucho más que la mera taxonomización, identificación y caracterización de un grupo supuestamente homogéneo, y también mucho menos; puesto que el autor parece haber renunciado de entrada al saber antropológico que tiende a reducir la sociedad o colectividad migrante a una supuesta identidad peruana (determinante de todo un carácter, de una serie de hábitos, de un ethos correlativo a una esencia, si se quiere), reducción que no es sino la reducción del problema del proceso migratorio a un problema policial o psicológico. Mucho más también, puesto que se trata de un trabajo etnográfico: la descripción de una población en proceso de migración y de los modos de producción de espacios (residenciales, económicos, culturales, de ocio). De suerte que la pregunta no es “¿qué es lo peruano?”; la pregunta es “¿cómo ‘lo peruano’ ha llegado a constituirse en la forma en que precisamente se ha constituido y se sigue constituyendo?”. Dicho de otra forma: ¿cómo lo peruano ha llegado a constituirse en un proceso experiencial que es indisociablemente interno y externo? El lector atento habrá notado que estamos frente a un libro con profundas raigambres filosóficas: toda una etnografía fenomenológica de la experiencia migrante, una etnografía de los fenómenos de formación social de la ocupación territorial migrante. Así las cosas, para hacer la etnografía de la territorialización peruana en Santiago, no se puede intervenir el “campo de fenómenos” con un logos supuestamente anterior a la voz (y menos cuando la unidad de un grupo, como nota el autor [19] solo puede fijarse por el trayecto que va de un país de origen a una ciudad de destino). Es necesario dejar discurrir la voz del migrante y atender a lo que dice. Y es precisamente como comienza esta investigación: el etnógrafo logra introducirse en una reunión de migrantes peruanos en la discoteca-restaurante La Conga (Santiago Centro) para no solamente “presenciar” o “ver”, sino también, y sobre todo, escuchar la voz migrante. ¿Qué se dice? Sería ingenuo creer que el etnógrafo se encontrará por fin con la expresión auténtica de “lo popular” del “otro”. Los problemas son de praxis: los migrantes plantearon problemas tales como la necesidad de construir una “mediación entre origen y destino” (problema residencial o de “territorialidad otra” [32]), o “la disputa de una legitimidad para la interlocución con las autoridades locales chilenas” (problemas de fiscalización y policial); por último, la necesidad de “desconcentrar la zona” económica ocupada por ellos mismos en Santiago Centro (problema de la “economía étnica”). Al “problema de espacio”, problema de la “diferencia migrante” (21), responde, desde dentro, toda una política de espacios. Lección profunda: cuando no se tiene nada que decir, hay que comenzar por escuchar.
- Espacio y lugar
Con esto tenemos también la matriz directora del presente trabajo: no se trata de saber cuán o cuán poco integrados están los peruanos (por qué no los colombianos, o los mismos chilenos, pregunta el autor en una nota importante de la página 19); tampoco se trata de acusar discriminaciones. El problema es el de la “constitución de un locus”, esto es, no de un mero espacio indeterminado, homogéneo, sino de un lugar cualitativamente diferenciado: “locus de recursos” o de “estigmatización”. En efecto, “estos espacios presentan en su interior un carácter propio, una especificidad de interacciones y prácticas sociales, de sentidos producidos por la experiencia migrante, que le dotan de una densidad específica” (20). ¿Quiere esto decir que volvemos al paradigma del migrante popular, identificado como tal y obligado a expresarse como tal? En ningún caso2. A la delimitación territorial (residencial y comercial) corresponde una dinámica interna que “determina su propia permeabilidad” (20). Y es que las dinámicas de estos lugares requieren constantemente de flujos extraños al círculo circunscrito a lo identitario (como es el caso de la articulación de las economías étnicas con capitales de pequeños empresarios chilenos), que dislocan el imaginario antropológico de la pureza de la economía étnica (capítulo tres). Porosidad del espacio, entonces, de los lugares ocupados por los migrantes peruanos; porosidad que en nada contradice la constitución de una colectividad, sino que la implica, más bien. De modo tal que, si hay algo como “lo peruano” en Santiago de Chile, esta identidad se construye, en esta ciudad, por sus espacios, o más bien por los modos de ocupación, de territorialización (que es siempre, por supuesto, una re-territorialización), a partir de una multiplicidad de individuos migrantes que vienen a conectarse —entre sí y con “autóctonos”— con sus particularidades en una compleja trama de ocupación territorial: formación de un “lugar”, de una diferencia en el espacio. Y aquí entra sin duda un tercer y último problema: no solo hay un problema de espacios, ni un problema de la diferencia migrante, sino también un problema de denotación, es decir, de los modos de denominación de “lo peruano” con los que, tanto desde dentro como desde fuera, “se aglutinan diversos sentidos acerca del espacio [ocupado por los migrantes peruanos]” (28). Aglutinación significante y funcional del espacio de identificación que se constituye como lugar a partir de determinaciones y denominaciones tanto extrínsecas como intrínsecas.
- “Centralidades migrantes”
El autor se ve en la necesidad de inventar el concepto de “centralidad migrante”, que permite una exploración de la experiencia migrante a partir de tres ejes: uno, el “vínculo entre lo espacial y lo social”; dos, las “formas comerciales y prácticas de ocupación del espacio público”; y tres, las formas de denotación, de estigmatización y de confinamiento que surgen de las instituciones locales chilenas. Así, este concepto permite incluir en el estudio de la experiencia migrante la “yuxtaposición de la concentración de la residencia y del comercio migrante” (22), distanciándose del concepto clásico de “enclave”, por no adaptarse a la complejidad del objeto de estudio de la presente investigación3. Ciertamente este distanciamiento no debe ser interpretado en términos de oposición. El autor es consciente de la importancia de los trabajos de Portes (y otros) al respecto: mediante el concepto de “enclave” ha sido posible explorar un fenómeno social que no se correspondía con la matriz de desarrollo de las ciudades elaborado por la escuela de Chicago (41-46)4. La migración peruana en Santiago, efectivamente, responde a algunos de los criterios que podrían hacer creer que se trata de un enclave en sentido estricto. Sin embargo, “supone otra estrategia de integración al mercado de trabajo, al mismo tiempo que constituyen un nuevo patrón de asentamiento urbano” (45). Por ejemplo: en los emprendimientos peruanos en Chile no hay una clara división social del trabajo (empresario peruano que contrate peruanos como mano de obra barata), sino que descansan muchas veces en el trabajo familiar (107-111). Pero sobre todo, mientras que “la fuerza de la idea de enclave radica en su capacidad de confinar unas prácticas, la idea de centralidad migrante parte de la descripción de lo confinado para comunicarlo con aquello que le rodea, esto es, le definen también su permeabilidad, su porosidad” (48). En efecto:
“(…) las formaciones comerciales de la migración peruana en Santiago forman parte de la construcción de un espacio público de la migración, un marco de visibilidad para la heterogeneidad propia de lo urbano, y en esa línea podemos interpretarlas como una estrategia de apropiación del espacio urbano en el marco de la experiencia migrante peruana, que aglutina una diversidad de otras dimensiones que por supuesto exceden la dinámica propiamente económica o comercial” (49).
Las centralidades migrantes determinan así la unidad fenoménica de investigación del presente estudio.
De este modo se articula el libro en torno a los diferentes aspectos que implica el concepto de “centralidad migrante”: primero, se propone un “examen del proceso económico interno que da lugar a los comercios”, que permite mostrar los límites de la noción de “economía étnica” (capítulo tres); segundo, un “análisis de las centralidades migrantes como espacios en que se produce un proceso de territorialización de la experiencia migrante” a través de la “construcción de una memoria de la ocupación de estos espacios en Santiago de Chile” (capítulo cuatro); tercero, se trata de la cuestión de la ocupación del espacio público (calle), ocupación que funciona como principio de reproducción de la experiencia migrante (capítulo cinco); por último, en cuarto lugar, y como consecuencia de lo analizado en el capítulo anterior, se analizan los “dispositivos que operan en contra de la indisciplina que estos usos suponen, y que valiéndose de la supuesta inseguridad, ilegalidad y falta de higiene vinculadas al comercio de alimentos, denotan y/o estereotipan lo peruano para confinarlo en otro lugar, para relocalizar una diferencia que se hace molesta sobremanera en espacios del centro de la ciudad, ahora recargados de sentido patrimonial” (capítulo seis).
- Algunas remarcas conclusivas
El libro da cuenta de una profunda y larga investigación, tanto de un acabado estudio de campo como de una potente discusión intelectual, a la vez etnográfica y filosófica. De esta forma, se es capaz de responder a la pregunta: ¿qué es lo que un etnógrafo podría enseñarnos acerca del espacio? Contra la construcción de imágenes guiadas por criterios comunicacionales, hay que responder de manera tajante: hay una producción, una formación siempre colectiva del espacio, o más bien, como ya se dijo, del lugar; una apropiación y apertura colectiva de los espacios de la ciudad. El libro de Alejandro Garcés es una obra importante para la etnografía en Chile y está sin duda marcado por el esfuerzo de toda una generación de antropólogos y sociólogos que tanto ha buscado la rigurosidad científica como la creatividad conceptual.
Notas
2Aunque el autor no lo cita, hay varios puntos de encuentro teórico con Le philosophe et sespauvres de J. Rancière.
3El “enclave étnico” se define como “la concentración en un espacio físico de firmas empresas étnicas que emplean una proporción significativa de trabajadores de la misma minoría” (43).
4“Contra la supuesta idea de la dispersión espacial como proceso geográfico simultáneo a la integración social de los migrantes, las trayectorias de estos mismos en destino nos hablan de una persistencia del centro como una importante fuerza aglutinadora de la residencialidad y de la economía migrante en la ciudad” (61).
Vicente Cortés – Universidad Alberto Hurtado y Universidad Diego Portales.
[IF]BUSTOS Beatriz (Comp), PRIETO Manuel (Comp), BARTON Jonathan (Comp), Ecología política en Chile: naturaliza/ propriedade/ conocimiento y poder (T), Editorial Universitaria (E), GIMINIANI Piergiorgio (Res), JACOB Daniela (Res), Estudios Atacameños (EA), Ecologia política, América/Chile (L), Natureza, Propriedade, Conhecimento, Poder
BUSTOS, Beatriz; PRIETO, Manuel; BARTON, Jonathan (Compiladores). Ecología política en Chile: naturaliza, propriedade, conocimiento y poder. [Sn.]: Editorial Universitaria, 2015. Resenha de: GIMINIANI, Piergiorgio; JACOB, Daniela. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.53, nov., 2016.
El libro “Ecología política en Chile: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder”, editado por Beatriz Bustos, Manuel Prieto y Jonathan Barton, reúne a doce investigadores afiliados a universidades nacionales e internacionales, que comparten un interés en el estudio de los procesos eco-políticos que están afectando Chile. Los nueve capítulos que componen este libro dan fe de una gran heterogeneidad de enfoques analíticos y de las localidades de investigación. A pesar de su diversidad, los capítulos de “Ecología Política en Chile” se encuentran organizados a partir de una reflexión conceptual sobre los elementos claves para establecer un análisis comparativo y un diálogo entre las distintas posibilidades de investigación abiertas por la ecología política. Los editores proponen pensar la ecología política a partir de cuatro dimensiones: naturaleza, propiedad, conocimiento y poder. Al problematizar estas cuatro dimensiones, el libro nos invita a preguntarnos sobre cuáles son las naturalezas que las prácticas de uso y conservación de recursos naturales producen desde el punto de vista tanto ontológico como epistemológico.
El enfoque hacia la producción ontológica y epistemológica de la naturaleza en cuanto proceso político es una de las principales novedades del volumen. Sin embargo, no es la única. En los debates analíticos y políticos existe una tendencia a reducir la ecología política a oposiciones dicotómicas, que obscurecen la fragmentación e hibridación de lo político en las relaciones de poder en juego en los conflictos ambientales. Los capítulos de este libro, en particular los capítulos de Palomino-Schalscha y de Román y Barton, nos invitan a considerar el conflicto socio-ecológico más allá de categorías binarias, demostrando el carácter inmanentemente político de estos procesos. Esto va acorde al planteamiento de los autores sobre la ecología política como una postura que “rompe con el mito de la naturaleza como fenómeno prepolítico” (50). La reflexión sobre lo político avanzada por los autores de este libro, nos ayuda a reconocer las especificidades de este fenómeno en la ideología y lógica neoliberal. Esta consideración es inevitable debido a que cualquier estudio de ecología política en Chile, un bastión del neo-liberalismo desde el comienzo de la dictadura militar en 1973, hace evidente los mecanismos particulares de esta ideología en los procesos extracción y, en menor medida, de conservación de recursos naturales en la esfera pública como privada. A diferencia de lo que pueda pensarse en un primer momento, el neoliberalismo no es simplemente la ausencia de Estado, sino que más bien se caracteriza por la reconfiguración de la gobernanza pública según modelos de lógica financiera, (y ya no la teoría política o filosofía moral) con el fin de sustentar la expansión del mercado, en este caso, de recursos y servicios naturales. A pesar del evidente énfasis de la gobernabilidad medio ambiental neoliberal en el extractivismo, el neoliberalismo en el campo ecológico (como en tantos otros) no es un fenómeno exento de contradicciones. El ejemplo más evidente es el así llamado “neoliberalismo verde”, que mediante la propiedad privada de territorios coarta el extractivismo de recursos, iniciativa que va acorde a las lógicas y expansión del mercado. Como bien señala Palomino-Schalscha en su capítulo sobre los senderos pewenche Trekaleyin en el Alto Bío-Bío, dentro de las mismas lógicas neoliberales, hay espacio para la reapropiación de estas por parte de la sociedad civil, dando espacio a la contestación con el efecto de producir espacios de “aguante”, como fue propuesto por la antropóloga Elizabeth Povinelli (2011).
Otro aspecto llamativo de este libro es la apertura de un espacio de diálogo teórico entre corrientes de pensamiento que no suelen entrar en relación. Los capítulos de este libro se inspiran tanto en los principios de la acumulación por desposesión desarrollado por David Harvey (2003) y en general por la geografía neo-marxista a las corrientes post-humanas, inspiradas en el trabajo de Donna Haraway (2008) y Bruno Latour (2008) en el estudio de la ciencia y tecnología. La relación entre estas dos corrientes permite ver cómo su conjunción es solo en apariencia contradictoria. Por un lado, un enfoque estructural nos permite ver quién produce e impone modelos epistémi-cos dominantes sobre la naturaleza; por otro lado, una perspectiva post-humanista nos invita a reconocer cómo el conocimiento en sí mismo, es un proceso de construcción ontológico donde resulta difícil plantear una clara distinción entre conocimientos científicos y sociales. Ambas posibilidades coexisten en conflictos medioambientales, como el desastre ambiental provocado por la celulosa Arauco que vio la pérdida de vida de cien Cisnes de Cuello Negro en Valdivia, presentado por Sepúlveda y Sundberg, y el desarrollo de enfermedades causada por la sobrepoblación de salmón comercial en todo el sur de Chile analizado por Bustos. El estudio de estos tipos de casos se vuelve necesario por una reflexión crítica constante sobre la cultura del experticia, como un campo de saber a -politicizado que caracteriza la producción de conocimiento y políticas públicas en Chile.
Otras dos novedades relevantes de este libro son la pro-blematización del concepto de propiedad en las disputas medioambientales y la relación entre colonialismo y ex-tractivismo en juego, en los procesos eco-políticos contemporáneos en Chile. Los capítulos de Manuel Prieto y David Tecklin, demuestran como la propiedad es una relación de poder práctica más allá de su carácter legal. De esta forma, la propiedad aparece tanto como una imposición gubernamental y como un campo político abierto a fracturas, contradicciones y resistencias. La relación entre extractivismo y colonialismo es evidente en consideración de una larga historia de expropiación de recursos naturales hacia los pueblos originarios en Chile, legitimizada, principalmente, por mecanismos legales de propiedad como el de la terra nullius. La faceta opuesta del racismo ambiental es la penetración de ideas y símbolos asociados a los pueblos indígenas en el movimiento ambientalista, un fenómeno ampliamente documentado a nivel global (Tsing 2005). A pesar del riesgo implícito de esencializar las sociedades indígenas, el conocimiento de sus nociones eco-cosmológicas pueden contribuir al problemático reconocimiento de la diversidad cultural en Chile (o más bien su falta) y al desarrollo de nuevos valores medioambientales universales, un punto planteado por Rozzi en su capítulo sobre ética biocultural.
A pesar de las contribuciones que se han hecho explícitas, hay una interrogante que inevitablemente aparece al leer el texto ¿Hasta qué punto este libro sólo aplica marcos teóricos globales, provenientes de centros de producción de conocimiento a Chile, que vendría a ser periférico a estos? De hecho, rellenar un vacío analítico en un lugar como Chile, puede parecer inicialmente como el trabajo típico de traducción de conceptos desarrollados en los centros de una particular disciplina, en este caso los departamentos de geografía en las universidades del “norte”, y la aplicación de esto a un contexto supuestamente periférico. La centralidad de la traducción entre centros y periferias del saber académico ha sido destacada en los estudios coloniales para recalcar cómo ciertos lugares son destinados a ser casos de estudio y otros centros de producción de teoría. Es innegable que en este libro hay un interés loable en presentar al lector chileno e hispano hablante, algunas de las discusiones globales contemporáneas en geografía desarrolladas principalmente en el mundo anglófono. Sin embargo, la comunicación generada entre los contribuidores de este libro, de distintos contextos académicos, demuestra implícitamente no solo lo que el estudio del caso chileno puede beneficiar en términos de comprenderse a sí mismo mediante marcos teóricos globales, sino también lo que la comunidad académica y política global puede aprender de Chile. De esta manera, algunos conceptos que han tenido su génesis en el norte vienen a desterritorializarse y a enriquecerse con otras experiencias, dialogando y modificando el modo en que aparecen en el lugar de su génesis estos mismos conceptos.
Más allá de las contribuciones y discusiones teóricas de este libro, que hemos listado anteriormente, vale volver también a lo planteado por Tom Perreault en el prefacio del libro “el conocimiento académico crítico sirve tanto para la crítica como para la acción” (9). Esta frase, estrechamente vinculada a los orígenes de la ecología política y a su relación a los movimientos sociales, deja desde un comienzo este libro como una promesa inacabada. La función crítica está cumplida con creces, ahora queda esperar a ver cómo estas ideas son capturadas y resignificadas en las luchas ambientales que se están dando en el Chile actual, para sólo de este modo pasar a la tan ansiada acción.
Referências
Latour, B. 2008. Reensamblar lo social: una introducción a la teoría del actor-red. Buenos Aires: Manantial. [ Links ]
Harvey, D. 2003. The new imperialism. Oxford University Press. [ Links ]
Haraway, D. J. 2008. When species meet. Vol. 224. U of Minnesota Press. [ Links ]
Povinelli, E. A. 2011. Economies of abandonment: Social belonging and endurance in late liberalism. Durham, NC: Duke University Press. [ Links ]
Tsing, A. L. 2005. Friction: An ethnography of global connection. Princeton University Press. [ Links ]
Piergiorgio Di Giminiani – Programa de Antropología y CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago (pdigiminia@uc.cl).
Daniela Jacob – CIIR (CONICYT/FONDAP/15110006), Pontificia Universidad Católica de Chile. Avenida Vicuña Mackenna 4860, Macul, Santiago (dpjacob@uc.cl).
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Segunda Guerra Mundial e o Brasil: 70 anos depois / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2015
Compreender os processos políticos, econômicos, sociais e culturais que envolveram o Brasil na Segunda Guerra Mundial, remete a novas possibilidades interpretativas para a História do Brasil Contemporâneo, pois, como enfatizou Elizabeth Cancelli em entrevista recente, é imprescindível conhecer mais a fundo a violência política nos processos históricos enveredados pelo país no século XX. Afinal, indicou ela, os anos Vargas e a ditadura militar “deixaram uma herança muito grande em nossa cultura política, infelizmente. Houve, entretanto, rupturas e continuidades. São dois períodos ditatoriais que se utilizaram da violência em seus projetos políticos de poder.” (CANCELLI, 2013:12).[1]
A polícia, na Era Vargas, utilizava costumeiramente a violência como instrumento de manutenção da ordem e controle social e, portanto, como parte de uma concepção de mundo, com todas as suas implicações e repercussões no conjunto da sociedade. Em particular, as contingências do período autoritário caracterizado pelo Estado Novo, entre 1937 e 1945, marcaram significativamente a vida de grupos étnicos no Brasil e reverberaram tanto no âmbito das políticas institucionais, quanto na questão da família, da língua, etc.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os aparatos repressivos incidiram de forma abrupta sobre populações ítalo-germânicas e nipônicas, culminando com processos no Tribunal de Segurança Nacional, organismo que se tornou uma espécie de ‘tribunal do medo’. Por isso, em muitas localidades do interior do país falar da guerra ainda é um tabu, traduzido em rancores e silêncios. Nesse sentido, organizar e publicar o Dossiê Segunda Guerra Mundial e o Brasil: 70 anos depois, com artigos de diferentes enfoques sobre a memória, as intolerâncias e preconceitos, o Integralismo, as relações interacionais, a economia, a repressão, possui toda uma atualidade para uma compreensão mais ampla e profunda do papel da violência na cultura política brasileira e catarinense.
Nessa perspectiva, João Fábio Bertonha discute a suposta “naturalidade” na formatação das duas alianças chave da Segunda Guerra Mundial: os Aliados e o Eixo, observando os interesses geopolíticos, econômicos, de poder e ideológicos na composição e desses dois blocos em luta. Dennison de Oliveira apresenta pesquisa sobre a política de Defesa Hemisférica desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial pelos Estados Unidos da América (EUA) em aliança com o Brasil e o enfrentamento das ameaças (reais ou supostas) dos países do Eixo ao continente; problematizando a forma como ela era entendida pelas autoridades militares brasileiras e estadunidenses. Ludolf Waldmann Júnior procura entender o papel da Marinha do Brasil no processo de alinhamento do país aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, destacando o apoio daquela arma a tal alinhamento.
Andrea Helena Petry Rahmeier aborda questões relacionadas ao corte das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha em janeiro de 1942 e à declaração de guerra, em agosto do mesmo ano, analisando documentação militar e diplomática alemã. Já Méri Frotscher busca memórias de pessoas que emigraram para a Alemanha em 1938, explorando histórias de vida, a repressão ao partido nazista no Sul do Brasil, a emigração, a vida em meio ao conflito, e a repatriação ao Brasil, em 1946 / 7.
Moisés Wagner Franciscon explora textos jornalísticos de jornais do PCB sobre a produção cinematográfica soviética voltada para a Segunda Guerra, e as formas como se dava esse contato através de jornais do PCB, buscando apreender seu alcance e conteúdo. Marcos Dalcatagne estuda a conjuntura econômica brasileira dos anos de 1942 a 1945, período de intensa produção do medo da escassez que afligia a população, tentando compreender como variados seguimentos da população vivenciaram esta situação.
Bibiana Werle analisa memórias de descendentes de imigrantes alemães de um município do Rio Grande do Sul trazendo à tona lembranças de um tempo marcado por proibições em relação a suas representações de caráter étnico, setenta anos após o fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial. Leandro Mayer mostra a repressão sofrida pelos moradores de Itapiranga (SC) durante o Estado Novo de Vargas, visto que ali se concentrava um núcleo relativamente homogêneo de alemães católicos, afetando fortemente a história regional e remodelando a sociedade local. Por fim, Gustavo Tiengo Pontes trata de notícias e seções relacionadas com a temática das Forças Armadas que foram publicadas no jornal integralista “Flamma Verde” editado em Florianópolis entre 1936-1938; procurando contribuir para um melhor entendimento das relações dos chamados “camisas-verdes” com as Forças Armadas.
Por seu turno, na sessão Traduções, Carlo Romeo, integrante da Associação Nacional dos Partisans da Itália (Associazione Nazionale Partigiani d’Italia) apresenta o texto A Resistência italiana no Alto Ádige e a questão sul-tirolesa, fruto de apresentação no Colóquio “Resistência e Autonomia, em ocasião do Dia da Autonomia”, em setembro de 2015com uma interpretação da resistência italiana durante a Segunda Guerra Mundial
Na sessão Resenhas, Juliano Benatti Machado Paz apresenta o livro Tempos diferentes, discursos iguais: a construção do corpo feminino na história, de Ana Maria Colling; e Yomara Feitosa C. de Oliveira Fagionato resenha a obra Histórias na ditadura: Santa Catarina (1964-1985), organizada por Ana Brancher e Reinaldo Lindolfo Lohn.
Nota
1. CANCELLI, Elizabeth. VIOLÊNCIA NA VIDA POLÍTICA BRASILEIRA E A URGÊNCIA DE NOVAS PESQUISAS HISTÓRICAS. Entrevista. Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 5, n. 9, jul. / dez. 2013.
Luiz Felipe Falcão
Marlene de Fáveri
Editores
FALCÃO, Luiz Felipe; FÁVERI, Marlene de. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.26, 2015. Acessar publicação original [DR]
Things in Motion. Objects Itineraries in Anthropological Practice – JOYCE; GILLESPIE (RAP)
JOYCE, Rosemary A.; GILLESPIE, Susan D.. Things in Motion. Objects Itineraries in Anthropological Practice. New Mexico: School for Advanced Research Press, 2015. 284 p. Resenha de: PACHECO, Daniel Grecco. Revista Arqueologia Pública Campinas, São Paulo, v.9, n.2, dez-2015, p.116-121.
Este livro deriva de um seminário organizado pela School for Advanced Research em Santa Fé, Novo México, Estados Unidos, realizado de oito a nove de maio de 2012 e que recebeu o título de Things in Motion: Object Histories, Biographies, and Itineraries. Fundada em 1907, no Novo México, a School for Advanced Research é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas e estudos sobre arqueologia e etnologia do sudoeste americano.
Tal seminário realizado em 2012 reuniu pesquisadores da American Anthropological Association e teve como tema central a discussão do conceito de “itinerário” de objetos para traçar as rotas e as formas pelas quais eles circulam, a relação que mantém com locais participantes desse movimento e quais elementos sociais estão presentes nesse sistema.
A tarefa de materializar as discussões deste seminário num livro coube à Rosemary Joyce, arqueóloga, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Berkley na Califórnia, Estados Unidos, em conjunto com Susan Gillespie, também arqueóloga e professora do Departamento de Antropologia da Universidade da Flórida nos Estados Unidos.
A idéia de traçar e mapear um itinerário de objetos e coisas é uma proposta desses acadêmicos participantes do seminário e deste livro, como um complemento da idéia desenvolvida anteriormente pelo antropólogo norte-americano, Igor Kopytoff, no final da década de 1980, de uma análise que levasse em conta uma “biografia” dos objetos, apresentada no artigo A Biografia Cultural das Coisas: A Mercantilização como Processo. Este artigo fez parte de um livro de outro antropólogo, o indiano Arjun Appadurai, A Vida social das Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural, que se tornou um estudo paradigmático dentro da teoria social que procura analisar os objetos em seus diferentes momentos, e sua constante inter-relação com os humanos.
Tanto a proposta de Kopytoff quanto a de Appadurai se inserem numa trajetória de discussões teóricas sobre a cultura material oriundas de uma chamada “virada material” sofrida pela antropologia e suas disciplinas relacionadas durante a década de 1980. Este momento assistiu a um grande número de acadêmicos se debruçando sobre questões relativas à materialidade dos objetos. Inspiradas por questões filosóficas anteriores formuladas por pensadores como o alemão Edmund Husserl na primeira metade do século XX, que propunha uma “volta às coisas mesmas”, com discussões da fenomenologia. Husserl estava interessado em discutir a presença do fenômeno dentro da relação entre sujeito e objeto. Pois seria a partir disso que poderíamos significar o nosso mundo a partir de como as coisas eram vistas por nós, e assim voltar ao próprio mundo da vida, ao mundo das experiências.
Essa discussão filosófica do que “seria uma coisa?” se faz presente também em partes do pensamento do também filosofo alemão Martin Heidegger que explorou as implicações vigentes na ciência e no senso comum sobre as coisas. Em seu texto, “Das Ding”, Heidegger (1971) inspirado por Kant, tenta pensar qual seriam o limite e o sentido de determinar certa coisa. Esses dois estudos pioneiros e o início da exploração filosófica sobre o mundo das coisas serviram como ponto de partida para se pensar as próprias coisas como partes de projetos humanos.
A “virada para as coisas” levou a uma maior atenção por parte dos estudiosos a análises do papel de entidades não humanas dentro da teoria social. Segundo Rosemary Joyce e Susan Gillespie, os novos estudos da cultura material desenvolveram uma vontade de extrair dos artefatos os seus valores sociais e significados, não simplesmente atributos comportamentais ou tecnológicos. Fazendo uso de uma abordagem que privilegiasse as constantes relações entre humanos e objetos, como os estudos propostos por Alfred Gell (1998), Christopher Gosden (1999), Christopher Tilley (2006), entre outros. Numa perspectiva em que pessoas e objetos sejam vistos em uma relação dialética de dependência constante, mutuamente constituídos, num tipo de “entrelaçamento”, presente também no conceito discutido por Ian Hodder (2012) chamado de entanglement.
Joyce e Gillespie chamam a atenção para a presença dessa orientação antropológica de tal inter-subjetividade entre humanos e coisas em obras de autores como Bronislaw Malinowski (1978), e Marcel Mauss (2013) com seus estudos sobre trocas e circularidades de objetos, e pensar como certos objetos fazem parte da pessoalidade de seus manufatores e levam tal pessoalidade imbuída em si próprios.
Para uma melhor compreensão dessa relação entre objetos e humanos e perceber as etapas dos itinerários onde estão inseridos, se faz necessária a utilização de uma ontologia que questione a visão de mundo moderna, moldada pelo Iluminismo que se constitui a partir da separação em distintos domínios a sociedade, a natureza e a religião. Tal separação teria originado a dicotomia entre objetos e pessoas pensados como pertencentes a diferentes domínios antagônicos entre si.
Essa nova ontologia seria o ponto de partida para um novo materialismo, que enxerga as coisas como partes integrais de relacionamentos e subjetividades, em processos ativos de materialização nos quais a incorporação humana é uma parte integral. Com isso, se propõe também uma agência social ampliada aos objetos, como agentes e atores legítimos e não apenas como elementos passivos das dinâmicas sociais (GELL, 1998; LATOUR, 2009; INGOLD, 2011).
Joyce e Gillespie questionam alguns pontos levantados por essas idéias simétricas entre objetos e pessoas, que acabam indo numa direção inversa ao proposto, ao considerar que os significados e a agência dos objetos seriam originários apenas de uma ação humana sobre eles. Isso é colocado também por Gosden e Hodder que consideram a existência de “comunidades de objetos” com suas próprias lógicas e trajetórias de histórias, desconsiderando os humanos como centrais no Processo de mudança social.
Outra questão discutida é a necessidade da utilização de novos modelos analíticos de movimentos ou fluxos dentro da Arqueologia que possam ser utilizados para compreender as inter- relações entre objetos e humanos. Um modelo que consiga capturar todas as dinâmicas que envolvem um objeto. Daí a proposta de uso do termo itinerários. Segundo Joyce e Gillespie, essa nova metáfora conseguiria abarcar melhor as relações dos objetos e suas ações e movimentos, considerando suas mudanças e permanências, usos e re-usos, que acrescentam novos significados aos objetos. Tal proposição não seria algo linear e orientado segundo a vida humana, de nascimento, infância, fase adulta, velhice, morte e desintegração, conforme proposto pelos teóricos da vida social das coisas, ou de sua biografia cultural. Ao apresentar os limites dessas teorias, as autoras do livro defendem que essa nova proposição teria uma abordagem de seguir a própria dinâmica das coisas, e não tentar interpretá-las a partir de parâmetros presentes na vida humana. Esta seria uma forma de se tornar independente da constante presença humana nas interpretações dos objetos.
A organização da dinâmica das coisas por itinerários possibilitaria resistir à imposição da fronteira entre uma coisa e representações dela, possibilitando viagens de coisas via descrições textuais, desenhos ou fotografias. Além disso, o itinerário seria uma parte da produção de uma espacialidade, formaria uma cadeia de operações independentemente ativas, sem um padrão linear, adquirindo também uma unicidade.
Todas essas discussões são apresentadas por Joyce e Gillespie no primeiro capítulo, de uma forma introdutória para se apresentar a discussão e o contexto deste novo conceito utilizado no livro. Os capítulos que seguem, num total de onze, utilizam-se do conceito de itinerário de objetos, e também uma abordagem de história de vida dos objetos, para discutir estudos de caso, com exemplos da aplicação de tais elementos teóricos.
O capítulo 2, “Things in Motion: Itineraries of Ulua Marble Vases”, de Rosemary Joyce, trata de vasos de mármore estilo Ulua feitos em Honduras na época pré-hispânica, e que hoje circulam como objetos de museus e representam um patrimônio cultural. Joyce traça os itinerários desses artefatos, que vai desde a circulação da matéria prima das peças, passando pelo próprio objeto num contexto antigo, e a inserção em circuitos contemporâneos. Este artigo é central para a aplicação num estudo de caso da teoria apresentada pelas autoras na introdução do livro.
Susan Gillespie, no capítulo 3, “Journe‟s End (?): The Travels of La Venta Offering” 4, examina um conjunto de artefatos oriundos do sítio de La Venta na Costa do Golfo do México. Nomeado como Oferenda 4 de La Venta, este conjunto é composto por 16 estatuetas antropomórficas feitas de pedra, e seis lâminas em jade, organizados para formar um grupo de miniaturas. A discussão neste capítulo é norteada pela questão de como esses objetos podem ser “rastreados” arqueologicamente, e serem transformados por seus movimentos e seu posicionamento num depósito. Gillespie utiliza a teoria do itinerário dos objetos como uma forma de investigá-los seguindo seus vestígios historicizados de práticas materiais. E tentar perceber como esses objetos foram tratados isolados de seus grupos originais a partir de suas diversas viagens para exibições em museus, o que acabou acarretando a perda de seu significado original.
No capítulo 4, “Places to Go and Social Worlds to Constitute: The Fractal Itinerarie of Tarascan Obsidian Idols in Prehispanic Mexico”, David Haskell, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, trata da circulação de pedras, um conjunto de obsidiana, levando em conta uma permanente conexão entre esses artefatos e o local de onde foram coletados. Haskell faz uso de uma ontologia proveniente dos povos indígenas tarrascos do oeste do México, do tempo pré-hispanico, que considera uma característica relacional entre objetos e humanos, em que ambos são constituídos mutuamente. Além de uma idéia de que cada parte desse conjunto de artefatos levaria dentro de si uma “essência” da divindade dinástica Curicaueri, aproximando ao que Alfred Gell chamou de “ídolos não icônicos”. Haskell trata o movimento de partes desse conjunto como itinerários, utilizando-se de referencias em textos coloniais, para ressaltar a capacidade fundamental de movimento desses elementos como algo para reafirmar a presença da deidade Curicaueri nas diversas partes do estado tarrasco.
O capítulo 5 de Elliot Blair, professor do Departamento de Antropologia da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, chamado “Glass Beads and Global Itineraries” trata da jornada de contas de vidro de oficinas espanholas para locais coloniais, enfatizando a noção de movimentos dessas peças. Blair apresenta as diversas etapas desse itinerário, como a manufatura, distribuição, consumo, a escavação, análises e a curadoria, destacando os importantes papéis sociais dos objetos em cada um desses itinerários, como as interações com as comunidades de produtores e consumidores desses artefatos. O que, segundo o autor, possibilitaria num melhor entendimento dos papéis desses objetos no tempo e espaço.
“Stones in Movement: Tracing the Itineraries of Menhirs, Stelae, and Statue-Menhir in Iberian Landscapes” é o capítulo 6 escrito por Marta Díaz-Guardamino, pesquisadora do Departamento de Arqueologia da Universidade de Southampton, Inglaterra. Díaz-Guardamino traça um itinerário de monumentos de pedra como menires, estelas, e menires-estátuas na Península Ibérica entre os séculos V e VI a.C.. A autora desafia e questiona a idéia de imobilidade de tais pedras, ao apresentar uma interpretação de que esses objetos eram ativos nas relações com as pessoas, objetos e lugares ao longo do tempo. Fazendo uso do conceito de itinerário, Díaz- Guardamino examina as formas como essas pedras mediavam sua produção, reprodução, manipulação, reinterpretação em diferentes tipos de relações sociais com múltiplas temporalidades e espacialidades.
O capítulo 7 “Geologies in Motion: Itineraries of Stone, Clay, and Pots in the Lake Titicaca Basin”, de Andrew Roddick, professor do Departamento de Antropologia da Universidade McMaster, no Canadá, explora o conceito de itinerários de objetos para materiais de origem geológica na bacia do Lago Titicaca na Bolívia. Roddick trata da produção cerâmica nas terras altas bolivianas, e de que forma as fontes dessa argila se mantém conectadas aos materiais já manufaturados, trabalhando as relações entre os objetos e relações sociais em diferentes locais.
Alexander Bauer escreve o capítulo 8, “The Kula of Long-Term Loans: Cultural Object Itineraries and the Promise of the Postcolonial „Universal‟ Museum”. Bauer discute o itinerário de objetos culturais inseridos numa nova ordem museológica com suas práticas e políticas num contexto pós-colonial. O autor trata de empréstimos de objetos e acordos de colaboração entre países sobre a circulação de artefatos, e de que forma o conceito de itinerário de objetos pode ser usado para interpretar a criação de novas relações sociais com esses artefatos e as comunidades e entre as próprias comunidades que cuidam deles.
O capitulo 9, “Healing Space-Time: Medical Performance and Object Itineraries on a Tanzanian Landscape”, é escrito por Jonathan Waltz, curador de Arte Americana do Museu de Arte Sheldon da Universidade de Nebraska-Lincoln, Estados Unidos. Waltz examina a capacidade dos objetos em movimento criar novas formas culturais, ao associar a circulação desses artefatos à culturas em movimento. Waltz discute a montagem de objetos de curandeiros do grupo Zigua da Tanzânia e como curandeiros contemporâneos que levam esses objetos em rotas históricas de caravanas transformam objetos e restauram o equilíbrio social a partir da prática de suas performances.
Heather Law Pezzarossi, doutora em arqueologia pela Universidade de Berkley, Estados Unidos, no capítulo 10, “Native Basketry and the Dynamics of Social Landscapes in Southern New England”, discute o papel dos objetos na prática de construção de locais dos Nativos, e como forma de manutenção da própria comunidade onde se dava essa manufatura. A autora examina a intersecção entre a materialidade e a localidade na montagem de cestas do sudoeste da Nova Inglaterra, seguindo seus itinerários desde a sua manufatura por mulheres nativas Nipmuc, no início do século XIX. Desta forma, os cestos agiriam como mediadores em relações sociais, estendendo-os no tempo e espaço e permitindo a produção material e social de novos espaços, evidenciando o papel dos espaços e negociação e transformação a partir da prática e da circulação dos objetos.
O capítulo 11, escrito por Neil Wallis, curador assistente da divisão de Arqueologia do Museu de História Natural da Universidade da Flórida, “The Living Past: Itineraries of Swift Creek Images through Wood, Earthenware, and Ether”, enfatiza como um itinerário pode ser entendido como constituído por fluxos e paradas. Wallis analisa a circulação de designs específicos da cultura Swift Creek e como eles podem afetar a relação entre a visualização e a construção de conhecimento. Ele justifica o uso do conceito de itinerário, pois trata de objetos hipotéticos como os designs e não apenas objetos físicos, já que o uso do conceito de biografias de objetos com a utilização de termos como vida, morte e vida após a morte, seria insuficiente para discutir os modernos fluxos dos designs de Swift Creek, por exemplo.
Com uma discussão teórica prévia e a apresentação de onze estudos de caso, o livro Things in Motion traz uma interessante ferramenta de interpretação das dinâmicas sofridas por um objeto no tempo e espaço. Ao se apresentar como uma alternativa à proposta colocada por Kopytoff e Appadurai de uma análise que leve em conta apenas uma “vida social das coisas”, Joyce, Gillespie e os outros autores que fazem parte deste livro contribuem para o debate da materialidade dos objetos presente nas ciências humanas nas últimas décadas. Uma abordagem que ajuda a interpretar o “mundo” dos objetos de uma maneira mais complexa e que procure abarcar os diferentes aspectos que o compõe.
Referências
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GOSDEN, Christopher; MARSHALL, Yvonne. The Cultural Biography of Objects. World Archaeology, Oxford: n. 31 (2), p. 169-178, 1999. HEIDEGGER, Martin. The Thing. In: Poetry, Language, Thought. p. 165-182. New York: Harper and Row, 1971.
HODDER, Ian. Entangled. An Archaeology of the Relationships between Humans and Things. Malden: Wiley-Blackwell, 2012. HUSSERL, Edmund. A Crise da humanidade Européia e a Filosofia. Porto Alegre: Editora PUC/RS, 2002.
INGOLD, Tim. Being Alive: Essays on Movement, Knowledge, and Description. London: Routledge, 2011.
KOPYTOFF, Igor. A Biografia Cultural das Coisas: A Mercantilização como Processo. In: APPADURAI, Arjan. (Org.). A Vida social das Cosias: As Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008.
LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos. São Paulo: Editora 34, 2009.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonauts of the Western Pacific. London: Routledge, 1978. MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
TILLEY, Christopher; KEANE, Webb; KUCHLER, Susanne; ROWLANDS, Michael, SPYER, Patricia (Ed.). Handbook of Material Culture. London: Sage, 2006.
Daniel Grecco Pacheco – Mestrando em História da Arte pela Unicamp, graduado em História pela PUC/SP. Bolsista CNPQ. E-mail: daniel_gpacheco@yahoo.com.br
[MLPDB]Usos públicos e políticos da memória: Construções – Conflitos – Representações / Anos 90 / 2015
A luta por combater as violações aos direitos humanos e as ações que visam a estabelecer políticas de memória se evidenciaram com força a partir dos últimos anos do século XX. A partir de meados dos anos 1980, no processo de redemocratização ocorrido nos países sul-americanos, rompeu-se o silêncio em relação ao passado autoritário, as vítimas passaram a reivindicar a revelação dos fatos, assinalando sua preocupação com a memória coletiva. Reconheceu-se que a memória não é um exercício individual, pertencente somente aos vitimados, mas que toda a sociedade submetida à repressão e ao autoritarismo e, sobretudo, ao ocultamento das brutalidades, tinha o direito de conhecer a verdade e buscar romper com a impunidade em relação aos crimes cometidos por entes estatais. O dossiê Usos públicos e políticos da memória: construções, conflitos e representações busca apresentar uma parte do amplo universo de pesquisas atuais sobre os usos da memória e suas implicações culturais, identitárias e políticas em suas diferentes manifestações – sejam elas construções e representações ou gestão de conflitos de memória – em sociedades marcadas por um passado traumático.
Instituir mecanismos de enfrentamento do passado traumático através da criação de estratégias que envolveram o estabelecimento da verdade e a busca de uma justiça de transição se tornou a tônica de organizações de direitos humanos em sociedades que viveram violência estatal. O enfrentamento das brutalidades cometidas pelos estados foi o caminho para buscar a verdade, reparar os danos e iniciar um processo de reconciliação com o passado com vistas a consolidar a democracia. Essas sociedades encontraram diferentes estratégias para acertar as contas com o passado, tendo em vista que a transição à democracia ou à pacificação teve expressões diversas de um país para outro.
Assim sendo, a iniciativa de organizar um dossiê que desse conta desse universo de pesquisas respondeu ao crescente interesse sobre os debates de políticas de reparação e memória, em parte estimulado pelos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, no Brasil, mas também por um profícuo intercâmbio interdisciplinar e internacional entre grupos de pesquisa que, de maneira comparativa, procuram entender os complexos processos de relação entre a memória e a sociedade. Assim, o volume da Revista Anos 90, coordenado por mim, Claudia Wasserman (UFRGS) e pelas professoras Caroline Silveira Bauer (UFPel) e Isabel Pipper Shafir (Universidad de Chile), também possibilitou a apresentação de artigos por parte dos integrantes do projeto Memoria y sociedad. Las políticas de reparación y memoria y los processos sociales em la construcción de la memoria pública contemporânea en Europa y América. Conflicto, representación y gestión, financiado pelo Ministério de Innovación y Ciencia da Catalunha, e coordenado pelo professor da Universidade de Barcelona (UB) Ricard Vinyes Ribas. Foi também oportuno para a divulgação de artigos oriundos de outros projetos e pesquisadores que têm como tema central de suas investigações os usos públicos e políticos da memória. Todos os artigos foram revisados pelo comitê editorial da revista Anos 90, pelos coordenadores do dossiê e submetidos ao processo de duplo parecer às cegas.
O dossiê aparece com artigos sobre memória e usos do passado na Europa, notadamente acerca de monumentos memoriais construídos em Bruxelas, na Alemanha e na Espanha, e na América Latina, com ênfase, neste último caso, para Brasil, Chile, Colômbia e México. Os autores são todos especialistas no tema e apresentam artigos que são fruto de pesquisas concluídas recentemente.
Ricard Vinyes Ribas, no artigo Los usos públicos del pasado en la Europa: hacia una memoria sincrética, analisa a House of European History como um instrumento de gestão do passado. A pesquisa refere-se às políticas sobre o passado que a União Europeia (UE) vem construindo nos últimos anos e os antecedentes intelectuais e políticos dessas iniciativas. Argumenta que o relato presente na exposição permanente do novo museu está orientado a estabelecer o mito fundacional de uma suposta identidade entre os países do bloco. Descreve igualmente a pressão exercida pelos países da Europa Oriental para instalar sua própria e excludente versão da memória europeia como a única memória possível e que deva ser adotada por todos os europeus.
O artigo de Valentina Rozas Krause, Cruising Eisenman’s Holocaust Memorial, analisa uma exposição de arte no Museu Judaico de Nova Iorque que exibe as imagens de jovens homens gays posando junto aos blocos de pedra do Memorial do Holocausto, em Berlim. Valentina Rozas Krause reflete justamente sobre os motivos que levaram esses jovens a escolher o memorial de Berlim para suas fotos de perfil, que compõem um site de namoro. Analisa como os espaços de memória podem sofrer ressignificação em práticas cotidianas e também revela as possibilidades de um memorial performático reinscrever questões de gênero e sexualidade em narrativas aparentemente improváveis, como as do Holocausto, com o objetivo de chamar atenção para uma memória subterrânea, como a da perseguição dos nazistas aos homossexuais.
O artigo de Nancy Berthier, La Verticalidad Superlativa del Valle de los Caídos y sus avatares cinematográficos durante la transición, un Noeud de Mémoir aborda a apropriação de outro monumento histórico europeu. Construído para expressar a epopeia da ditadura franquista e para homenagear os heróis da guerra contra os republicanos, o monumento foi reapropriado pelo cinema e o artigo discute justamente de que forma uma imagem que simboliza a ditadura circulou depois da morte do ditador. Depois de explicar as características do monumento no discurso franquista, Nancy Berthier apresenta os filmes que foram feitos entre 1975 e 1981 que visavam a prolongar ou a subverter aquela narrativa memorial.
Os artigos de Caroline Silveira Bauer, O debate legislativo sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade e as múltiplas articulações e dimensões de temporalidade da ditadura civil-militar brasileira e de Benito Bisso Schmidt, De quanta Memória precisa uma Democracia? Uma reflexão sobre as relações entre práticas memoriais e práticas democráticas no Brasil atual estão situados em tema muito atual do debate sobre memória da ditadura no Brasil. Caroline Bauer analisa o debate ocorrido na sessão legislativa que aprovou a criação da Comissão Nacional da Verdade evidenciando os usos públicos e políticos do passado, bem como as múltiplas articulações e dimensões de temporalidade que coexistem em se tratando da temática da ditadura civil-militar brasileira. Parte de uma pesquisa mais ampla, a análise centra-se na diferença entre o “tempo dos vencidos” e o “tempo dos vencedores” e de que forma essas diferentes concepções temporais influenciam na elaboração de políticas de memória e consecução da justiça de transição no Brasil. Benito Schmidt analisa a relação entre práticas de memória e práticas democráticas, tendo como eixo projetos memoriais realizados no Brasil atual em relação à ditadura civil-militar iniciada em 1964. Examina lugares de memória e manifestações da sociedade civil que evocam o passado autoritário, considerando-os como integrantes da justiça de transição. Postula também a necessidade de uma memória exemplar a respeito da ditadura como elemento fundamental à construção de uma democracia vigorosa e de uma cidadania plena.
O artigo de Isabel Piper Shafir, Memorias de la violencia política en Chile: 1970-2014, reflete sobre a hegemonia das memórias das vítimas e sobre as vítimas no Chile e argumenta que essa preponderância encobre outras memórias. Com menor visibilidade e reconhecimento, essas outras memórias participam igualmente do processo de memorialização de uma forma menos clara e precisa, mas com importantes efeitos psicológicos, sociais e políticos. Sustenta, por outro lado, que limitar as ações e políticas de memória à reparação das vítimas pode excluir a discussão pública e o debate sério e reflexivo em torno das violências políticas exercidas no período democrático. Argumenta ainda que condenar as práticas do passado, por vezes, pode excluir as práticas atuais, igualmente perversas e violentas.
Outros dois artigos discutem as comemorações de datas redondas como forma de legitimar o passado e conciliar os traumas, mas que também colocam em movimento atores que questionam o passado plasmado nas festividades. É o caso dos artigos de Carlos Alberto Rios Gordillo, Reflexiones sobre um acontecimiento. La conmemoración del bicentenario, la memoria y el presente, sobre a comemoração dos duzentos anos de vida independente no México, e de Sebastián Vargas Alvarez, La investigación sobre las conmemoraciones rituales em Colombia (siglos XIX-XXI): balance historiográfico, sobre a literatura contemporânea a respeito das comemorações rituais na Colômbia e a estreita relação que estas festas tem com os projetos de construção e legitimação do Estado-nação durante os últimos dois séculos. Ambos artigos refletem sobre os usos políticos do passado que se fazem presentes nos eventos comemorativos, assim como evidenciam a memória como um campo de batalha atual.
Com essa variedade de pesquisas acerca da memória pública e da apropriação e reapropriação do passado, bem como de seus usos, a Revista Anos 90 espera oferecer ao leitor uma parte do que vem sendo produzido neste campo da história e que certamente constitui extraordinária contribuição para o enriquecimento de nosso conhecimento sobre o tema.
Claudia Wasserman.
WASSERMAN, Claudia. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 22, n. 42, dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Cultura de cohesión e integración social en ciudades chilenas – SABATINI et. al. (CCRH)
SABATINI, Francisco; WORMALD, Guillermo; RASSE, Alejandra; TREBILCOCK, María Pazed.. Cultura de cohesión e integración social en ciudades chilenas. 2013. Pontificia Universidad Católica de Chile, Colección Estudios Urbanos, Santiago: 304p.
Na esteira de um conjunto de estudos internacionais sobre os impactos da globalização e do neoliberalismo implantado em diversos países desde a década de oitenta e noventa, as cidades chilenas têm sido analisadas a partir de diversas perspectivas. O livro Cultura de Cohesión e Integración social en ciudades chilenas, organizado pelos professores Francisco Sabatini, Guillermo Worlmald, Alejandra Rasse e María Paz Trebilcock, discute a possibilidade cultural de gerar menores níveis de segregação ou de criar espaços de mistura entre pessoas de distintas condições sociais. Questionando até que ponto a segregação é produto, apenas, da segmentação produzida pelo mercado ou se há, também, um substrato cultural “pró-segregação”, os autores, em parceria com outros colegas e seus alunos, realizaram uma ampla pesquisa na Grande Santiago, em Valparaíso-Viña del Mar e em La Serena-Coquimbo, com a hipótese de que as condições estruturais da sociedade chilena poderiam estar gerando mais segregação do que as pessoas efetivamente desejariam.
Partindo dessa hipótese, a investigação buscou analisar a disposição dos citadinos à convivência com grupos sociais diferentes, analisando esta possibilidade, não apenas partir de uma dimensão estrutural (a segregação nos tipos de escolas, bairros, lugares de recreação, transporte e trabalho), mas, também (e principalmente), através de uma dimensão cultural (a valoração que fazem os sujeitos sobre as oportunidades de contato, compreendida como um indicador de coesão social). Assim, o trabalho se propõe a compreender a cultura de coesão e integração nas cidades chilenas, entendida como uma base normativa que sustenta a confiança, a cooperação e o reconhecimento entre sujeitos desconhecidos.
Para tanto, o trabalho utilizou vários procedimentos de pesquisa, como um survey nas referidas cidades e estudos qualitativos efetuados em regiões e bairros de “classes médias”, consideradas como aquelas que poderiam ser mais afetadas por políticas de relocalização espacial orientadas para a produção de cidades menos segregadas. Para os autores, a macrossegregação da pobreza em espaços isolados torna a vida desses grupos ainda mais vulnerável, conformando processos de “guetização”, enquanto que a microssegregação, produzida pelo deslocamento de grupos médios a essas zonas, engendraria um processo de “medianização”.
O livro constitui uma coletânea de artigos produzidos por diferentes autores sobre cidades e contextos distintos, configurando-se como abordagens de campo específicas de uma problemática mais ampla, que é analisada pelos organizadores à luz dos achados no último capítulo. Em síntese, os capítulos de campo abordam temas como: a convivência e a indiferença existente entre vizinhos de um heterogêneo bairro de classe média no centro de Santiago; um bairro de Santiago de camadas média-baixas, com trajetórias de mobilidade social que evitam interações com os vizinhos de grupos mais baixos, por não enxergar neles os valores do esforço individual, meritocracia e trabalho; o caso de um bairro de média e alta renda de Santiago, onde os vizinhos buscam construir uma comunidade de iguais, mas que, pela característica heterogênea do bairro, toleram a existência de outros, ainda que somente em espaços formais e distantes; a diversidade social existente nos espaços públicos de Viña del Mar, que contradiz os imaginários que supunham uma cidade mais segregada; o estudo de um bairro em Valparaíso, que afirma as características específicas dessa cidade universitária e de topografia singular de abertura à diversidade; as formas de distinção na conurbação de La Coquimbo-La Serena, que se pautam, principalmente, na forte identidade territorial e na segmentação frente aos novos imigrantes de alta renda, ligados à mineração; e os critérios de distinção existentes no metrô de Santiago, que se baseiam mais em modos de conduta e características corporais do que em critérios socioeconômicos.
Os resultados gerais apresentados no livro apontam que os citadinos chilenos possuem uma atitude favorável à diversidade e uma atitude pessoal de alta disposição ao contato com pessoas de outra classe social. Apesar desta alta valoração, salientam os autores, em função da estrutura segregada das cidades, suas práticas sociais estão marcadas mais por experiências de homogeneidade do que de diversidade. Assim, concluem que, de fato, as atuais formas estruturais da sociedade estariam gerando mais segregação do que os chilenos desejam ou menos diversidade do que estão dispostos, em termos culturais, a aceitar.
Muitos elementos explorados qualitativamente nos capítulos de campo, no entanto, matizam esse achado. O alto nível de disposição ao contato com o outro está associado a um conjunto de restrições e condições. Os níveis de tolerância dependem do espaço (são maiores nos espaços públicos de consumo como os shoppings e nos de passagem, como no metrô, e menores nas escolas e nos bairros, onde se constroem laços mais fortes); dependem, também, de uma estrutura normativa que regule o modo como os contatos se desenvolvem (como o controle social dos shoppings e as regras das atividades laborais); e, ainda, dependem das características dos sujeitos e do compartilhamento de padrões culturais pautados na ideia de trabalho, na valorização do esforço e do mérito individual, tomados como prova de uma vida “decente”. Além disso, a escala da cidade impactaria nesse processo, uma vez que cidades menores ofereceriam maiores oportunidades de integração.
Portanto, para os autores, esses achados indicam que “mais do que rígidas barreiras socioeconômicas ou de classe social, se impõe uma diferenciação baseada em estilos de vida, costumes e elementos culturais” (Sabatini et al, 2013, p. 58, livre tradução). Esta interpretação culturalista se baseia na perspectiva de que a emergência de um mercado plenamente capitalista no Chile desconstruiu a desigualdade social baseada em posições hierárquicas, de modo que “os recursos econômicos de cada um, especialmente na nova sociedade de mercado, passam a ser uma porta de entrada mais que uma barreira à convivência social com um outro diferente” (Sabatini et al, 2013, p. 58, livre tradução), posto que a nova diferenciação teria um fundamento fortemente cultural. Concomitantemente, algumas mudanças político-culturais teriam feito surgir dimensões mais horizontais relativas aos direitos e à ideia de cidadania. Assim, os valores sociais chilenos teriam mudado, passando a incorporar a ideia de autonomia individual, baseada na ideologia da sociedade de oportunidades, trabalho esforçado, individualização e expectativas de mobilidade social.
Contribuiriam também para este processo a ampliação das camadas médias na sociedade chilena e transformações urbanas, como os processos de gentrificação1 e de difusão de shoppings centers, que gerariam, respectivamente, maior aproximação física entre as classes sociais, diminuindo a escala da segregação, e ofereceriam novas experiências de diversidade urbana.
O estudo conclui, também, que a disposição ao contato com o outro se dá mais em função de momentos efêmeros do que da construção de vínculos. Mas, para os autores, mesmo que superficiais, os contatos podem ter importantes efeitos simbólicos sobre os imaginários, ajudando a derrubar ou construir estereótipos, abrindo oportunidades para a criação de futuros vínculos: “a indiferença, que tradicionalmente foi catalogada como uma fragilização da coesão, emerge como um valor com potencial coesivo, na medida em que se torna, junto com as regras, uma base mínima para compartilhar os espaços […]” (Sabatini et al, 2013, p. 283, livre tradução). Assim, sugerem que esta abertura à convivência com o outro, existente nas cidades chilenas, seja aproveitada por políticas urbanas de integração social.
Esses achados, que os próprios autores consideram como surpreendentes, suscitam algumas questões. Além de possíveis questionamentos à perspectiva culturalista, que separa da análise o vínculo estrutural entre os capitais econômico e cultural, e a “aposta” na copresença entre os grupos diferentes, como estratégia de redução da segregação, para além das formas urbanas e dos conteúdos sociais envolvidos; dados os próprios resultados do trabalho, que identificaram um conjunto de distinções, é duvidosa a disposição ampla ao encontro com os outros sujeitos sociais, mesmo na sociedade chilena, onde os níveis de desigualdades são menores quando comparada à brasileira, por exemplo. As condições apresentadas como limites indicam que, na prática cotidiana, os contatos com outros grupos sociais só são aceitos em condições bem restritivas, como o compartilhamento da cultura do trabalho e meritocracia, e, em certos espaços normatizados, onde há controle social. Isto é, os resultados permitem interpretar que não há uma disposição ao inesperado, ao imprevisível, ao diferente na sua diferença, por assim dizer, ou mesmo à pluralidade e à igualdade.
Nem o surgimento de uma sociedade de mercado, baseada na meritocracia, tampouco a proximidade entre classes produzidas pelos processos de “gentrificação” parecem estar contribuindo para ampliar a disposição à heterogeneidade social ou para engendrar formas menos intolerantes de sociabilidade urbana, já que permanecem formas de distinção, evitação e controle social.
A pesquisa, apresentada na forma do livro Cultura de Cohesión e Integración en Ciudades Chilenas, baseou-se em trabalho empírico extenso e apresentou resultados interessantes. Eles, no entanto, vão numa direção diferente de outros trabalhos, como os de Richard Sennet, Mike Davis e Tereza Caldeira, entre outros autores, que têm enfatizado a restrição dos espaços públicos nas cidades contemporâneas, a constituição de uma sociabilidade violenta e uma menor disposição à interação social com grupos heterogêneos.
Sobre estas diferenças e as questões colocadas aqui, pode-se indagar em que medida a sociedade chilena apresenta um desenvolvimento específico, que não acompanha o que a literatura acadêmica tem constatado em cidades estadunidenses, europeias e em outras latino-americanas. Esta e outras questões já valem a leitura deste provocador trabalho, que, seguramente, contribui para o debateno campo dos estudos urbanos de uma perspectiva sociológica.
1 Os autores utilizam a ideia de gentrificação para o processo de alteração do perfil social de determinadas áreas sem que necessariamente haja uma expulsão de moradores mais antigos ou de menores recursos, ou seja, de uma maneira diferente ao conceito original, que tradicionalmente foi utilizado para denominar processos que envolvem atração de novos tipos de atividades e moradores, mas também reinvestimento econômico e melhorias ambientais que significam, não raro, uma “limpeza social”.
Rafael de Aguiar Arantes – Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, com parte do doutoramento realizado no Instituto de Estudios Urbanos y Territoriales da Pontificia Universidad Católica de Chile. Tem experiência de pesquisa com ênfase em Sociologia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: metrópoles latino-americanas, segregação e desigualdades sócio-espaciais, condomínios fechados, espaço público e sociabilidade urbana. rafaelarantes13@gmail.com
Cad. CRH vol.28 no.75 Salvador Sept./Dec. 2015
Armar el Bandido. Prensa, folletines y delincuentes en el Uruguay de la modernización: el caso de El Clinudo (1882 – 1886) | Nicolás Duffau
La investigación en la historia del delito y el castigo ha tenido notorios avances en las últimas décadas en buena parte de América Latina. Ello resulta particularmente notorio en países como Argentina, Chile y México. Especialmente desde los años noventa se registró un incremento de los trabajos que pusieron un fuerte hincapié en los estudios sobre las transformaciones de la prisión, el delito y la figura del delincuente. Sin embargo, en Uruguay estos estudios parecen seguir fuertemente vinculados a la historia más tradicional del derecho alejada de la historia social. Una “historiografía de corsarios”, por usar palabras de Pavarini, que llevó a que los estudios del delito y el castigo proviniesen esencialmente del “mundo jurídico” concentrándose fundamentalmente en el desarrollo de la administración de justicia o en las transformaciones legales. En consonancia son escasos los trabajos en Uruguay en la matriz que se ha venido desarrollando en el continente. El libro de Nicolás Duffau “Armar el bandido”, que toma la figura de Alejandro Rodríguez “El Clinudo”, rompe con las ataduras del enfoque jurídico convencional para concentrar sus preocupaciones en la historia social pudiendo ser incluido en lo que Carlos Aguirre ha llamado “Nueva historia legal”. Leia Mais
Fotografía e historia en América Latina | John Mraz
Hacer Historia con fotografías e Historia de las fotografías son prácticas diferentes, pero que se enriquecen mutuamente si se realizan en conjunto. Fundamentar este punto y poner en circulación la producción de académicos latinoamericanos que vienen trabajando en esa línea es el objetivo de este libro, coordinado por John Mraz y Ana Maria Mauad y editado recientemente por el Centro de Fotografía de Montevideo.
El libro está compuesto por ocho artículos independientes entre sí, que abordan problemas de la historia y de la fotografía de México, Brasil, Perú, Colombia, Uruguay y Argentina, a través de enfoques diversos -algunos monográficos, otros panorámicos o comparativos- que postulan a las fotografías como posibles ventanas hacia el pasado, pero que no desconocen -por el contrario, jerarquizan- la importancia de estudiar quienes, cómo y por qué se construyeron esas ventanas, así como también cómo se conformaron los marcos -los archivos- que nos permiten ver a través de ellas. Leia Mais
Indios, cautivos y renegados en la frontera. Los blandengues y la fundación de Belén, 1800-1801 | Adriana Dávila e Andrés Azpiroz
El estudio de Dávila y Azpiroz se enfoca en el proceso de la formación social de la frontera del virreinato de Buenos Aires al norte de la banda oriental del Río de la Plata desde un punto de vista renovador.
Para ello realizan una revisión de los aportes teóricos clásicos y más recientes sobre el asunto de la historia de las fronteras en América del norte y en la región platense, ubicando en este marco el tratamiento de las fuentes documentales disponibles para su tema, algunas casi sin precedentes, como aclaran en su introducción. Leia Mais
Los orientales en armas. Estudios sobre la experiencia militar en la revolución artiguista | Ana Frega, Mauricio Bruno, Santiago Delgado e Daniel Fessler
Las reconstrucciones históricas tradicionales sobre el ejército oriental, insistieron, durante buena parte del siglo XX, en una visión que analizaba la existencia de los distintos cuerpos militares como espacios sin disidencias ni conflictos internos. Ese tipo de historiografía ortodoxa se dedicó a defender el espíritu de cuerpo del ejército oriental, pero no se preocupó por el componente social de las fuerzas armadas ni por sus vinculaciones políticas. Para este tipo de relato el surgimiento del ejército y la formación del Estado y la nacionalidad serían las consecuencias de un destino prefigurado. Cabe señalar que no se trató de esfuerzos aislados, sino que respondió a una estrategia oficial que incentivó ese tipo de enfoques, los cuales defendían una perfecta continuidad en la historia del ejército nacional desde la batalla de Las Piedras en 1811 hasta el presente. Al mismo tiempo, tenía un marcado sesgo ideológico que vinculaba, a decir de Romeo Zina Fernández en su Historia Militar Nacional, a la “historia militar” con la “seguridad del Estado”, “el amor a la patria” y la consolidación de los “valores morales, pilares angulares de la unidad nacional.” Leia Mais
Outros olhares sobre a Antiguidade Tardia e Idade Média | Outras Fronteiras | 2015
O Dossiê Outros olhares sobre a Antiguidade Tardia e Idade Média traz artigos escritos por estudantes de Graduação e Pós-Graduação em História e Letras, interessados no estudo e na compreensão dos períodos comumente chamados de Antiguidade Taria e Idade Média. A ideia para a produção do Dossiê surgiu nos encontros do Grupo de Estudo “Poder, autoridade e heresias durante a Antiguidade Tardia e Idade Média” e ganhou corpo durante a realização do “Ateliê de Estudos sobre Antiguidade Tardia e Idade Média”, na Universidade Federal de São Paulo, em 2015. Os estudantes envolvidos com o projeto de escrita dos artigos são tanto pesquisadores que realizaram e realizam pesquisas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado na área, quanto alunos que, embora não dedicados a pesquisas sobre Antiguidade Tardia e Idade Média, tiveram, em algum momento de sua formação acadêmica, o interesse desperto para esses períodos históricos tão distantes e diversos da Contemporaneidade. Leia Mais
Conexões história e direito: temas e problemas compartilhados / História e Cultura / 2015
A ideia de elaborar um Dossiê sobre História e Direito nasceu do desejo de conectar estas duas áreas do conhecimento por meio da apresentação de artigos que abordassem alguns temas e problemas comuns, entre tantos pontos de entrelaçamento possíveis. Assim, buscamos evidenciar assuntos que pudessem elucidar perspectivas e abordagens nas quais a necessidade de contribuições recíprocas estivessem encobertas ou propositadamente distantes de ambos os universos acadêmicos. Mesmo que separados por barreiras ideológicas ou por interesses de campos teóricos divergentes, o objetivo resultou na tarefa de reunir diversos artigos que contemplassem a temática, e que refletissem sobre as relações entre estes dois ângulos do saber humanístico, em diferentes momentos e temporalidades, visando, sobretudo, divulgar o trabalho de pesquisadores que vêem a História e o Direito como possibilidades de interfaces em seus estudos. Portanto, o resultado alcançado partiu da proposta de valorizar a interdisciplinaridade, com base no estudo crítico e reflexivo que deve permear o universo acadêmico.
O Direito se relaciona com a História, não por ser um fato presente na vida social ou um campo especifico do conhecimento, mas por ser um valor construído e erigido em todas as sociedades independentemente das suas formas de organização, sistematização ou estruturação política, moral ou ética. O Direito é vivenciado e realizado pelo homem no decorrer do tempo, o que o faz presente na história da humanidade.
Direito é uma experiência vital; é uma soma de atos que as gerações vão vivendo, uma após outras, dominadas, todas, pelo ideal do que chamamos de justo. Pois, bem, a esta experiência histórica, que se concretiza no tempo, ao fato social que progride ou regride assumindo fisionomias e aspectos bastantes diversos, variando de lugar para lugar, de tempo para tempo, e exprimindo-se em sistemas de normas positivas damos no nome de Direito (REALE, 1956, p. 273)
A História é um campo de investigação que busca não só revelar e compreender os fatos e acontecimentos pretéritos da pessoa humana, mas substancialmente analisar mudanças ocorridas nos grupos sociais em que esta estava imersa. Dentro das condições e possibilidades fáticas estabelecidas, os elementos centrais são: os vestígios que sobreviveram e que, de alguma forma permitem interpretar, tanto a duração dos eventos quanto o tempo histórico. Assim, humanidade, documento, evento, duração e tempo histórico são substanciais para a análise dos acontecimentos relativos ao tempo cronológico.
“O processo histórico, temporal, é contínuo, porém não é linear, vez que não se encontra delimitado pelo tempo cronológico. É um tempo que inclui idas e vindas, desvios e avanços, recuos e inversões, alterações-rupturas e alterações-continuidades”. (BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA; 2014) Por isso, a História não se resume a uma mera narrativa de fatos, mas a uma complexa urdidura de reflexão, análise e compreensão sobre fatos, eventos e / ou pessoas no tempo.
A pesquisa histórica foi convulsionada no último século e novos objetos de investigação surgiram florescendo uma nova história, uma história material, associada as práticas cotidianas, do imaginário social e das mentalidades, na tradição aberta pela escola francesa dos Annales. “A nova história começa por deslocar seu centro de atenções de uma certa política, especialmente a política do Estado e do Estado Nacional, voltando-se para a vida material.” (LOPES, 2014, p. 3).
Do ponto de vista dos métodos de investigação e de interpretação, o chamado “Giro Linguístico” impactou, de forma indelével, no último quartel do século XX, e os estudos nesse campo tornaram imprescindíveis a necessidade do historiador se valer das filosofias da linguagem e relativizar realidades e verdades históricas em função do efeito de representação dos fatos, eventos e / ou pessoas contidos tanto na documentação, quanto nas interpretações.
A Ciência do Direito passou a ser analisada pelo viés histórico pela Escola Histórica do Direito ou Historicismo Jurídico. O historicismo jurídico, que surgiu como pensamento de Savigny, vislumbra o Direito como resultado da história, fruto da consciência do povo, expressão não na lei, mas dos usos e costumes. Essa escola nasceu da necessidade de se conhecer o passado do Direito, visando buscar a tradição jurídica de cada povo como fundamento e justificativa da existência de um Direito nacional. Nesse viés, a história do Direito foi uma história romântica, “ela não foi seguramente uma história econômica e social e não foi tampouco sociológica ou jusnaturalista. Ela foi antes de mais nada nacionalista e tradicional” (LOPES, 2014, p. 4)
A História do Direito precisa ser revista e reavaliada, visando uma nova compreensão historicista que rompa com o dogmatismo positivista, permitindo que Direito possa ser analisado historicamente como objeto de um estudo crítico e reflexivo, sem a visão ilusória e romântica da ordem tradicional dominante e elitista, preocupada apenas em reproduzir os ordenamentos jurídicos postos como se eles não fosse elementos de uma conserva de cultura dotada de tropos e de figuras de representação do conhecimento. Essa conserva não pode simplesmente ocupar o espaço da realidade ou de uma verdade sem levar em conta que a linguagem que comporta os comandos jurídicos e que, em decorrência disso, os atos de fala dos operadores do direito, configuram um suporte representacional de intenções de compreensão do real e não o real em si.
Trata-se de pensar a historicidade do direito, no que se refere à sua evolução histórica, suas idéias e suas instituições, a partir de uma reinterpretação das fontes do passado sob o viés da interdisciplinaridade (social, econômico e político) e de uma reordenação metodológica, em que o fenômeno jurídico seja descrito sob uma perspectiva desmistificadora. (WOLKMER, 2006, p. 15).
Mais do que analisar dados, fatos e referências a momentos históricos, a História do Direito ou os aspectos das Ciências Jurídicas vistos em perspectiva histórica precisam estimular uma reflexão crítica dos institutos jurídicos, respondendo indagações acerca de sua finalidade, sentido e razões que foram criados, bem como a conserva cultural linguística na qual essa trajetória ficou registrada para entender suas transformações e as novas dimensões assumidas na atualidade. A História do Direito deve relatar, descrever e comentar o direito que vigorou em certa época e lugar, sem comparações ou julgamentos a partir dos valores atuais, mas como meio de fornecer informações para a compreensão do direito contemporâneo, esclarecendo dúvidas e afastando imprecisões (AZEVEDO, 2005, p. 22).
A história do direito deve cruzar os recursos da história renovada com os elementos característicos do universo jurídico: o direito como ordenamento, isto é, o conjunto de regras e leis; o direito como expressão de uma cultura, um espaço onde se produz um pensamento, um saber-discurso; e o direito como um conjunto de instituições e organizações que produzem e aplicam o próprio direito a partir de elementos de uma discursividade e de uma linguagem própria do campo jurídico não infenso a problemas de interpretação. Com isso, abrirá “para nós um universo de questões que podem e devem inquietar os historiadores de profissão mas que também são semente de inquietação de qualquer um que se dedique a estudar o direito e depois a fazer dele sua profissão.” (LOPES, 2014, p. 8)
A História do Direito por ser a história de um artefato de cultura, não pode ser resumida exclusivamente no ato de correlacionar no tempo e no espaço as normas jurídicas estatais e seus efeitos jurídicos. A História do Direito não se enquadra na dogmática jurídica, pois privilegia “o ato de conhecer, promovendo assim a reconstrução dos fatos e instituições jurídicas em determinados contextos históricos, sociais e intelectuais.” (BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA; 2014, p. 5)
A importância de estudar a História do Direito é, antes de tudo, um importante exercício para compreender o tempo presente, e traçar o futuro a partir das experiências vivenciadas. O Direito não é algo isolado, mas tem sua historicidade, cultural e social, não podendo ser compreendido divorciado da sua formação no transcurso do tempo. O Direito quando se apropria das experiências passadas têm melhores condições de cumprir sua missão social, pois o Direito não se resume unicamente ao estudo da norma. O jurista que conhece a História do Direito desnaturaliza a ideia da permanência ou evolução, compreende que “o direito relaciona-se com o seu tempo e contexto (cultural, social, político, moral) e que o direito contemporâneo não é uma nova versão do direito romano ou uma evolução do direito medieval, mas sim fruto de um complexo de relações presentes na sociedade e que progride a par das forças indutoras capazes de modificá-lo, transformá-lo, revolucioná-lo”. (AGUIAR, 2007, p. 22)
O jurista que tem fundamento histórico reúne melhores condições de compreender e utilizar a legislação, a jurisprudência, a doutrina e as outras fontes do Direito, bem como, permite desenvolver a argumentação e persuasão das teses jurídica porque sabe que a conserva saber-discurso na qual se funda o Direito é um campo aberto a ambiguidades, a dialogicidades e a interesses de uma ação comunicacional aberta a constantes reparos e sujeita a uma modalidade de correspondência palavra-coisa que não é biunívoca.
Mesmo existindo novos estudos historiográficos sobre as instituições jurídicas, ainda persistirá uma ausência, até mesmo certo mistério, sobre questões ligadas às origens do Direito e sua aplicação ao longo dos tempos. Muitas perguntas continuam em aberto e muitas respostas conclamam por interpretações. “Essa dificuldade refere-se ao fato de que o estudo histórico do Direito exige procedimentos, métodos e abordagens bastante complexos, além da própria especificidade da Ciência do Direito, que abarca uma série de objetos de pesquisa (sistemas legais, sistemas jurídicos-políticos, sistemas econômicos, dentre outros).” (BAGNOLI; BARBOSA; OLIVEIRA; 2014, p. 4)
O Dossiê quer aproximar e fomentar estudos que revigorem a História do Direito ou o Direito na História. A finalidade dos artigos que compõe essa obra coletiva é apresentar o Direito como um fenômeno histórico, de modo a contribuir para um olhar renovado do meio acadêmico, mostrando que estudar a História do Direito tem relevante importância, para perceber que a normatividade extraída de um determinado contexto histórico torna-se uma experiência concreta de conscientização do presente e de interpretação e compreensão dos fenômenos jurídicos contemporâneos.
O Dossiê é uma oportunidade para compreender a historicidade do Direito, a partir da reinterpretação das fontes do passado numa perspectiva da interdisciplinaridade (cultural, social, econômica e política). Por isso, o Dossiê está formado por artigos de sociólogos, historiadores, filósofos, cientistas políticos e juristas, mostrando as diferentes visões de ver o Direito na História e a História do Direito.
Aproveitamos para agradecer a todos os colaboradores que aceitaram o nosso convite de pensar temas jurídicos na perspectiva histórica, e encaminharam seus artigos, resultante de suas pesquisas. A contribuição de todos foi decisiva para o engrandecimento do nosso esforço em compor o presente Dossiê, e mais do que isto, é sim um enriquecimento para o campo do Direito, que vai além da dogmática jurídica, e ao mesmo tempo é uma oportunidade para fortalecimento do tema no âmbito da historiografia.
Referências
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ANKERSMIT, Frank Rudolf. Giro linguístico, teoria literaria y teoria histórica. con prólogo de Verónica Tozzi. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2011.
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AZEVEDO, Luis Carlos de. Introdução à História do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
BAGNOLI, Vicente; BARBOSA, Susana Mesquita; OLIVEIRA; Cristina Godoy Bernardo. Introdução à história do direito. São Paulo: Atals, 2014.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. 5. ed. São Paulo: Atals, 2014.
REALE, Miguel. Horizontes do direito e da história. São Paulo: Saraiva, 1956.
WOLKMER, Antonio Carlos (Organizador). Fundamentos de História do Direito. 3. ed. Belo Horizonte, Del Rey, 2006.
Pedro Geraldo Saadi Tosi – Professor Doutor.
Paulo Henrique Miotto Donadeli – Professor Mestre.
Organizadores
TOSI, Pedro Geraldo Saadi; DONADELI, Paulo Henrique Miotto. Apresentação. História e Cultura. Franca, v. 4, n. 3, dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Historia cultural de la psiquiatría – HUERTAS (HCS-M)
HUERTAS, Rafael. Historia cultural de la psiquiatría. Madrid: Catarata. 2012. 224p. Resenha de: RIBEIRO, Daniele Corrêa. Da história da psiquiatria à construção de uma nova clínica: as contribuições de Rafael Huertas para os debates historiográficos. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 supl. Dec. 2015.
Desde a década de 1960, com a publicação e repercussão de História da loucura na Idade Clássica, de Michel Foucault (2010), os olhares sobre a loucura e os saberes que dela se apropriavam foram se diversificando e tornando complexos. O privilégio da narrativa médica sobre seus próprios fenômenos foi avassalado pelos mais diversos vieses, desencadeados a partir da contribuição do filósofo, trazendo à tona a ideia da loucura como produto cultural. Diante dessa abordagem, que desconstruía a naturalização da loucura como doença, abriu-se um mar de articulações teóricas e metodológicas que, apoiando as teorias foucaultianas ou questionando-as, se apropriaram da loucura como objeto, seja no campo da história, da filosofia, das demais ciências humanas ou da própria psiquiatria.
O impacto daquela e de outras obras de Foucault acabou por criar um cenário de reprodução ou de negação daquele aporte teórico. Mais recentemente, essa dicotomia vem sendo superada por meio de análises que têm retomado e problematizado os argumentos foucaultianos, ao mesmo tempo que os articulam com novas interpretações, abrangendo outros contextos temporais e geográficos. Rafael Huertas, médico psiquiatra, fundador da Red Iberoamericana de Historia de la Psiquiatría, é um dos autores que têm contribuído para esse debate. No seu livro de 2012, Historia cultural de la psiquiatría, oferece uma sistematização de algumas das correntes teórico-metodológicas que têm desenvolvido novas propostas para a historiografia da ciência psiquiátrica e de seus objetos.
Além de apresentar as análises de alguns autores e obras fundamentais para o campo, Huertas aponta uma agenda de temas, objetos, fontes e questões, demonstrando sua preocupação com a construção de saberes que possam enriquecer o debate historiográfico, mas também impactar e qualificar a clínica psiquiátrica. Ainda que a maioria das análises apresentadas diga respeito à historia da psiquiatria no contexto europeu – especialmente França e Espanha –, a clareza com que aborda os temas e questões relativos às obras nos permite refletir sobre a trajetória da ciência, dos seus saberes, atores e instituições no Brasil.
Segundo o próprio autor, muitas das reflexões que apresenta em Historia cultural de la psiquiatría vêm sendo por ele desenvolvidas desde 1991, quando o congresso “Penser la folie”, realizado em Paris, marcava os 30 anos da publicação deHistória da loucura – o que aponta a importância atribuída por Huertas à obra de Foucault. No entanto, apesar de reconhecer as inovações da literatura crítica inaugurada pelo pensamento do filósofo, em contraposição à historiografia memorialística, escrita pelos próprios psiquiatras que destacavam seus feitos, Huertas enfatiza o comprometimento ideológico de ambas as vertentes. Para ele, tanto os médicos que vangloriavam a evolução de sua própria ciência quanto os novos historiadores, que denunciavam os vínculos entre a produção científica e os preceitos culturais e morais de determinada época, incorriam em erros metodológicos, justamente por não esclarecer seus objetivos e comprometimentos, já que considera impossível anulá-los. Nesse sentido, Huertas defende que os objetivos de cada autor sejam sempre muito claros e explicitados nas obras e segue a análise das várias vertentes.
No primeiro capítulo, Huertas analisa as abordagens foucaultianas, a partir da produção do próprio filósofo, mas também de um dos seus principais seguidores, Robert Castel. Essas interpretações teriam sido marcadas pelo enfoque nos discursos de ordem e controle social. Para ele, a principal questão desses e de outros autores naquele contexto1 era o controle social. A loucura teria ganhado destaque justamente por ser o resíduo do que não se enquadrava nas sociedades liberais, desde o fim do Antigo Regime.
Rafael Huertas apresenta, então, muitas das críticas dirigidas a esse enfoque teórico, especialmente as voltadas para a centralidade do poder atribuído aos médicos psiquiatras. Além de apontar as fragilidades empíricas dessas abordagens foucaultianas, destaca a necessidade de um maior investimento na pesquisa sobre a resistência que se estabelecia em relação a esse poder e sobre os interesses diversos, incluídos os profissionais, que moviam esses atores sociais.
Duas críticas nos parecem, no entanto, mais relevantes nesse capítulo. A primeira delas diz respeito ao pilar científico das instituições psiquiátricas, negligenciado por Foucault e Castel. Em relação ao caso brasileiro, na perspectiva de uma revisão historiográfica, Gonçalves (2010) apresentou o modo como os médicos da corte do Rio de Janeiro tinham a preocupação frequente com o papel terapêutico e curativo do Hospício de Pedro II. A autora demonstra que, apesar de entraves, a reivindicação do papel terapêutico e científico da instituição sempre esteve em pauta nos debates médicos.
Outro aspecto que merece destaque está relacionado ao poder psiquiátrico. Apesar de criticar a visão mais geral da abordagem foucaultiana, que enxerga um poder médico estabelecido, com objetivo claro de dominação, Huertas enfatiza as matizações elaboradas pelo próprio Foucault. Aponta, então, os momentos da obra do filósofo em que o poder aparece de forma mais fluida, como uma rede de relações. Nessa rede de relações, sobressai a ideia de subjetivação da norma, já trabalhada por Huertas (2009), dando conta de como os pacientes pactuavam e corroboravam determinadas normas. Em dissertação de mestrado, trabalhamos essa perspectiva em relação à participação das famílias nas internações no Hospício de Pedro II, buscando dar conta da apropriação que a sociedade fazia daquele espaço (Ribeiro, 2012).
Já no segundo capítulo, Rafael Huertas trata de uma das principais releituras do contexto francês fora do viés foucaultiano, principalmente a partir das análises de Marcel Gauchet e Gladys Swain. Segundo Huertas, nesse caso, a quebra teórica em relação à literatura foucaultiana é justamente explorar um projeto terapêutico ou, ao menos, de conhecimento do subjetivo, que teria permeado a construção do pensamento psiquiátrico. Assim, demonstra como, por detrás da medicalização das paixões, do exercício de um determinado controle e das estratégias disciplinares, estava em voga uma preocupação com o sujeito da loucura.
Huertas nos apresenta detalhadamente o debate entre Gladys Swain e Foucault, apontando suas contribuições para a historiografia. Para o autor, a lente lançada sobre a subjetividade proporcionou outro panorama para a história francesa, opondo-se, pelo menos nas conclusões mais gerais, à tese foucaultiana. Se, para o filósofo, o mito fundador do alienismo teria justamente significado uma libertação para a posterior exclusão social, Swain demonstra como o pensamento pineliano inaugura uma nova concepção de indivíduo, a partir do momento em que o louco deixa de ser visto como “o outro” e passa a constituir o próprio eu moderno. Essa visão está relacionada à perspectiva defendida por Pinel de uma parcialidade da loucura, que contava com um “resto” de razão e seria, portanto, passível de cura. O debate brasileiro com essa perspectiva se apresenta nos trabalhos de Duarte (1986, p.57) e de Venancio (1993, p.123-124)
Esse viés analítico traz também uma nova visão sobre as instituições psiquiátricas e o tratamento moral. Para Swain, citado no livro aqui resenhado, o asilo, por meio do tratamento moral, objetivava a “reconstrução da individualidade do sujeito”, justamente pelo que lhe sobrara de racionalidade (p.56). Tanto nessa abordagem quanto nas críticas de Huertas à perspectiva foucaultiana, o que podemos destacar é uma tentativa de reconstruir o pensamento psiquiátrico, buscando entender em seus próprios meandros, o projeto terapêutico que estava sendo defendido.
A terceira linha teórica abordada por Rafael Huertas estaria diretamente relacionada à superação do debate internalismo x externalismo na história e na sociologia das ciências. Embora já fosse problematizada por autores como Nietzsche e Foucault, a ideia da verdade científica como convenção e contingência ganhou força com o Programa Forte em Sociologia das Ciências, representado pelas obras de Steven Shapin (1999), David Bloor e Barry Barnes. À medida que as normas universais são questionadas como padrões puros da produção científica, emergem aspectos de foro social, cultural e, principalmente, profissional, que ganham relevo nesse viés analítico.
A contribuição de Jan Goldstein sobre as políticas de patronagem na consolidação profissional do alienismo francês é uma das mais enfatizados por Huertas. A patronagem configuraria estruturas informais nas quais um profissional de reconhecida projeção na comunidade científica se torna defensor de discípulos que, em troca, disseminariam suas ideias, sendo, portanto, decisiva para o sucesso ou fracasso das teorias científicas (p.76). Essa abordagem é relevante como agenda teórica posto que aponta a importância de círculos sociais e interesses profissionais para a produção científica. O destaque a esse tipo de interesse faz ainda mais complexa a análise sobre as teorias e interpretações científicas que se tornam consensuais em determinados contextos. Ian Dowbiggin, segundo Huertas, teria demonstrado, por exemplo, como as teorias hereditárias foram imprescindíveis para a legitimação profissional em um momento de crise de legitimidade dos manicômios, uma vez que remetiam o fracasso à incurabilidade da loucura.
Esse tipo de abordagem nos parece relevante e merece destaque especial para as análises sobre a construção do Hospício de Pedro II e a consolidação da psiquiatria no Brasil. Embora a ideia de patronagem, em Goldstein, apareça mais relacionada aos círculos científicos, trazer os interesses profissionais para o debate pode ser interessante, especialmente se articulados a outros círculos sociais. Como alguns autores têm analisado (Engel, 2001; Meyer, 2010; Ribeiro, 2012;Teixeira, 2012), o Hospício de Pedro II tem uma carga simbólica bastante expressiva em relação ao seu vínculo com a corte imperial e a Irmandade da Misericórdia. Parece-nos que o entrecruzamento dos círculos científicos, caritativos e senhoriais da corte teve papel definitivo na consolidação daquela instituição e do saber psiquiátrico ao longo da segunda metade do século XIX.
No quarto capítulo, Huertas elabora uma análise sobre o construtivismo e a ideia da loucura como construção social. Embora esse aspecto já aparecesse em Foucault e alguns de seus contemporâneos e também tangencie o questionamento sobre a verdade científica, o autor trata mais especificamente da elaboração dos diagnósticos. Primeiro, ele apresenta Charles Rosenberg (1977) e sua teoria do enquadramento das doenças, na qual são tratadas como acontecimentos biológicos, mas também como repertórios de construções verbais que refletem o contexto social e cultural em que os diagnósticos são elaborados.
No entanto, o grande avanço em termos de possibilidades de análise, segundo Huertas, está na abordagem de Ian Hacking e sua aproximação com as teorias de rotulação. A novidade aqui seria a ultrapassagem do estudo dos diagnósticos, conforme proposto por Rosenberg, para estudar-se o impacto que as classificações e nomeações das doenças promovem sobre os indivíduos. O making of people de Hacking busca dar conta do processo de constituição de uma nova classe de indivíduos, a partir do momento em que um grupo é diagnosticado (rotulado). Ao mesmo tempo, a nova classe de indivíduos interagiria com a produção do conhecimento sobre si, por meio do looping effect, ou efeito looping. O destaque para esse aspecto interativo entre especialista, diagnóstico e rotulado, enfatizando a violência dos diagnósticos e da estigmatização da loucura, é a contribuição crucial dessa linha de trabalho.
Em seguida, no capítulo cinco, o autor trata basicamente da proposta de história conceitual da psiquiatria, elaborada por Germán Berrios, corroborando a importância desse tipo de abordagem para transformações na clínica psiquiátrica atual. Depois de apresentar um histórico da psicopatologia descritiva no século XIX, Huertas corrobora a argumentação de Berrios de que, nos dias atuais, haveria certa degradação das construções teóricas por parte da clínica psiquiátrica, que estaria rigidamente vinculada a classificações impostas por manuais e compilações de diagnósticos.
Na agenda metodológica da história conceitual, a análise das teorias descritivas das psicopatologias deveria estar articulada e complementando as análises de filósofos, sociólogos e historiadores. Berrios critica a postura de muitos dos cientistas sociais pelo fato de eles se apropriarem da loucura sem se aprofundarem nas questões conceituais a ela relacionadas. Embora não apareça explicitamente na análise de Huertas, o enfoque nas questões conceituais tem sido explorado por autores da história de outras ciências, como pelo próprio Bruno Latour, citado em outros capítulos.
A proposta de articular conteúdo científico e “ruído de fundo”, como chama Berrios, é uma das grandes bandeiras dos dois autores. Para eles, essa aproximação nos estudos históricos seria a chave para trazer as mesmas reflexões para o presente. A partir do diálogo entre psiquiatras e historiadores sobre os conceitos psicopatológicos do passado, seria possível estimular o aprofundamento e a reflexão teórica entre os estudantes de psiquiatria. A proposta de Berrios e Huertas se apresenta promissora, mas também corre o risco de retomar o debate internalismo/externalismo que parece presente na ideia do “ruído de fundo”, de Berrios, conforme apresentada por Huertas: como se existisse algo de universal e puro na ciência, mas que estaria sujeito a deturpações por fatores externos. Em perspectivas mais recentes da história das ciências, incluindo outras apresentadas no mesmo livro, fica claro que não existe um ruído de fundo, mas que o contexto social e cultural é totalmente decisivo na conformação dos próprios pressupostos científicos, que, por sua vez, também conformam o mundo.
Com relação à história da psiquiatria no Brasil, Facchinetti (2010) dialoga com essa bandeira ao reunir uma série de análises históricas sobre diagnósticos debatidos por psiquiatras brasileiros nas primeiras décadas do século XX. Adotando suportes teóricos diferenciados, os trabalhos escritos por historiadores, antropólogos, psiquiatras e psicanalistas analisam conceitos científicos observando-os na sociedade; a sociedade certamente podendo ser expressa de diferentes formas: ela pode ser as posições políticas e de prestígio social adotadas pelos médicos em questão, exatamente devido à importância desses atores na conformação de uma elite com projetos para a nação brasileira; pode ser também as representações sociais sobre o humano e sobre o estatuto de seus estados físico, mental e moral; ou pode estar expressa nos mecanismos de controle coletivo.
No capítulo seis, Huertas apresenta a relação entre a exploração de fontes documentais relativamente inéditas, que são as histórias clínicas de internos, e as diversas abordagens teóricas delas decorrentes. O autor demonstra como histórias clínicas, livros de registro, além de cartas e outros documentos que muitas vezes são encontrados junto desses registros, e outras fontes que deem conta do cotidiano das instituições psiquiátricas, podem contribuir para a construção de novas questões. Para ele, os primeiros trabalhos com esse tipo de material já apontam perspectivas interessantes para pensar a diferença entre o que os médicos defendiam em seus tratados e artigos científicos e o que era executável na prática.
O mais interessante da análise de Huertas nesse capítulo é a diversidade de possibilidades que ele apresenta em relação às fontes. A primeira grande chave interpretativa seria a da história vista de baixo, justamente pela polifonia dessecorpus documental, que daria conta da vida cotidiana e de diversos atores sociais, e não apenas dos teóricos mais renomados da psiquiatria. Por conta dos dados seriados que podem ser mapeados, os registros clínicos são apontados como ferramentas interessantes também para estudos demográficos e para a história social. Podem ser valiosos também para a chave do controle social, além dos estudos de gênero.
Mesmo para a história conceitual da psiquiatria, o registro seriado de diagnósticos e as transformações nos modelos das histórias clínicas aparecem como aspectos inovadores nos estudos sobre os pressupostos teóricos. Por meio da análise em recortes temporais mais longos, seria possível mapear importantes transformações, tanto das classificações diagnósticas quanto da terapêutica posta em prática.
Ainda em relação às fontes clínicas, Huertas destaca o viés consagrado por Roy Porter, que aborda o ponto de vista dos pacientes. Para esses autores, essas fontes são inovadoras por permitir, direta (cartas ou narrativas transcritas) ou indiretamente (pela fala do médico), abordar a visão do louco sobre a loucura e a sua própria experiência no manicômio. Assim, entrando no cotidiano da instituição, seria possível enxergar os pacientes e suas famílias, até então silenciados pela fala da autoridade médica.
No Brasil, as abordagens com esse tipo de material têm se ampliado consideravelmente, contribuindo muito para a historiografia. Maria Clementina Pereira Cunha (1986) inaugurou esse projeto teórico-metodológico, fazendo uma história social do Hospício do Juqueri, justamente amplificando a fala e o olhar do louco. Mais recentemente, temos tentado explorar os arquivos médicos do Hospício de Pedro II e reconstruir o perfil dos alienados, além de mapear as redes sociais que eram ali manejadas (Ribeiro, 2012). Cassília (2011) utilizou as fontes clínicas da antiga Colônia Juliano Moreira para demonstrar o modo como pacientes daquela instituição pensavam sua própria loucura e sua internação a partir da sociedade em que viviam. Wadi (2006) reconstruiu trajetórias de vida com a documentação do Hospício São Pedro. Lorenzo (2007)mapeou aspectos do controle social com base nos livros de entrada da Santa Casa de Misericórdia do Rio Grande do Sul. Muitas outras pesquisas têm usado esse material como fonte acessória.
Concordamos aqui com Rafael Huertas em relação aos problemas metodológicos encontrados para o trabalho com esse tipo de material, especialmente em relação às condições de preservação e organização. No entanto, pelo menos no Rio de Janeiro, temos assistido a iniciativas interessantes, mas ainda lentas, de preservação dessa memória.
No sétimo e último capítulo, Rafael Huertas apresenta um compêndio das contribuições analisadas anteriormente, propondo sua questão-chave, que é a articulação entre história da psiquiatria e clínica psiquiátrica. O grande fio condutor da obra de Huertas é a preocupação com a construção de um novo modelo de clínica, cuja solução passe pela pesquisa histórica. Segundo ele, a clínica vem se conformando como mera reprodutora de práticas, das quais está ausente a reflexão teórica e, logo, o conhecimento das várias determinações sociais, culturais, históricas e biológicas ali implicadas.
Para Huertas, a necessidade exponencial dessa reflexão estaria relacionada à frágil objetividade dessa ciência e, especialmente ao objeto incerto, que é o ser humano e suas condutas. Esse fator tornaria a psiquiatria mais vulnerável às condições políticas, sociais e econômicas. Se mesmo os estudos históricos das ciências chamadas “duras” têm demonstrado essa vulnerabilidade, de fato, talvez essa seja uma preocupação ainda maior, tendo em vista a complexidade do objeto.
Apesar de defender essa agenda de pesquisa, o autor de Historia cultural de la psiquiatría ressalta os problemas metodológicos dela decorrentes, especialmente aqueles relacionados ao risco do anacronismo, uma vez que defende o passado como ferramenta de transformação do presente. No entanto, ele sustenta que existiriam dois tipos de anacronismo. O primeiro deles, que seria totalmente prejudicial, é julgar a ciência do passado partindo das categorias do presente. Já o outro anacronismo, do qual não poderíamos fugir, ele relaciona ao anacronismo estrutural de Marc Bloch, já que sempre analisaremos o passado imbuídos do universo mental do presente.
Nesse sentido, Huertas defende uma teoria da prática, ou seja, que o olhar para o passado seja feito a partir de perguntas do presente, mas que isso sirva para dotar a prática de um aporte teórico que seja transformador. Ainda que, de certa maneira, esse utilitarismo possa ser visto com certa estranheza por nós, historiadores, não podemos deixar de concordar com o autor quando defende que esses objetivos estejam claros. E, nesse quesito, Huertas não deixa a desejar, apresentando com bastante clareza o seu projeto. Aliás, o próprio autor destaca que os objetivos de médicos e historiadores sempre serão diferentes, justamente pelo universo mental em que estão inseridos. No entanto, é inegável que a interação dinâmica entre historiadores e psiquiatras, por ele defendida, tem belíssimos frutos a gerar.
A obra de Rafael Huertas tem muito a contribuir para os historiadores e para os clínicos em formação. Para os primeiros, os vieses teóricos e metodológicos didaticamente apresentados são uma importante e facilitadora porta de entrada nos estudos sobre a história da psiquiatria. Para os clínicos, o livro pode ser ponto de partida para as muitas reflexões propostas por Huertas. Os exemplos perfeitamente escolhidos, tanto para demonstração dos autores quanto para seus questionamentos e proposições, transitando entre quase dois séculos de história, abrem um mar de possibilidades para quem quer que se interesse pelas temáticas da mente.
Referências
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Notas
1 Robert Nye (2003) também comenta a relação entre esse tipo de abordagem e a esfera política e cultural contestatória dos anos 1960-1970.
Daniele Corrêa Ribeiro – Doutoranda, Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz; coordenadora de História e Memória, Centro de Estudos/Instituto Municipal Nise da Silveira. E-mail: dannycori@yahoo.com.br
Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas – COSTA (HCS-M)
COSTA, Felipe A.P.L. Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas.2.ed. Viçosa: Edição do autor. 2014. 137p. Resenha de: MAGALHÃES, Gildo. Defesa da ecologia, distância do ambientalismo. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 supl. Dec. 2015.
A comunicação é uma atividade inerente ao próprio fazer científico, que se transformou ao longo dos séculos numa empreitada profissionalizada, envolvendo a publicação em veículos especializados de ideias, métodos e resultados relativos às ciências (Vickery, 2000). No entanto, cada vez mais essa comunicação tende a empregar uma linguagem por demais hermética, servindo primordialmente para uma troca entre os colegas pertencentes a campos específicos do conhecimento, fora do alcance de outros cientistas, para não dizer dos leigos, daqueles que têm, no mais das vezes e quando muito, um conhecimento de nível básico, proporcionado pelo ensino médio. Adicionalmente, verifica-se que muitos cientistas, até mesmo alguns de áreas voltadas para as humanidades, não escrevem bem. Para servir de ponte entre a comunicação científica e o grande público, surgiu o campo que é comumente denominado divulgação científica, também chamado na França de “vulgarização científica” (lá, sem nenhum sentido pejorativo que aqui possa eventualmente ter a palavra “vulgarização”).
Na divulgação científica encontramos amiúde escritores com formação em jornalismo e que enfrentam o desafio de transpor a ciência para uma linguagem mais abrangente (Sánchez, 2003; Massarani, Turney, Moreira, 2005). Se esse esforço costuma vir envolto numa roupagem literariamente atraente, por outro lado o jornalismo científico corre o risco, como se verifica tão frequentemente, de perder o rigor das ideias originais, e até mesmo falsear a pretendida tradução do erudito para o popular (Tognolli, 2003). Alguns jornais diários brasileiros, por exemplo, mantêm uma seção de ciência, com resultados nem sempre à altura do propósito da divulgação. Temos ainda o hábito, infelizmente bastante difundido, de pautar o conteúdo dessas notícias na mídia pela publicação de artigos vindos do exterior, como os dos periódicosNature e Science, em vez de matérias a resultar de trabalhos próprios do jornalismo local (Barata, 2010). Naturalmente, há exceções de bons jornalistas dedicados à divulgação científica que desenvolveram uma tradição respeitável, e há mesmo o caso excepcional de bons cientistas que se tornaram profissionais do jornalismo de divulgação científica – e para citar um nome conhecido, tivemos entre nós nesse perfil a figura pioneira de José Reis.
Embora também raro, é possível que um cientista, mesmo sem ser jornalista, tenha a preocupação de bem escrever, para que um tema fascinante do ponto de vista científico não se torne árido e possa então atingir um público maior. Um subproduto interessante desse empreendimento da redação clara é quando um texto de divulgação impacta uma pessoa que futuramente se tornará um cientista importante – como aconteceu com James Watson, para quem a leitura de O que é vida?, do físico e pensador Erwin Schrödinger, foi fundamental em sua decisão de estudar a estrutura molecular dos genes.
Não se pode perder de vista tampouco que não é muito nítida a fronteira entre a comunicação, em senso estrito, e a divulgação científica, como pode ser avaliado examinando-se uma boa antologia como a de Edmund Bolles (1997). Nela estão recolhidos textos científicos de importância fundamental que são ao mesmo tempo literariamente exemplares, e que perpassam vários séculos, indo desde a Antiguidade de Heródoto e Lucrécio até a contemporaneidade.
As considerações anteriores vêm a propósito de Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas, de Felipe A.P.L. Costa. Este é um biólogo especializado em entomologia e ecologia, conhecido pelas suas colaborações regulares noObservatório da Imprensa, em que emprega o rigor acadêmico para definir de forma certeira conceitos biológicos que a grande imprensa difunde com imprecisão e o público em geral propala incorrendo em erros de significado ou até mesmo de tradução. Naquele veículo eletrônico, o autor também tem divulgado obras e a vida de cientistas menos conhecidos, além de tratar de diversos outros temas, tais como a duvidosa eficácia da política científica brasileira. Uma faceta mais desconhecida e invulgar sua é a campanha pacifista desenvolvida no sítio da internet Poesia contra a guerra, em que reúne contribuições dessa natureza de poetas, principalmente brasileiros, alguns famosos e muitos outros que se inserem na produção poética dita marginal.
Nos textos da obra aqui focalizada, Felipe Costa exercita divulgação científica dirigida primordialmente a um público não especializado. Segue, portanto, na senda ilustre de cientistas como o saudoso zoólogo Stephen Jay Gould, famoso por suas páginas na revistaNatural History, depois reunidas em diversos livros de sucesso, vários deles publicados no Brasil.
Nessa segunda edição de Ecologia, evolução e o valor das pequenas coisas, Felipe Costa acrescentou mais seis capítulos aos vinte da edição anterior, divididos em cinco partes. De forma saborosa, discorre sobre evolução biológica, reservas e parques, a relação entre clima e populações, e práticas destrutivas do meio ambiente. São textos curtos, uma boa parte dos quais foi publicada por veículos como Ciência Hoje e Tribuna de Minas. O conteúdo é diversificado, embora focalize sempre aspectos ecológicos e evolutivos. Uma amostra dessa diversidade é a denúncia do relativo descaso dos nossos cientistas com a paisagem nativa da caatinga, ou a pouca atratividade dos insetos (75% das espécies animais) nas campanhas ambientalistas (e o autor revela como a ingenuidade do movimento ambientalista frequentemente se sobrepõe à ciência), a sugestão de forração com serapilheira nas trilhas de parques naturais, a crítica à falta de atenção dos pesquisadores brasileiros para com a fenologia de árvores tropicais, ou ainda uma queixa quanto à introdução funesta em nosso meio de espécies exóticas (como o mosquitoAedes aegypti e o caracol-gigante-africano). Ao final da obra, há notas e um pequeno glossário. Trata-se de leitura fácil de assuntos que se revelam politicamente intrincados, de interesse para o público geral, mas que pode ter também e mais especificamente uma aplicação didática no ensino médio.
Pode-se sugerir que no futuro o autor entenda a evolução biológica de forma não tão rígida, pois ele permanece firmemente ancorado dentro da tradição neodarwinista ortodoxa, sem uma abertura para correntes importantes dentro da biologia, mas discordantes dessa interpretação, como a evolução em quatro dimensões (Jablonka, 2010) ou a realimentação somático-germinativa (Steele, Lindley, Blanden, 1998). O paradigma neodarwinista tem sido recentemente confrontado por alguns cientistas renomados internacionalmente, como a falecida Lynn Margulis, cuja posição se afastou do dogmatismo darwiniano ao se filiar às teorias da simbiogênese, ideias que descendem dos trabalhos do botânico russo Konstantin Mereshkovski. É verdade que nada faz sentido em biologia fora da evolução, mas há teorias e teorias da evolução, e não apenas uma única,vencedora e inamovível, como defendem os adeptos mais ferrenhos da teoria sintética.
Principalmente o grande público é o que mais precisa ser informado de que as controvérsias dentro da ciência são permanentemente uma fonte de inovação e que elas são, aliás, parte do funcionamento normal da atividade científica, para além da ciência paradigmática que se oferece ao grande público nos veículos de divulgação científica. A história das ciências é também a das divergências, algumas das quais mostram uma notável longevidade, pois mesmo depois de declaradas mortas e enterradas ressurgem às vezes de formas inesperadas – aspecto que ainda escapa até a muitos historiadores e filósofos da ciência.
No caso específico da evolução há um agravante, já que qualquer divergência costuma ser erroneamente interpretada como expressão de uma suposta guerra entre religião e ciência – e para sermos justos, essa posição refratária e equivocada não se resume ao jornalismo de divulgação científica, mas integra a própria tradição acadêmica. Apenas quando a divulgação científica conseguir se aprofundar e, à maneira do jornalismo investigativo, se puser a trabalhar com a desconfiança de que cientistas não são tão objetivos e neutros quanto pretendem ser, o resultado será uma apreensão qualitativamente superior do que significa fazer ciência – em que até pequenas coisas podem ter grande valor, como propõe acertadamente o autor.
Referências
BARATA, Germana.Nature e Science: mudança na comunicação da ciência e a contribuição da ciência brasileira (1936-2009). Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2010. [ Links ]
BOLLES, Edmund B.Galileo’s commandment: 2,500 years of great scientific writing. New York: W.H. Freeman. 1997. [ Links ]
JABLONKA, Eva. Evolução em quatro dimensões. São Paulo: Companhia das Letras. 2010. [ Links ]
MASSARANI, Luísa; TURNEY, Jon; MOREIRA, Ildeu de Castro (Org.).Terra incógnita: a interface entre ciência e público. Rio de Janeiro: Vieira e Lendt; UFRJ/Casa da Ciência; Fiocruz. 2005. [ Links ]
SÁNCHEZ Mora, Ana Maria. A divulgação da ciência como literatura. Rio de Janeiro: EdUFRJ. 2003. [ Links ]
STEELE, Edward J.; LINDLEY, Robyn A.; BLANDEN, Robert V.Lamarck’s signature: how retrogens are changing Darwin’s natural selection paradigm. Reading: Perseus. 1998. [ Links ]
TOGNOLLI, Claudio. A falácia genética. São Paulo: Escrituras. 2003. [ Links ]
VICKERY, Brian C. Scientific communication in History.London: Scarecrow. 2000. [ Links ]
Gildo Magalhães – Professor, História da Ciência/Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade de São Paulo. Brasil. E-mail: gildomsantos@hotmail.com
Lisboa, Rio de Janeiro, comércio e mosquitos – MORENO (HCS-M)
MORENO, Patrícia. Lisboa, Rio de Janeiro, comércio e mosquitos: as consequências comerciais da epidemia de febre-amarela em Lisboa. Lisboa: Chiado, 2013. 214 p.Resenha de: PROTÁSIO, Daniel Estudante. Epidemias, comércio e emigração Portugal-Brasil na segunda metade do Oitocentos. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 supl. Dec. 2015.
Num mundo e num início de século como o nosso, em que o ébola, o HIV/Aids e a gripe N1H1 constituem sérias ameaças à segurança e saúde públicas internacionais, nem sempre é fácil entender como num passado relativamente recente outras epidemias podiam interromper os fluxos de circulação de pessoas, bens e serviços entre continentes e nações. Sobretudo para os não iniciados na medicina ou na respetiva história, que não se deleitem com densos estudos técnicos sobre questões epidemiológicas e sanitárias (como é o meu caso), encontrar uma obra como a que aqui me proponho recensar constitui uma verdadeira lufada de ar fresco e um magnífico momento de aprendizagem, sobre áreas e aspetos científicos afins daqueles a que me dedico a estudar nos últimos 20 anos de investigação.
Por outro lado e apesar de uma intensa e frutuosa colaboração e intercâmbio científicos e académicos entre o Brasil e Portugal, no que concerne a historiografia e a história académica dos séculos XIX e XX, nem sempre é fácil encontrar quem consiga transpor, em termos de texto, as naturais barreiras e distâncias entre duas realidades irmãs e similares, mas naturalmente específicas e idiossincráticas, como a portuguesa e brasileira.
Com a presente obra, Patrícia Moreno, investigadora e doutoranda portuguesa em história no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, de Lisboa, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e estudiosa dos temas da história da medicina, da emigração e dos descobrimentos portugueses, consegue contribuir com um texto de leitura agradável, informação pertinente e narrativa organizada, sobretudo fruto de uma utilização inteligente de fontes da época e com uma intervenção mínima enquanto narradora dos acontecimentos descritos.
Ora tal não é fácil, num mundo editorial português em que as obras de divulgação científica e histórica abundam e num universo como o da Sociedade de Geografia de Lisboa, instituição fundada em 1875 e na qual Patrícia Moreno participa do trabalho de algumas secções e comissões há mais de duas décadas. Pode mesmo afirmar-se que, de uma maneira geral, a profusão de livros publicados em Portugal e a quantidade de comunicações proferidas na dita agremiação lisboeta são de tal magnitude que é difícil encontrar títulos sugestivos e pedagógicos, recreativos e científicos, cativantes e ligeiros na leitura, mas ao mesmo tempo estimulantes de outras pesquisas e que deixem no leitor a sensação de que uma porta intelectual se abriu no cenário dos seus interesses bibliográficos e intelectuais; ou seja, de que saiu enriquecido das horas a que dedicou sua atenção a um trabalho específico. Tal sensação é com frequência mais conotada com outro género de leituras, como a de livros de ficção policial ou de espionagem, de textos de blogues, de revistas, de jornais e newsletters on-line do que obras dedicadas a temáticas históricas. Por contraste, basta folhear as páginas do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, que já ultrapassou sua 131ª série (referente a 2013), para encontrar textos sobre temas e títulos históricos, geográficos ou etnográficos escritos em estilo por vezes pesado e de circunstância, nem sempre destinados ao interesse de um público não especializado nem particularmente inclinado a esse tipo de assuntos.
Em termos de estrutura, a obra de Patrícia Moreno divide-se em nove pontos, incluindo introdução, conclusão e bibliografia. De uma forma geral, a autora não abusa das notas infrapaginais, que alcançam o número de 190 em 206 páginas de texto, entre algumas dedicadas a fornecer informações biográficas das figuras de médicos e estadistas referidos, mas sobretudo a consubstanciar as fontes e bibliografia a que recorreu.
Na contracapa do livro, são deixadas as seguintes palavras e interrogações: “Como e quando chegou a febre amarela a Lisboa vinda do Brasil? E quais foram as medidas adotadas pelas autoridades portuguesas? A essas questões procurará esse livro lançar pistas e oferecer algumas respostas”. Essa é a mensagem essencial do primeiro ponto do livro, que se intitula “A razão deste livro, perguntas e dúvidas” e começa com uma citação de Rui Barbosa, proferida numa conferência de maio de 1917: “O mundo vê no Brasil um país de febre amarela. O Governo brasileiro o confessa. A medicina brasileira não o pode negar” (p.11). Numa outra citação, na mesma página, Barbosa informa-nos que em 1857-1858, 1860, 1864 e 1869 tal doença chega do Brasil a Portugal. Mas esse não será o âmbito cronológico da obra, mais alargado.
Num segundo ponto ou capítulo do livro, intitulado “Resenha histórica da febre amarela”, Patrícia Moreno resume, em cerca de uma dúzia de páginas, o que a literatura seiscentista e setecentista afirmava sobre a epidemia; suas principais características e alterações fisiológicas no indivíduo acometido dessa patologia; e a abrangência geográfica da mesma, num triângulo atlântico Américas-África-Europa. A autora recorre a tratados médicos, mas também a breves referências em literatura popular do século XIX, como Alexandre Dumas e Júlio Verne, e menciona terríveis momentos de dizimação coletiva, como aquando da invasão francesa da ilha de São Domingo (atuais Haiti e República Dominicana) em 1801, de Barcelona em 1821 e do surto do vale do Mississípi em 1878, tendo morrido, nestes dois últimos casos, cerca de vinte mil catalães e outros tantos norte-americanos (p.17, 20). Introduz a questão do debate médico sobre a forma de combater essa praga e como ela se propaga, matérias que dividirão opiniões científicas e a opinião pública mundiais durante várias décadas do século XIX.
Subitamente, num terceiro capítulo, “Portugal e o Brasil ou o Brasil e Portugal”, a autora aligeira o tom, alarga o âmbito do seu estudo, não agora meramente geográfico, cronológico, estatístico e médico, mas contextualiza a situação geral portuguesa e brasileira, de forma rigorosa, mas necessariamente breve, de modo a impedir que o leitor se perca em demasiados pormenores e perca literalmente o fio à meada, esquecendo o propósito primeiro desse trabalho – a febre amarela e seu impacto sanitário, comercial e político nos dois países. Vai, assim, elencando as várias formas de relações luso-brasileiras – familiares/dinásticas, comerciais, sociais – e os diferentes métodos de contacto transnacional: o transporte marítimo de emigrantes portugueses em busca de trabalho, legal e ilegalmente; as políticas lisboetas para travar tal fluxo demográfico, bem como o surgimento da figura do “brasileiro” em Portugal, na sociedade e na literatura portuguesas. Está então dado o mote para uma apaixonante reflexão sobre questões de história das mentalidades, social e política: as condições insalubres nos “cortiços” brasileiros aos quais chegavam os emigrantes portugueses, mas também nos bairros pobres de Lisboa e Porto, onde a febre amarela se propagará; o constante ambiente de guerra civil e de revolução em Portugal até à Regeneração de 1851 e a dificuldade que diferentes governos sentiram para inverter uma política de emigração maciça, devido à pobreza, desemprego e analfabetismo que grassavam deste lado do Atlântico. A intervenção de figuras gradas da política e das letras portuguesas como Alexandre Herculano e Ramalho Ortigão, o conde de Tomar (Costa Cabral), Fontes Pereira de Melo e José Luciano de Castro, tentando alertar a opinião pública e legislar para que a falta de condições de salubridade e de habitação não servissem de rastilho à propagação da febre amarela, como ainda sucedeu no Rio de Janeiro, de forma intervalada, nas décadas de 1870 a 1890. Em Lisboa, a Sociedade de Geografia, cujos estatutos foram reformados em 1895, contou imediatamente com uma Comissão de Emigração, tal a preponderância política, económica e social da saída de emigrantes e consequente perda de força de trabalho e destruição do tecido social nacional.
Nos pontos – ou capítulos, como lhes poderíamos chamar – 4 e 5, o primeiro com cerca de trinta páginas e o segundo com cerca de quarenta, a autora congrega o essencial da sua análise, dedicada primeiro ao “Rio de Janeiro e a epidemia de 1850” e depois a “Lisboa e a febre amarela – a terrível década de 1850”. Com inteligente e rigoroso recurso a fontes de ambas as nacionalidades, Patrícia Moreno estuda os casos brasileiro e português socorrendo-se de pontos de vista contemporâneos e divergentes, alguns cientificamente fundamentados, outros meramente propagandísticos e eleitoralistas. Em causa estava perceber a verdadeira origem do surgimento e transmissão da doença e quais as formas corretas de a tratar e prevenir. Numa época em que o comércio luso-brasileiro e as remessas financeiras de emigrantes portugueses bem-sucedidos no Brasil pesavam fortemente na balança comercial de Portugal, o vetor de transmissão da doença, o mosquito, estava fora da equação. O mosquito, ou pernilongo, que faz parte do título desse livro e cuja imagem figura na respetiva capa, não era ainda entendido como elemento preponderante e transmissor da patologia. As autoridades portuguesas e brasileiras insistiram, durante décadas, em políticas de quarentena (à imagem, aliás, das demais nações) e na criação e manutenção do lazareto de Porto Brandão, na margem sul do Tejo, defronte de Lisboa e no lazareto da ilha do Bom Jesus dos Frades, no Rio. Os higienistas, reunidos pela primeira vez em congresso internacional em 1852, dividiam-se entre os que defendiam a existência de contágio e a necessidade de isolamento dos doentes e de quem viajava em navios onde grassava a doença (os contagionistas) e os que defendiam in stricto sensu que “A higiene e a desinfestação são as únicas armas de que dispõem os médicos” (p.80), sendo necessário combater a infeção onde ela ocorria (os infeccionistas).
Em Portugal, foi apurado que morreram quase seis mil pessoas durante as epidemias de 1856-1858, o que constituiu um número dramático de vítimas. Duas das mais célebres vítimas mortais foram o cardeal patriarca de Lisboa e o renomado médico e membro da Academia das Ciências de Lisboa António da Fonseca Benevides. O casal régio, dom Pedro V e dona Estefânia, interviriam corajosamente no socorro e apoio moral aos doentes, mas ambos morreriam muito novos de outras doenças frequentes na época, respetivamente febre tifoide e difteria. “Lisboa, cidade insalubre” era uma das imagens transmitidas durante décadas, fosse pelo académico Oliveira Pimentel, pelo afamado Eça de Queiroz ou pela polémica princesa Ratazzi, com o primeiro a afirmar, em 1857, as seguintes palavras arrepiantes: “O estado das praias lodosas em frente da cidade [de Lisboa] é o mais deplorável que se pode imaginar; e, se as comparássemos com o delta do Ganges, onde se gera o cólera-morbo, não ficaríamos longe da verdade” (p.126). O congresso sanitário reunido sob os auspícios régios naquele ano, na Academia das Ciências, pouco ou nada conseguiu resolver e não só “Os lisboetas fogem da epidemia” como “Lisboa sofria e morria!”, como sugerem dois subtítulos utilizados pela autora neste seu quinto capítulo (p.127, 130). Chegando-se à conclusão de que a doença não era “nativa” de Portugal, embora prosperasse com as condições de insalubridade e no tempo quente (e que, portanto, provinha por via marítima, sobretudo do Brasil), persistiram as políticas de quarentena e de utilização do lazareto.
É a esses dois temas – quarentena e lazareto – que Patrícia Moreno vai dedicar o sexto ponto ou capítulo do seu livro, o último com uma extensão considerável na obra agora em análise. Enquanto de França não surgiram as notícias das descobertas de Pasteur e do Brasil os resultados práticos da obra salvífica de Oswaldo Cruz, esta já no início do século XX, Portugal teve de recorrer aos anacrónicos mecanismos de contenção de uma doença que nunca mais se tornou tão devastadora como em 1856-1858, mas cuja ameaça constante, durante décadas, foi alvo da chacota, da incompreensão e da raiva de parlamentares, de jornalistas e de viajantes que, em face do número reduzido de mortes devidas à epidemia, se revoltavam quanto à preponderância de medidas sanitárias ditas “incivilizadas”. Numa segunda metade do século XIX, sobretudo marcada pelo ritmo cada vez mais frenético da circulação livre de pessoas, ideias e mercadorias, em nível europeu e mundial, as restrições de entrada no porto de Lisboa eram incompreensíveis para comerciantes e para os setores da sociedade, da política e da economia mais interessados em que Portugal prosperasse pela via da circulação comercial do que em escutar as posições cautelosas de médicos e de académicos que defendiam a necessidade da quarentena de pessoas e bens e sua permanência no lazareto na margem sul do Tejo. Medidas públicas de aprofundamento do saber técnico sobre a demografia, como o primeiro recenseamento geral da população em 1864, a utilização internacional do telégrafo elétrico e a aprovação de um regulamento geral de sanidade marítima em Portugal, já influenciada pelas ideias de Pasteur, terão contribuído para manter baixos os números de mortalidade epidémica, mas tal não impediu que, por exemplo, ocorresse uma “gravíssima epidemia de peste na cidade do Porto em 1897 que tinha demonstrado que os regulamentos sanitários observados desde há várias décadas não protegiam totalmente as populações” (p.157-158). Ora o que em hoje em dia é um lugar-comum, que o isolamento dos potenciais doentes e das pessoas afetadas por doenças não evita totalmente sua proliferação sem que a causa e os fatores de desenvolvimento e de propagação da mesma sejam conhecidos e anulados na sua ação nefasta, não era consensual nessa época – longe disso. Tal como no início da introdução da inoculação vacínica em Portugal, nos anos de 1800 e 1810, pela Academia das Ciências, aquela medida experimental fora motivo de polémica e de espanto por parte da maioria da população e das elites, quase cem anos depois a sobrevivência da quarentena e do lazareto eram também altamente contestados e incompreendidos, porque “residualmente” – se assim se poderá dizer – os casos de febre amarela e de outras epidemias, por vezes muito mais mortíferas, continuavam a manter-se: seria um caso de “matar o mensageiro”, até certo ponto; nesse caso, os médicos favoráveis a tais medidas e os decisores políticos sobre saúde pública em Portugal.
Patrícia Moreno contextualiza e problematiza esses dois temas, o da quarentena de passageiros em navios e o das condições – também elas insalubres! – do lazareto de Lisboa, que o governo tratou de estudar no sentido de melhorar. Os conhecidos escritores humorísticos e satíricos portugueses, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, referiram-se ao lazareto, e o imperador dom Pedro II, na sua visita de 1871, fez questão de demonstrar o caráter privado da sua viagem sujeitando-se, como os demais, às condições de isolamento no lazareto. Mas para além dos incómodos dessas e de outras figuras ilustres, como a de Sarah Bernhardt, que infelizmente a autora não nos explica como contornou – se o conseguiu – a proibição de pisar Lisboa sem passar pelo lazareto (p.171-72), a questão era também de natureza comercial: os produtos que não pudessem passar pelo porto de Lisboa ou por qualquer outro porto português que estivesse vigiado pelas autoridades sanitárias eram desviados para as Canárias, para o Mediterrâneo ou para qualquer porto onde a política pública de saúde não fosse tão apertada. Refere especificamente o caso da barca Imogene, que em 1879 é caricaturado pela imprensa política e humorística nacional e no qual o diagnóstico do distinto médico Sousa Martins é colocado em causa, vendo-se o mesmo obrigado a escrever um livro – cujo título a autora não cita – para defender sua reputação e sua honra como médico (p.180 e s.). Apenas com a abertura do posto marítimo de desinfeção de Lisboa, a 1 de janeiro de 1906, já iniciado o século XX, a velocidade de entrada de passageiros e de mercadorias no porto lisboeta atinge o ritmo e a desburocratização que os tempos exigiam. A imprensa julga, naturalmente, com bons olhos tal inovação, mas aparentemente esquece-se de que ela não poderia existir se a ciência não tivesse já conhecido e debelado, no Brasil, as causas da mortandade que a febre amarela provocara durante décadas.
É nos dois últimos pontos ou capítulos, o sétimo e o oitavo, do livro que Patrícia Moreno explica-nos o que verdadeiramente mudou e obstou a que a febre amarela deixasse de matar aos milhares em Portugal. Se o médico português Ricardo Jorge escrevia que em 1860-1880 “só 20 navios entrados na barra de Lisboa foram considerados infeccionados” e se se sabe que isso ocorreu em apenas outros quatro até 1900 (p.192), não parecem restar dúvidas de que “O Brasil liberta-se… e Portugal respira”: isto é, só com a ação de Oswaldo Cruz (1872-1917), médico brasileiro, foi possível “estancar a mortandade devida à febre amarela no Rio de Janeiro” (p.195-196). A luta contra o mosquito, entre 1903 e 1909, permite senão erradicar, pelo menos diminuir drasticamente a incidência da doença em Portugal e no Brasil: “Não é a cura, mas sim a profilaxia da propagação da doença que irá trazer a glória a este médico brasileiro” (p.203). E nas conclusões, Patrícia Moreno deixa-nos duas afirmações, talvez um pouco longas para serem transcritas na íntegra, mas que são decisivas para compreender o essencial da mensagem transmitida: “As autoridades sanitárias e o governo de Portugal souberam resistir às incursões de febre amarela e de cólera-morbo. Souberam também resistir a todos aqueles que propuseram, na maioria dos casos com intuitos meramente comerciais e de lucro fácil, um aligeiramento ou mesmo a eliminação da legislação rigorosa em vigor”. E termina seu texto relembrando como “página quase esquecida da nossa história recente” a temática abordada: a do “perigo da importação” de febre amarela e as medidas adotadas pelas autoridades políticas e sanitárias portuguesas, com consequências danosas no desenvolvimento das relações comerciais entre Portugal e Brasil” (p.205-206). É este seu papel, assumido, como autora: fornecer as pistas, as fontes e os factos para que consensualmente se possa chegar a tais conclusões, deixando ao leitor a liberdade de concordar ou não com tais assunções, que são apenas afirmadas no final do livro.
O nono e último ponto ou capítulo é o da bibliografia, talvez o mais frágil de todos. Poderia ser mais rigorosamente dividido em fontes, bibliografia e webgrafia. A “Bibliografia: Séculos XVII a XIX” poderia ser designada por fontes e a referente aos séculos XX e XXI, essa sim, listada como bibliografia, excetuando a que diz respeito às décadas de 1900 a 1920 ou 1930, dado que são de 1926 e 1938 dois títulos de Ricardo Jorge que podem ser considerados fontes. Também as caixas dos arquivos citados do Ministério português dos Negócios Estrangeiros e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo deveriam ser mencionadas e as páginas de internet conter as datas de consulta. Mas essas são questões secundárias, mais do foro editorial do que autoral. Faria ainda falta um índice remissivo, pelo menos onomástico, para mais fácil localização de figuras referidas da medicina, literatura, política e jornalismo portugueses e brasileiros em duzentas páginas de uma obra que se lê com grande facilidade e proveito. Numa segunda edição, Patrícia Moreno poderá eventualmente acrescentar alguma bibliografia especializada brasileira, como artigos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos a propósito de temáticas similares, consultáveis, também eles on-line, se eventuais acrescentos e aprofundamentos o justificarem, naturalmente.
Daniel Estudante Protásio – Pós-doutorando, Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX/Universidade de Coimbra. Portugal. E-mail: daniel.estudante.protasio@gmail.com
A doença e os medos sociais – MONTEIRO (HCS-M)
MONTEIRO, Yara Nogueira; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (Org.). A doença e os medos sociais. São Paulo: Fap-Unifesp. 2012. 440p. Resenha de: FERREIRA, Vanessa Nolasco. Um percurso sobre a história da doença e dos medos sociais. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 supl. Dec. 2015.
O livro A doença e os medos sociais tem como foco a “história das doenças, dos medos, da discriminação e de sua repercussão no meio social” (p.9). Seu objetivo é instigar o debate sobre os referidos temas, levando em conta os diferentes campos de conhecimento que podem ser exemplificados pela riquíssima e diversa formação dos autores de cada capítulo. A coletânea de textos faz com que o objetivo seja extrapolado, visto que a leitura de cada capítulo proporciona um panorama da história da doença no Brasil e suas correlações com o cenário internacional.
As organizadoras, Yara Monteiro Nogueira e Maria Luiza Tucci Carneiro, apresentam a doença como um estigma, no qual se entrecruzam mito e realidade, ressaltando a relação direta existente entre o adoecimento e a exclusão. Tal noção é aprofundada ao longo de 16 capítulos, divididos em quatro partes. Nessa divisão se encontra o maior problema do livro, pois não há um texto introdutório que elucide o motivo pelo qual a obra se encontra organizada dessa maneira. Além disso, não é citado o objetivo de cada uma das partes, não são apresentados os textos que compõem cada parte nem é estabelecida uma correlação entre os ricos assuntos tratados pelos autores. A falta de um texto de conclusão também agrava o problema apontado.
“O imaginário sobre a doença” constitui a primeira parte do livro, na qual são apresentados conceitos como medo, cultura da segurança versus a cultura do risco, imaginário e estigma. O medo é definido como sinônimo da insegurança que “assegura a conformidade social e cultural” (p.38) e espelha a possibilidade de morte eminente. Dessa forma, a cultura ocidental apropria-se do medo para produção de normas e regras sociais devido a sua capacidade de assumir diferentes feições e formas de existência. O medo aparecerá, por exemplo, nas artes e pode ser exemplificado pelo impacto da peste nas cidades de Florença e Viena e nas “posturas medievais sobre a lepra” (p.101). A partir da apreensão do medo pelas culturas, principalmente a ocidental, emergem a cultura de segurança e a cultura do risco, sendo a primeira a que legitima ciência e tecnologia como os saberes determinantes e preponderantes, enquanto a segunda enfatiza a noção de risco como ideia de advertência que contém força em si mesma.
Os conceitos de estigma e imaginário aparecem imbricados e são muito bem explicados a partir de exemplos como o da lepra, cuja cura, quando descoberta, não ocasionou a alteração das representações sociais sobre os portadores de hanseníase. Os mesmos ainda são vistos como aqueles que devem ser isolados porque portam uma doença altamente contagiosa. Tal exemplo comporta a estigmatização do doente – o leproso – e a ação do imaginário sobre a realidade, apontando que mesmo uma doença que pode ser curada traz grande carga de preconceitos. As artes também servem como ilustração; no quadro A virgem e o menino, a saúde e a boa aparência demonstram uma preocupação com essa realidade, assim como ocorre em outras pinturas renascentistas. No entanto, a arte, por intermédio de obras citadas no livro, também pode resumir o medo e o estigma, como ocorre nas pinturas que retratam a peste negra ou portadores de enfermidades. Os capítulos que compõem essa seção, portanto, constroem a concepção do imaginário da doença como uma construção social que tem como base o medo e, como consequência, estigmatiza os doentes.
A segunda parte da obra apresenta caráter mais específico ao tratar das “Doenças e medos na formação da sociedade brasileira” por meio de narrativas sobre diferentes enfermidades e variados pontos de vista sobre elas. O banzo, melancolia que atingia majoritariamente escravos, é abordado como doença que contribuiu para a construção da hipótese de um imaginário de que o Brasil teria sido erguido com tristeza, conforme apresenta Gilberto Freyre (2006) no livro Casa-grande e senzala.
Uma contribuição interessante da seção é o ponto de vista dos viajantes, como observadores privilegiados da natureza brasileira e, por conseguinte, da doença. Sua visão permite que o leitor tome contato com o imaginário da doença no Brasil desde os primórdios de sua construção. “Constatamos que a literatura dos viajantes é uma fonte importante para o estudo da história da saúde e das doenças dentro das novas perspectivas historiográficas que, ampliando seu campo de pesquisa, possibilitam entender toda trama que tece a existência humana” (p.144).
Ao longo dos capítulos que compõem essa parte do livro, o medo, base do imaginário da doença, aparece de forma bastante explícita, seja como correlato da descrição, do isolamento, excesso e indiferença nas narrativas sobre a gripe espanhola em São Paulo; ou como a imagem da Hospedaria Central na ilha das Flores como local de exclusão e de difusão do medo. É interessante notar que o medo que parece estar no passado é apontado em um campo da doença bastante presente na atualidade: o do tabaco, que muitas vezes não pode ser citado ou tem sua historicidade abafada com base em argumentos médicos que remetem à cultura do risco. Essa hegemonia do medo é tão paralisante que a discussão é considerada muitas vezes criminosa, perdendo-se, com isso, interessantes estudos sobre o modo como o brasileiro fuma.
Tais reflexões são capazes de mostrar ao leitor que a doença, no arcabouço do imaginário apresentado na primeira parte, é um campo caracterizado pelo sofrimento e pela consciência da experiência mórbida. Dessa forma, a “cultura fornece aos indivíduos os limites dentro dos quais se operam as interpretações relativas aos fenômenos corporais e, em particular, a doenças e seus sintomas” (p.215).
Os medos, que perpassam toda a coletânea, são retomados na terceira parte, que se dedica ao estudo de sua difusão, e o expoente que perpassa os três capítulos da seção é a eugenia, como o gatilho que reedita rupturas e permanências acerca das doenças e medos sociais. Ela está presente nas “Metáforas roubadas à doença: particularidades do discurso racista” (p.251) que tomou conta do Brasil na Era Vargas, quando os judeus eram conhecidos como “cancro social” (p.255) e, nas palavras da época, “proliferavam como parasitas”, ou mesmo quando se acreditava que os estrangeiros poderiam ser abrasileirados – uma metáfora do “verniz social” (p.256).
Também é demonstrado que as ideias de uma raça superior e/ou melhorada apresentavam-se como paradigma universal; o 13o capítulo aponta como essas teorias estavam presentes nos EUA, na URSS e na Alemanha nazista por meio de sua produção cinematográfica. Esses ideais de perfeição são tratados como julgamentos morais e políticos que disseminavam o pânico de doenças não existentes e de medos sociais que fizeram nações tentar a destruição de outras nações ou culturas.
A quarta e última seção do livro se dedica à questão das fontes para a história das doenças. A apresentação do projeto “Guia dos arquivos das santas casas do Brasil, século XVI ao XX”, cujo objetivo é compreender as fontes sobre história e doença “explorando o modo como esses fragmentos [de documentos] assumem significados da tessitura de relações mais amplas” no contexto da relação das santas casas com a doença e os medos sociais e a polarização desses medos na cultura brasileira (p.337), busca sensibilizar o público – além de historiadores, arquivistas e biblioteconomistas – para a necessidade de realizar a preservação documental como responsabilidade de todos, por se tratar de um processo contínuo que contém mais do que memórias, mas o caráter identitário das doenças e medos sociais.
Outra vertente contemplada é a salvaguarda de documentos por uma instituição. Nesse contexto, é apresentado o Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, cujo objetivo é “reunir, preservar e dar acesso aos registros relevantes sobre a trajetória das Ciências Biomédicas e da Saúde Pública, bem como atuar como centro de referência e informação nessas áreas” (p.353). Vale ressaltar que a autora do capítulo destaca o projeto “Memória e história da hanseníase no Brasil através de seus depoentes (1960-2000)” como um exemplo do uso da história oral como forma de demonstrar a singularidade a partir da abrangência de aspectos tratados nos depoimentos.
O livro é encerrado com a apresentação da Rede Brasileira de História e Patrimônio Cultural da Saúde ressaltando que ela pode atuar como um dos braços da participação social na saúde, prevista na Constituição de 1988, e salvaguardar o que se refere à identidade, à memória e à ação da sociedade brasileira, em especial do Ministério da Saúde. Além disso, nesse último capítulo está contida a estrutura da Coordenação Geral de Documentação e Informação da Subsecretaria de Assuntos Administrativos da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde e das instituições representadas na Rede, sendo um guia bastante rico para os que iniciam seus estudos sobre o tema.
É de suma importância reiterar que o objetivo de instigar o debate sobre a história da doença, sua correlação com os medos sociais e a repercussão no meio social, e a forma pela qual esse processo se dá tanto na cultura ocidental quanto, mais especificamente, no Brasil, é cumprido com excelência. Ainda há muito espaço para estudos sobre esse tema, e novos debates só têm a contribuir com o campo.
Recomendo o livro para os que estão iniciando tanto graduações em ciências da saúde quanto em ciências humanas devido à riqueza na ilustração da história das doenças e suas representações sociais com foco no contexto brasileiro. Aos que já estão na área há mais tempo a leitura pode incentivar novas ideias e promover debates sobre esse tema ainda pouco explorado.
Referências
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global. 2006. [ Links ]
Vanessa Nolasco Ferreira – Doutoranda, Ciências da Saúde/Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz. E-mail: vnolascoferreira@gmail.comBrasil
Le médicament qui devait sauver l’Afrique: un scandale pharmaceutique aux colonies – LACHENAL (HCS-M)
LACHENAL, Guillaume. Le médicament qui devait sauver l’Afrique: un scandale pharmaceutique aux colonies. Paris: La Découverte, 2014. 283pp. Resenha de: CORREA, Sílvio Marcus. Uma chave para a África. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 supl. Rio de Janeiro Dec. 2015.
Desde o início do século XX, a chamada doença do sono era um grande desafio à medicina tropical.1 Durante a Partilha da África, a doença tomou proporções alarmantes. Na década de 1920, a Alemanha já tinha perdido as suas colônias no continente africano, quando a imprensa deu notícias sobre uma nova wonder drug, considerada a “chave para África” (A key…, 1 set. 1922). O Bayer 205 foi tido como um medicamento promissor no combate à tripanossomíase africana. Estariam os alemães aptos a reaver suas colônias? (Das deutsche…, 22 set. 1922).
A Segunda Guerra Mundial poria fim a qualquer projeto colonial do Terceiro Reich. Quanto ao Bayer 205, sua eficácia foi superada por outro medicamento da indústria farmacêutica: a Lomidina®. A história da Lomidina corresponde a uma fase pouco conhecida, mas capital, da luta colonial contra a doença do sono. Sobre ela, tem-se, agora, o livro de Guillaume Lachenal, mestre de conferências junto ao departamento de história e filosofia das ciências na Universidade Paris-Diderot.
O “medicamento que deveria salvar a África” suscitou uma série de dúvidas e incertezas quanto à sua eficácia, à sua posologia etc. Apesar disso, o medicamento foi usado na quimioprofilaxia contra uma doença tropical que debilitava a saúde dos trabalhadores.2 Na África portuguesa, as campanhas de vacinação se intensificaram até os últimos anos do colonialismo.3 Em Angola, algumas sociedades de capital privado tinham o seu próprio serviço de saúde. Na Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), por exemplo, havia uma sessão autônoma chamada Missões de Profilaxia Contra a Doença do Sono (Varanda, 2014).
Mas, durante a euforia da utopia higienista colonial, houve uma hecatombe em Yokadouma, um vilarejo na parte oriental dos Camarões, então sob domínio colonial francês. Em meados de novembro de 1954, dezenas de pessoas morreram depois de terem sido vacinadas por uma equipe do serviço de higiene e de profilaxia responsável pela aplicação da Lomidina. O acidente de Yokadouma se inscreve numa história da medicina tropical que revela o lado falível, presunçoso e geralmente encoberto pela grandiloquência do discurso colonial. Para tratar disso, o autor evoca o valor heurístico da noção de “besteira colonial”. Para Lachenal, a besteira não remete a uma deficiência da razão, mas a uma possibilidade intrínseca à razão. Pela confiança desmesurada nos procedimentos científicos, a razão pode tornar-se uma obstinação. A besteira não raro se confunde com arrogância. Por isso, ela se caracteriza pelo excesso e não pela falta de razão. A obstinação em erradicar a doença do sono e os métodos empregados como as campanhas de lodiminização preventiva fazem parte daquilo que o autor chamou de “besteira colonial”.
No entanto, diante da morte de dezenas de pessoas e dos graves ferimentos de centenas de outras, além dos traumas, humilhações e coerções a que foram submetidos milhares de indivíduos durante as campanhas periódicas de lomidinização, a “besteira” pode vir a significar muito pouco e não passar de mero eufemismo.
Embora a análise do autor tenha ficado circunscrita aos (ab)usos da Lomidina, cabe informar que outras “besteiras” como o desmatamento e mesmo a matança de animais selvagens foram práticas largamente adotadas nas campanhas de controle ou erradicação da tripanossomíase africana (Correa, 2014).
O “império da besteira” não se restringiu às fronteiras africanas. Enquanto Aníbal Bettencourt, Aldo Castellani, David Bruce, Robert Koch e outros buscavam decifrar a doença do sono, outras enfermidades preocupavam as autoridades sanitárias e de higiene nos trópicos. Suas técnicas e métodos no combate a certas epidemias não foram diferentes. Uma campanha de vacinação obrigatória contra a varíola levou a uma revolta no Rio de Janeiro em 1904 (Chalhoub, 1996). No Brasil meridional, campanhas sanitárias para erradicação da malária tiveram por alvo algumas bromeliáceas, reservatórios naturais à proliferação dos mosquitos anofelinos (Oliveira, 2011). Ou seja, a presunção ou arrogância de uma razão médica, o autoritarismo e a violência de certas medidas de higiene, sanitárias ou profiláticas não foram apanágios do colonialismo em África. Dito de outro modo, a “besteira colonial” teve suas similares em contextos pós-coloniais.
Ao tratar de um medicamento considerado “a chave para África”, Guillaume Lachenal brinda com uma abordagem inovadora, em termos teóricos e metodológicos, a historiografia da medicina tropical.
Referências
A KEY…A key to Africa. Rhodesia Herald. 1 set. 1922. [ Links ]
BETTENCOURT, Aníbal.La maladie du sommeil: rapport présenté au Ministère de la Marine et des Colonies par la Mission envoyée en Afrique Occidentale Portugaise. Lisboa: Libanio da Silva. 1903. [ Links ]
CHALHOUB, Sidney.Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras. 1996. [ Links ]
CORREA, Silvio M. de Souza. Evicção da fauna bravia: medida radical de saneamento na África colonial. Revista de Ciências Humanas, v.14, n.2, p.410-422. 2014. [ Links ]
DAS DEUTSCHE….Das deutsche Schlafkrankheitsmittel: der Schlüssel zu Afrika in deutscher Hand. Lüderitztbuchter Zeitung. 22 set. 1922. [ Links ]
OLIVEIRA, Eveli S. D’Ávila. O combate à malária em Florianópolis e suas implicações ambientais. Tempos Históricos, v.15, p.405-429. 2011. [ Links ]
PICOTO, José. Assistência médico-cirúrgica na Luanda pelo serviço de saúde da Diamang. Anais do Instituto de Medicina Tropical, v.10, n.4. (separata). 1953. [ Links ]
VARANDA, Jorge. Cuidados biomédicos de saúde em Angola e na Companhia de Diamantes de Angola, c. 1910-1970. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.21, n.2, p.587-608. 2014. [ Links ]
VINTE ANOS DE LUTA…Vinte anos de luta contra a doença do sono, 1946-1965. O Médico, n.792, p.17. (separata). 1966. [ Links ]
Notas
1 Angola, por exemplo, acolheu uma das primeiras expedições científicas para o estudo da doença do sono (Bettencourt, 1903).
2 Para ficar num exemplo, ao elogiar a assistência médico-cirúrgica do serviço de saúde da Diamang, o doutor Fernando Correia afirmou que a referida sociedade mineradora acabava também “por lucrar economicamente, visto que a economia de saúde e de vidas se repercute sempre, mais cedo ou mais tarde, direta ou indiretamente, sobre a produção” (citado em Picoto, 1953, p.2703).
3 Em 1963, pelo decreto n.45.177, foi criada a Missão de Combate às Tripanossomíases (MCT) que, no ano seguinte, entrou em ação. O escopo da nova organização era “a luta total, em todos os campos, contra as tripanossomíases consideradas nos múltiplos aspectos-médico, veterinário, entomológico, agronômico, etc.” (Vinte anos de luta…, 1966, p.17). Entre outras atividades da MCT, a campanha de pentamidinização em Angola foi reconhecida do outro lado do Atlântico. Em 20 de agosto de 1970, em sessão realizada na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, o médico brasileiro Olympio da Fonseca Filho fez elogios à obra de Portugal no combate à doença do sono.
Sílvio Marcus de Souza Correa – Professor, Programa de Pós-graduação em História/Universidade Federal de Santa Catarina. silvio.correa@ufsc.brBrasil
Brasil: uma biografia – SCHWARCZ et. al (EH)
SCHWARCZ, Lilia; Starling, Heloisa. Brasil: uma biografia. 2015. Companhia das Letras, São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Resenha de: MAIA, João Marcelo Ehlert. Existe o Brasil? desafios de uma biografia da nação. Estudos Históricos, v.28 n.56 Rio de Janeiro July./Dec. 2015.
Nunca foi fácil contar a História do Brasil. Afinal, esse país vasto, desigual e permeado de trocas culturais violentas e criativas sempre se mostrou insubmisso aos seus melhores intérpretes. Mas, em um momento no qual a intensa especialização universitária combina-se a um processo de democratização política e social que pluralizou a ideia clássica de Nação, a tarefa tornou-se ainda mais complexa. Apenas por esse motivo já seria importante saudar o lançamento de um livro como Brasil: uma biografia, escrito em conjunto por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. O livro, porém, também é muito bom, o que justifica a ingrata missão de resenhar em no máximo 8 mil caracteres (com espaços!) um livro cujo objeto é apenas o país.
Como se sabe, existe um mercado para livros de História não acadêmicos no Brasil, mas ele tem sido ocupado, de forma geral, por obras escritas por jornalistas ou comentaristas políticos, com algumas exceções recentes (Aarão Reis, 2014). Schwarcz e Starling são não apenas duas pesquisadoras de ponta em suas respectivas áreas, mas também intelectuais preocupadas com a dimensão pública do conhecimento. A primeira tem tido papel relevante na editora Companhia das Letras, organizando coleções que procuram apresentar um panorama atualizado e rico das grandes interpretações do Brasil, ao passo que Starling é uma liderança nos projetos sobre história republicana, atuando também na Comissão Nacional da Verdade. Ambas têm suas trajetórias associadas ao GT de Pensamento Social no Brasil da ANPOCS, espaço dos mais tradicionais e criativos da área, que se notabiliza pelo investimento na pesquisa sobre as tradições culturais e intelectuais nacionais. Assim, é natural que tenham pensado esse projeto a partir do entrecruzamento entre experiência acadêmica, liderança intelectual e visibilidade na esfera pública, produzindo como resultado uma obra que se vale da melhor produção acadêmica disponível, apresentada em um texto acessível aos não iniciados e complementado com grande diversidade de fontes primárias (o livro apresenta logo no início a longa lista de arquivos consultados). A aposta foi bem-sucedida, e ainda hoje Brasil: uma biografia figura nas listas dos livros mais vendidos de não ficção.
A obra tem 18 capítulos distribuídos em quase 800 páginas, que cobrem do período da colonização à transição pós-ditadura militar. Há também seções com imagens, sejam elas retratos, pinturas, documentos e fotografias, e as autoras mostram habilidade ao mobilizar essa iconografia de forma não simplesmente ilustrativa. Cada capítulo dialoga intensamente com a historiografia acadêmica, que é apresentada no anexo por meio de notas de fim, embora esse diálogo tenha resultados diferentes em cada seção. Assim, os capítulos sobre o século XIX têm como ponto alto a conversa com a História Intelectual e Conceitual, o que permite ao leitor não especializado um conhecimento maior sobre os significados de termos como “pacto”, “federação” e “Império”. Já o capítulo sobre escravismo bebe significativamente da fonte da História Social da Escravidão, área na qual a historiografia brasileira tem sido extremamente prolífica e competente. Esse capítulo, em especial, tem forte teor analítico, como se as autoras tivessem conscientemente optado por esmiuçar toda a mecânica violenta do racismo à brasileira, fenômeno que muitos ainda insistem em subalternizar no debate público. Já os capítulos sobre o período republicano (do 13 em diante) parecem privilegiar uma abordagem mais próxima da História Política, e é possível que leitores especializados sintam falta de um diálogo com a História Social do Trabalho mais recente, que vem investindo nos cotidianos dos “mundos do trabalho” para além da discussão sobre o trabalhismo consagrada na obra clássica de Angela de Castro Gomes.
A estrutura narrativa reflete a escrita a quatro mãos, e tem oscilações interessantes. Se alguns capítulos têm um tom analítico, próprio da linguagem acadêmica, outros (em especial o capítulo 4, intitulado “É Ouro!” e dedicado à formação do complexo minerador na atual região de Minas Gerais) têm forte sabor narrativo, com a apresentação quase romanesca de personagens reais extraídas das fontes históricas. É possível que alguns leitores mais críticos se incomodem com o desequilíbrio formal, mas penso que a diversidade de formas atende à diversidade de objetivos. Afinal, em um momento em que ainda se discute a sério a existência de racismo no Brasil, é uma tarefa político-pedagógica martelar no leitor desavisado toda a riqueza informativa e interpretativa produzida pela Historiografia.
O saldo da empreitada é muito positivo. Gostaria, porém, de destacar dois grandes desafios colocados para qualquer biografia do Brasil hoje: o primeiro relaciona-se com a própria ideia de uma biografia nacional, e o segundo diz respeito às tensões entre as chamadas “interpretações do Brasil” e a emergência de novas narrativas sobre o “Brasil” construídas a partir de perspectivas historicamente subalternas.
Sabemos que a sociologia e a historiografia discutem há tempos as armadilhas contidas no método biográfico (Bourdieu, 1996). Afinal, ao pensarmos a história de um indivíduo como uma biografia, arriscamo-nos a construir uma narrativa por demais dotada de sentido e de coerência, apagando o que seriam os acasos e as contingências que modelam as trajetórias. Mais recentemente, vem-se enfatizando a dimensão transnacional de processos que se pensava serem facilmente enquadrados num âmbito exclusivamente nacional ou mesmo regional (Subrahmanyam, 1997), o que põe em questão a possibilidade de uma biografia de uma Nação. Aliás, antes que termos como “História Global” virassem moda intelectual, um historiador como Luiz Felipe de Alen castro (2000) já argumentava que é impossível entender o tráfico negreiro moderno sem tomar como unidade analítica o Atlântico Sul, e não o Brasil. Isto é, a escravização de milhares de africanos em terras tidas como brasileiras não poderia ser entendida como decorrência de uma dinâmica histórica nacional, já que os nexos que explicam esse fenômeno articulariam a costa oeste africana a alguns portos e espaços no litoral brasileiro, mas não todo o território que hoje conhecemos por “Brasil”. Assim, uma primeira questão interessante seria: como uma biografia nacional pode dialogar com a necessidade de abordarmos a dimensão transnacional de processos e fenômenos que nos construíram?
O segundo desafio refere-se ao surgimento de novas formas de falar sobre o objeto “Brasil” que questionam o lugar de discurso dos setores letrados e a ideia de identidade que acompanha a formação do Estado-Nação. Essas novas formas podem ser sintetizadas por uma resposta dada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro quando confrontado com a clássica pergunta “O Brasil tem jeito?”, em edição recente da revista Cult.
O Brasil não existe: o que existe é uma multiplicidade de povos, indígenas e não-indígenas, sob o tacão de uma elite, corrupta, brutal e gananciosa, povos unificados à força por um sistema mediático e policial que finge constituir-se em um Estado-Nação territorial. Uma fantasia sinistra. Um lugar que é o paraíso dos ricos e o inferno dos pobres. Mas entre o paraíso e o inferno, existe a terra. E a terra é dos índios. E aqui todo mundo é índio, exceto quem não é (Viveiros de Castro, 2015).
A frase contém certo tom apocalíptico, mas traduz um sentimento disseminado sobre o possível esgotamento da forma nacional e seus avatares, entre os quais as próprias “interpretações do Brasil”, geralmente produtos do olhar de uma camada letrada sobre um Outro desprovido dos meios materiais e simbólicos de representação. Afinal, não se trata de incluir esses grupos na biografia nacional, tarefa brilhantemente feita pelas autoras, mas de inquirir sobre outras possibilidades narrativas construídas à margem das clássicas interpretações do Brasil e pelas mãos e vozes de outros setores.
As autoras, é claro, estão cientes dos dois desafios aqui levantados, e lidam com eles de forma inteligente. Logo na introdução, afirmam explicitamente que “não querem fazer uma história do Brasil, mas fazer do Brasil uma história, dentre outras”. Esta afirmativa sagaz é a bússola de todo o projeto. Cientes da democratização da sociedade e da impossibilidade de qualquer narrativa teleológica, Schwarz e Starling reconhecem a contingência de sua narrativa e as contradições do objeto “Brasil”. Por tabela, essa frase nos convida a pensar com o livro e para além do livroalgumas questões difíceis, mas cruciais, entre as quais eu destacaria duas: se o livro faz do Brasil uma história, como essa história específica, produzida no seio da melhor pesquisa acadêmica nacional, pode se relacionar com outras histórias? Em que medida essas outras histórias ainda encontram um terreno comum com as “intepretações do Brasil” das quais o livro das autoras é claro herdeiro?
Na resposta a essas perguntas, reside um desafio que não é apenas intelectual, mas profundamente político. Afinal, trata-se de encontrar um novo terreno comum em meio aos fragmentos do que é hoje a ideia de Brasil, sacudida por uma maré democratizante de longa duração que felizmente não pode mais ser represada. Brasil: uma biografia será um incontornável livro de viagem nessa busca.
Referências
AARÃO REIS, Daniel. Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundos São Paulo: Companhia das Letras, 2014. [ Links ]
ALEN CASTRO, Luís Felipe. O trato dos viventes: a formação do Brasil no Atlântico Sul, São Paulo: Companhia das Letras 2000. [ Links ]
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Morais (org). Usos e abusos da História OralRio de Janeiro: FGV, 1996. [ Links ]
SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected histories: notes towards a reconfiguration of early modern Eurasia. Modem Asia Studies 31(3): 735-762. 1997. [ Links ]
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo. Disponível em Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2015/07/entrevista-eduardo-viveiros-de-castro-fotografo/. Acessado em 21 de outubro de 2015. [ Links ]
João Marcelo Ehlert Maia – Mestre (2001) e doutor (2006) em Sociologia pela Sociedade Brasileira de Instrução (SBI/ IUPERJ), e professor adjunto do CPDOC/FGV-RJ (joao.maia@fgv.br).
Casa-Grande & Senzala: o livro que dá razão ao Brasil mestiço e pleno de contradições – LIMA (AN)
LIMA, Mario Helio Gomes de. Casa-Grande & Senzala: o livro que dá razão ao Brasil mestiço e pleno de contradições. São Paulo: É Realizações, 2013. 198 p. Resenha de: OLIVEIRA, Amurabi. Do pretexto ao subtexto de Casa-Grande & Senzala. Anos 90, Porto Alegre, v. 22, n. 42, p. 449-457, dez. 2015.
O historiador e antropólogo Mario Helio Gomes de Lima (2000, 2010) já havia dedicado dois livros à obra de Gilberto Freyre, entretanto, seu mais recente trabalho, Casa-Grande & Senzala: o livro que dá razão ao Brasil mestiço e pleno de contradições, não se volta a um exame mais amplo do legado intelectual do pensador pernambucano, mas sim à sua obra mais célebre: Casa-Grande & Senzala. Esse livro, publicado originalmente em 1933, formou o primeiro volume de uma tetralogia inacabada intitulada Introdução à História da Sociedade Patriarcal no Brasil, da qual fazem parte Sobrados e Mucambos, de 1936, e Ordem e Progresso, de 19571.
Sendo Casa-Grande uma obra clássica, que se constitui como um referencial para diversos campos disciplinares, em especial para os da Sociologia, Antropologia e História, ela já foi bastante debatida e examinada. Todavia, como indica Lehmann (2008), houve, nos últimos anos, um crescimento evidente do interesse pela obra desse autor, o que tem mobilizado pesquisadores, tanto brasileiros quanto estrangeiros, a buscar novos ângulos de análise de seu trabalho. O livro de Helio não se propõe a ser um exame detalhado aos moldes de Guerra e Paz, que almejou lançar novas teses interpretativas (ARAÚJO, 1994), mas sim, um trabalho cujo valor encontra-se no seu caráter esclarecedor, e mesmo didático, a respeito de Casa Grande & Senzala e de seu autor, sanando algumas dúvidas que surgem durante a leitura e desvelando alguns dos mistérios da escrita desse que é considerado um dos livros que inventou o Brasil (CARDOSO, 2013). Esse trabalho hercúleo é realizado não apenas através de um exercício de interpretação da própria obra, mas também por meio do diálogo com outros livros de Freyre, além de seu “diário”, publicado com o título de Tempo Morto e Outros Tempos (2006b), e de cartas trocadas entre o pensador e alguns de seus contemporâneos, que revelam as contradições, anseios e angústias do autor durante o processo de construção dessa obra monumental.
O livro encontra-se subdividido em seis partes: 1) o pretexto, 2) o intertexto, 3) o contexto, 4) o texto, 5) os entretextos, 6) o subtexto. Essa organização não visa apenas a didatizar a apresentação do tema central do livro, mas a apresentá-lo de tal modo que ele consiga ser tanto uma valiosa introdução aos neófitos no legado de Freyre, quanto um trabalho de síntese útil aos leitores mais familiarizados com a obra do intelectual de Apipucos2.
Na primeira parte, apesar de a apresentação de Gilberto Freyre não se resumir à simples descrição da biografia pessoal ou da formação intelectual do autor, o que não é olvidado completamente, Helio chama a atenção para a forma como Freyre grafava seu sobrenome, com “Y” e não com “I”, bem como “Mello” e não “Melo”, o que já apontara para o seu interesse pelo passado, pela origem dos nomes e suas raízes. Desse modo, destaca-se que, para Freyre, o passado nunca é totalmente esquecido, mas sim, vivo e pulsante, projetando-se no presente e no futuro. Afinal, para ele, o tempo era “tríbio”, ou seja, passado, presente e futuro se interpenetravam continuamente. Sua formação intelectual inicial e a vivência nos Estados Unidos tiveram um peso significativo na elaboração de seu modo de entender o Brasil, especialmente no que diz respeito às relações raciais. Nesse sentido, também pesa a complexa posição política que adotou, com sua aproximação a Estácio Coimbra (1872-1937) e seu subsequente exílio com a ascensão do governo de Vargas, em 1930, período no qual escreveu seu livro mais conhecido.
Em O Intertexto, o foco volta-se para a própria escrita de Freyre, afinal, ele afirmava que, antes de ser sociólogo, antropólogo ou historiador, ele seria escritor (FREYRE, 1968). Como já havia notado Motta (2009), Freyre tinha algo mais de artista do que de cientista. Porém, sua marca não se restringia à escrita cambaleante entre o fazer científico e o fazer literário, entre os quais ele não percebia haver barreiras estanques, ela também estava presente no exercício contínuo de reescrita de seus próprios trabalhos, o que inclui seu diário de juventude, em grande medida, uma “autoficção”.
Como é bem demonstrado, nos momentos em que Freyre buscou ser historiador sempre o foi com hífen: “historiador-sociólogo”, “historiador-antropólogo”, todos unidos pelo “historiador-escritor”, pois, “O Gilberto Freyre historiador é o que não separa – como muitos antigos, da sua tradição clássica muito remota, mas sempre viva e presente – o escritor da escrita, nem a narração do narrado ou do narrador” (p. 58). Não podemos esquecer que, para Freyre, a saudade é uma ferramenta heurística que lhe possibilita revivenciar empaticamente o passado (VILLAS BOAS, 2006), para assim compreender melhor o presente; metodologicamente, essa indissociabilidade também é fundamental. De forma bastante sintética nos são apresentadas aquelas que seriam as principais influências do autor de Casa-Grande & Senzala: A escrita de Freyre plasma-se em duas influências fundamentais: os textos de autores portugueses (tanto os ortodoxos quanto os heterodoxos) e da literatura moderna dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Espanha, que frequentou na década de 1920. Duas influências individuais poderosas na sua formação: Oliveira Lima e Franz Boas, na época de sua formação nos Estado Unidos. (p. 62) A respeito da influência de Franz Boas, é relevante considerarmos os questionamentos realizados por Motta e Fernandes (2013), que apontam para o seu peso relativo na formação de Freyre, considerando que ele fez seus estudos de pós-graduação em História Social e não em Antropologia, ainda que tenha cursado disciplinas nesse departamento (PALLARES-BURKE, 2005). Assim, Boas nunca foi seu orientador no sentido formal do termo. Ademais, ainda que ele reivindique a influência decisiva de Boas em sua obra desde o prefácio da primeira edição de Casa-Grande & Senzala (FREYRE, 2005), os autores apontam outras influências intelectuais que teriam pesado de forma mais significativa na formação intelectual de Freyre, como Charles Maurras (1868-1952).
Nesse capítulo, Helio ainda realiza um exercício bastante didático de classificação dos trabalhos de Freyre, organizando-os em grandes blocos em termos de temáticas, finalidades, relevância e, principalmente, de conexão entre eles; afinal, o autor busca demonstrar que, apesar da diversidade, haveria uma unidade de propósitos, métodos e realização na obra de Freyre, de modo que: “Encontrar esses pontos são os primeiros passos para uma leitura empática do que fez” (p. 74).
Já em O Contexto, o livro trata do cenário de fundo do período de publicação de Casa-Grande & Senzala, tanto em termos de dados mais objetivos, considerando, por exemplo, o caráter rural e analfabeto do país naquele período, quanto em termos do debate intelectual colocado ao fundo. Nessa direção, sua análise conflui com a de Bastos (2006) ao indicar que a questão racial era central para as discussões políticas e intelectuais dos anos de 1920, sem desconsiderar as condições às quais Freyre estava exposto de forma mais sui generis, como no que diz respeito a suas restrições orçamentárias. Esse capítulo também é interessante por desvelar algumas lendas que Freyre criou em torno de si próprio, comparando alguns dados que são citados em livros e a forma com que aparecerem nas cartas pessoais.
A contextualização realizada compreende ainda as condições dadas para a produção desse clássico do pensamento social brasileiro, bem como a cena cultural de fundo. Por exemplo, apesar de soar anedótico, Helio traz à tona o dado de que, em 1932, a música mais bem-sucedida no carnaval foi O Teu Cabelo não Nega, que era acompanhada de outras músicas cujo tema era a questão da mestiçagem, especialmente por meio da figura da mulata. Sendo assim, Casa-Grande & Senzala seria o estudo mais abrangente naquele contexto sobre um tema que estava posto no cotidiano dos brasileiros, o que explica, em parte, o forte impacto que sua publicação teve nos meios intelectuais. Esse livro teria realizado uma nova leitura do Brasil, elaborando uma visão que o país tinha de si mesmo quanto à mestiçagem. Para Cardoso (2013), a ressonância de Casa-Grande & Senzala até o atual período se deve ao fato de que Freyre cria um mito sobre o Brasil, no qual nós nos reconhecemos e gostamos de acreditar. Não me parece que Helio discorde totalmente dessa leitura, mas ele destaca que houve uma série de ações paralelas no plano cultural que confluíram com algumas das questões postas por Freyre, ao menos no sentido de tentar construir uma nova interpretação do país.
Outro detalhe interessante diz respeito à ambiguidade do ano de lançamento do livro, já que, como fora publicado no final do ano, na folha de rosto a data é 1933 e, na capa, 1934. É assim que esse capítulo é iniciado, discutindo ainda como: O título é quase uma metáfora das relações de raça e de classe no Brasil. Parte de uma simplificação do complexo arquitetônico-político-econômico da colonização portuguesa.
Não que casa-grande ou casa grande fosse o termo corrente ao longo dos séculos para designar a residência dos senhores – o termo usado era casa de vivenda ou casa de morada –, mas funciona bem para designar uma sociedade de extremos, contrastes e contradições em que a cordialidade pode abraçar a violência. (p. 103-104) Helio retoma a dificuldade de classificação do livro, que pode ser compreendido tanto como um livro autônomo quanto como parte de um projeto maior, de uma tetralogia que finalizaria com o livro Jazigos e Covas Rasas. Porém, esse último projeto não chegou a ser realizado. Sem embargo, Helio chama a atenção para o fato de que a sequência dos livros, especialmente os da trilogia publicada, passa, em alguma medida, uma falsa impressão, já que o autor não observaria os períodos históricos dentro de uma visão convencional. Haveria sim “[…] algo de anárquico no seu modo de trabalhar o tempo, resultante não só do corte sincrônico da antropologia, mas de sua paixão pela literatura, domínio por excelência do mito (ou vice-versa). Não é anacronismo o que reivindica, e sim a interpenetração do tempo” (p. 111). Esse exercício é realizado tomando como chave analítica o oikos, a história íntima da sociedade patriarcal.
O autor ainda se volta para o debate entre Freyre e seus críticos, sejam aqueles que questionam seu rigor científico sobre alguns temas, como é o caso de Josué de Castro, ou os que problematizam a validade de suas ideias para todo o Brasil.
A respeito disso, destacaria os inúmeros prefácios escritos pelo autor, pois situam bem esse debate. Em Casa-Grande & Senzala isso fica mais claro, na medida em que os inúmeros prefácios podem ser lidos e interpretados à luz das reacomodações vivenciadas por Freyre no campo científico brasileiro (SORÁ, 1998). Entretanto, o prefácio para Ordem e Progresso também é bastante interessante por apresentar uma nota metodológica que esclarece alguns pontos de suas escolhas (FREYRE, 2004), bem como o prefácio da segunda edição de Sobrados e Mucambos, no qual ele reafirma que suas teses não se aplicariam apenas para o Nordeste, mas sim para todo o Brasil, de modo que aqueles que o criticaram por tal universalização, especialmente através da categoria de patriarcado, estariam confundindo forma e conteúdo, pois, embora houvesse uma variação de conteúdo etnográfico, a forma permaneceria a mesma: a família patriarcal (FREYRE, 2006a).
É problematizado ainda como a ideia de mestiçagem de Freyre se opõe ao racismo presente na obra de Oliveira Viana (1883-1951), o que vale também para os portugueses. Gilberto Freyre desenvolve um raciocínio distinto do presente em Populações Meridionais do Brasil, publicado em 1920, ao compreender os portugueses como europeus e africanos, e, ao chegar até mesmo a afirmar posteriormente que os portugueses representam o povo menos europeu da Europa (FREYRE, 2011). Helio resume que as principais divergências entre Freyre e Oliveira Viana se dava por meio dos resultados aos quais ambos chegaram em relação à miscigenação, pois, para Viana, esse fenômeno seria algo negativo, e, para Freyre, algo positivo.
Muito rapidamente, Helio aborda a polêmica em torno do chamado “mito da democracia racial”, reafirmando, o que já fora feito por muitos, que a expressão “democracia racial” não fora utilizada por Freyre, sendo mais recorrente, em sua obra, o termo “confraternização das raças”. No entanto, a questão não é aprofundada por Helio, talvez porque ele compreenda que esse ponto vem sendo exaustivamente revisitado por diferentes ângulos e prefira, então, indicar como o livro inovou não apenas em sua interpretação do país, como também na linguagem.
O capítulo Os entretextos se volta ainda mais fortemente para o propósito didático que o autor leva a cabo ao propor uma pequena antologia de fragmentos de Casa-Grande & Senzala. Já em O subtexto, o autor nos apresenta uma divisão da recepção do livro em três momentos: o primeiro iria de sua publicação até a metade dos anos de 1960, quando haveria mais avaliações positivas do que negativas sobre o livro, ainda que houvesse ataques por parte dos conservadores no que diz respeito ao uso da linguagem coloquial, à crítica aos jesuítas e à apologia à cultura afro-brasileira; o segundo iria da metade dos anos de 1960 até os anos de 1980, período em que o trabalho é combatido por sua suposta falta de cientificidade e pela interpretação assumida sobre a sociedade brasileira, porém Helio ressalta que muitas críticas eram realizadas sem que o trabalho fosse lido; e, por fim, terceiro momento se inicia nos anos de 1990 e se acelera com as comemorações do centenário de seu nascimento nos anos 2000, quando surgem novos trabalhos que visam a aprofundar a análise de sua obra. Nesse ponto, Helio nos traz uma seleção de alguns trabalhos produzidos nesse período que ele considera emblemáticos, indicando ainda outras fontes complementares para uma melhor compreensão de Casa-Grande & Senzala.
O livro de Helio se apresenta como parte desse novo conjunto de trabalhos que passam a revisitar a obra de Freyre. Talvez lhe falte uma crítica mais incisiva, porém, claramente, sua meta é mais esclarecer do que criticar, desmistificando não apenas o próprio Freyre, como também alguns argumentos contrários à Casa-Grande & Senzala que não se sustentam ante uma análise mais minuciosa.
Creio esse seja um livro fundamental para sociólogos, antropólogos e historiadores que almejem adentrar de forma mais profunda na interpretação do Brasil elaborada por Freyre.
Notas
1 Na “Nota Metodológica” de Ordem e Progresso, o autor afirma que: “Este estudo – Ordem e progresso – é o terceiro da série que, iniciada com o ensaio Casa-grande & senzala, teve sua continuação em Sobrados e Mucambos e será concluída – como já se disse no prefácio – com o ensaio Jazigos e covas rasas, atualmente em rascunho e a ser publicado em breve” (FREYRE, 2004, p. 39). Nesse sentido, podemos falar em uma tetralogia inacabada.
2 Nome do bairro na cidade do Recife no qual Freyre passou boa parte de sua vida adulta. Atualmente, localizam-se nele tanto a Fundação Joaquim Nabuco, instituto de pesquisas sociais fundado por Freyre, quanto a Fundação Gilberto Freyre.
Referências
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SORÁ, Gustavo. A construção sociológica de uma posição regionalista: reflexões sobre a edição e recepção de Casa-grande e Senzala de Gilberto Freyre. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n. 36, p. 121-139, fev. 1998.
VILLAS BOAS, Glaucia. Mudança Provocada: passado e futuro no pensamento sociológico brasileiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
Amurabi Oliveira – Doutor em Sociologia (UFPE), professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. E-mail: amurabi_cs@hotmail.com.
Les membres du Coetus Internationalis Patrum au Concilie Vatican II – ROY-LYSENCOURT (H-Unesp)
ROY-LYSENCOURT, Philippe. Les membres du Coetus Internationalis Patrum au Concilie Vatican II. Inventaire des interventions et souscriptions des adhérents et sympathisants. Liste des signataires d’occasion et des théologiens. Leuven: Peeters, 2014, 484p. Resenha de: CALDEIRA, Rodrigo Coppe. História [Unesp] v.34 no.2 Franca July/Dec. 2015.
A história do Concílio Vaticano II deu passos largos nos últimos anos. Depois do grande e ambicioso projeto levado a cabo por Giuseppe Alberigo, que resultou em cinco tomos da História do Concílio Vaticano II, grande número de pesquisas (FAGGIOLI, 2013, p. 927-955; SCATENA, 2013, p. 1-13; SCHICKENDANTZ, 2014, p. 105-141) foi desenvolvido sobre esse que é considerado um dos maiores eventos religiosos do século XX. Análises teológicas, historiográficas e sociológicas foram construídas a fim de ampliar a compreensão dos inúmeros aspectos do concílio e sua recepção. No Brasil, poucos estudos mais verticalizados de viés histórico foram realizados (BEOZZO, 2005; COPPE CALDEIRA, 2011), especialmente quando os atores e sujeitos históricos analisados pertenciam à orbe dita “conservadora”, conceito polissêmico e quase desconhecido em sua complexidade por muitos scholars da área. Nesse caso específico, apenas o estudo deste pesquisador foi desenvolvido (COPPE CALDEIRA, 2012; COPPE CALDEIRA, 2011; ROUTHIER, 2013, p. 623-624). Os historiadores brasileiros do catolicismo contemporâneo, em sua grande maioria padres, religiosos e leigos ligados aos movimentos eclesiais que nasceram sob o influxo da Teologia da libertação, privilegiaram a abordagem dessa vertente da Igreja brasileira.
Se de um lado dos debates conciliares existia um importante brasileiro como Dom Hélder Câmara, congregado àqueles que se posicionavam em favor da distensão entre a Igreja e a modernidade, muito estudado e também louvado, de outro, desempenhando papel tão importante quanto ele no jogo de forças, encontrava-se Dom Geraldo de Proença Sigaud, bispo de Diamantina, ligado à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a TFP de Plínio Corrêa de Oliveira.
A obra apresentada, escrita e organizada por Philippe Roy-Lysencourt, tem o mérito primeiro, assim sendo, de trazer à luz do conhecimento histórico aqueles que tiveram papel de destaque no Vaticano II, reverberando suas ações e posições até os dias de hoje. Ela recolhe preciosas indicações sobre o Coetus Internationalis Patrum, o principal grupo de opositores no seio do concílio, organizado com o intuito de barrar e mitigar a força dos grupos que agiam em direção do aggiornamento (atualização) proposto por João XXIII.
O Coetus, que se formou no processo e dinâmica conciliar, agiu incansavelmente a fim de minimizar os “danos no sistema”, que interpretavam estar em perigo. Os temas que mais os preocupavam, fazendo-os mover na busca de conquistar votos para as suas causas, foram a liberdade religiosa, o ecumenismo, a liturgia, a formação hierárquica da Igreja, o perigo comunista. Esse último teve como importante ator Geraldo de Proença Sigaud, que conseguiu recolher por volta de quinhentas assinaturas numa petição que solicitava a condenação explícita ao comunismo pelo texto conciliar. Não obteve o sucesso esperado, mas conseguiu a inserção de uma nota de pé de página na Constituição Pastoral Gaudium et spes com a indicação dos documentos pontifícios que assim faziam (nota 16). Outra vitória relativa das ações do Coetus foi aquela que acabou por gerar a Nota Explicativa Prévia na Constituição Dogmática Lumen gentium. Após duras discussões sobre as relações entre a colegialidade episcopal e o papa, com a proposta de texto final que desagradava o Coetus, o “Comitê diretor” do grupo pressionou o papa Paulo VI de várias maneiras e lhe enviou um comunicado dizendo que se o texto fosse aprovado daquela maneira, a plenitude do poder do Romano Pontífice poderia ser esvaziado. O papa cedeu e, preocupado com o máximo de consenso, mandou publicar a nota, que acabou por abalizar as interpretações vindouras do texto.
Roy-Lysencourt defendeu uma tese de doutorado memorável na Université Laval (Québec) sobre o grupo, seus principais personagens, sua pré-história, a atuação no concílio, as redes de contatos.1 Apresentando-nos uma quantidade espantosa de documentos, pesquisados em arquivos do Canadá, EUA, Europa e também Brasil, o historiador realizou um trabalho que se torna, sem sombra de dúvidas, junto da obra resenhada, referências fundamentais para os estudiosos não só do Coetus Internationalis Patrum, mas do concílio como um todo.
O livro em questão não traz análises verticalizadas sobre o grupo e sua atuação, que podem ser lidas na tese do autor, mas ampla documentação relacionada à história de sua formação e atividade durante o concílio. Contudo, a obra não deixa de trazer uma breve história do grupo, a fim de situar o leitor e justificar a organização do material. Como é possível ler no subtítulo, o historiador nos oferece, a partir das fontes pesquisadas, um inventário das intervenções conciliares, as subscrições daqueles que aderiram ao grupo, os simpatizantes, os assinatários de ocasião e os teólogos que deram sustentação intelectual a ele. Realizando uma prosopografia desses importantes atores conciliares, Roy-Lysencourt informa o percurso biográfico de cada um deles, aponta o número de intervenções realizadas (intervenções orais, animadversiones scriptae), as referências nas Actas Synodalia Sacrosancti Concilii Oecumenici Vaticani II, e os temas abordados em cada uma delas, e também bibliografias complementares.
As inovações historiográficas apresentadas pela obra giram em torno da sistematização de fontes já conhecidas, porém não catalogadas em referência aos membros do Coetus, além da novidade que é trazer a lume esse grupo de padres conciliares numa perspectiva mais aprofundada, o que não tinha acontecido até o momento. Os pesquisadores que se enveredarem para a investigação sobre do grupo encontrarão na obra o nome de todos os seus componentes, o que facilitará, por exemplo, estudos que se interessem em reconstituir as redes de sociabilidade por trás do evento.
Os primeiros padres conciliares tratados fazem parte do que chama de “Comitê diretor”. Tratava-se de Mons. Marcel Lefebvre, Mons. Geraldo de Proença Sigaud, Mons. Antonio de Castro Mayer, Mons. Luigi Carli e de Dom Jean Prou. Com uma compilação de diferentes fontes, Roy-Lysencourt chegou a uma segunda categoria: “companheiros de estrada”. O autor reagrupa os participantes nessa categoria entre aqueles (membros) que participavam ativamente das reuniões e trabalhos do grupo e aqueles (simpatizantes) que aprovavam o essencial da política de combate do Coetus, participando ou não de algumas reuniões, assinando os modi propostos pelo grupo ou algumas intervenções dos membros do comitê diretor, sem, no entanto, se engajar em seu seio. A terceira categoria é a dos “Cardeais simpatizantes”, pois o seu engajamento e proximidade com o grupo não foi, em geral, da mesma ordem que aquela dos “companheiros de estrada”. Os “assinatários de ocasião” perfazem uma quarta categoria, qual seja, a de padres que assinaram uma ou outra intervenção proposta pelo Coetus, contudo sem pertencer a nenhum dos grupos anteriormente definidos. Roy-Lysencourt nos lembra que a assinatura de um padre conciliar numa petição ou documento difundido pelo Coetus não é absolutamente um critério suficiente para concluir sua pertença ou simpatia pelo grupo. Por fim, uma quinta categoria, “Os teólogos” (periti) que cooperaram com o Coetus de uma maneira ou outra. Destaca-se no grupo Victor-Alain Berto, peritus de Mons. Marcel Lefebvre.
A obra de Roy-Lysencourt é indispensável para os estudiosos do Concílio Vaticano II, já que dá voz àqueles atores que foram frequentemente rotulados e enquadrados em tipos de esquemas claramente maniqueístas, o que não ajuda na compreensão do evento, mas unicamente transparece os lugares políticos em disputa no período pós-conciliar. Os silêncios e os não ditos também não são objeto do historiador?
REFERÊNCIAS
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1 Para uma ideia preliminar do trabalho que trata sobre a formação intelectual dos padres que farão parte do Coetus, ver: ROY-LYSENCOURT, 2011, p. 321-354.
Rodrigo Coppe Caldeira – Pós-Doutorado em Teologia (FAJE) e Doutorado em Ciências da Religião (UFJF). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Pós-graduação em Ciências da Religião. Av. Dom José Gaspar 500 – Coração Eucarístico – Belo Horizonte-Minas Gerais.
Interpreting Schelling: Critical Essays – OSTARIC (RFMC)
OSTARIC, Lara (Editor). Interpreting Schelling: Critical Essays. Cambridge University Press,2014. Resenha de: PACHECO, Marília Cota. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.6, p. 197-202, n.2, dez. 2018.
Interpretando Schelling: Ensaios Críticos é uma coletânea de onze ensaios, organizados por Lara Ostaric2 . Esses ensaios traçam sistematicamente o desenvolvimento histórico do pensamento de Friedrich Wilhelm Joseph Schelling desde a Filosofia Transcendental e Filosofia da Natureza (1794-1800), passando pela sua Filosofia da Identidade (1801-1809), Escritos sobre a Liberdade, Idades do Mundo (1809-1827), chegando até sua Filosofia Positiva / Negativa e à crítica de Hegel (1827-1854). Como bem ressalta a organizadora, o volume oferece uma compreensão mais sutil do idealismo alemão do que a oferecida por uma narrativa super simplificada “de Kant a Hegel,”3 que retrata esse movimento filosófico como uma progressão teleológica que começa com Kant, é avançada por Fichte e Schelling e culmina no sistema de Hegel que sintetiza todas as visões anteriores.
É claro que o assim chamado idealismo objetivo de Schelling, com um princípio incondicionado que transcende tanto o sujeito quanto o objeto, marca um afastamento do idealismo subjetivo de Fichte e abre caminho para o sistema de Hegel. No entanto, prestando mais atenção à constelação das ideias que motivaram o pensamento de Schelling, é possível apreciálo mais como um pensador original, um pensador cujo impacto ultrapassou o estágio inicial do idealismo alemão e cujas ideias são importantes para nós hoje.4
A coletânea nos mostra muito mais continuidade no pensamento de Schelling do que é geralmente reconhecido; ressalta os diferentes estágios no desenvolvimento de seu sistema filosófico não como um sinal de imaturidade intelectual, nem como o resultado inevitável da influência de muitas e diferentes posturas filosóficas. O conjunto desses ensaios críticos indica que talvez as reformulações de Schelling em seu próprio sistema filosófico sejam “uma indicação de sua modéstia e seu reconhecimento de que, embora rigorosa e sistemática, a reflexão filosófica não seja onipotente diante da complexidade da condição humana,” como bem ressalta Ostaric.
Em “The Early Schelling on the Unconditioned,” Eric Watkins5 faz uma análise das passagens centrais de dois ensaios do jovem Schelling: Über die Möglichkeit einer Form der Philosophie überhaupt – 1794 (Sobre a possibilidade de uma forma absoluta de filosofia) e Vom Ich als Prinzip der Philosophie oder über das Unbedingte im menschlichen Wissen – 1795 (Do eu como o princípio da filosofia, ou Sobre o Incondicionado no Conhecimento Humano). Watkins esclarece como o primeiro Schelling chega a empregar a noção de “incondicionado” no centro de seu projeto filosófico; sem negar a influência de outras figuras no pensamento inicial de Schelling, como Fichte ou Reinhold, Watkins argumenta que são as visões específicas de Kant sobre o incondicionado que desempenham um papel crucial no desenvolvimento de uma série de características fundamentais do pensamento inicial de Schelling.
Michael N. Forster6, em seu ensaio “Schelling and Skepticism”, contesta as acusações de Hegel em sua Introdução à Fenomenologia do Espírito sobre a filosofia de Schelling entendida como dogmática e vulnerável ao ceticismo. Segundo Forster, tais acusações não são totalmente justificadas; não se aplicam à carreira de Schelling como um todo, pois as reflexões de Schelling sobre o ceticismo e sua relação com a filosofia passaram por três fases diferentes. A primeira é uma posição inspirada, durante o período de 1794-1800; a segunda, uma posição inspirada em Hegel, que ele adotou brevemente em 1802-1803 e a terceira, uma posição inspirada no romantismo que ele adotou por volta de 1821. No final de seu ensaio, Forster considera uma quarta fase da tentativa de Schelling de lidar com o ceticismo: a sua filosofia positiva como uma modificação da sua posição inspirada no Romantismo.
Em “The Concept of Life in Early Schelling,” Lara Ostaric mostra como nos estágios iniciais de sua Naturphilosophie Schelling é motivado pela questão da correspondência necessária entre o eu e a natureza e, portanto, tenta demonstrar que a natureza não é um objeto inanimado desprovido de autoconsciência, mas algo que é ao mesmo tempo um sujeito e seu próprio objeto. A natureza não deve ser concebida como um mecanismo morto, mas como uma organização viva e como um “análogo da razão” e liberdade, porque ser o próprio sujeito e objeto é ser autodeterminado. É isso que Schelling considera a característica essencial da vida. Nisso, Ostaric mostra que os primeiros escritos de Schelling fazem parte de um desenvolvimento progressivo e contínuo de seu sistema filosófico. Paul Guyer7, em seu ensaio “Knowledge and Pleasure in the Aesthetics of Schelling” (Conhecimento e Prazer na Estética de Schelling), analisa passagens centrais do Sistema de Idealismo Transcendental de 1800, e das palestras sobre A Filosofia da Arte 1802-1803 (Philosophie der Kunst), para mostrar como Schelling adotou e transformou a concepção estética de Kant. Guyer alega que Kant criou uma síntese da nova estética desenvolvida em meados do século XVIII na Escócia e na Alemanha, com a teoria clássica de que a experiência estética é uma forma distinta de apreensão da verdade. A estética de Schelling favorece uma abordagem puramente cognitiva e a compreensão de que a experiência estética é prazerosa apenas porque nos libera da dor de uma contradição inescapável da condição humana. Em “Exhibiting the Particular in the Universal’: Philosophical Construction and Intuition in Schelling’s Philosophy of Identity (1801-1804)”(Exibindo o Particular no Universal: Construção Filosófica e Intuição na Filosofia da Identidade de Schelling), Daniel Breazeale8 discute o método de construção filosófica de Schelling em sua Filosofia da Identidade. Inuenciado pelo texto de Kant Princípios Metafísicos… (onde “construir” um conceito é “exibir [darstellen] a priori a intuição correspondente a ele”) e pelo desenvolvimento posterior que Fichte dá a esse método filosófico, Schelling desenvolve sua própria concepção de construção filosófica. Breazeale concentra-se em oito das características mais importantes do método de construção de Schelling: (1) seu ponto de vista “absoluto”, (2) seu princípio (a lei da identidade racional), (3) seu órgão (intuição intelectual), (4) seu método atual (exposição do particular no universal), (5) seus elementos (ideias da razão), (6) seu produto (o Sistema de Identidade), (7) sua verdade e realidade, e (8) a capacidade inata e intocável de intuição intelectual (gênio filosófico). Em sua conclusão, ele oferece um exame e uma crítica à concepção de construção filosófica de Schelling.
Em seu ensaio”IdentityofIdentity and Non-Identity: Schelling’s Path to the Absolute System of Identity,” (Identidade de identidade e não-identidade: o caminho de Schelling para o Sistema Absoluto de Identidade), Manfred Frank9 foca no pensamento central do Sistema Absoluto de Identidade de Schelling, que diz respeito a uma forma de identidade que não é simples, mas concebida de tal modo que duas coisas diferentes pertencem inteiramente a um e mesmo todo. Frank descreve os problemas do início da filosofia moderna, para os quais a noção de identidade de Schelling tenta fornecer uma solução. Discute as figuras da história da filosofia que influenciaram a Filosofia da Identidade madura de Schelling e mostra a relevância da noção de identidade de Schelling para as teorias contemporâneas sobre mente-corpo. NapartefinalFrank aborda a diferença entre a noção de identidade de Schelling e Hegel.
Em “Idealism and Freedom in Schelling’s Freiheitsschrift” (Idealismo e Liberdade no Freiheitsschrift de Schelling), Michelle Kosch10 faz uma distinção entre uma concepção “formal”de liberdade, isto é, uma caracterização do livre-arbítrio que permite uma distinção entre comportamento imputável / não-imputável e uma concepção do livre-arbítrio como fonte de imperativos morais.
No seu ensaio “Beauty Reconsidered: Freedom and Virtue in Schelling’s Aesthetics” (Beleza reconsiderada: liberdade e virtude na estética de Schelling), Jennifer Dobe considera que Freiheitsschrift (1809) de Schelling, contrariando a visão predominante, oferece recursos para identificar a nova e inovadora abordagem de Schelling à estética. Concentra-se nas principais passagens do discurso de Schelling de 1807 para a Akademie der Wissenschaften em Munique (Über das Verhältnis der bildenden Künste zu der Natur) e nos fragmentos de Weltalter de 1811-1515. Dobe mostra como Schelling começa a ampliar sua estética com base na nova concepção de liberdade alcançada em Freiheitsschrift.
Em “Nature and Freedom in Schelling and Adorno” (Natureza e Liberdade em Schelling e Adorno), Andrew Bowie11 mostra como a tensão dialética entre existência e seu fundamento, razão autodeterminada e seu outro, no Freiheitsschrift de Schelling, abre espaço para uma compreensão não-dogmática da Natureza, isto é, uma compreensão da Natureza como algo que precisa ser legitimado e não algo usado como legitimação, mostrando sua relação com o sujeito e, portanto, com a liberdade.
O ensaio de Günter Zöller, “Church and State: Schelling’s Political Philosophy of Religion” (Igreja e Estado: Filosofia Política da Religião de Schelling), enfoca a relação entre Igreja e Estado no Curso de Palestras Privadas de Stuttgart de 1810 e em suas Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana de 1809. Num primeiro momento Zöller apresenta o pano de fundo histórico da filosofia política da religião de Schelling; em seguida, o desenvolvimento de uma concepção liberal e legal do Estado para uma concepção absolutista e ética na filosofia política de Schelling. Por fim Zöller discute a teoria filosófico-teológica de Schelling sobre o estado.
A coletânea finaliza com o ensaio de Fred Rush12 “Schelling’s Critique of Hegel” (A Crítica de Schelling a Hegel), cujo foco central são as preleções de Berlim, apresentadas nas décadas de 1840 e início de 1850, quando Schelling faz uma ampla distinção entre duas abordagens da filosofia: “negativa”e “positiva.”O ensaio de Rush levanta a questão de até que ponto a crítica de Schelling a Hegel é válida. Sua principal alegação é que as críticas de Schelling retêm em grande parte sua força, embora algumas delas mostrem que o Schelling tardio está mais próximo de Hegel em alguns pontos do que a polêmica filosófica inicialmente sugeriria.
Notas
2 Lara Ostaric é Professora Assistente de Filosofia na Temple University. Publicou artigos sobre Kant e Schelling e está trabalhando num livro sobre a terceira Crítica de Kant e sua influência na filosofia alemã pós Kant.
3 Von Kant bis Hegel é o título do importante estudo sobre o idealismo alemão de Richard Kroner.
4 Ostaric, Lara. Interpreting Schelling: Critical Essays. Edited By Lara Ostaric, Cambridge University Press, 2014, Introduction, p. 03. A tradução é minha.
5 Eric Watkins é professor de Filosofia na Universidade da Califórnia em San Diego. Ele é o autor de Kant and the Metaphysics of Causality (Cambridge, 2005), o editor de Kant and the Sciences (2001), o editor e tradutor de Kant’s Critique of Pure Reason: Background Source Materials (Cambridge, 2009).
6 Michael n. Forster é Professor na Alexander von Humboldt, titular da cadeira de Filosofia Teórica e co-diretor do Centro Internacional de Filosofia da Universidade de Bonn. Ele é o autor de German Philosophy of Language: From Schlegel to Hegel and Beyond (2011), After Herder: Philosophy of Language in the German Tradition (2010), Kant and Skepticism (2008), Wittgenstein on the Arbitrariness of Grammar (2004), Hegel’s Idea of a Phenomenology of Spirit (1998), and Hegel and Skepticism(1989).
7 Paul Guyer é Professor na Brown University. Ele é o autor de nove livros sobre Kant, incluindo Kant and the Claims of Taste (Cambridge, 1997, 2nd edn.), Kant and the Claims of Knowledge (Cambridge, 1987), Kant and the Experience of Freedom (Cambridge, 1993), e Kant on Freedom, Law, and Happiness (Cambridge, 2000). O professor Guyer é um dos coeditores gerais da Cambridge Editionde Kant. Seu trabalho de três volumes, A History of Modern Aesthetics, foi publicado pela Cambridge em 2014
8 Daniel Breazeale é professor de Filosofia na Universidade de Kentucky. Ele é o autor de Fichte and the Project of Transcendental Philosophy e numerosos artigos de revistas, capítulos de livros, traduções e edições de / sobre filosofia alemã de Kant a Nietzsche, com um foco de pesquisa sobre a filosofia de J.G. Fichte.
9 Manfred Frank é Professor Emérito de Filosofia na Eberhard Karls University, Tübingen. Ele é autor de inúmeros artigos, edições e monografias, que foram traduzidos para mais de vinte idiomas. Seus livros incluem Der unendliche Mangel an Sein. Schellings Hegelkritik und die Anfänge der Marxschen Dialektik (1975/1992), Selbstbewutsein und Selbsterkenntnis. Essays zur analytischen Philosophie der Subjektivität (1991) e ‘Unendliche Annäherung.’ Die Anfänge der philosophischen Frühromantik (1997).
10 Michelle Kosch é Professora Associada de Filosofiana Cornell University. Ela é autora de Freedom and Reasonin Kant, Schelling, and Kierkegaard (2006) e vários artigos sobre Kierkegaard, Fichte e a filosofia continental do século XIX.
11 Andrew Bowie é professor de Filosofia e Alemão na Royal Holloway, Universidade de Londres. Ele é o autor de Adorno and the Ends of Philosophy (2013), German Philosophy: A Very Short Introduction (2010), Music, Philosophy, and Modernity (Cambridge, 2007), Introduction to German Philosophy from Kant to Habermas (2003), From Romanticism to Critical Theory: The Philosophy of German Literary Theory (1997), Schelling and Modern European Philosophy: An Introduction (1993), e Aesthetics and Subjectivity from Kant to Nietzsche (1990).
12 Fred Rush é Professor Associado de Filosofia na Universidade de Notre Dame. Ele é o autor de Irony and Idealism (2014), On Architecture (2009) e o editor do Cambridge Companion to Critical Theory (Cambridge, 2004).
Marília Cota Pacheco – Professora substituta do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília.
O Corpo na História e a História do Corpo / Revista Transversos / 2015
CORPO ESPARGINDO
Captar a irregular existência que vem à luz no que se faz e diz.
Michel Foucault
A forma vibrante da nomeada maja tosca (Nery, 2013) figura feminina ou afeminada, estirada num canapé amarelo que emerge da sensualidade congelada de outros tempos, modos de ver e de transcrever ilumina as múltiplas representações ou reapresentação, ativa saberes / poderes nesse e desse dossiê. Assim, faz pensar o outro do corpo em suas problematizações como materialidade da natureza sensível, logo vulnerável. Um enigma que cada um enfrenta, constantemente, de maneira subjetiva e histórica. Como objeto de reflexão significa romper o dualismo entre a superioridade das ideias (espírito) contra a inferioridade do corpo (carne). Após a fratura provocada por Nietzsche, Freud, Foucault, Beauvoir e Butler entre outros / as como negar suas potencialidades de transgressão sociopolítica e de construção de subjetividade que transcendem a marca do sexo de modo a revisar a opressão, inclusive a da regulação sexual, questionando as dissonâncias entre identidades de gêneros e práticas sexuais que, como ponto de interlocução, abrem novas possibilidades epistemológicas
O Corpo na História e a História do Corpo foi tema de uma oficina do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES) ligado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O experimento aconteceu no segundo semestre de 2014 como uma atividade da linha de pesquisa Vulnerabilidades e Controle Social. Pesquisadores / as de diferentes instituições se reuniram para compartilhar seus estudos sobre a emergência de um corpo / discurso que informa e conforma as complexas relações com a sociedade em sua invenção de si. O desafio era desnaturalizar o corpo / objeto para além da disciplina, procurando iluminar a violência dos regimes de verdade e suas obviedades que o aprisiona no biológico.
(…) o que é evidente é violento, mesmo se essa evidência é representada suavemente, liberalmente, democraticamente; o que é paradoxal, o que não cai sob o sentido, é menos violento, mesmo se for imposto arbitrariamente: um tirano que promulgasse leis extravagantes seria, finalmente, menos violento do que uma massa que se contentasse com enunciar o óbvio: o ‘natural’ é, em suma, o último dos ultrajes. (BARTHES, 1975: p. 92).
Está claro que existe uma bios neste corpo transformado em logos, em discursos da natureza e de natureza. O que se pretendeu foi inquirir para além do a priori de uma certa história natural que no século XVIII fundou as pesquisas e / ou debates sobre a existência dos gêneros, estabilidade das espécies, transmissão dos caracteres através das gerações e, que ainda define a sistematização de um certo corpo visível como domínio de saber.
A mutação da oficina ao dossiê e suas sistematizações só se justifica se não o reduzirmos ao procedimento pedagógico de um texto / produto mas, ao contrário, se ficarmos atentos às condições de possibilidades de saberes poderes que em seus discursos científicos ou ficcionais construíram enunciados sobre o corpo subjetivado como pornográfico, erótico, belo, escravizado, generificado, prostituído, violentado, encarcerado, clinicalizado ou matematizado. Como analisa Fábio Henrique Lopes, em Corpos trans! Visibilidade das violências e das mortes, a relação entre violência e transgêneros. Por meio de casos apresentados pela imprensa, o historiador problematiza os mecanismos de regulamentação, controle e naturalização da matriz heterossexual; bem como as diversas modalidades de agressão direcionadas aos “diferentes”: aqueles que desfronteralizam a divisão binária de gênero e sexualidade e que, por isso, são alvo do “ódio heterossexista, cissexista e transfóbico”.
A seguir em Corpos encarcerados em cena, Marilene Rosa Nogueira da Silva experimenta e se experimenta nos possíveis diálogos entre linguagem imagética e linguagem escrita. Estas criam novas identidades: a dos sujeitos dos documentários selecionados, as do Grupo de Informação sobre a prisão (GIP) e a do sujeito sobrevivente do diário / depoimento de um ex-presidiário do Carandiru. Um texto afetado que inquire a naturalização da carceralização e denuncia a banalização da violência e o descaso que a sociedade direciona aos indivíduos excluídos pela inclusão carcerária.
Problematizar a produção de jornais e contos considerados pornográficos no Rio de Janeiro, no momento da chamada Belle Époque é o que propõe Marina Vieira de Carvalho, em A ficcionalização do desejo: a pornografia e o erotismo como objetos de consumo na modernização da cidade do Rio de Janeiro. Com esse fim, traça os diferentes significados que os termos pornografia e erotismo tiveram na modernidade ocidental, para assim compreender o desenvolvimento do mercado editorial de temas lascivos na capital do país. A historiadora analisa os potenciais de transgressão e crítica que a pornografia de então tecia em suas relações com a sociedade carioca.
Antropologia criminal e prostituição: a matematização do corpo segundo Pauline Tarnowsky emerge das inquietações provocadas na sala de aula pelo filme L’Apollonide: Os amores da Casa de Tolerância ( 2011). A Professora Laura Nery e os graduandos José Roberto Silvestre Saiol e Beatriz do Nascimento Prechet discutem a normalização e controle moral na sociedade vitoriana, especificamente, a relação entre antropologia criminal e prostituição no final do século XIX. Em destaque o estudo da médica Pauline Tarnowsky, no Hospital de Kalinkine, em São Petersburgo, (1889) na classificação das prostitutas como degeneradas moral e fisicamente, identificação fundamentada na matematização dos seus corpos.
José Ricardo Ferraz em Ninguém nasce bela, torna-se bela. ‘Miss Brasil’: beleza e gênero (1950 – 1980), elege o concurso da Miss Brasil como possibilidade de análise da constituição do gênero feminino no Brasil, no período de 1950 a 1980 como modelo de beleza e seus efeitos de poder para além do estético. A partir de Beauvoir, com elaborações que transcendem a marca do sexo como por exemplo em Judith Butler, procura destacar o dualismo que matematizava o corpo feminino por meio de um olhar masculino. Logo, tornar-se bela emerge como um dispositivo que (con)formava o comportamento considerado adequado para as mulheres, reforçando os valores da chamada “boa sociedade”.
Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro, literalmente, ilumina em Fotografia e história, a existência e o vestígio remanescente: corpos negros de mulheres no ‘teatro de enunciados’ do Brasil oitocentista. São corpos ressignificados como cativos, que podem ser adquiridos, comprados, consumidos, vendidos. Apresenta a ama de leite como corpo / monumento de famílias que desejavam demonstrar sua distinção social, demarcar e, ao mesmo tempo, suavizar, fronteiras hierárquicas entre as “mães pretas” e seus pequenos / grandes senhores brancos. Imagens que não ilustram, mas sim constituem essa realidade social e que, por isso, possibilitam as memórias / dizíveis de como a “sociedade de bem” gostaria de ser lembrada pela posteridade.
Para encerrar Corpos escravizados: que histórias contam?, Iamara da Silva Viana analisa os manuais médicos sobre os corpos dos escravos, com destaque para o médico francês JeanBaptiste Alban Imber que chegou ao Brasil em 1831, momento em que as leis contra o tráfico de escravos estavam em pauta. O discurso médico é pensado como estratégia biopolítica que orienta os senhores na hora de comprar e de preservar a produtividade do escravo como corpo / mercadoria. O estudo propõe investigar os efeitos desta normatividade no debate sobre o fim do tráfico de africanos que eleva o saber médico como um mecanismo de ampliação da vida útil do corpo escravizado.
Esses são apenas alguns fios de uma complexa trama do movimento contínuo da transgressão no sentido de um dos ditos de Foucault (1983) em homenagem a Bataille:
A transgressão é um gesto relativo ao limite; O jogo dos limites e da transgressão parece ser regido por uma obstinação simples: a transgressão transpõe e não cessa de recomeçar a transpor uma linha que, atrás dela, imediatamente, se fecha de novo em um movimento de tênue memória, recuando então novamente para o horizonte do intransponível. Mas esse jogo vai além de colocar em ação tais elementos: ele os situa em uma incerteza, em certezas logo invertidas nas quais o pensamento, rapidamente, se embaraça por querer apreendê-las (…) A transgressão não está, portanto, para o limite como o negro está para o branco, o proibido para o permitido, o exterior para o interior, o excluído para o espaço protegido da morada. Ela está mais ligada a ele por uma relação em espiral que nenhuma simples infração pode extinguir. Talvez alguma coisa como o relâmpago na noite que, desde tempos imemoriais, oferece um ser denso e negro ao que ela nega, o ilumina por dentro e de alto a baixo, deve-lhe entretanto sua viva claridade, sua singularidade dilacerante e ereta, perde-se no espaço que ela assinala com sua soberania e, por fim, se cala, tendo dado um nome ao obscuro. Nada é negativo na transgressão. Ela afirma o ser limitado, afirma o ilimitado no qual ela se lança, abrindo-o pela primeira vez à existência.
Desta feita o Dossiê se inscreve como um vestígio, uma caixa de ferramenta, propondo-se a desnudar o êxtase da naturalização. Enfim, um exercício que objetiva fazer aparecer o corpo como um sujeito histórico, mutável, insistente e visível como um lugar onde habita o poder. Compartilhem da transgressão positivada de pesquisadores / as que ousaram apresentar suas reflexões de forma problemática, sem as certezas e verdades acabadas, ainda em plena dinâmica e provocação como sua maja que se quer tosca.
Marina Vieira de Carvalho
Marilene Rosa Nogueira da Silva
Rio de Janeiro 30 de novembro de 2015
CARVALHO, Marina Vieira de; SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Apresentação. Revista Transversos, Rio de Janeiro, v. 5, n.5, dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Intelectuais e cidade / Intellèctus / 2015
A Revista Intellectus vem sendo publicada ininterruptamente há quatorze anos, desde o seu primeiro número, em maio de 2002, fruto de um denodado trabalho realizado pela Professora Maria Emilia Prado, Titular de História do Brasil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Contando com a colaboração de historiadores e pesquisadores das mais diversas áreas de Ciências Humanas da América Latina, Portugal e Espanha, a Intellectus vem, desde então, apresentando uma clara vocação para a discussão acerca dos intelectuais, sobretudo no que tange a sua atuação política, projetos e ideias. Poderíamos dizer que essa proposta está no DNA da revista e, como tal, vem se afigurando como a sua característica mais marcante nesses 14 anos de presença na vida acadêmica brasileira.
Em acréscimo a essa vocação, o dossiê temático que ora apresentamos vem adicionar o tema das cidades àquele dos intelectuais e, assim, enriquecê-lo, posto que insere um agente que atua de maneira pró-ativa na composição dos formuladores de ideias, objeto maior de análise da revista. Assim, temos aqui a cidade não somente como cenário, como palco de atuações sociais e construção de ideias e conceitos por um grupo de indivíduos ilustrados, mas antes como sujeito que porta uma historicidade toda idiossincrática, e que atua na própria composição de uma coletividade e de suas ideias. Leia Mais
Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas. Londrina, v. 16, n.4, 2015. | v. 16 n. 4 (2015)
Artigos
- Crianças e Adultos no Museu: Suas Concepções Sobre Morcegos | Nathália Cristina Gonzalez Ribeiro, Carlos Alberto de Oliveira Magalhães Júnior | |
- Jovens Conectados? Um Estudo Sobre Inclusão Digital a Partir das Redes Sociais | Roberta Reis Valle Silva, Estrella Bohadana | |
- Métodos Pedagógicos em Cursos de Comunicação Social: Aplicação e Formação de Banco de Casos | Monica Franchi Carniello, Luis Fernando Zulietti | |
- O Silêncio do Corpo no Processo de Escolarização Infantil | Luciane Guimarães Batistella Bianchini, Gustavo Javier Figliolo, Priscilla Garcia Niwa, Renata Beloni de Arruda, Solange Franci Raimundo Yaegashi | |
- O Trabalho com Bebês: uma Reflexão Sobre Ambientação e Espaços no Berçário | Rosane Aparecida Belieiro Malvezzi, Bernadete de Lourdes Streisky Strang | |
- Plano de Desenvolvimento Institucional: Estudo de Caso de Universidade Pública Federal | Djair Picchiai | |
- Arte e Ciência: Possibilidades de Reaproximações na Contemporaneidade | Josie Agatha Parrilha da Silva, Marcos Cesar Danhoni Neves | |
- Capacitação Profissional no Campo da Moda e Inserção Socioprodutiva | Flávio Bento, Sandra Pereira de Godoi, Sérgio Gregório, Rosa Elisa Mirra Barone | |
- Conhecimento, Emoções, Afetividade: Desejo de Escrever “Palavrinhas” | Raimundo Nonato de Oliveira Falabelo | |
- Construtivismo na Educação a Distância | Yumara Lúcia Vasconcelos, Mariano Yoshitake, Suely Morais de França, Antão Marcelo Freitas Athayde Cavalcanti | |
- Gilles Deleuze, a Vida Filosófica e o Ensino de Filosofia | Christian Fernando R Guimarães Vinci | |
- Ponderações Sobre o Uso de Mapas em Aulas de Geografia e História | Fábio Luiz da Silva, Claudinei Ferreira do Nascimento | |
- Prevalência de Distúrbios da Escrita em Estudantes do Ensino Fundamental: uma Revisão Sistemática | Patrícia Rodrigues Camargo Girotto, Edmarlon Girotto, Isaias Batista de Oliveira Junior | |
- “Trem da Estação da luz”: um diálogo de linguagens e de culturas | Teresa Otranto | |
O Uso do Blogue para a Mediação de Leitura e Ensino de Literatura | Jaime André Klein, Ana Lucia Rodrigues Guterra | |
Publicado: 2015-11-18
Renascimento Italiano / Crítica Histórica / 2015
O desejo de organizar um dossiê especial sobre a Renascença surgiu das parcerias e encontros entre Flávia Benevenuto, Professora de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e analista das obras maquiavelianas e Fabrina Magalhães Pinto, Professora de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em História Moderna. Já há alguns anos fazemos parte do GT de Ética e Filosofia Política no Renascimento, da ANPOF, e, em 2014, participamos do SIMPOFI (Simpósio de Política e Filosofia, realizado na UFF\Campos, em 2014). Deste evento surgiu a ideia de organizarmos um trabalho que reunisse diversos pesquisadores que tivessem um interesse comum: buscar compreender a riqueza e a complexidade que envolve o tema da cultura do Renascimento em algumas das suas diversas faces, seja política, filosófica, retórica, histórica ou literária; bem como as relações entre inícios da Modernidade e a Antiguidade Clássica. Sabemos que vem crescendo no Brasil o número de revistas sobre o assunto e pesquisadores interessados nas diversas temáticas Renascentistas. Contudo, se comparamos com outros objetos de pesquisa, ainda temos um longo caminho a percorrer, e muitos novos pesquisadores a persuadir que sigam esta mesma estrada.
Os textos aqui reunidos tratam de temáticas diversas e são de áreas distintas, fato este que almejamos desde o início: uma perspectiva interdisciplinar das análises. Portanto, contamos com pesquisadores da filosofia (Alberto, Ana Letícia, Danilo Marcondes, Gilmar e Patrícia), da letras (Ana Cláudia e Helvio) e da História (Edmilson). Organizamos em ordem cronológica a nossa breve exposição sobre os textos e a iniciamos tratando de autores como Lorenzo Valla, Maquiavel, Michel de Montaigne, Francesco Patrizzi (Veneza, 1560) e Algernon Sidney (quem recupera os valores maquiavelianos no republicanismo inglês do século XVII). E, logo em seguida, passamos aos textos sobre os impactos do Novo Mundo na sociedade europeia, de Danilo Marcondes, e a transposição da noção europeia de cidade ideal na elaboração da cidade do Rio de Janeiro. Passemos então a eles.
Comecemos com o texto de Ana Letícia Adami, doutoranda em filosofia da USP, cuja pesquisa se detém na análise do diálogo De voluptate (Do Prazer) escrito por Lorenzo Valla, em 1431. Nesta obra o humanista elabora sua defesa epicurista do prazer como um bem, em oposição à doutrina estoica que nega o prazer; cabendo ao sábio estoico o abandono de todos os prazeres para uma vida sadia e perfeita. O prazer na obra valliana é visto como um bem, ou mesmo um verdadeiro bem. Mas Valla vai ainda mais além: elaborando uma associação direta entre os prazeres e a própria devoção cristã. Portanto, se a devoção inspira o amor e todo cristão deve ser tocado por ela, não faria sentido aos cristãos adotarem uma doutrina como o estoicismo. Esta arguta defesa de um “epicurismo cristão” leva Valla, como destaca Ana Letícia, a ser indiciado pelo Índex cristão em 1443.
O artigo escrito pela professora Patrícia Aranovich, professora do departamento de filosofia da UNIFESP, investiga o tema da guerra no pensamento de Maquiavel. Esse tema é, de fato, um tema muito debatido a partir da obra do autor de Florença. A autora, no entanto, supera o lugar comum dos debates em torno do tema que, via de regra, se centram no Príncipe – e, por vezes, na Arte da Guerra – para investigá-lo a partir das Histórias de Florença. Ao tomar essas últimas como referência principal, a autora conferiu originalidade à abordagem do tema, explorando-o atrelado às discórdias civis. Recorrendo aos exemplos de Roma e ao texto de Tito Lívio, mostrou como os assuntos de ordem interna e externa, dentre eles a guerra, se relacionam com as instituições encaminhando sua conclusão para a relação indissociável entre as armas e a forma política, passando pela questão da liberdade.
A proposta do artigo de Helvio Moraes, professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (PPGEL) da UNEMAT, é analisar três dos DieceDialoghidella Historia (Diálogos da História) de Francesco Patrizi da Cherso, escrito em 1560. Abordando os três primeiros diálogos (Il Gigante, overodell’historia; Il Bidernuccio, overodelladiversitàdell’historia; e Il Contarino, overoche sia l’historia), o autor nos mostra como Patrizi desenvolve tanto uma negação das concepções clássicas da História quanto uma tentativa de alargar ao máximo o campo da investigação histórica. Segundo a análise de Helvio, o tom que permeia os Diálogos é tanto o de insatisfação quanto às investigações e modelos metodológicos de autoridades como Cícero, por exemplo, quanto ao modo como são adotados por seus contemporâneos, sendo repetidas sem reflexão e sem a compreensão das suas limitações. Essa insatisfação moveria Patrizzia redefinir de forma precisa o campo histórico, diferenciando-o do campo filosófico e retórico, e influenciando, posteriormente, intelectuais como Jean Bodin e Vivo.
Ana Cláudia Romano Ribeiro, professora do departamento de Letras da UNIFESP e tradutora de Utopia para a língua portuguesa, apresenta em seu artigo os aspectos distintos identificados por ela em relação às traduções do libellus aureus. A autora conduz sua argumentação no sentido de evidenciar nestas últimas a perda das características próprias da expressão de Thomas Morus. Ela destaca o caráter poético, já anteriormente apontado por Erasmo. Há dois aspectos a serem investigados na Utopia, o uso da língua e o assunto propriamente dito. Ao negligenciar o primeiro, certas traduções tendem a destacar o segundo. Para a autora essa estratégia culmina em um resultado artificial, considerando-se forma e sentido indissociáveis. Nesse sentido o artigo contribui para uma compreensão completa do texto de Thomas Morus.
Gilmar Henrique da Conceição, professor do departamento de filosofia da Unioeste-PR, apresenta um lado pouco conhecido do autor em que se tornou especialista. Expõe-nos Montaigne pela via do amor, da volúpia, do erotismo. Ao aproximar-se do que mundano e sensual mostra-nos a possibilidade do pensamento filosófico também por essas vias. Aproxima a filosofia da intimidade revelando-a em Montaigne pelo conceito de voluptuosidade. Faz-se interessante notar que o autor aprofunda a relações que Montaigne estabelece com os antigos caracterizando-o como um autor renascentista e destacando o olhar dessacralizado sobre o mundo nesta abordagem. Por fim, o autor identifica o tema ao ceticismo, apontado por ele como a identidade filosófica de Montaigne.
Alberto Ribeiro G. de Barros, professor do departamento de filosofia da USP, investiga, no republicanismo inglês, a recuperação do texto de Maquiavel por Algernon Sidney em seus escritos políticos. O autor parte da análise da propagação dos textos de Maquiavel pela Inglaterra, passando pelas maneiras diversas em que o mesmo foi incorporado ao discurso político inglês. De acordo com o autor, ao adaptar a obra de Maquiavel à tradição política inglesa o cerne do pensamento republicano maquiaveliano é comprometido de modo que não se pode afirmar que o pensamento republicano de Maquiavel tenha sido totalmente acolhido. O autor conduz sua argumentação no sentido de evidenciar que a apropriação do republicanismo de Maquiavel menos problemática neste período foi feita por Algernon Sidney em seus escritos políticos.
O artigo de Danilo Marcondes, professor do departamento de filosofia da PUC-Rio e da UFF, trata das questões geradas pelo impacto do descobrimento do Novo Mundo. Segundo ele, são questionados durante os séculos XVI e XVII os fundamentos sobre a natureza humana, e sobretudo a aristotélica. Os descobrimentos produziram um novo tipo de conflito, ou mesmo potencializou o conflito já existente entre teorias da Antiguidade e do Cristianismo. São basicamente três os caminhos de investigação que o autor percorre. O primeiro analisa a base da doutrina da escravidão natural em Aristóteles (Política, I 3-6); o segundo os autores antigos que discutem a distinção entre bárbaros e civilizados; e o terceiro, os autores cristãos de São Paulo a Santo Agostinho, que adotam uma teoria da universalidade da natureza humana, inspirados pela origem comum da criação humana, o mito adâmico. Tem-se então o conflito entre três correntes filosóficas, mas, ainda mais importante: o conflito entre um projeto político colonialista e uma missão evangelizadora, cada qual buscando fundamentar-se em concepções tradicionais de natureza humana desde os filósofos gregos aos pensadores cristãos.
E, por fim, o texto de Edmilson Martins Rodrigues, professor do departamento de História da PUC-Rio e da UERJ, nos apresenta algumas investigações elaboradas ao longo de anos de docência e pesquisa. Possuindo um tom bem mais informal que os demais artigos, pois fora este um texto proferido na abertura do SIMPOFI, o autor levanta algumas hipóteses e aponta os caminhos que o levaram a pensá-las; indicando muitas vezes os textos que o estimularam. Entre as muitas conexões, Edmilson propõe a comparação entre a concepção de cidade no Renascimento, suas formas, seus princípios e modos de agir, suas ambições de cultivo da vida ativa, e a cidade do Rio de Janeiro, considerada por ele uma cidade Renascentista nos Trópicos. Segundo o historiador, na cidade setecentista do Rio de Janeiro aparecem muitos traços das tendências utópicas, sejam articulados pelo erudito francês Villegagnon, seja por Mem de Sá, irmão de Sá de Miranda. Desta forma, analisar a cidade apenas do ponto de vista economicista, como fez tantas vezes a historiografia mais tradicional – como uma feitoria que atende exclusivamente os propósitos comerciais da metrópole portuguesa – não leva a discussão adiante. Contudo, propõe Edmilson, se combinarmos a ideia de utopia e a ideia de República, o Rio de Janeiro se torna o campo privilegiado de combinação de ideias e experiências.
Feitas as devidas apresentações, resta-nos esperar que estes textos ajudem aos leitores e aos interessados nas temáticas Renascentistas a seguirem o caminho e a descobrirem seus próprios objetos de pesquisa neste campo ainda incipiente e vasto de possibilidades em nosso país.
Quanto aos artigos do fluxo contínuo da revista, Mário Maestri, professor da Universidade de Passo Fundo, parte do texto de Kátia de Queirós Mattoso, ‘Ser escravo no Brasil’ que, segundo o autor, apresenta a resistência do escravo brasileiro relacionando-a à incapacidade do mesmo de adaptar-se à sociedade brasileira, mesmo em condições razoáveis de trabalho e comida farta. O texto revisita o clássico e edifica sua crítica. Já Vinicius Bandera, pós-doutor em História Social pela USP e Instrutor da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro na Escola Superior de Polícia Militar e na Academia de Polícia Militar, aborda o desenvolvimento do higienismo na cidade do Rio de Janeiro. Sua análise parte da modernização capitalista como responsável pelo caos sanitário, assim como o papel protagonista de combatê-lo. Por fim, o artigo escrito pelos professores Diego Mendes Cipriano, Mestre em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Carlos Roberto da Silva Machado, Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) analisam as remoções de moradias do Bairro Getúlio Vargas entre os anos de 1971 e 1973. A análise apresentada busca esclarecer as consequências do deslocamento dos moradores, evidenciando as contradições do processo. O texto aprofunda-se no direito das populações desenvolverem livremente suas potencialidades e considera os meios de se promover sustentabilidade às gerações futuras.
Fabrina Magalhães Pinto – Professora de História da Universidade Federal Fluminense – UFF.
Flávia Benevenuto – Professora de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Maceió, novembro de 2015.
PINTO, Fabrina Magalhães; BENEVENUTO, Flávia. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 6, n. 12, novembro, 2015. Acessar publicação original [DR]
Un simple ciudadano, José Artigas [Catálogo] | Museu Histórico Nacional
La muestra “Un simple ciudadano, José Artigas” montada en el Museo Histórico Nacional (MHN – Casa de Rivera) como exposición permanente hasta la actualidad, es sin duda uno de los más importantes aportes a la conmemoración de los bicentenarios de la gesta revolucionaria. La muestra está conformada principalmente por pinturas, además de algunas esculturas y objetos, en su mayoría pertenecientes al acervo del Museo Histórico Nacional. Constituye el relevamiento de una enorme variedad de representaciones de una figura de fundamental importancia en la historia de Uruguay y la región y de la cual es de destacar que no existen prácticamente obras plásticas testimoniales, es decir, retratos tomados del natural. Por ello el ejercicio se torna más atractivo: reunir los rostros de “los Artigas” que resultan tan disímiles entre sí al verse juntos, y que de ese modo no sólo dejan en evidencia ideas e intenciones distintas en su creación, sino también, como los tiene toda interpretación, desconocimiento y “encubrimientos”. Leia Mais
O impeachment de Fernando Collor: Sociologia de uma crise – SALLUM-(NE-C)
SALLUM JUNIOR, Brasilio. O impeachment de Fernando Collor: Sociologia de uma crise. São Paulo: Editora 34, 2015. Resenha de: AVRITZER, Leonardo. Entre o conflito de interesses e a nova institucionalidade política. Novos Estudos – CEBRAP, São Paulo, n.103, Nov, 2015.
O livro O impeachment de Fernando Collor é uma obra importante e necessária e que certamente acrescentará ao debate acadêmico nas ciências sociais no país. Desde o impeachment de Collor é pequena a literatura produzida sobre o assunto, e a referência mais importante ainda é um livro publicado por Keith Rosenn e Richard Downes nos Estados Unidos no final dos anos 1990. Poucos trabalhos de fôlego foram realizados no país sobre o tema. O livro de Brasilio Sallum Jr. vem preencher essa lacuna. Ao mesmo tempo, não poderia ser mais oportuno. Existem, neste momento, diversas propostas de impeachment do mandato da presidente Dilma Rousseff tramitando no Congresso Nacional, e o debate sobre o impeachment está sendo travado no Congresso e fora dele sem um conhecimento adequado sobre o assunto. Mais uma vez o livro em tela pode ajudar a preencher essa lacuna.
O livro O impeachment de Fernando Collor tem dois pontos bastante fortes. O primeiro deles é uma tentativa de propor um modelo analítico para o impeachment de Collor que se assenta na literatura de sociologia política. Aliás, o próprio autor destaca no subtítulo a ideia de uma análise a partir da sociologia. O motivo para essa intenção parece bastante claro e está ligado ao fato de o impeachment de Collor, assim como outros momentos decisivos da história do país, envolverem uma ampla coalizão de interesses e ideias. Assim, parece bastante importante analisar quais interesses são esses. O segundo ponto forte é uma análise de atores e coalizões que é um trabalho de natureza fortemente historiográfica com o qual o autor nos permite ver a diferente movimentação dos atores políticos ao longo dos quase três anos de governo Collor. Em conjunto, a sociologia política do autor permite uma complexa análise das movimentações políticas do atores e partidos.
Brasilio Sallum Jr. começa o seu livro mostrando a forte reorientação que o estrangulamento fiscal do Estado brasileiro ocorrido com a crise da dívida externa provocou. Para ele, são as reações à crise da dívida que levaram a um forte reposicionamento no interior da elite empresarial, no sistema de empresas estatais e no interior do sistema político. Esse reposicionamento favoreceu o fim do autoritarismo e permitiu a redemocratização do país. Com a volta da democracia e a Constituinte tivemos um momento de forte rearticulação do desenho institucional brasileiro, que Sallum Jr. sintetiza em alguns pontos: o maior poder concedido a estados e municípios; o aperfeiçoamento dos dispositivos da democracia representativa com a introdução de diversos institutos que propiciaram a participação direta e um conjunto de dispositivos cujo objetivo era diminuir a desigualdade social no país. Mas, junto com essas características, Sallum destaca também o fato de a Constituição ter emprestado uma moldura rígida ligada ao nacional-desenvolvimentismo já afetado pela crise da dívida externa. Por fim, no que diz respeito à arquitetura institucional, o ponto central de Sallum é que a derrota do parlamentarismo teve profundos efeitos. Segundo ele, o balanço geral da Constituição é que ela não foi capaz de superar a crise de hegemonia que perpassava o Estado (p. 38).
Vale a pena analisar o marco proposto por Sallum não só porque ele explica bastante bem as polêmicas que não foram resolvidas pela Assembleia Nacional Constituinte como também porque ele oferece pistas importantes para pesarmos os conflitos em torno do mandato da presidente Dilma que envolvem conflitos semelhantes tanto sobre a configuração do Estado quanto sobre a organização das políticas sociais. Brasilio Sallum Jr. argumenta que houve uma forte inflexão liberal no final dos anos 1980, reforçando agentes econômicos que já haviam se reposicionado a favor do liberalismo no começo da década. Assim, surge com força um projeto de integração competitiva entre esses setores, e é esse projeto que vai polarizar a sociedade brasileira em 1989. Assim, o marco proposto por Sallum é um marco que entende a diferenciação de interesses econômicos causando dilemas societários que por sua vez geram enfrentamentos políticos. Esse é, ao mesmo tempo, o ponto mais forte do livro, mas como mostrarei mais à frente é o seu ponto mais vulnerável também.
A campanha que levou Collor ao poder é descrita com uma grande riqueza de detalhes pelo autor. Ele mostra a importância do complexo midiático, em especial da Rede Globo, cuja influência era muito superior à atual, com a audiência se situando entre 65% e 80%. A construção da imagem de Collor é bem trabalhada, aparecendo frequentemente com os punhos cerrados e os braços erguidos em desafio (p.73), dando a impressão de um super-homem capaz de enfrentar os desafios do país. O autor mostra também a importância do discurso liberal, modernizante e de redução do Estado. Sua vitória eleitoral estabeleceu, desse modo, uma hegemonia do projeto liberal de redução do Estado. No entanto, essa hegemonia não fez com que o debate sobre o próprio Estado e o modelo liberal refluísse. Pelo contrário, Sallum também mostra em detalhes como a clivagem social fez com que o conflito político persistisse durante o governo Collor.
A análise do governo Collor por Sallum opera na tensão entre os interesses econômicos que o apoiaram e as propostas políticas do presidente. Nesse sentido, é como se a articulação entre interesses econômicos e apoio político tivesse trincado já no primeiro momento. Assim, a primeira análise do autor sobre a montagem do ministério já aponta para a vontade do presidente de não colocar um representante de peso da nova agenda liberal no Ministério da Economia. O presidente deixava claro o seu afastamento relativo dos interesses que o elegeram e a sua vontade de ser ele mesmo o gestor da economia. A matriz explicativa para essa tensão que perpassou a formação de todo o ministério é a mesma e se assenta na sociologia política proposta por Sallum, que defende uma forte conexão entre interesses e articulação política. Ainda assim, o argumento do autor é que o campo político amplo da rearticulação liberal, em um primeiro momento, esteve disposto a apoiar o presidente e o seu plano de estabilização econômica. O núcleo do Plano Collor, como é sabido, foi a apropriação e o congelamento de 80% dos ativos financeiros e da moeda em circulação (p. 90). Ao fazê-lo, Collor se posicionou contra a riqueza financeira, como comentaram diversos órgãos de imprensa da época. Assim, em sua primeira ação econômica de peso, Collor propôs um plano entre um certo intervencionismo de esquerda e o reformismo liberal (p.94). Da esquerda, o Plano Collor retirou a ideia de intervir nos direitos associados à moeda indexada, ao passo que do reformismo liberal ele retirou a ideia de intervir profundamente nas estruturas do Estado desenvolvimentista. Junto com o congelamento dos ativos financeiros, ele propôs uma reforma administrativa que mexeu profundamente com a liderança sindical ao anunciar que poria à disposição entre 20% e 25% dos servidores públicos. Desse modo, o que Sallum mostra é que Collor se colocou à margem dos principais interesses representados por ele e se chocou fortemente com os principais interesses representados pelo grupo oposicionista, em especial pelo PT e pela CUT. Nesse sentido, Collor construiu uma imagem voluntarista e autocrática que levaria até o seu impeachment. Sallum mostra como as principais forças dentro do Congresso se posicionaram pela aprovação do Plano Collor: “Os partidos que haviam se comprometido previamente a apoiar o Plano – PRN, PFL, PDS, PTB, PL e PDC – acabaram votando em peso a seu favor […]. O PSDB o PT ou por melhorá-lo e o PMDB – o maior partido, com 159 deputados e 28 senadores – acabou contribuindo decisivamente para a sua aprovação […]”. Assim, a análise de Sallum é que Collor inicia o seu mandato com uma certa disjunção entre interesses e representação política. Ao contrariar os interesses alinhados com uma agenda liberal e tentar atuar por cima deles, ele rompeu com a sua base e passou a depender de uma base no Congresso que lhe dava apoio condicional. Já no final de 1990, Collor é derrotado na votação de diversas medidas provisórias. Assim, Sallum passa a centrar sua análise na arena legislativa e no novo Congresso eleito em 1990.
Os anos 1991 e 1992 foram os anos decisivos para Collor. Brasilio Sallum Jr. começa a descrição desse período com a posse do novo Congresso em 1º de fevereiro de 1991. O dia foi o mesmo em que foi anunciado o Plano Collor II, que mais uma vez congelou os preços e anunciou um tarifaço nos preços da energia elétrica, telefonia e gasolina (p. 121). O segundo Congresso a ser enfrentado por Collor não era muito diferente do primeiro em termos de composição partidária, era um Congresso majoritariamente conservador. Mas era um Congresso mais independente, não apenas porque os seus membros tinham mais quatro anos de mandato, mas principalmente porque ali já se colocava uma agenda de maior autonomia do parlamento em relação ao Poder Executivo. O presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, já falava naquela altura na regulamentação da edição de medidas provisórias. Collor consegue aprovar o Plano Collor II, ainda que com algumas modificações. No entanto, o mais importante naquele momento foi que as modificações não foram mais aprovadas por reedição de medidas provisórias, e sim através de uma negociação com os partidos de centro. Ainda assim, a base política de Collor já aparece arranhada em meados de 1991 devido a diversos conflitos, em especial com o Congresso, com os trabalhadores e com o sindicalismo. Collor, percebendo o esgarçamento da sua base parlamentar, tentou alguns movimentos, entre os quais a substituição da sua ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, por um liberal mais ortodoxo, Marcílio Marques Moreira. Assim, é possível entender a embocadura da análise de Sallum. Para o autor, os arranjos políticos têm que expressar interesses econômicos e quando não o fazem produzem crises. A crise do governo Collor foi provocada por uma disjunção entre representação de interesses e arranjo político. O voluntarismo do presidente tende a afastar dele primeiro a sua base empresarial e em segundo lugar a sua base política. Percebendo tal disjunção, ele muda a condução da economia, em que ainda estava presente uma certa heterodoxia na equipe, mas de alguma forma a recomposição da iniciativa política do presidente não foi possível, já que não houve melhora nem na economia nem na capacidade de negociar com o Congresso Nacional. Começa já em meados de 1991 a pipocar no Congresso um conjunto de iniciativas, todas elas destinadas a reduzir as prerrogativas do presidente. Ao mesmo tempo, começa a se formar uma frente parlamentar que passa a coordenaras ações de PMDB, PT e PSDB. Essa frente, por seu lado, reduziu as possibilidades de um amplo processo de liberalização econômica. Mais uma vez, vemos em operação a ideia de Sallum de sociologia política. Na medida em que o presidente não foi capaz de agregar os interesses econômicos que ele defendia em uma base política sólida, rearticularam-se partidos de centro e esquerda, que então bloquearam a liberalização, mesmo após a mudança do ministério. É essa frente, acrescida da mobilização popular, que será a responsável pelo impeachment.
Oanode1992começoucomumadisputaemtornodoreajustedos aposentados. A partir de uma decisão do Judiciário do Rio de Janeiro sobre esse reajuste, Collor entrou em uma disputa com o Judiciário e o Legislativo que acentuou a crise do seu governo. O presidente do Supremo Tribunal Federal, que tentava naquele momento fazer uso das novas prerrogativas concedidas pela Constituição de 1988 ao Judiciário, se declarou incompetente para sustar um aumento concedido pela justiça aos aposentados do Rio. Collor mais uma vez recorreu ao expediente comum: foi à televisão dizer que não havia recursos para tal e propôs um aumento das contribuições. Imediatamente a Câmara dos Deputados se pronunciou contra tal aumento, criando um impasse em torno do assunto com a assinatura, pelo presidente, de um decreto que retirava poderes do Congresso. Esse impasse azedou de vez a relação do presidente com o Congresso e acentuou a queda da sua popularidade. A popularidade de Collor, que iniciou o seu mandato com mais de 70% de aprovação, vai caindo ao longo dos dois anos e alcança marca próxima a 20% no meio de 1992. Assim, todos os componentes da crise estão no lugar em meados de 1992 e são explicados por Sallum da seguinte forma:“[…] entrou em crise o modo como o presidente da República interpretava o regime democrático por suas palavras e atos de governo, modo distinto em relação ao esperado e propugnado pela maioria das forças políticas presentes no Congresso […]” (p. 184).
Temos assim o início da crise, que se exponencia com as entrevistas do irmão Pedro Collor, que colocam o tema da corrupção no centro da crise política já vivida pelo governo, e que aponta a denúncia na direção do próprio presidente. Collor responde ao irmão no dia 25 de maio, acusando-o de insensato e prometendo processá-lo. Mas a crise prospera no Congresso com a formação, no dia 27 de maio, de uma Frente Parlamentar de Oposição entre PMDB, PT e PSDB, cujo objetivo explícito era a atuação conjunta na CPIM (p. 211). Nesse mesmo contexto, doze organizações se reúnem no dia 29 de maio na sede da OAB e convocam uma mobilização da sociedade civil. Sabemos todo o desenrolar desses eventos. A partir de um desafio tosco à sociedade brasileira, em que um presidente sem apoio pede a manifestação da sociedade a seu favor, o Brasil inteiro se mobiliza, com o apoio da imprensa, a partir de meados de agosto de 1992. Sallum nos dá uma ideia desse ciclo mobilizatório: de quatro a seis eventos por semana ao longo das cinco semanas anteriores a 16 de agosto, passamos a 56 eventos por semana com uma média de participantes de 15 mil pessoas (p. 306). É esse o caldo da mobilização que irá levar, no dia 29 de setembro, ao afastamento de Collor da presidência, seguida da sua renúncia em dezembro.
Um balanço da análise de Sallum encontra alguns pontos fortes decorrentes, como o autor reivindica, da sua sociologia política, mas alguns pontos débeis decorrentes exatamente da sua incapacidade de ir além dela. Os pontos fortes já foram mencionados e estão relacionados à maneira como o autor utiliza a sociologia para tecer uma relação entre o realinhamento dos interesses econômicos nos anos 1980 e uma análise específica de como esses interesses se rearticularam no Congresso. A tese fundamental sobre Collor surge a partir desse marco analítico, e o seu ponto central é que o voluntarismo e o desrespeito a sua base econômica e política criaram os problemas que o presidente enfrentou em 1991 e 1992. Mas os limites da análise de Sallum se encontram justamente aí, porque no primeiro semestre de 1992 Collor muda o seu ministro da Economia e realiza uma reforma ministerial justamente com o objetivo de alinhar o seu governo aos interesses das forças que o elegeram. É esse justamente o momento em que se acentua a mobilização contra Collor. Sallum não tem uma explicação para o fenômeno. O que ele afirma em relação às manifestações é o seguinte:
Durante o governo Collor houve uma crise política importante embora não muito profunda iniciada em 1992 e encerrada com a reforma ministerial de abril. O que diferencia a crise política que se desenvolvia desde o fim de junho […] é que especialmente a partir do domingo negro, ela alterou significativamente a dinâmica do processo político porque a intensificação da mobilização de atores societários não participantes usuais da política nacional rompeu os limites do campo político institucional (p. 308).
Entendo que essa frase expressa os limites da capacidade analítica do autor. O problema que parece lhe escapar é que a democratização brasileira e a Constituição de 1988 ampliaram os limites do campo político institucional, que tem que ser entendido com a presença desses atores e as conexões adequadas entre mobilização, organização da sociedade e dinâmica política institucional. A sociologia de Sallum opera muito bem na interseção entre interesses econômicos e institucionalidade política. Ali ele demonstra os movimentos importantes que as forças sociais realizam no interior das instituições políticas. No entanto, outras categorias mais próprias, como a do institucionalismo político ou da ideia de inovação institucional, faltam no livro, e sua lacuna constitui um problema na sua capacidade explicativa. Sallum aborda de forma muito superficial a nova institucionalidade criada pela Constituição de 1988, que criou inovações que foram muito importantes no governo Collor. Assim, quando o Congresso ou movimentos sociais procuram o Poder Judiciário por meio de ADINs para tentar barrar o decreto sobre as aposentadorias, esse foi um fenômeno absolutamente novo, assim como o foi o ato do presidente do Supremo, de não se posicionar junto com o Executivo na questão das aposentadorias do Rio de Janeiro. Sallum menciona todos esses fatos, mas não lhes atribui a novidade e a importância que tiveram na época e seguem tendo. A análise de Sallum para no voluntarismo e na reação do sistema político ao presidente, utilizando a inovação institucional e a capacidade de mobilização social da oposição como uma variável externa a sua análise. Tenho a impressão de que não é possível entender plenamente o impeachment de Collor sem mostrar uma dimensão que no livro aparece secundarizada: o fio que vai da mobilização da sociedade na direção do papel das novas instituições no campo jurídico (Ministério Público, ADINs e o novo papel da OAB) e alcança o sistema político. O autor mostra muito bem a capacidade de Collor de estabilizar a sua situação no interior do campo político. Mas sua capacidade explicativa parece sucumbir na incapacidade de julgar novos atores e instituições que desde 1988 vêm tendo um papel diferente na política brasileira. Foram elas que influenciaram decisivamente no impeachment de Collor, são elas que têm hoje um papel fundamental em um possível processo de impeachment da atual presidente que está colocado no processo político em curso no Brasil neste ano de 2015. Para entender essas novas instituições não é possível utilizar apenas o marco da sociologia política, como pretende Sallum. É necessário utilizar um marco que atribua às instituições um papel maior que o do abrigo a grupos sociais e políticos com interesses diversos e mostrar como novas instituições produzem novos padrões de relação entre Estado e sociedade. O livro O impeachment de Fernando Collor é uma excelente descrição e análise do evento sob o ponto de vista da articulação política de interesses sociais, mas deixa a desejar sob o ponto de vista de uma análise do impacto das novas instituições nessa mesma institucionalidade. Somente assim seria possível explicar o que falta explicar no livro: por que a ancoragem/blindagem de Collor nos interesses políticos e social-liberais não salvou o seu mandato? Por que os grupos de oposição ao modelo liberal conseguiram se mobilizar muito mais fortemente que os grupos que poderiam sustentá-lo? Por fim, em 1992 como hoje, seria importante explicar o novo marco jurídico das instituições de controle e seu impacto sobre a democracia no Brasil. Em todos os casos, uma sociologia dos interesses nos deixa a meio caminho no processo de explicação desses fenômenos.
Leonardo Avritzer –Professor titular do departamento de Ciência Política da UFMG.
Boletim Historiar. São Cristóvão, n.11, 2015.
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Publicado: 2015-10-30
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Boletim Historiar. São Cristóvão, n.10, 2015.
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Publicado: 2015-10-09
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Publicado: 2015-10-09
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Publicado: 2015-10-06
Las utopías pendientes: Una breve historia del mundo desde 1945 – NÚÑEZ SEIXAS (I-DCSGH)
NÚÑEZ SEIXAS, X. M. Las utopías pendientes: Una breve historia del mundo desde 1945. Barcelona: Crítica (Ágora. Historia), 2015. Resenha de: PÁEZ-CAMINO, Feliciano. Íber – Didáctica de las Ciencias Sociales, Geografía e Historia, n.81, p.85-86, oct., 2015.
Aunque pudiera sugerirlo su título, este libro no es un ensayo con impregnación ideológica, ni mucho menos una crónica de tono periodístico con rememoraciones y anécdotas.
Es –y cabe celebrarlo– un sólido estudio de historia universal que tiene por ámbito cronológico nada menos que los setenta años transcurridos entre el final de la Segunda Guerra Mundial y los comienzos del presente 2015, cuya lectura, lápiz en mano, bien puede resultar de provecho al profesor que se disponga a abordar la parte final de un programa de historia del mundo contemporáneo, o simplemente a quien, sin obligaciones docentes inmediatas, quiera conocer mejor las raíces de nuestro tiempo.
Xosé Manoel Núñez Seixas, solvente historiador de raíz gallega y horizonte profesional europeo entre advircuyas investigaciones descuellan las referidas a los nacionalismos españoles, empieza esta obra abordando el período que se extiende desde 1945 hasta 1990, fecha en que se puede dar por concluida la Guerra Fría; al perfil de esas cuatro décadas y media dedica dos extensos capítulos: uno centrado en las relaciones internacionales y otro en la evolución económica y social.
Vienen a continuación cuatro capítulos centrales que tratan otros tantos asuntos: la huella de la historia en forma de memoria, los vaivenes de los entes nacionales, el notable avance de las mujeres y los dilemas medioambientales. El volumen concluye con un retorno al ámbito cronológico referido esta vez a los últimos veinticinco años, que suponen un tránsito «de la posguerra fría a la era global». El texto alterna pues, sin mucha merma de su brío expositivo, agrupamientos cronológicos y temáticos, y en el interior de ellos se advierte una compartimentación por espacios geográficos.
Aparecen en el libro algunas fotografías y unos pocos mapas (no muy afortunado el de la página 85 que, por mor de las fronteras entre estados, parece sugerir que Siberia, Amazonia o Alaska están entre las zonas más pobladas del planeta). Y se cierra, tras un breve epílogo centrado en la crisis presente, con una cronología y una bibliografía básica; en esta última podría haber sido oportuna la mención de alguna obra más, como la de Juan Pablo Fusi sobre el no nacionalismo en las sociedades nacionalistas.
El autor abre camino en la compleja y heterogénea materia enhebrando explicaciones, allegando datos oportunos y ofreciendo ponderados juicios, sin caer en simplismos ni entretenerse en sermones. Pese a la diversificación de los puntos de vista temáticos, el relato no abunda en reiteraciones, y trata con enfoque preciso e información actualizada temas y espacios que, por lo demás, no son muy frecuentes en la tan a menudo ensimismada historiografía española. No obstante, y aunque es obvio que en menos de cuatro centenares de páginas tienen que quedar muchos asuntos fuera, puede que el lector eche de menos en el texto alguna oportuna referencia literaria o cinematográfica, o mayor atención a la evolución política interna de los grandes países europeos. Casi nadie es imprescindible para explicar la historia, pero cabe extrañarse, por ejemplo, de que no se cite a Adenauer, de que no haya más mención a Olof Palme que la de su asesinato (en la cronología), o de que Mitterrand sólo figure a propósito de su pétainismo juvenil (p. 163) o encarnando reticencias antieuropeístas en compañía de Thatcher (p. 271).
Puestos a señalar detalles mejorables, que en todo caso no alteran la calidad global de la obra, advircuyas tamos que algunas referencias aparecen un tanto desplazadas hacia adelante en el tiempo, como cuando se afirma que fueron los años sesenta del siglo xx la ocasión en que «París se convirtió en la ciudad de la luz» (p. 72), o se alude al «lema democristiano» de la posguerra alemana que asociaba a la mujer a las «tres k» (p. 213) sin advertir que ya era popular bajo el nazismo.
También se pueden espigar algunos descuidos de detalle, entre ellos una Indonesia «que accedió a la independencia con Suharto» (p. 61), en lugar de Sukarno, o que «Bolivia vivía del zinc» (p. 132) cuando más bien lo hacía del estaño.
La lectura de este libro ilustra sobre la diversidad de espacios y tiempos e invita poco al reduccionismo. Por sus páginas desfilan progresos sociales muy notables (tras los que se percibe a menudo la impronta socialdemócrata), pero también retrocesos inesperados, contradicciones difíciles de resolver, errores más o menos bienintencionados y una buena porción de horrores.
En todo caso, no parece que la expresión «utopías pendientes» –que pudiera evocar aquella «revolución pendiente» que postergados falangistas reivindicaban bajo el franquismo– apunte en él a la recuperación de antiguos proyectos totalitarios y mesiánicos, sino a un impulso constructivo que, sobre la base de los muchos avances realizados en diversos ámbitos a partir de 1945, asuma el reto planetario de ampliar la igualdad entre los seres humanos sin sacrificar la libertad de cada uno.
Feliciano Páez-Camino
[IF]Morgado de Mateus / Revista do Arquivo / 2015
É com imensa satisfação que publicamos o número 1 da Revista do Arquivo, inaugurando nova fase do periódico institucional, por razões que estão explícitas no editorial da derradeira edição da Revista Histórica, nº 63.
A Revista do Arquivo será instrumento de difusão do precioso e dinâmico acervo do APESP acumulado ao longo dos séculos de história custodial. Mais que isso, a Revista se propõe a difundir a política de gestão documental praticada de forma sistêmica e integrada, no âmbito do estado de São Paulo e também as atividades e conhecimentos produzidos pelos servidores da instituição.
As atividades de difusão do conjunto documental da Secretaria de Governo produzido no período colonial, ocorridas neste ano, que tiveram como mote a comemoração dos 250 anos do início do governo do Morgado de Mateus em São Paulo, se constituem no fio condutor temático desta edição, conjunto documental este que acabou de ser nominado para o título de ‘Patrimônio da Humanidade’, pelo programa Memória do Mundo da UNESCO.
O universo dos arquivos é fascinante e plural, fonte inesgotável para renovação e produção de conhecimentos nas mais variadas direções e inspirações intelectuais. Por isso, convidamos o leitor a percorrer as páginas desta obra (re)inaugural e estabelecer o diálogo com temas e autores que exploram as riquezas recônditas dos documentos que compõem o nosso acervo; e, além disso, desvelar alguns dos conhecimentos que envolvem os complexos trabalhos de bastidores de uma Instituição como o Arquivo.
Izaias José de Santana
SANTANA, Izaias Jose de. Apresentação. Revista do Arquivo, São Paulo, Ano I, n.1, outubro, 2015. Acessar publicação original [DR]
Um sertão chamado Brasil – LIMA (HCS-M)
LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil. São Paulo: Hucitec, 2013. 304p. Resenha de: BOTELHO, André. Um sertão chamado Brasil e o pensamento social: travessias, passagens, veredas. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 n.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2015.
Um sertão chamado Brasil, de Nísia Trindade Lima, chega à segunda edição. Não só o reconhecimento e a recepção obtidos desde sua publicação original o justificavam, mas também o que ainda nos tem a dizer. O livro abriu caminhos próprios na pesquisa das interpretações da formação da sociedade brasileira ao articular problemáticas como o imaginário espacial da sociedade, a construção do Estado-nação e as interpretações do Brasil. Concorreu ainda para a visibilidade não apenas de temas, como de fontes e interpretações até então pouco consideradas. Sua contribuição é fértil também do ponto de vista teórico-metodológico, juntando-se aos trabalhos que têm modelado o pensamento social brasileiro como área de pesquisa.
Publicado originalmente em 1999, para essa segunda edição, de 2013, ao lado do texto original revisto, a autora escreveu também um novo prefácio intitulado “O avesso do moderno”. Trata-se de peça reflexiva que confere dinâmica à trajetória que o livro ao mesmo tempo esconde e traz à tona. Assim, parte importante da efetiva recepção que as questões ali formalizadas conheceram é ponderada com muita propriedade. Questões perseguidas ao longo de uma trajetória consistente de pesquisa são revistas criticamente e ajudam a situar o livro num campo problemático mais amplo. Do mesmo modo, o leitor é valorizado com a incorporação de trabalhos posteriores da autora que são, ao mesmo tempo, um desdobramento e um diálogo – às vezes crítico – com suas inquietações intelectuais mais antigas. São também “veredas” de Um sertão chamado Brasil, para mobilizar a metáfora roseana, tão cara à sensibilidade sociológica de Nísia Trindade Lima.
Tanto na sociedade brasileira, ao longo de sua formação desde a colônia, quanto em nossa densa tradição intelectual, artística e científica, “sertão” costuma ser espaço geográfico, ora pensado como limites, ora como possibilidades quase infinitas. Mas não apenas, pois nele e a partir dele também se projetam metáforas, expectativas econômicas, programas estéticos e projetos políticos. Sertão é espaço social. Sertão é identidade social e, como tal, sempre implica relações. É um tipo de código simbólico que põe personagens, eventos e processos “em relação”. Nem sempre distante, às vezes o sertão é percebido surpreendentemente próximo, e frequentemente volta à tona de modo tragicamente violento. Como ocorreu, para dar apenas um exemplo, justamente quando Um sertão chamado Brasil ia ganhando forma final, com o Massacre do Eldorado dos Carajás, em 1996, acontecimento que pôs novamente a reforma agrária na ordem do dia, bandeira esmaecida desde os debates na Constituição de 1988, não faltando mesmo quem afirmasse, antes do massacre, que a questão agrária não tinha mais alcance político. O “sertão” ressurgia, porém, com toda a força para o conjunto da sociedade em meio ao avanço da “modernidade” representada pelo agronegócio. Os contextos históricos dos livros são da maior importância, e, às vezes, eles mantêm relações tão significativas entre si, que suas fronteiras parecem borradas. Nesta resenha, porém, vou limitar-me a situar o livro apenas em seu contexto intelectual. Meu argumento é que Um sertão chamado Brasil tanto se beneficiou dos desenvolvimentos contemporâneos da área de pesquisa chamada de “pensamento social brasileiro” quanto, simultaneamente, contribuiu para a sua modelagem cognitiva – ainda que sua autora venha dando contribuições decisivas, também em outras frentes, à institucionalização da área de ensino e pesquisa.
Um sertão chamado Brasil foi formulado como tese de doutoramento em sociologia, defendida em 1997 no antigo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), tendo recebido o seu prêmio de melhor tese de sociologia naquele ano. Deixando contingências institucionais de lado, chama a atenção o impressionante número de teses de doutorado defendidas no Iuperj na área de pensamento social brasileiro naquele ano (e nos seguintes). Menciono apenas, a título de ilustração, a tese de doutorado em ciência política do mesmo ano de 1997 pelas muitas afinidades que guarda com o livro em questão: Lembranças do Brasil: teoria política, história e ficção em Grande sertão: veredas, de Heloisa Maria Murgel Starling, igualmente premiada pelo Iuperj e publicada em livro e bem merecedora de uma nova edição por sua alta qualidade e alcance teórico.
Em pesquisa anterior (Botelho, 2012), investiguei as teses de doutorado do Iuperj defendias entre 1987 e 2006 como produtos típicos de uma experiência no campo da pós-graduação em ciências sociais no Brasil. Embora não seja a única frente de construção desse processo de institucionalização, e constitua uma exigência do sistema nacional de pós-graduação como política pública da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, procurei mostrar como a produção das teses de doutorado permitiu a expansão do papel intelectual do Iuperj nas ciências sociais brasileiras. Teses de doutorado constituem certamente uma modalidade especial de trabalho intelectual, entre outros fatores, porque são concebidas e desenvolvidas não apenas por seus autores, mas por eles em diálogo constante com os seus orientadores, professores e colegas, tendo em vista as linhas de pesquisa da instituição em que se inserem e também as disciplinas de formação nela ministradas e outros espaços e diálogos.
Segundo minhas contas, no período de 1989 a 1999 – em que se situa Um sertão chamado Brasil – foram defendidas nove teses de doutorado em sociologia e cinco em ciência política na área de pensamento brasileiro; sendo esta a terceira área de maior concentração de teses de doutorado do Iuperj no período de 1987 a 2006, com 19 teses contra as 22 da área de teoria e teóricos da política e da sociologia, que detém a maior concentração temática. Como se pode ver, aquele instituto foi uma importante matriz de titulação de doutores na área, sendo que, no caso da sociologia, pensamento brasileiro teve a maior concentração entre 1989 e 2006, com dez teses defendidas, entre elas Um sertão chamado Brasil.
Substantivamente, como também pude discutir naquela oportunidade anterior, a área temática do pensamento brasileiro no Iuperj no período pesquisado apresenta-se mais definida no sentido de uma sociologia das ideias, interessada na discussão não apenas da sua constituição social, como no marco mais tradicional da sociologia do conhecimento, mas apontando para o papel social das ideias na constituição da sociedade. Daí a clara disposição de diálogo que, em geral, apresentam não apenas com a história das ideias, mas diretamente com a teoria social, ao menos com as suas vertentes sensíveis à orientação semântica da vida social e ao momento hermenêutico, por assim dizer, de todo trabalho sociológico. Consideradas em conjunto, as teses da sociologia do Iuperj sobre pensamento brasileiro recolocam, no plano substantivo, a questão do papel ao mesmo tempo cognitivo e normativo desempenhado pelas chamadas “interpretações do Brasil” na via própria de instalação da modernidade cultural, social e política no país.
Esse contexto, ao mesmo tempo institucional e intelectual, certamente favoreceu a formulação de Um sertão chamado Brasil, e pode ser tomado como ponto de partida para compreender sua circunstância comum e também sua feição própria, especialmente no que diz respeito ao interesse em problematizar as visões disjuntivas sobre as relações entre tradicional e moderno na construção nacional brasileira. Alguns desenvolvimentos mais amplos da própria área de pesquisa – contemporâneos à formulação da tese e publicação da primeira edição do livro – são importantes de ser assinalados. A área de pesquisa pensamento social vem atingindo, justamente desde a década de 1990, reconhecidamente, amplas condições de consolidação no âmbito das ciências sociais praticadas no Brasil. É isso que indica recente simpósio com especialistas sobre diferentes questões, que vão desde a atualidade da área de pesquisa do pensamento social, seus objetos, problemáticas e abordagens teórico-metodológicas, às suas conexões com outros campos disciplinares, passando pelas obras mais relevantes da área, sua inserção disciplinar na graduação e pós-graduação e suas possibilidades futuras (Schwarcz, Botelho, 2011). Simpósio que em grande medida corrobora balanços que vêm sendo realizados sobre a sua produção em livros (Miceli, 1999; Oliveira, 1999; Bastos, 2002; Villas Bôas, 2007; Bastos, Botelho, 2010), e como área de concentração temática no interior de instituições de pesquisa e ensino (Bastos, 2003,Botelho, 2012).Também indicativas de sua consolidação são as crescentes iniciativas de divulgação científica das interpretações do Brasil, objeto por excelência da área de pesquisa, uma vez que o diálogo com o público não especializado costuma ser um dos sinais mais significativos da maturidade de um domínio de conhecimento, como, por exemplo, nas coletâneas Um enigma chamado Brasil (Botelho, Schwarcz, 2009) eAgenda brasileira (Botelho, Schwarcz, 2011).
Na mesma direção deve-se observar ainda a vitalidade do pensamento social nos grupos de trabalhos (GTs) de associações científicas, como Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais, cujo GT Pensamento Social no Brasil se vem reunindo continuamente desde 1981, e do qual Nísia Trindade Lima já foi coordenadora. Em seu o 38º encontro anual, ocorrido em outubro de 2014, funcionaram exatamente cinco GTs cujos objetos são altamente intercambiáveis, como sugerem suas ementas. Isso para não falar dos GTs de pensamento social ou político no âmbito da Sociedade Brasileira de Sociologia e da Associação Brasileira de Ciência Política, além de congêneres na Associação Nacional de His-tória, como o GT Nacional de História Cultural.
É justamente esse crescimento que tem levado a iniciativas de cooperação inovadoras, como a da Biblioteca Virtual do Pensamento Social (BVPS), a propósito coordenada por Nísia Trindade Lima. A BVPS é uma iniciativa de cooperação entre pesquisadores e instituições acadêmicas com o objetivo de fortalecer e divulgar essa área de pesquisa, buscando maximizar o intercâmbio de informações, experiências e conhecimentos entre pesquisadores de modo a promover e sustentar redes de pesquisas. A BVPS busca, assim, ser um instrumento dinâmico cuja atuação se delineia em três campos básicos inter-relacionados: (١) produção de conhecimento; (2) memória da ciência e das tradições intelectuais; (3) subsídios didático-pedagógicos e de divulgação científica. Dados levantados no âmbito da BVPS indicam claramente um crescimento exponencial da área. Dou apenas dois exemplos a partir da pesquisa realizada na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Primeiro, o número de pesquisadores. Aplicando como filtro da busca apenas currículos de pesquisadores que tenham indicado “pensamento social” como palavra-chave de pelo menos três publicações, chegamos ao resultado de 938 investigadores. Em segundo lugar, a evolução do recorte temático “pensamento social” na produção constante nessa plataforma pode ser resumida do seguinte modo: duas produções em 1974; 13 em 1986; 81 em 1997. A partir daí, o crescimento é exponencial: em 2000, já são 209; em 2010, o número chega a mais do dobro, são 423; em 2013, são 337; em 2014 foram 167.
Esse processo de expansão, porém, vem sendo acompanhado não apenas pelo crescimento quantitativo e pela percepção da importância crescente da área por seus praticantes (mesmo que também as suas definições constituam um claro campo de disputas), como ainda pela diversificação dos seus objetos, metodologias empregadas e teorias propostas. Hoje, as pesquisas desenvolvidas na área compreendem tanto os temas clássicos da formação da sociedade brasileira, em suas várias dimensões, como, por exemplo, modernização, modernidade e mudança social; construção e transformação do Estado-nação; cultura política e cidadania; quanto diferentes modalidades de produtores e de produção cultural em sentido amplo (literatura de ficção, artes plásticas, fotografia, cinema, teatro) e a própria “cultura” como sistema de valores e formas de linguagem – além da análise da rica tradição ensaística brasileira, ainda hoje centro das atenções na área.
Um sertão chamado Brasil possibilita esse conjunto mais amplo de pesquisas da área de pensamento social, que vem ajudando a modelar e ao qual se liga de várias formas. O mesmo se poderia dizer em relação ao conjunto de pesquisas na área de história das ciências e da saúde desenvolvidos com excelência na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz sobre as representações da vida social formuladas em discursos e teorias científicas. Por falta de espaço, não posso situar o livro de Nísia Trindade Lima nessa direção, mas penso poder apontar algo fundamental: ele vem contribuindo também para a interação criativa entre agendas de pesquisa próprias, a da história das ciências e da saúde e a do pensamento social, o que tem despertado a atenção para novos problemas e questões em ambas as áreas disciplinares e, muito particularmente, vem contribuindo para o alargamento cognitivo da própria noção de pensamento social entre nós, nos termos aqui delineados.
Disse anteriormente que entre os principais desenvolvimentos cognitivos da área de pensamento social estão a revisão de temas clássicos da formação da sociedade brasileira, de um lado, e a valorização de diferentes modalidades de produtores e de produção cultural, de outro. Ora, sem deixar de contribuir em ambas as frentes,Um sertão chamado Brasil opera significativa rearticulação entre elas. Muito resumidamente, pode-se dizer que, partindo da discussão das teses sobre a dualidade litoral/interior e suas representações ambíguas no pensamento brasileiro, Nísia Trindade Lima mostra como o tema indica tanto a percepção daintelligentsia sobre as vias de modernidade abertas à sociedade brasileira como a sua própria inserção nela. Assim, esses aspectos são tratados sistematicamente como partes cruciais de dois processos centrais inter-relacionados a partir daquela dualidade central. Num plano, ao processo denation-building com suas dimensões de integração territorial e de diferentes estratos sociais. Num outro, ao processo de relacionamento da sociologia acadêmica com as interpretações do Brasil mais antigas e persistentes. No que diz respeito particularmente a esse ponto, ao mostrar que a dualidade litoral/sertão representa uma matriz constitutiva da imaginação social sobre o país em diferentes momentos, linguagens e níveis, e ao definir sua escolha por uma abordagem atenta aos temas da tradição intelectual brasileira, Nísia Trindade Lima consegue surpreender as continuidades eletivas entre eles, e, assim, questionar convincentemente a tese de uma ruptura linear das ciências sociais institucionalizadas com a tradição ensaística, e outras linguagens, assumida por várias vertentes da história das ciências sociais.
Está muito bem situada, nesse sentido, no novo prefácio escrito pela autora, parte importante da recepção que as questões formalizadas no livro conheceram desde sua publi-cação original, especialmente em diferentes pesquisas acadêmicas que se vêm debruçando, nas veredas abertas pelo livro, sobre os temas das representações espaciais de identidades, do papel da terra em diferentes modalidades de imaginação social, do mundo rústico, da violência e da política, das relações entre nação e região ou campo e cidade, entre outras. Meus próprios trabalhos sobre o tema do agrário na configuração da sociologia política brasileira (Botelho, 2007) e de meus orientandos sobre violência pessoalizada e mundo rústico (Carvalho, 2010; Veiga Júnior, 2010), por exemplo, são devedores de Um sertão chamado Brasil. Penso que um dos desdobramentos mais interessantes em aberto nessa agenda de pesquisa, seguindo a compreensão mais geral de que um desafio premente posto à área de pensamento social brasileiro é a comparação transnacional, seria, então, pensar “sertão” em relação a outras categorias que também organizam delicada e densamente as representações de outras sociedades, como, por exemplo, a de “deserto” na Argentina (Torre, 2011). Como “sertão” no Brasil, “deserto” também parece constituir simultânea – e paradoxalmente nas visões mais positivistas – objeto e sujeito de conquistas em nome da civilização, do moderno. Afinal, nem sempre o “sertão” (ou “deserto”) parece poder ser apenas conquistado, como aparecia habitualmente nas narrativas do século XIX e início do XX, mas muitas vezes é ele quem conquista. Em linguagem sociológica, “sertão” (ou “deserto”) tanto é “agenciado” por atores e instituições sociais quanto às vezes é ele quem os agencia.
A atualidade de Um sertão chamado Brasil não se esgota, porém, na recepção que vem tendo ou nos desdobramentos analíticos e de pesquisa que favorece, mas, ainda, naquilo que, ao mesmo tempo, realiza tão bem e permanece como um desafio aos pesquisadores da sociedade brasileira: uma abordagem atenta à historicidade própria da nossa sociedade que não descura dos seus dilemas mais gerais e dos seus sentidos heurísticos para a sociologia histórica. O livro recoloca em questão, de modo heurístico a meu ver, o problema da historicidade da vida social em uma análise fina que busca esclarecer as conexões de sentido engendradas no processo histórico-social entre categorias e relações sociais nas interpretações do Brasil. Mas porque não reifica a visão mais historicista de que as ideias se encerrariam em seu contexto próprio, pode mostrar que as interpretações do sertão e do Brasil constituem antes espaço de comunicação reflexiva entre diferentes momentos, linguagens, atores e níveis da vida social. Mais ainda, são interpretações sempre reatualizadas do moderno vivenciado, sentido, pensado e politizado a partir do sertão. E visto desde aqui, do sertão, não exatamente como seu antípoda, como bem aquilata a autora, antes propriamente seu avesso, o moderno não comporta mesmo travessias disjuntivas, mas passagens, veredas. Ressoa aqui, quem sabe, as lições de Riobaldo, que lembra que o sertão “é dentro da gente” e também “do tamanho do mundo”.
Referências
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VILLAS BÔAS, Gláucia. A vocação das ciências sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional. 2007. [ Links ]
André Botelho – Professor, Departamento de Sociologia; Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia/Universidade Federal do Rio de Janeiro. andrebotelho@digirotas.com.br
Cecine: transformações no ensino de ciências no Nordeste – SILVA et. al (HCS-M)
SILVA, Ascendino Dias e; SILVA, Beatriz Coelho; LUCENA, Liacir dos Santos (Org.). Cecine: transformações no ensino de ciências no Nordeste. Recife: Editora da UFPE, 2013. 251pp. Resenha de: ZAIDAN, Tiago Eloy. Science centers and elementary education: teacher training and science communication. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 n.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2015.
O físico norte-americano Richard Feynman (1918-1988) já era famoso quando veio ao Brasil, na primeira metade da década de 1950. Chegou a desfilar em uma pequena escola de samba, no carnaval de 1952, conforme faz saber o físico pernambucano José Leite Lopes (1918-2006),
tocando uma frigideira com uma colher. Adorou as festas de carnaval, compareceu ao baile do Teatro Municipal fantasiado de Mefistófeles e neste baile foi buscar a saída de incêndio, uma preocupação que tinha em tais ambientes, quando encontrou a porta fechada à chave – de cujo paradeiro não tinham a menor ideia os auxiliares da portaria (citado em Silva, A., 2013a, p.24).
Em solo brasileiro, Feynman – que viria a ganhar o prêmio Nobel de Física em 1965 – colheu impressões sobre a educação no país, comentadas, mais tarde, no livro autobiográfico O senhor está brincando, Sr. Feynman? Aqui, o cientista relembra um episódio em que, ministrando aula para futuros professores, no mais avançado dos módulos, constatou a metodologia de como se “aprendia” física por estas paragens. “Depois de muita investigação, descobri que os estudantes haviam decorado tudo, mas não sabiam o que queria dizer…” (citado em Silva, A., 2013a, p.22).
O nobelista notou também a deficiência dos livros de física elementar, em que resultados experimentais eram ilustres ausentes. Tais carências poderiam estar por trás do seguinte paradoxo: a despeito do notável quantitativo de estudo em física pelos jovens brasileiros, o país registrava um baixo número de físicos. A ineficiência dos métodos e instrumentos utilizados não gerava resultados.
As palavras do visitante corroborariam as ações pioneiras do professor Isaias Raw, diretor do Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciências (Ibecc), de São Paulo, órgão criado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Ciente das lacunas na literatura de física elementar em circulação no Brasil, Raw, por meio do Ibecc, articulava a tradução e a publicação de livros editados no bojo do projeto Physical Science Study Committee (PSSC) nos EUA.
A falta de estímulo dos estudantes para o aprendizado da física também havia sido um problema nos EUA. No contexto da Guerra Fria, com os avanços significativos da rival União Soviética no campo científico, o governo norte-americano passou a apoiar um projeto desenvolvido por professores de física do Massachusetts Institute of Technology, que redundou na publicação da série de livros do PSSC.
Isaias Raw, que esteve nos EUA em 1957 e conheceu o projeto, tornou-se articulador da publicação dos livros do PSSC no Brasil, ação que se transformou em um dos emblemas do Ibecc. O instituto, dirigido por Raw, acabou por inspirar o Ministério da Educação, ainda durante o governo João Goulart (1961-1964), com a tradução dos livros norte-americanos e a idealização de centros de ensino de ciências no país – rede que ficaria conhecida por Ceci.
O primeiro dos centros nasceu em Recife, no ano de 1963, a partir de um convênio entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Fundação Ford. Surgia assim o Centro de Ensino de Ciências do Nordeste (Cecine). Ao Cecine,1seguiram-se a implantação do Centro de Ensino de Ciências de São Paulo; o Centro de Ensino de Ciências de Minas Gerais; o Centro de Ensino de Ciências da Bahia, o Centro de Ensino de Ciências da Guanabara2 e, por fim, o Centro de Ensino de Ciências do Rio Grande do Sul, todos em 1965.
O advento do Cecine contou com o particular esforço do professor Marcionilo de Barros Lins. Diretor do Instituto de Química da então Universidade do Recife, futura UFPE, Marcionilo foi o primeiro gestor da entidade, cuja repercussão geraria um efeito em cadeia.Com os cursos,
estimulou-se o aparecimento de lideranças em vários estados, que se organizaram para criar outros núcleos de ensino de ciência com objetivos mais restritos. No Rio Grande do Norte, por exemplo, foi criado o Cetene, Centro de Tecnologia do Nordeste, para capacitação de professores das Escolas Técnicas Federais (Silva, A., 2013a, p.49).
Isto, em uma conjuntura na qual “havia uma carência quase absoluta de professores de ciências em Pernambuco, em particular, e no Nordeste, em geral” (Silva, B., 2013, p.58).
Tais centros se diferenciavam, sobretudo, pela metodologia experimental, com uso de equipamentos como laboratórios, propiciando uma nova visão para os docentes do ensino básico. Pari passu à consolidação dos empreendimentos, houve a publicação de materiais didáticos e oferecimento de cursos, aos quais se somaram as traduções de livros norte-americanos. Em muitos desses projetos, houve interação entre os centros.
Exemplo de obra publicada por um professor do Cecine é o opúsculo “Uma vela no laboratório”, de Luiz de Oliveira, em 1967, cujo conteúdo “É um texto que apresenta uma série de experiências simples com uma vela” (Silva, A., 2013a, p.46) – passíveis, portanto, de ser apresentadas por professores secundaristas em suas escolas – além de versar sobre a história e a importância desse apetrecho no passado.
É sobre essa história de pioneirismo e dedicação à pavimentação de uma cultura científica no Brasil que versa a obra Cecine: transformações no ensino de ciências no Nordeste, organizado pelo professor da UFPE Ascendino Flávio Dias e Silva, em coautoria com a jornalista Beatriz Coelho Silva e o professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Liacir dos Santos Lucena. O volume é composto por quatro artigos e um vasto apêndice, em que consta a transcrição de documentos da história da Cecine.
A concepção do livro é consequência de um projeto anterior, encetado pela professora Regina Maria Rabello Borges, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, cuja pesquisa inclui um resgate histórico dos centros de treinamento de professores de ciências. O artigo sobre a Cecine, no seio da pesquisa, fruto da investigação de Beatriz Silva, acabou inspirando a realização de um trabalho maior, que discorresse detalhadamente sobre o centro pernambucano.
A busca de recortes de jornais, fotografias e documentos que dessem conta da história da Cecine exigiu tempo e o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, através de edital do programa Pró-Cultura. O levantamento também não seria viável sem o mosaico possibilitado pela história oral. A colheita de depoimentos de pessoas que fizeram a história da Cecine ficou a cargo, sobretudo, da jornalista Beatriz Silva. Em menor escala, constam citações de depoimentos obtidos por Ascendino Silva e pelo também professor da UFPE Ari Luiz da Cruz, para um documentário em elaboração sobre a trajetória dos Cecis.
Um dos grandes méritos do livro é o de não resvalar para o ufanismo. Pressões vinculadas ao contexto histórico e os jogos de poder que permeiam praticamente qualquer atividade humana afetam, da mesma forma, as ciências e os esforços para popularizá-la. No artigo “Os centros de ensino de ciências em 1965”, Dias e Silva versa, por exemplo, sobre o fato de que as relações dos Cecis com a ditadura militar instaurada a partir de março de 1964 foram contraditórias. Foi sob o jugo da ditadura que os centros de ciências passaram a funcionar efetivamente, inclusive o Cecine, embora os primeiros movimentos de articulação da rede tenham sido engendrados durante o governo de João Goulart. Parte significativa dos professores envolvidos com o projeto não concordava com o regime instituído após a deposição de Jango.
A maior ironia, todavia, ficou reservada ao destino do intelectual Isaias Raw, pioneiro que buscou nos EUA as bases que, adaptadas à realidade local, inspiraram a criação dos centros de ciências e revolucionaram a educação científica no país. Raw acabou exilado (Silva, A., 2013a, p.34) por uma ditadura patrocinada pelo governo norte-americano, o mesmo país que exportou os livros do PSSC.
Com o decorrer dos anos de chumbo, inicia-se uma nova fase dos Cecis, que acontece no período em que o Brasil passa por ciclos que não foram muito bons para a educação nacional. Houve o período do Milagre Econômico (1969-1973) e em seguida a crise mundial do petróleo e o aumento da dívida externa, que fez o país amargar longo período de recessão (Silva, A., 2013b, p.116).
O governo federal, que se fazia presente por meio do Ministério da Educação e da Sudene, afasta-se dos centros de ciência e de seus programas de qualificação de professores. Em Pernambuco, o centro perde espaço e tem sua denominação alterada de “centro” para “coordenadoria”.
Em meados da década de 1980, mergulhada na ressaca dos anos da ditadura, mesmo enfrentado escassez de recursos, a Cecine emplacou, graças ao apoio de professores apo-sentados, as escolinhas de iniciação científica. Oferecidas aos estudantes do ensino básico nos períodos de férias, a iniciativa era mantida pela inscrição dos alunos – o que possibilitava a realização das oficinas, o fornecimento de lanche e a remuneração e despesas de deslocamento dos monitores.
Ainda assim, o legado da Cecine era indubitável: “Quase dois mil professores passaram por seus laboratórios, cursos e estágios de formação ou treinamento, apenas entre 1965 e 1981” (Silva, B., 2013, p.55). Com o passar das décadas, pode-se dizer, a Cecine mudou o seu foco: de formadora de professores de ciência para iniciadora de jovens e adolescentes no mundo da ciência.
Somente na metade da década de 2000, na conjuntura da política de investimentos na rede federal de ensino superior, a Cecine recuperou parte do prestígio. Inserida na Pró-reitoria de Extensão da UFPE, o antigo centro beneficiou-se de editais oficiais, publicados por agências federais e estadual, para obter recursos e tocar projetos como a série de programas televisivos “Falando de ciência e tecnologia” e a série radiofônica “Ondas da ciência”, exibidos nas emissoras do núcleo de rádio e televisão da UFPE e na TV Senado.
Cecine: transformações no ensino de ciências no Nordeste é um memorial à parte da história da ciência e de seu ensino no Brasil, especialmente no Nordeste. As conexões que a obra estabelece entre episódios do ensino de ciências no Brasil e a conjuntura sociopolítica a torna uma leitura para curiosos em geral. É interessante saber, por exemplo, como a viagem pioneira do cosmonauta soviético Yuri Gagarin ao espaço repercutiu no ensino de ciências no Brasil. O sucesso soviético foi o estopim para o desenvolvimento de uma nova metodologia na educação científica norte-americana, que, por sua vez, exportou seus métodos para o Brasil.
Referências
SILVA, Ascendino Flávio Dias e.Os centros de ensino de ciências em 1965. In: Silva, Ascendino Dias e; Silva, Beatriz Coelho; Lucena, Liacir dos Santos (Org.). Cecine: transformações no ensino de ciências no Nordeste. Recife: EdUFPE. p.17-51. 2013a. [ Links ]
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Notas
1 O Cecine, em dado momento, passou de centro a coordenadoria, motivo pelo qual, ao longo deste trabalho, ora é empregado o artigo masculino, ora, o artigo feminino, a depender do contexto temporal em que a sigla está inserida.
2Após a extinção da Guanabara, mudou de nome várias vezes. Atualmente é denominado Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro.
Tiago Eloy Zaidan – Professor, Curso de Comunicação Social/Faculdade Joaquim Nabuco. eloyzaidan@gmail.com
João da Silva Feijó: um homem de ciência no Antigo Regime português – PEREIRA; SANTOS (HCS-M)
PEREIRA, Magnus Roberto de Mello; SANTOS, Rosângela Maria Ferreira dos. João da Silva Feijó: um homem de ciência no Antigo Regime português. Curitiba: Editora da UFPR, 2012 (Coleção Ciência e Império, v.1), Curitiba: 1046pp. Resenha de: MOSCATO, Daniela Casoni. A vida de um homem de ciência no Antigo Regime português. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 n.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2015.
Como podemos, como historiadores, narrar a vida de um indivíduo? O que contaríamos, ou omitiríamos, nos caminhos e descaminhos de uma trajetória humana? Perguntas como essas perseguem os que decidem entrar nessa empreitada historiográfica. Reflexo disso pode ser percebido na contínua produção acadêmica dedicada ao estudo de indivíduos e em “pistas” que cada ensaio, em particular, aponta acerca desse tipo de análise. Essa produção biográfica, democrática e diversificada perpassa por personagens consagrados, como é o caso de Norbert Elias (1995), no estudo Mozart: sociologia de um gênio , e por indivíduos comuns, como o moleiro Domenico Scandella, o Menocchio, indivíduo construído belamente por Carlo Ginzburg (1998). Nessas relações e construções, os autores demonstram particularidades analíticas numa tentativa de apresentar caminhos possíveis, geralmente labirínticos, aos estudos biográficos.
A biografia encontra-se, assim, no centro das preocupações de historiadores, como aponta Giovanni Levi (1998) em seu clássico texto “Usos da biografia”. A própria ideia de biografia tornou-se variada e apresenta, atualmente, alguns gêneros que embasam as análises históricas, tais como “a prosopografia e a biografia modal”, que, com base em dados biográficos, objetivam uma prosopografia, descartando, muitas vezes, o interesse pela biografia particular, que, desse modo, apresenta-se como ilustração do comportamento de um determinado grupo, como é o caso da análise realizada em Intelectuais à brasileira , de Sergio Miceli (2001); a “biografia e o contexto”, em que o contexto – época, meio e ambiência – caracteriza uma “atmosfera que explicaria a singularidade das trajetórias” (Levi, 1998, p.175); a “biografia e a hermenêutica”, gênero mais utilizado pela antropologia interpretativa e pela história oral; e, finalizando, “biografia e casos extremos”, cujo exemplo principal é o já citado trabalho de Carlo Ginzburg. Esse gênero, geralmente, alcança o contexto histórico pelas “margens” do campo social, identificadas nas biografias de personagens singulares. Diante de tais variações biográficas e da leitura aprofundada da obra João da Silva Feijó: um homem de ciência no Antigo Regime português , pode-se afirmar que tal estudo não se define por uma dessas categorias. Ademais, não se atrela, meramente, à trajetória de João da Silva Feijó (1760-1824).
É importante esclarecer que a narrativa do naturalista João da Silva Feijó é o primeiro volume da Coleção Ciência e Império, um empreendimento nada modesto que tem como objetivo principal apresentar determinados personagens luso-brasileiros, bem como toda sua produção textual. Essa tarefa hercúlea é apoiada pelo Centro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses, alocado no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Essa incursão biográfica não se finda em João da Silva Feijó, e o segundo volume, dedicado a Francisco José de Lacerda Almeida, já foi publicado. Em seguida, virão outros nomes, como Luis Antônio de Oliveira Mendes, Elias Alexandre da Silva Correia, Joaquim José Pereira, Antonio Pires da Silva Pontes, Francisco José de Lacerda.
Esse primeiro volume tem 1.062 páginas, organizadas em duas partes. A primeira apresenta a longa trajetória do naturalista luso-brasileiro João da Silva Feijó; a segunda parte é uma compilação de sua produção científica e compreende 188 documentos – correspondências, remessas, memórias, textos científicos etc. – investigados em arquivos portugueses e brasileiros.
Pereira inicia sua narrativa respondendo, diretamente, à seguinte questão: “Quem foi João da Silva Feijó?”. Um dos raros luso-brasileiros que conseguiram viver, regularmente, da ciência, Feijó cursou filosofia pela Universidade de Coimbra, tal qual alguns brasileiros do Setecentos, e exerceu a profissão de naturalista na África, em Portugal e no Brasil, sempre a serviço do Império português.
Todavia, se nas primeiras páginas a resposta do autor se mostra um tanto didática, não se pode concluir que o mesmo constrói uma biografia clássica, que expressaria, com base na redução de escala focada no sujeito, as dimensões estruturais e a dinâmica social. Parte do texto, intitulada “Uma biografia nada exemplar”, é elaborada por meio de análise minuciosa de diferentes representações do naturalista, construídas por outros autores. Portanto, Pereira busca compreender como a figura de João da Silva Feijó se apresentou em outros estudos, entre eles, os da historiografia portuguesa e norte-americana.
Esse caminho metodológico é instigante e permite ao leitor conhecer as várias representações desse sujeito. A primeira delas é um verbete elaborado pelo geógrafo veneziano Adriano Balbi, em 1822, que destaca os manuais organizados por Feijó para o ensino de botânica e zoologia. Nessa exposição, Pereira apresenta fatos distorcidos e dialoga com cada referência identificada, como as de Carl Friedrich Philipp von Martius, de 1837, e as de Miguel Colmeiro, de 1858. O ápice de tal explanação é o momento em que esclarece o leitor sobre como o desconhecimento de partes da documentação, hoje disponíveis, permitiu a elaboração da imagem de um indivíduo pouco exemplar e a identificação de informações básicas distorcidas. Erros acumulados, que se repetiram ao longo do século XIX, talvez expliquem como esse personagem foi, aos poucos, esquecido pela historiografia brasileira.
Com o intuito de aventar tais representações, o autor analisa, minuciosamente, uma rica documentação – memórias científicas, cartas, periódicos, documentação escolar etc. – para esclarecer possíveis erros e amparar outra narrativa da vida desse naturalista. Nessa perspectiva, constrói o indivíduo biografado. Em “Fazendo-se naturalista”, destaca o jovem Feijó e seu período como estudante de filosofia natural, na Universidade de Coimbra; o desenvolvimento de relações com outros luso-brasileiros no Jardim da Ajuda, em Lisboa; e os estreitos laços estabelecidos com dom Rodrigo de Souza Coutinho, o conde de Linhares. Esses elementos são o pano de fundo para a análise de sua formação em história natural e da posição ocupada nessa sociabilidade científica, que era composta por nomes como Domingos Vandelli e Alexandre Rodrigues Ferreira.
Em “Um naturalista num ninho de cobras”, descreve os anos vividos em Cabo Verde, onde Feijó permaneceu entre junho de 1776 e dezembro de 1795. Tal descrição é fundamentada, especialmente, em um relato de viagem composto por um conjunto de cartas destinadas ao então ministro Martinho de Mello e Castro. Em tal documento, intitulado “O itinerário filosófico que contém a relação das ilhas de Cabo Verde disposto pelo método epistolar”, Pereira destaca: a descrição da fauna, da flora e dos costumes locais; os problemas enfrentados por seu biografado – como o da falta de uma equipe de apoio em suas pesquisas; e as funções burocráticas que começou a acumular a partir da década de 1790.
“Un certain Feijào” é dedicada ao retorno a Lisboa. Nessa parte, Pereira ressalta os trabalhos acadêmicos referentes à produção de salitre, o trabalho na Ajuda – onde organizou um herbário com as espécies botânicas enviadas do arquipélago africano – e a aproximação de Feijó com a República das Letras, comprovada pela publicação de alguns de seus estudos. Essa condição de “homem de múltiplos instrumentos” gerou grandes críticas, como as do naturalista alemão Herinrich-Friedrich Link. A esse respeito, Pereira pontua elementos importantes para a compreensão dos discursos de exclusão e exaltação presentes na ciência moderna: “Link buscava afirmar a sua superioridade como intelectual fazendo pouco daqueles colegas que pertenciam a ambientes científicos considerados provincianos ou periféricos” (p.76). Por outro lado, por ser considerado “homem de múltiplos instrumentos”, Feijó retornou ao Brasil como sargento-mor das milícias da capitania do Ceará.
Em terras brasileiras, recebeu a incumbência de checar as notícias sobre os depósitos de salitre natural, questão que ocupava lugar importante na política científica portuguesa para o Nordeste brasileiro, debate analisado no subtítulo “Um naturalista no Ceará”. Por aproximadamente 15 anos, o naturalista permaneceu na capitania e, além da busca ao salitre, recolheu diversos espécimes que foram enviados ao Jardim Botânico, ao Museu da Ajuda e ao Real Jardim Botânico de Berlim. O autor ainda destaca, sempre amparado pela vasta documentação produzida por Feijó e sobre ele, as publicações de textos referentes à sua atuação no Nordeste e o seu uso por viajantes que estiveram no Brasil no século XIX, como Henry Koster, Johann Baptiste von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, e Wilhelm Ludwig von Eschewege.
Em toda a trajetória do naturalista Feijó, o autor esclarece seu envolvimento com as estruturas científicas, políticas e sociais presentes no Império português; e, sempre que possível e necessário, atenta para a atuação dessa elite naturalista, representada por seu eleito, em tais articulações. Para Pereira, Feijó tinha um “ar de modernidade” e circulava por espaços importantes, como o da maçonaria e o das Repúblicas das Letras. As últimas páginas são dedicadas à compreensão de como ocorreu a colaboração de Feijó no processo de Independência do Brasil, movimento ao qual ele aderiu, destacando-se no Manifesto do Povo do Rio de Janeiro, que pedia a permanência do príncipe dom Pedro I no país, e na reorganização da maçonaria em terras brasileiras.
João da Silva Feijó, como bem colocou o autor, foi um homem de seu tempo: participou do movimento português das Luzes, estudou os espécimes naturais de três continentes, vivenciou as construções e as mudanças de paradigmas científicos, acompanhou as rupturas do Império lusitano e, consequentemente, os primeiros embates políticos brasileiros. Contudo, apesar de sua presença em momentos importantes da história portuguesa e brasileira, o naturalista João da Silva Feijó foi esquecido, por um certo tempo, pelos estudos historiográficos. A esse respeito, o livro aqui resenhado não é somente uma tentativa de resgaste de sua vida e obra, mas uma importante ferramente para se “resgatar também um fragmento expressivo da memória científica do Grande Império Lusitano com o qual muitos dos ‘filósofos’ luso-brasileiros haviam sonhado” (p.119).
Referências
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MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. 2001. [ Links ]
Daniela Casoni Moscato – Doutoranda, Departamento de História/Universidade Federal do Paraná. historiar7@gmail.com
Lepra, medicina e políticas de saúde no Brasil (1894-1934) – CABRAL (HCS-M)
CABRAL, Dilma. Lepra, medicina e políticas de saúde no Brasil (1894-1934). 2013. (Coleção História e Saúde), Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2013. 333pp. Resenha de: FARIA, Lina. A hanseníase e sua história no Brasil: a história de um “flagelo nacional”. História Ciência Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 22 n.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2015.
Fruto de uma tese de doutorado em história pela Universidade Federal Fluminense, orientada por André Luiz Vieira de Campos, Lepra, medicina e políticas de saúde no Brasil (1894-1934), de Dilma Cabral, representa uma nova contribuição à historiografia, que já se consolidou no Brasil e é discutida amplamente pela autora, pesquisadora do Arquivo Nacional. O período focalizado, dos primeiros anos da República até os anos da Revolução de 1930, é essencial para se entender a relação entre instituições nacionais e pensamento e ação sanitárias, quando se intensificou a interação com a conjuntura internacional.
Como se sabe, o termo hanseníase é criação recente no Brasil, a metáfora que procura abrandar um estigma, mas o título dado pela historiadora mantém o termo lepra, mais antigo e com tradução direta em vários idiomas, leprosy,lèpre, Lepra. Entre as doenças transmissíveis, a lepra, ou hanseníase – termos que utilizaremos indistintamente –, continua sendo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 8 set. 2010), uma das principais causas de neuropatia periférica e incapacidade funcional no mundo. A doença faz parte da dramaturgia do sofrimento humano desde a Antiguidade, mas sua identidade etiológica remonta ao final do século XIX, quando o médico norueguês Gerhard Henrik Armauer Hansen, ao analisar material de lesões cutâneas, descobriu o Bacillus leprae, causador da doença (Castro Santos, Faria, Menezes, 2008).
Nas últimas décadas do século XIX, surgiu, nos meios científicos, um grande interesse na enfermidade. No Brasil, a história da saúde pública no controle da hanseníase demonstra a preocupação das autoridades sanitárias em extinguir a doença por meio do isolamento e confinamento do doente nos hospitais colônias. “Doença transmissível, incapacitante e mutilante” (Cunha, 2002), a hanseníase foi tratada durante décadas com severas políticas – públicas e privadas – de isolamento compulsório. A segregação constituiu a base da profilaxia e influenciou a maneira como a saúde pública brasileira lidou com a doença e com os doentes, ao atingir as instituições oficiais e filantrópicas. Os processos e contextos de isolamento se estenderam por várias regiões do mundo e, tanto entre nós como na Argentina, “as instituições privadas se assemelharam profundamente nas suas maneiras de atuação complementar às políticas públicas de então” (Leandro, 2013, p.921).
Ao identificar esse crescente interesse pela hanseníase, Dilma Cabral teve como objetivo observar o embate dos diferentes modelos explicativos da doença pela medicina e as incertezas e discordâncias quanto aos melhores meios de ação, entre 1894 e 1934. Esse período foi o cenário, segundo a autora, de dois momentos importantes nos modos de enfrentamento: o primeiro, a criação, em 1894, do Laboratório Bacteriológico do Hospital dos Lázaros; o segundo, a extinção, em 1934, da Inspetoria da Lepra e Doenças Venéreas (note-se que o Serviço Nacional de Lepra foi o arcabouço institucional em substituição à inspetoria, em maio de 1944).
A autora lembra, em sintonia com a literatura internacional, que o debate científico sobre a forma de transmissão e o controle confundia-se com outras questões presentes na agenda política e sanitária da época: eram os discursos e narrativas sobre contágio, eugenia, raça, moralidade, miscigenação, nacionalismo e construção nacional, como destaca o historiador da Casa de Oswaldo Cruz, Flávio Coelho Edler, nas orelhas do livro. Edler, desde logo, lembra que o estabelecimento do Laboratório Bacteriológico do Hospital dos Lázaros, fato crucial nas políticas da lepra, permitia perceber como a investigação nacional se alinhava aos novos referenciais científicos da medicina internacional.
A autora fundamentou sua obra em extensa pesquisa histórica, que incluiu a consulta a periódicos importantes, como o Brasil Médico, e levantamentos em arquivos institucionais, como os Arquivos da Academia Nacional de Medicina, para compreender e analisar o modelo interpretativo da hanseníase, nas décadas finais do século XIX e início do XX.
Num primeiro momento, analisa os discursos médicos brasileiros em torno da etiologia da doença; o surgimento de novas hipóteses e paradigmas sobre o conhecimento científico da hanseníase – os pontos de convergência e de divergência quanto à forma de invasão e disseminação do Bacillus leprae no organismo humano. A seguir, discorre a respeito da construção do consenso médico sobre a natureza bacilar da hanseníase, quando a teoria da hereditariedade cede lugar à teoria do bacilo. A difusão da microbiologia e da bacteriologia, e o avanço das pesquisas das causas da doença, em várias partes do mundo, contribuíram de forma decisiva para a hipótese bacilar na etiologia da hanseníase, ressalta Dilma Cabral. Esse processo deu lugar a um novo campo de debates sobre o conhecimento científico da doença e seus modelos explicativos. A partir de então, a explicação multicausal perde força no meio científico internacional, que passa a aceitar o bacilo de Hansen como causa exclusiva da doença.
O texto expõe, em densa narrativa de mais de trezentas páginas, “uma história brasileira da lepra”. Os contextos, processos e momentos decisivos são discutidos ao longo de capítulos bem construídos, em que se destacam os temas da lepra e o debate médico-científico da época, a discussão do “problema sanitário nacional” e o modo como a administração sanitária do período procurou enfrentá-lo. Os pontos centrais são arrolados: a doença gerou uma preocupação com a saúde pública e se tornou uma área importante da atuação do Estado brasileiro. O movimento sanitarista, no período a que vimos chamando de “primeira reforma sanitária” do início do século XX (Castro Santos, Faria, 2003), identificou nas precárias condições sanitárias do país o principal problema associado à difusão da doença como um “flagelo nacional”; posição que conferiu à doença, segundo a autora, um lugar de destaque entre as endemias nacionais. A obra analisa as estratégias utilizadas pelos leprologistas para conferir legitimidade e reconhecimento aos problemas da doença e os caminhos que os levaram à elaboração de um plano nacional de controle.
Ao começar o século XX, lembra a autora, a hanseníase era endêmica na maioria das regiões brasileiras, porque se alastrava de forma progressiva e incontrolável, em um quadro favorecido pelas precárias condições de vida e agravado pela falta de conhecimentos clínicos e laboratoriais sobre a doença. Em 1903, Oswaldo Cruz assume a Diretoria Geral de Saúde Pública e dedica à hanseníase uma atenção maior, resultando, no ano seguinte, na publicação do Regulamento Sanitário da União, com a exigência de notificação compulsória e isolamento obrigatório em domicílio, colônias agrícolas, sanatórios, hospitais e asilos (Brasil, 8 mar. 1904).
As dezenas de colônias de leprosários, preventórios e dispensários, mobilizadas pela ação da Inspetoria de Lepra e Doenças Venéreas, primeiro órgão federal de perfil campanhista, criado em 1920, dariam às medidas de profilaxia um alcance nacional. A criação da inspetoria foi um momento de “inflexão” no combate à doença no país, como mostra Dilma Cabral em seu livro. Ainda que marcada por limitações institucionais e financeiras, a inspetoria, subordinada ao Departamento Nacional de Saúde Pública, sinalizava uma “inflexão” nas ações de governo, como uma efetiva política pública. Foram tempos que boa parte de nossa literatura insiste em definir como “anteriores” às políticas nacionais de saúde (Mercadante, 2002) – a Primeira República, analisada apenas como o tempo de instauração do seguro social, das decantadas caixas de aposentadoria e pensões, de resto voltadas para a reduzida população trabalhadora urbana. Por vezes, coletâneas que arrolam tais argumentos, historicamente frágeis, abrigam também textos que apontam em sentido oposto, isto é, no sentido exaustivamente apontado pela obra de Dilma Cabral (ver Lima, 2002). Esse será o caminho mais promissor para a historiografia dos sistemas de saúde no Brasil.
Antes de 1920, a doença ainda não havia se convertido em política pública de alcance nacional, à diferença das medidas de profilaxia contra a ancilostomíase, implantadas no país, em grande escala, ainda nos últimos anos do governo de Venceslau Brás. Criado em maio de 1918, o Serviço de Profilaxia Rural dava prioridade àquela endemia, além da doença de Chagas e da malária; até a aprovação do Regulamento Sanitário de 1920 e da criação da Inspetoria de Lepra e Doenças Venéreas, o combate à hanseníase era executado pelos estados (Minas Gerais, São Paulo e Maranhão, com maior incidência de enfermos) e com auxílio de entidades filantrópicas, que adotavam de modo geral o isolamento dos doentes. O estudo de Dilma Cabral mostra os passos seguidos pelo combate à enfermidade, de questão filantrópica a problema de saúde pública, em âmbito nacional, a partir dos anos 1920 (ver também Mendonça, 1923; Souza-Araújo, 1954; Agrícola, 1960). Segundo a autora (p.269), 18 estados brasileiros estavam sendo cobertos pela ação da inspetoria três anos após a criação da inspetoria.
A inspetoria tinha por finalidade “superintender e orientar o serviço … em todo o território nacional” (Brasil, 16 set. 1920), assumindo o isolamento como principal medida profilática para o caso da hanseníase. O art. 136 previa a instalação e o funcionamento de leprosários, hospitais e dispensários em todo o território nacional. As ações da inspetoria previam também uma ampla campanha de propaganda e educação higiênica sobre sinais e sintomas, em colônias, dispensários, preventórios e hospitais especializados.
Deve-se enfatizar que o controle da hanseníase e das doenças venéreas exigia a ação educativa e a adoção, pela população, de medidas preventivas de cuidado com o corpo e com o meio ambiente. As atribuições da nova inspetoria permitiram que várias regiões mais pobres pudessem contar com o apoio federal para a ação preventiva de educação higiênica. As campanhas de esclarecimento à população objetivavam difundir preceitos de higiene e alertar sobre possíveis formas de transmissão. Esses aspectos têm sido discutidos nesse e em outros trabalhos sobre o tema, a exemplo de Faria (2007); Maciel (2007);Castro Santos, Faria, Menezes (2008); e Leandro (2013, 2009).
Nos anos 1930, a centralização administrativa instaura-se sob o governo de Getúlio Vargas. Os ventos de expansão federal da década de 1920 ganham intensidade. Os programas de saúde pública e as medidas concernentes à profilaxia da lepra, por parte da União, impulsionados pelos processos de urbanização e industrialização, inserem-se no panorama geral de centralização técnica e administrativa. A década de 1920 marcara a inclusão da lepra, da tuberculose e das doenças venéreas na órbita das preocupações do Estado. Pela iniciativa de Vargas, em 1930, “a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública dimensiona o grande valor que o problema havia adquirido no cenário político nacional” (p.296).
A obra transpõe o limiar da leprologia, os modelos médicos em discussão, os aspectos clínicos e o conjunto de intervenções e programas de controle, para conduzir o leitor a uma viagem pelas conjunturas histórica, política, social e sanitária do país entre 1894 e 1934. Vêm à tona, então, o discurso político de transformação da saúde em espaço de políticas públicas, as correntes de pensamento sobre a civilização brasileira e o “caráter nacional”, os debates políticos sobre as questões de higiene, o combate às grandes epidemias e endemias que castigavam o país.
Ao estudarmos a história da hanseníase e da busca da erradicação, percebemos a complexidade de aspectos envolvidos, que alcançam os níveis da política, da ciência, da cultura e da sociedade. Cabe destacar, em especial, a questão do estigma, presente nos discursos da época e até nossos dias. Associada ao estigma, a doença significou a exclusão do convívio social em função do isolamento, por vezes durante toda a vida, dos portadores da doença. O isolamento assume, no período estudado, certa naturalização, o que reforça uma percepção de continuidade nas propostas formuladas para o controle da lepra em diferentes momentos. Falar sobre a hanseníase no Brasil nos remete à discussão de “identidades deterioradas” e à contribuição da sociologia de Erving Goffman (1985). O trabalho de Dilma Cabral dá visibilidade a esses seres sofridos e invisíveis, quase sempre banidos dos direitos da convivência e da cidadania.
Referências
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Luiz Antonio de Castro Santos – Professor, IHAC/UFSB. lacs@compuland.com.br
Democratização ou cerceamento? Um estudo sobre a reforma do ensino médio técnico dos anos 1990 – ARRUDA (TES)
ARRUDA, Maria da Conceição Calmon. Democratização ou cerceamento? Um estudo sobre a reforma do ensino médio técnico dos anos 1990. Rio de Janeiro: Interciência, 2013, 170p. Resenha de: RAMOS, Marise. Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.13, n.1, jan./abr. 2015.
O título deste livro anuncia o caminho traçado pela autora para demonstrar que a tese da reforma do ensino médio técnico realizada no Brasil nos anos de 1990 se revelou, na prática, na sua antítese. Tratou-se de uma reforma que teve o autoritarismo como base, apesar de abrigada por um Estado formalmente democrático. Muito ao contrário de ter sido uma estratégia de universalização do ensino médio, a reforma partiu do pressuposto de que aos que vêm dos segmentos populares resta somente uma alternativa: o ingresso no mercado de trabalho o quanto antes, cerceando-lhes, assim, outras perspectivas, como o ensino superior acadêmico e de qualidade, já que a história e a cultura do país tende a legitimar esse direito aos que chamam de ‘elite’.
O livro cumpre o que promete. Apresenta um estudo sobre a referida reforma com bases teóricas e empíricas. Ao mesmo tempo em que o estudo redunda numa produção científica, ele se torna um instrumento político, pois o desvelamento dos fundamentos da reforma é também uma denúncia. Afinal, a autora conclui que tanto a arquitetura da reforma foi pensada de modo a restringir o acesso das camadas médias às escolas técnicas federais, quanto privilegiou o estabelecimento de trajetórias educacionais diferenciadas — leiam-se trajetórias que levam alguns à universidade e muitos outros ao mercado de trabalho — e circunscreveu o ensino técnico a uma formação restrita para o trabalho. Poderíamos considerar que este problema no Brasil teria sido superado com a revogação do decreto n. 2.208/97 pelo de número 5.154/2004 e a introdução de seu conteúdo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Trata-se, entretanto, de uma superação formal, pois a concepção educacional dualista, por ser produto da cultura escravocrata que caracteriza a formação social brasileira, ainda encontra, nos dias atuais, defensores influentes no debate sobre os rumos da nossa educação. Conhecer o conteúdo deste estudo é, portanto, um meio de aprender com a história para que esta não seja reinventada como tragédia ou como farsa.
Outra razão que justifica conhecer a obra e o viés empírico imprimido ao estudo. A autora faz este esforço ao investigar o perfil social e cultural, bem como interesses e expectativas de estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio de três escolas técnicas localizadas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Esses, portanto, já teriam ingressado nas escolas sob a vigência do decreto n. 2208/97. A escolha das escolas, explica a autora, se baseou na representação que a sociedade tem sobre sua qualidade, além de seus estudantes demonstrarem bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Deve-se, ainda, ao fato de serem escolas que selecionam os estudantes mediante um concurso público.
Os resultados e a análise do estudo empírico são apresentados no quarto capítulo, tendo sido orientado por algumas hipóteses. A primeira delas considerou que a reforma não democratizou o acesso das camadas populares ao ensino técnico federal, mas, ao contrário, as distanciou dessas instituições, posto que para cursar os ensinos médio e técnico concomitantemente os estudantes precisavam dispor de dois turnos, o que se contrapõe à necessidade de os jovens das camadas populares trabalharem desde cedo. Ao mesmo tempo, cursar o ensino técnico após o ensino médio significaria prolongar o tempo desses jovens na escola, o que se confronta com a mesma necessidade.
A outra hipótese se contrapôs ao argumento dos defensores da reforma de que as camadas médias da sociedade não se interessam pelo ensino técnico, mas procuram as escolas técnicas como ‘trampolim’ para as universidades. A autora alerta que a existência de escolas técnicas privadas destinadas às camadas médias poderia ser um indicativo do interesse desse estrato social pelo ensino médio técnico. Além disso, ressalta, as políticas neoliberais, longe de terem favorecido essas camadas médias, teriam contribuído para seu empobrecimento, o que torna a formação técnica também uma alternativa que visa à qualificação para o trabalho.
Finalmente, reencontramos no livro a conclusão de que a reforma teria restabelecido a dualidade educacional dissociada de um projeto de democratização do ensino, mas vinculada a uma concepção de educação que vê na formação para o trabalho a trajetória escolar mais adequada aos alunos das camadas populares. Diríamos, porém, que a natureza dessa dualidade se modifica em relação àquela em que o ensino profissional não tinha equivalência ao de formação geral (anterior à lei n. 4.024/61) e à existência dos dois ramos do ensino de 2° Grau — propedêutico e profissionalizante — típica da lei n. 5.692/71 após o parecer do Conselho Federal de Educação n. 76/75.
A leitura dos dados obtidos pela autora e as respectivas análises são um ponto alto da presente obra. Destacamos, por exemplo, no caso das escolas estudadas, que seus estudantes pro-veem, em sua maioria, das camadas médias e não das elites, fazendo cair por terra a ideologia da ‘elitização do ensino técnico’ propalada pelos defensores da reforma. Bem colocada pela autora é, ainda, a crítica à associação das camadas médias com as elites. Segundo ela, trata-se de uma retórica utilizada para justificar o restabelecimento da dualidade e apresentar a reforma como supostamente justa.
Esses estudantes optaram por realizar o curso técnico concomitantemente ao ensino médio e justificam tal escolha pela intenção de prosseguirem os estudos em nível superior e também de trabalharem, considerada esta possibilidade seja simultaneamente à formação superior, seja como alternativa temporária a este. A autora conclui que o ingresso no ensino superior é uma trajetória frequente entre os concluintes das escolas técnicas, imediatamente ou após algum tempo de exercício profissional como técnico de nível médio. Assim, diz ela, ironicamente, que o pecado das escolas técnicas federais teria sido a associação, bem sucedida, entre formação geral e formação para o trabalho, que permite a seus estudantes autonomia na articulação dos conhecimentos recebidos e, consequentemente, autonomia para irem além, caso desejem. Não estaria aqui a tese de Dermeval Saviani (1997) de que essas escolas, por conterem os elementos de uma educação politécnica, contêm também os germens de sua construção?
Neste livro, então, encontramos, pelo estudo empírico, as justificativas para considerarmos que a possível integração entre os ensinos médio e técnico não se confunde com a educação politécnica e omnilateral, mas pode ser uma travessia em direção a ela. Trata-se de uma necessidade conjuntural — social e histórica — para que a educação tecnológica se efetive para os filhos dos trabalhadores (Frigotto, Ciavatta e Ramos, 2005). É preciso ver que uma conquista legal nesse sentido está, antes, no texto da LDB quando, no parágrafo 2° do artigo 36, prevê que o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. Vemos que aqui se apregoa tanto um direito — cursar o ensino técnico com o ensino médio — como uma condição, qual seja, o asseguramento da formação básica. Isto é, a formação técnica não pode substituir nem sacrificar a formação geral e, portanto, em nenhuma hipótese, concorrer com ela. Antes, precisam, necessariamente, convergir para os princípios do direito social e subjetivo.
O caráter dual da educação brasileira, como bem demonstra a autora com quem dialogamos, e a correspondente desvalorização da cultura do trabalho pelas elites, ainda orientadas pela cultura escravocrata presente na formação social brasileira, que Maria da Conceição Calmon Arruda também resgata, torna a escola refra-tária a essa cultura e suas práticas. Assim, a não ser por uma efetiva reforma moral e intelectual da sociedade, preceitos ideológicos não são suficientes para promover o ingresso da cultura do trabalho nas escolas, nem como contexto e, menos ainda, como princípio. Desta forma, uma política consistente de profissionalização no ensino médio, dadas as outras razões e condicionada à concepção de integração entre trabalho, ciência e cultura, pode ser a travessia para a organização da educação brasileira com base no projeto de escola unitária, tendo o trabalho como princípio educativo. A contribuição da análise presente nesta obra é inestimável para a compreensão do problema e para a construção de estratégias que o enfrentem na difícil e contraditória relação entre Estado e sociedade civil que a política pública implica.
O livro é produto da tese de doutorado da autora, concluída no Programa de Pós-Graduação em Educação do Departamento de Educação do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 2008, orientada por Leandro Konder, que nos deixou em 12 de novembro de 2014. Seu legado, porém, se imortalizou em suas obras, nas ideias e nas pessoas que ajudou a formar. Apresentar este livro neste momento torna-se, coincidentemente, uma homenagem a este grande filósofo e educador.
Referências
SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação. LDB, limite, trajetória e perspectivas. 8. ed. São Paulo: Autores Associados, 1997. [ Links ]
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005. [ Links ]
Marise Ramos – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: mramos@fiocruz.br
[MLPDB]História Unisinos. São Leopoldo, v.19, n.2, maio/ago. 2015 / v.24, n.3, set./dez., 2020.
História Unisinos. São Leopoldo, v. 24 n. 3 (2020): SETEMBRO/DEZEMBRO
Publicado: 2020-09-28
- De mujeres y niños. Apuntes para repensar lo femenino y lo infantil a partir de un diálogo entre historiadores
- Carlos Daniel Paz, Karina Melo | PDF (Español (España))
Dossiê
- Olhares sobre crianças e infâncias na Arqueologia: uma breve aproximação
- Adriana Fraga da Silva | PDF
- Objetos em trânsito – Amélia Cavalcanti e o colecionismo do século XIX
- Rita de Cassia Melo Santos | PDF
- Mujeres guaraníes en las misiones jesuíticas: categorías en tensión, reordenamiento social y resistencias
- Mercedes Avellaneda, Lía Quarleri | PDF (Español (España))
- Charrúas, guenoa minuanos y rapto
- Diego Bracco | PDF (Español (España))
- Kruk, Kuruk, Kuruca: genocídio e tráfico de crianças no Brasil imperial
- Vânia Maria Losada Moreira | PDF
- Corporalidades racializadas desde el discurso visual de la otredad: memorias no escritas de las subalternas en la obra plástica de Víctor P. de Landaluze
- Olga María Rodríguez Bolufé, Greyser Coto Sardina | PDF (Español (España))
Artigos
- Abrir janelas nas almas dos homens: notas historiográficas nos 500 anos da Reforma Protestante
- Silvia Liebel | PDF
- A Companhia de Jesus e o Seminário de Santa Fé em Goa (1541-1548)
- Felipe Augusto Fernandes Borges, Sezinando Luiz Menezes, Célio Juvenal Costa | PDF
- “Despues q los padres vivieron aqui no se nos ha aparezido mas el demonio”: a demonização dos costumes e das lideranças indígenas nos discursos jesuíticos (Províncias Jesuíticas do Paraguai e do Uruguai, século XVII)
- Paulo Rogério Melo de Oliveira | PDF
- Apropriações, impropriedades editoriais e produções cartográficas relativas à representação do Rio de la Plata em atlas neerlandeses do século XVII
- Protásio Paulo Langer | PDF
- O episcopado e as festas na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII: o veto aos batuques
- Beatriz Catão Cruz Santos | PDF
- O Desembargo do Paço e a viúva “imbecil” e “decrépita” no caminho da Lei Testamentária de 25 de junho de 1766
- Cláudia Rodrigues | PDF
- “Não tinha medo dos gringos”: violência e crime nas regiões de colonização italiana do Sul do Brasil
- Maíra Ines Vendrame | PDF
- Notas de Pesquisa
- Utopia: categoria da análise social?
- André Caruso | PDF
- Resenhas Críticas
- Entre moradias e lutas: história, memória e política na formação de um “bairro-cidade” em Teresina-PI
- Pedro Pio Fontineles Filho |
História Unisinos. São Leopoldo, v. 24 n. 2 (2020): MAIO/AGOSTO
Publicado: 2020-05-11
- Os investimentos estrangeiros em serviços públicos: América Latina e Espanha (século XIX e XX)
- Fabiano Quadros Rückert, Guillermo Daniel Banzato | PDF
Dossiê
- Inversión exterior y transferencias de conocimiento: el caso de las primeras locomotoras de vapor de los ferrocarriles españoles (1848-1855)
- Pedro Pablo Ortúñez, Miguel Muñoz Rubio | PDF (Español (España))
- Capital estrangeiro e estatização no sistema ferroviário sul-rio-grandense na República Velha (1890-1928)
- Gunter Axt | PDF
- Entre la modernización y el conflicto: el rol empresarial, la gestión municipal y la demanda de un servicio estatal de abastecimiento de agua potable para Iquique (1830-1924)
- Luis Castro Castro, Inmaculada Simon Ruiz | PDF (Español (España))
- Inversión extranjera y abastecimiento de agua: Algeciras, 1895-1952
- Alberte Martínez López | PDF (Español (España))
- Los servicios públicos y la inversión extranjera en España (1850-1936): las empresas de agua y gas
- Mariano Castro-Valdivia, Juan Manuel Matés-Barco | PDF (Español (España))
- Energia elétrica e diplomacia: relações Brasil-EUA no setor elétrico brasileiro, 1945-54
- Alexandre Macchione Saes | PDF
Artigos
- La familia empresaria Cousiño y la industria del carbón en Chile: 1852-1952
- Ricardo Nazer | PDF (Español (España))
- Processo e estrutura: o fim da escravidão e a persistência dos castigos físicos (Rio Grande do Sul, final do século XIX)
- Marcelo Santos Matheus, Paulo Roberto Staudt Moreira | PDF
- Aspectos geopolíticos sobre o fim da hegemonia portuguesa na Ásia: a descolonização de Goa
- Maria do Carmo Rebouças da Cruz Ferreira dos Santos | PDF
- Estado autoritário, sociedade civil e aspectos sobre a emergência de Movimentos Indígenas
- Poliene Soares dos Santos Bicalho | PDF
- Consolidando a agenda neoliberal no Brasil dos anos 1990: a construção do “consenso” que veio de Washington
- Monica Piccolo Almeida Chaves | PDF
- Os despejos de Cachoeirinha e a luta por terra no período da ditadura militar
- Fernanda Nalon Sanglard, Marina Mesquita Camisasca | PDF
- Resenhas Críticas
- “Resistencialismo” e resistência: as tensões entre história e memória
- Higor Codarin | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 24 n. 1 (2020): janeiro/abril
Publicado: 2020-01-31
Artigos
- O codex e os volumina na arte paleocristã
- Cláudio Monteiro Duarte | PDF
- Entre o trono e o cálice: intoxicação frequente de reis macedônios como topos literário na historiografia helenística e nas fontes sobre Alexandre Magno
- Henrique Modanez de Sant Anna | PDF
- Fábrica de Intelectuais. O ensino de Artes nos Colégios jesuíticos do Brasil, 1572-1759
- Bruno Martins Boto Leite | PDF
- Las “Flores de España, Excelencias de Portugal” de António de Sousa de Macedo: una reinterpretación de la obra
- Matthias Gloël | PDF (Español (España))
- O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro como preparador da História (1850-1889)
- Isadora Tavares Maleval | PDF
- Um passado republicano para chamar de seu: a reescrita da história nacional pela geração 1870 da Faculdade de Direito de São Paulo (1870-1880)
- Juliano Francesco Antoniolli | PDF
- A paroquialização como fenômeno geopolítico e estratégia biopolítica no processo de formação da República no Brasil
- Rogério Luiz De Souza | PDF
- “Nuestra vida es tan sobria como la de un espartano”: La cotidianidad de los soldados chilenos en el desierto de Atacama en la Guerra del Pacífico. (Noviembre 1879 – Abril 1880)
- Patricio Orlando Ibarra | PDF (Español (España))
- O apoio ao golpe do Estado Novo nas páginas de O Jornal Batista: contra o comunismo, em favor da pátria e de Deus
- Leandro Seawright | PDF
- Os trabalhadores das fábricas de chocolates e caramelos em 3×4: história do trabalho e fotografia a partir da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul, 1933-1943
- Aristeu Elisandro Machado Lopes | PDF
- Os anabatistas além do reducionismo historiográfico
- João Oliveira Ramos Neto | PDF
- “Se o castigo não é moderado, ha excesso que a lei pune”: uso de processos-crime em sala de aula
- Roberto Radünz | PDF
Entrevista
- Corpo, acontecimento e diferença: Deleuze e Guattari e a historiografia, uma entrevista com Durval Muniz de Albuquerque Júnior
- Gabriel José Pochapski, Fábio Leonardo Castelo Branco Brito | PDF
- Resenhas Críticas
- O caleidoscópio telúrico de Guilherme Mansur: tipógrafo-editor-poeta e artista gráfico
- Hugo Quinta | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 23 n. 3 (2019): Setembro/Dezembro
Publicado: 2019-10-21
- A história do Paraguai no contexto latino-americano: velhos e novos temas, enfoques e fontes de pesquisa
- Marcela Cristina Quinteros, Ana Paula Squinelo | PDF
Dossiê
- A guerra como instrumento da política imperial brasileira na Bacia do Prata (1852-1858)
- Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva | PDF
- A Guerra da Tríplice Aliança como conhecimento escolar no Paraguai: Narrativas históricas centradas em personagens (1897-2009)
- André Mendes Salles | PDF
- O Panteón Nacional de los Heroes e a construção do mito de Solano López
- Ana Beatriz Ramos de Souza, Hevelly Ferreira Acruche | PDF
- Entre viagens e narrativas de “desnacionalização”: a fronteira brasileira com a Argentina e o Paraguai nas décadas de 1920 a 1940
- Jiani Fernando Langaro | PDF
- Fontes literárias, o “Nunca Más” e a escrita da História ditatorial Paraguaia de Alfredo Stroessner (1954-1989)
- Lorena Zomer | PDF
Artigos
- Espaço-tempo e agentes nas cosmologias e histórias ameríndias dos Andes Centrais
- Eduardo Natalino Santos | PDF
- Título: Tierra y convento. La dinámica económica de las órdenes religiosas en el espacio rural cubano: siglos XVIII y XIX
- Alejandro Torres Gómez de Cádiz Hernández, Adrian Ludet Arévalo Salazar | PDF (Español (España))
- Raça e Gênero na revista “Em Guarda Contra o Perigo das Américas”. Os Estados Unidos que os brasileiros devem ver
- Teresa Cristina Novaes Marques | PDF
- La acción plural de los peronistas. Una mirada a partir de los informes secretos de la División de Asuntos Especiales en las provincias argentinas
- Mariana Garzón Rogé | PDF (Español (España))
- “La libertad se conquista luchando”. El movimiento sindical chileno contra el régimen de Pinochet
- Rodrigo Eduardo Araya | PDF (Español (España))
- “Sal, levadura, antorcha”: debates en torno a la relación política y catolicismo en Chile a fines de la década de 1960
- Marcos Fernández Labbé | PDF (Español (España))
- Agências de fotografia e a fotografia documental no RS: um estudo de caso sobre o foto-livro “Santa Soja” (1979)
- Charles Monteiro, Carolina Martins Etcheverry | PDF
- Notas de Pesquisa
- Um estudo sobre as boticas e os remédios dos jesuítas no Império Português (séculos XVII – XVIII)
- Ana Carolina de Carvalho Viotti | PDF
- Resenhas Críticas
- African Political Thought
- Silvia Oliveira | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 23 n. 2 (2019): Maio/Agosto
Publicado: 2019-07-09
- Fragmentos de un mundo en tránsito entre América y Europa. Experimentos desde Chile
- Rafael Gaune, Antonella Romano | PDF (Español (España))
Dossiê
- Imágenes y emociones en circulación: El Hospital San Juan de Dios, siglo XVIII, Santiago de Chile
- Macarena Cordero-Fernández | PDF (Español (España))
- Minerales y coleccio?n en el reino de Chile. El Gabinete de la Real Academia de San Luis, 1790-1810.
- Daniela Serra | PDF (Español (España))
- Temor y fascinación. El veneno en la imaginación urbana. Chile, 1880-1920
- Maria Jose Correa | PDF (Español (España))
- Espejos y espectrógrafos entre Chile y California. Reflejos de la circulación astronómica a comienzos del siglo XX
- Barbara Kirsi Silva | PDF (Español (España))
- Jaime Eyzaguirre y la circulación del hispanismo reaccionario en Chile en el siglo XX
- Rafael Sagredo Baeza | PDF (Español (España))
- Objetos poderosos en San Pedro estación (II Región Antofagasta, Chile)
- Maria Carolina Odone Correa | PDF (Español (España))
Artigos
- A autoridade entre os antigos
- Luiz César De Sá | PDF
- Reformas administrativas como fuente de conflicto: estrategias de despresidencialización de la administración pública en Chile, 1886-1889
- Diego Barría Traverso | PDF (Español (España))
- Usos e abusos no mundo do trabalho: a desclassificação social dos trabalhadores no século XIX
- Darlan de Oliveira Reis Junior | PDF
- A teoria do dessecamento e suas consequências em São Paulo por José Nunes Belfort de Mattos e Hermann von Ihering.
- Amilson Barbosa Henriques | PDF
- “O cozinheiro Popular”, a Livraria Quaresma e a divulgação da culinária brasileira no início do século XX
- Sônia Maria de Magalhães | PDF
- Las redes sociales de los comerciantes de Boyacá (Colombia): una mirada desde los registros notariales (1900-1920).
- Clara Ines Carreno Tarazona | PDF (Español (España))
- Elites, ciudadanía y estructura socioeconómica en una villa del norte minero de Chile: Combarbalá en la primera mitad del siglo XIX
- Juan Pedro Caceres, Francisco Betancourt | PDF (Español (España))
- Notas de Pesquisa
- O perigo dorme ao lado: estudos de caso de crimes passionais de internas do Manicômio Judiciário de Barbacena.
- Pedro Henrique Ferreira Danese Oliveira | PDF
- Resenhas Críticas
- A vitalidade da história em um tempo em ebulição
- Claudia Cristina da Silva Fontineles | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 23 n. 1 (2019): Janeiro/Abril
Publicado: 2019-04-16
Artigos
- Vetranião salvator rei publicae
- Moisés Antiqueira | PDF
- A língua grega como elemento da ordem romana e de integração com povos de fora da administração imperial na obra de Flávio Filóstrato
- Semíramis Corsi Silva | PDF
- Naturalização do trato político e conservação das conquistas: o mito do Preste João e a linguagem política no Renascimento Português
- Rubens Leonardo Panegassi | PDF
- O ordenamento da vida espiritual (Portugal – século XV)
- Leandro Alves Teodoro | PDF
- “No es esta tierra para tibios”: la implicación de los jesuitas de Manila en la conquista y evangelización de Mindanao y Joló (siglo XVII)”
- Alexandre Coello de la Rosa | PDF (Español (España))
- As comemorações do Centenário de Passo Fundo/RS e a campanha para remoção da “zona do meretrício” nas páginas da imprensa
- Eduardo Roberto Jordão Knack | PDF
- “Papagaio que está trocando as penas não fala”: Autoritarismo e disputas políticas no Amazonas no contexto do Golpe de 1964
- César Augusto Bubolz Queirós | PDF
- O panfleto político na Nova Canção Chilena durante a Unidade Popular: entre o “amor ao processo” e o “terrorismo musical”
- Natália Ayo Schmiedecke | PDF
- A construção do “Brasil Potência”: a propaganda de estímulo a migração para o Norte do Brasil – um estudo a partir do caso de Rondônia (1968 – 1981)
- Gilmara Yoshihara Franco | PDF
- Notas de Pesquisa
- História do Consumo: Caminhos de pesquisa em tempos de crise
- Rosangela Ferreira Leite | PDF
- Acervos e Fontes
- Uma correspondência transfronteiriça na Amazônia colonial: a carta do jesuíta Louis de Villette de Caiena a seu confrade José Lopes em Belém (1733)
- Karl Heinz Arenz, Pablo Ibáñez Bonillo | PDF
- Resenhas Críticas
- Uma princesa entre dois mundos: Carlota Joaquina e o projeto de regência na América.
- Hevelly Ferreira Acruche | PDF
- Uma História da(s) fronteira(s): possibilidades de análise sobre uma região limítrofe
- Ânderson Marcelo Schmitt | PDF
Entrevista
- Entre medievalismo y la teoría de la Historia. Entrevista al historiador Jaume Aurell
- Daniel Ovalle Pastén, Jaume Aurell | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 22 n. 4 (2018): Novembro/Dezembro
Publicado: 2019-02-19
- Apresentação
- Ana Cardoso de Matos, Ana Paula Korndörfer, Flávio Madureira Heinz | PDF
Dossiê
- Francisco Antônio de Sampaio: de cirurgião a homem de ciências (Vila de Cachoeira, Bahia, c. 1780)
- Lorelai Kury, André Nogueira | PDF
- Tentativas de organização do ensino técnico para o comércio e as funções públicas no Instituto Comercial do Rio de Janeiro (1856-1880)
- Gladys Sabina Ribeiro, Paulo Cruz Terra | PDF
- Pureza e desinteresse como distinção: as matemáticas entre engenheiros politécnicos na virada do século XIX para o XX
- Rogério Monteiro | PDF
- Nos trilhos do capital: “engenheiros industriais” e ferrovias em São Paulo no início do século XX
- Henry Marcelo Martins da Silva | PDF
- O serviço público de saúde no município de Araraquara. Do Posto Sanitário ao Health Training Center: análise de uma trajetória
- Cristina de Campos, Maria Gabriela Silva Martins da Cunha Marinho, Soraya Lódola | PDF
- Nordestinas e normalistas: um estudo sobre as características socioculturais das alunas de uma escola católica de enfermagem no Brasil (1940-1960)
- Luiz Otávio Ferreira, Renata Batista Brotto | PDF
- Estado, capitalismo e profissão: metamorfoses da advocacia nas décadas de 1940 a 1960
- Marco Aurélio Vannucchi | PDF
- Tecnificação e gênero no corpo laboral da Legião Brasileira de Assistência: assistência social e modernidade (1945-1964)
- Bruno Sanches Mariante Silva | PDF
- Aparato estadístico, paradigma de la planificación y desarrollismo en Argentina (1955-1970)
- Claudia Daniel | PDF (Español (España))
- La capacitación en salud pública en la Argentina entre 1900-1960
- Carolina Biernat, Karina Ines Ramacciotti, Federico Rayez | PDF (Español (España))
Artigos
- Profissionais das finanças na Antiguidade romana: os faeneratores no final da República e no início do Império
- Deivid Valério Gaia | PDF
- Agentes públicos, agricultura e propriedade da terra nos aldeamentos da Amazônia, décadas de 1840-1850
- Francivaldo Alves Nunes | PDF
- D.F. Rocco, um construtor em Porto Alegre, Brasil: sobre casas urbanas, imigrantes italianos e difusão da arquitetura
- Renato Gilberto Gama Menegotto | PDF
- Entre “tornar-se historiador” e “ser orientadora”: a narrativa epistolar de Carlos Roberto Antunes dos Santos a Cecília Westphalen (1974-1976)
- Daiane Vaiz Machado | PDF
- Resenhas Críticas
- Fronteiras e Relações Internacionais: notas históricas sobre o caso brasileiro
- Marcos Vinícius Isaias Mendes | PDF
- Por uma história dos ideais e práticas da objetividade científica
- Raylane Marques Sousa | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 22 n. 3 (2018): Setembro/Outubro
Publicado: 2018-11-23
Artigos
- Kreuzlieder: encontros entre a Poesia e a História acerca das expedições germânicas às Cruzadas (1188-1228)
- Daniele Gallindo Gonçalves Silva, Vinicius Cesar Dreger de Araujo | PDF
- De selvagens a bons súditos: índios nas representações imagéticas da entrega do Novo Mundo (séculos XVI-XVIII)
- Jorge Victor de Araújo Souza | PDF
- O sequestro da fragata da Companhia de Jesus, Rio de Janeiro, 1759
- Marcia Amantino | PDF
- Materialidades e a construção de uma memória agostiniana entre o Oriente e o Ocidente: a propósito de uma carta de D. Frei Aleixo de Meneses de 1609
- Margareth de Almeida Gonçalves | PDF
- La armonía celestial vista “desde abajo”: economía, sociedad y barroco en Minas Gerais colonial
- Patricia Alejandra Fogelman | PDF (Español (España))
- Inserção, mobilidade e destinos sociais: trajetórias de três imigrantes portugueses nas vilas de Antonina e Paranaguá (Capitania de São Paulo, 1784-1808)
- André Luiz Moscaleski Cavazzani, Sandro Aramis Richter Gomes | PDF
- O censo de 1872 e a utopia estatística do Brasil Imperial
- Alexandre de Paiva Rio Camargo | PDF
- “Diarios chicos” y “diarios grandes”: la crítica visión de la prensa chilena según los periódicos satíricos, 1880-1910
- Tomas Cornejo | PDF (Español (España))
- Antes do American way of life: experiências com o baseball no Rio de Janeiro e São Paulo da transição dos séculos XIX e XX
- Victor Andrade de Melo, Michelle Carreirão Gonçalves | PDF
- Brasileños en Chile durante la dictadura militar: Doble refugio 1973-1975
- Carmen Norambuena, Adriana Palomera, Ana Lopez | PDF (Español (España))
- La naturalización de las diferencias. Representaciones criminales y crónica roja a través del diario Clarín. Chile, 1954-1973
- Marco Antonio Leon | PDF (Español (España))
- Empresários e Estado no Brasil na transição da ditadura para a democracia: o caso dos empreiteiros de obras públicas
- Pedro Henrique Campos | PDF
- Musas em crise: museu e museologia sob o fim da história da arte
- Ricardo Ramos Costa | PDF
- A produção de balanços historiográficos no Brasil: entre o poder político e o poder discursivo (1990-2011)
- Roberto Manoel Andreoni Adolfo | PDF
v. 22 n. 2 (2018): Maio/Agosto
Publicado: 2018-08-23
Dossiê
- La inmigración subsidiada en la Argentina y la crisis económica de 1890
- Alejandro Fernández | PDF (Español (España))
- Primeras iniciativas de regulación global de las migraciones: Estanislao Zeballos y la doctrina argentina del “derecho privado humano” (1873-1923)
- Pilar González Bernaldo de Quirós | PDF (Español (España))
- Los problemas de la migración asistida en España y Argentina a mediados del siglo XX
- Emilio Redondo Carrero | PDF (Español (España))
- Italia y la emigración a América Latina: acuerdos bilaterales y participación en el CIME (1946-1957)
- Eugenia Scarzanella | PDF (Español (España))
- Políticas migratorias en la Argentina: el caso de los “piedsnoirs” (1964-1968). Las razones políticas y económicas
- Enrique Hugo Mases | PDF (Español (España))
- El imaginario andaluz en la migración transatlántica contemporánea: Los fondos del Archivo General de Andalucía sobre el Río de la Plata
- Esmeralda Broullón-Acuña | PDF (Español (España))
- Políticas migratorias y diversidad cultural urbana: la presencia de los colectivos españoles en el Buenos Aires Celebra
- María Asunción Merino Hernando | PDF (Español (España))
- Políticas migratórias e a formação de identidades sociais em Nova Xavantina (MT)
- Natália Araújo de Oliveira | PDF
Artigos
- A soja e os colonos poloneses no sul do Brasil: o caso de Ceslau Biezanko e outros personagens (1930-1934)
- Rhuan Targino Zaleski Trindade | PDF
- Expansão econômica em Cachoeira do Sul (RS), décadas de 1930-1940
- Jeferson Francisco Selbach | PDF
- NSDAP-Ortsgruppe Porto Alegre, comemorações do 1º de Maio (1933-1937), participantes
- Imgart Grützmann | PDF
- Prostitución y trata de blancas: El discurso internacional del victimismo (Chile, 1934)
- Ana Carolina Comandini Galvez | PDF (Español (España))
- Entre o risco e o bordado: trajetória e memórias de mulheres e/imigrantes madeirenses (São Paulo, décadas de 1950-1960)
- Maria Izilda S. de Matos, Nelly de Freitas | PDF
- Resenhas Críticas
- Colônia Juliano Moreira: seus sujeitos e lugares na história da psiquiatria e da loucura
- Abigail Duarte Petrini | PDF
- História, gênero e feminismo: arte e práticas de liberdade no Brasil e na Argentina
- Benedito Inácio Ribeiro Junior | PDF
Entrevista
- Pesquisas com história oral na Itália: uma entrevista com Giovanni Contini
- Luciane Sgarbi S. Grazziotin, Giovanni Contini | PDF (English)
História Unisinos. São Leopoldo, v. 22 n. 1 (2018): Janeiro/Abril
Publicado: 2018-04-24
- Apresentação
- Eliane Cristina Deckmann Fleck | PDF
Artigos
- Estudio artístico de la descripción de la basílica de la Natividad de Belén y el Santo Sepulcro del presbítero Jacinto
- José Alberto Moráis Morán | PDF (Español (España))
- A beata Joana de Gusmão (1688-1780): análise das representações construídas pela historiografia e da atuação no campo religioso
- William de Souza Martins | PDF
- La fotografía de misiones y los indígenas del Alto Río Negro-Vaupés de Colombia y Brasil (1914-1965)
- Gabriel Cabrera Becerra | PDF (Español (España))
- História e ficção: os princípios da representação em Alexandre Herculano e Francisco Adolfo de Varnhagen
- Evandro Santos | PDF
- A visualização da paisagem nacional: apreensões diversas da cor local em José de Alencar e Euclides da Cunha
- Eduardo Wright Cardoso | PDF
- Acusaciones contra jueces legos ante jueces de Letras: uso social del avance de la justicia letrada. Zona centro-sur de Chile, 1824-1875
- Víctor Mauricio Brangier, Alberto Díaz, Germán Morong | PDF (Español (España))
- Entre a aproximação e a quase guerra: a política externa norte-americana no Paraguai (1845-1859)
- Johny Santana de Araújo | PDF
- Aspectos da gestão da menoridade em Florianópolis e São Paulo (1930-1940)
- Fernando Salla, Viviane Borges | PDF
- Ecos de projetos concorrentes de exploração colonial na Assembleia Nacional portuguesa (1961-1974)
- Ana Catarina Pinto | PDF
- Imprensa católica e a questão democrática brasileira: a crise política nas páginas de O São Paulo
- Américo O.G. Freire | PDF
- Acervos e Fontes
- O fenecimento de Edward I: tradução dos fólios 73r-73v do códice BL Harley MS 2253
- Fernando Pereira dos Santos | PDF
- Cartas inéditas de D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho para Sebastião José de Carvalho e Melo (1772-1773)
- Carlos F.T. Alves | PDF
- Resenhas Críticas
- Religiões e religiosidades em debate
- Maria Alda Barbosa Cabreira | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 21 n. 3 (2017): Setembro/Dezembro
Publicado: 2017-12-30
- Estudos Históricos Latino- Americanos: uma avaliação dos últimos 30 anos (1987-2017)
- Barbara Weinstein, Cláudio Pereira Elmir, Maria Cristina Bohn Martins, Maria Lígia Coelho Prado | PDF
Dossiê: Estudos Históricos Latino-Americanos: uma avaliação dos últimos 30 anos (1987-2017)
- Comércio e conquista na História das duas Índias do abade Raynal
- Tiago Silva | PDF
- Para uma nova epistéme do luso-tropicalismo: análise comparativa da luxúria clerical no Atlântico Português (1640-1750)
- Jaime Ricardo Gouveia | PDF
- História, historiografia e historiadores mapuche: colonialismo e anticolonialismo em Wallmapu
- Sebastião Vargas | PDF
- Caminhos historiográficos na construção da História Indígena
- Maria Cristina dos Santos | PDF
- “Levantamiento bajo Cárdenas”: novas abordagens em torno do conflito antijesuítico no cabildo de Assunção em 1649
- Fernando Victor Aguiar Ribeiro | PDF
- Guerra do Paraguai e a unificação argentina: uma reavaliação
- Vitor Izecksohn | PDF
- Develando las dictaduras del Cono Sur: reflexiones en torno a sus abordajes
- Hernán Ramiro Ramírez | PDF (Español (España))
Artigos
- “Una verdadera selva de idiomas”: jesuítas, política linguística e tradução cultural nas missões da Amazônia espanhola (séc. XVII e XVIII)
- Francismar Alex Lopes de Carvalho | PDF
- Tensiones, vínculos y rupturas. Ranqueles y refugiados unitarios en la Frontera Sur de Córdoba (1836-1851)
- Marcela Tamagnini | PDF (Español (España))
- “Las balas del Niño Dios”: La batalla de Tarapacá y la formación de la nación en el extremo sur del Perú (1822-1842)
- Luis Castro Castro | PDF (Español (España))
- Invenções de nação e reinvenções de si: o Chile por Roberto Montandón (1942-1952)
- Janice Gonçalves | PDF
- Resenhas Críticas
- Creencias y prácticas en torno a la salud y a la enfermedad en las reducciones jesuitas del Paraguay durante los siglos XVII y XVIII
- Mercedes Avellaneda | PDF (Español (España))
- Historia, memoria, patrimonio y celebraciones: nuevos problemas y tendencias en los estudios de historiografía argentina
- Horacio Miguel Hernán Zapata | PDF (Español (España))
Entrevista
- Entre esquadros e poliedros: a oficina historiográfica de Ismênia de Lima Martins, uma historiadora a frente de seu tempo
- Fagno da Silva Soares | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 21 n. 2 (2017): Maio/Agosto
Publicado: 2017-10-19
- Ensino de História e profissionalização do professor/historiador no Brasil
- Mauro Dillmann, Francisco de Assis de Sousa Nascimento | PDF
Dossiê
- Uma escola sem sentido: por que a profissão de historiador não é regulamentada?
- Durval Muniz de Albuquerque Júnior | PDF
- O professor universitário de história é um professor? Reflexões sobre a docência de teoria e metodologia da história e historiografia no ensino superior
- Mara Cristina de Matos Rodrigues, Benito Bisso Schmidt | PDF
- Manuais de Iniciação aos Estudos Históricos e a questão da utilidade do conhecimento
- João Ernani Furtado Filho | PDF
- Narrativas e cultura histórica na formação docente: o que dizem os estudantes de História?
- Fernando Perli | PDF
- Transformações na oficina da história: o PIBID e a “variação de enredo” na formação de professores
- Claudia Cristina da Silva Fontineles, Marcelo de Sousa Neto | PDF
Artigos
- Como reconstruir o passado? Ernst Kantorowicz e a escrita da história como literatura nacional
- Walkiria Oliveira Silva | PDF
- La imagen del mundo en la Margarita philosophica de Gregor Reisch
- Virginia Iommi Echeverría | PDF (Español (España))
- El drama de una fundadora. Exclusión y omisión de una líder del movimiento pentecostal chileno (1909-1910): Elena Laidlaw
- Miguel Ángel Mansilla, Luis Orellana, Carlos Piñones, Wilson Muñoz | PDF (Español (España))
- El neoliberalismo contenido: aproximación al desempleo y las reformas económico sociales en Alemania Federal (las décadas de 1970 y 1980)
- Claudio Llanos | PDF (Español (España))
- A linguagem política oitocentista: cartas, panfletos, versos e boatos no norte da América Portuguesa
- Flavio José Gomes Cabral | PDF
- Trajetórias cruzadas: a experiência dos emigrantes italianos no Sul do Brasil
- Vania Beatriz Merlotti Heredia | PDF
- Resenhas Críticas
- Entre a fé, a política e a educação: Padre Marcos e traços da história do Piauí, na primeira metade do século XIX
- Pedro Pio Fontineles Filho |
História Unisinos. São Leopoldo, v. 21 n. 1 (2017): Janeiro/Abril
Publicado: 2017-06-02
Artigos
- Antiguidade é posto: a Aldeia de Imbuí, conflitos e memórias (séculos XIX e XXI)
- Márcia Maria Menendes Motta | PDF
- El factor ambiental en los debates ideológicos en torno al desarrollo de América Latina
- Fernando Estenssoro | PDF (Español (España))
- “A década da destruição” da Amazônia: José Lutzenberger e a contrarreforma agrária em Rondônia (Anos 1980)
- Elenita Malta Pereira | PDF
- Amazônia, território em movimento: vidas precárias
- Regina Beatriz Guimarães Neto | PDF
- Irradiación, destino y profecía: la representación de Bahía Blanca como centro cultural de la Patagonia Argentina (1940–1970)
- Juliana López Pascual | PDF (Español (España))
- Inocêncio III (1216–2016): oitocentos anos na história e reflexões sobre a Cruzada Albigense
- Magda Rita Ribeiro de Almeida Duarte | PDF
- Según la mente de su Santidad: intersticios romanos y memorias soberanas en las Bulas de la Santa Cruzada (Chile, siglo XVIII)
- Rafael Gaune Corradi | PDF (Español (España))
- Um belo “traje de domingo” – o conceito de Renascimento na obra de Johan Huizinga
- Naiara Damas | PDF
- Escravidão e comunicação no mundo atlântico: em torno da “língua de Angola”, século XVII
- Ivana Stolze Lima | PDF
- Asistentes sociales en el SNS. Burocracia, Estado y políticas sociales en Chile, 1952–1973
- Maricela Gonzalez, Jorge Farah | PDF (Español (España))
- La configuración de un mercado laboral deportivo en la profesionalización del fútbol. Córdoba (Argentina), 1930-1940
- Franco Damián Reyna | PDF (Español (España))
- Acervos e Fontes
- As Cartas de Plínio, o Jovem: tradução parcial do Livro X – correspondência administrativa com o Imperador Trajano
- Andrea L. D. O. C. Rossi, Cláudia P. Binato | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 20 n. 3 (2016): Setembro/Dezembro
Publicado: 2017-02-14
- Revista História Unisinos: balanço do quadriênio 2013-2016, desafios e perspectivas
- Ana Paula Korndörfer, Cláudio Pereira Elmir | PDF
- A micro-história e suas contribuições teóricas e metodológicas para (re)pensar os processos migratórios
- Maíra Ines Vendrame, Mariela Ceva | PDF
Dossiê
- ¿Existió la microhistoria?
- Dedier Norberto Marquiegui | PDF (Español (España))
- Mover-se ao sul do Brasil: mobilidade e fluxos migratórios através da trajetória de João da Silva Tavares (c.1800-c.1860)
- Leandro Rosa de Oliveira | PDF
- Imigração alemã ao Brasil (século XIX) e Prússia: fronteiras permeáveis e diálogos entre história global e micro-história
- Eduardo Relly | PDF
- Excepcionais normais? A(s) trajetória(s) de três pastores no Sul do Brasil (1824-1893)
- Marcos Antônio Witt | PDF
- A Grande Guerra do ítalo-gaúcho Olyntho Sanmartin
- Antonio de Ruggiero | PDF
- Histórias de vida e memórias familiares: entrevistas com netos de refugiados da II Guerra Mundial no Brasil
- Marcos Nestor Stein, Méri Frotscher | PDF
- Zilda e o avião: repensando migrações rural-urbanas no Rio Grande do Sul (1943-1963)
- Álvaro Antonio Klafke, Rodrigo de Azevedo Weimer | PDF
Artigos
- História, ciência e política no alvorecer da Modernidade: algumas reflexões sobre Maquiavel
- Vitor Claret Batalhone Jr | PDF
- Repúblicas da instabilidade: o domínio sobre os indígenas e africanos e a soberania régia nas Américas (1542-1549)
- Rodrigo Bonciani | PDF
- Las relaciones epistolares de Juan Manuel de Rosas en eldestierro (1852-1877): Amistad, abandono y lamento
- Andrea Reguera | PDF (Español (España))
- Coincidencias y disputas religiosas y políticas en torno al concepto de Educación (Provincia Oriental, Uruguay, 1816-1886)
- Susana Monreal | PDF (Español (España))
- Cómo somos nosotros y cómo nos ven los otros: Una comunidad de origen inmigrante en la provincia de Misiones (Argentina)
- Katarzyna Porada | PDF (Español (España))
Entrevista
- La (re)invención de la historia: El trabajo de Durval Muniz, cuyo oficio es el arte de inventar el pasado
- Fagno da Silva Soares, Cid Morais Silveira | PDF (Español (España))
- Resenhas Críticas
- Os limites da fronteira na posse dos cativos após o fim da escravidão no Uruguai
- Debora Regina Vogt | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 20 n. 2 (2016): Maio/Agosto
Publicado: 2016-09-16
- Apresentação
- Joana A. Fernandes Silva, Giovani José da Silva | PDF
Dossiê: História e etnologia: diálogos interdisciplinares
- A lógica do mito e o lugar do Outro entre os índios do Chaco
- Guilherme Galhegos Felippe | PDF
- Cultura em movimento: Natalie Davis entre a antropologia e a história social
- Julia O’Donnell, Leonardo Affonso de Miranda Pereira | PDF
- Perspectiva histórica, etnicidade e historicidade para a compreensão dos Kinikinau
- Iára Quelho de Castro, Vera Lúcia Ferreira Vargas | PDF
- Sobre indigenismo e autoria indígena no Brasil: novas epistemologias na contemporaneidade
- Cristiane de Assis Portela, Mônica Celeida Rabelo Nogueira | PDF
Artigos
- Sujetos esquivados, memorias evadidas: sesgos antropológicos e historiográficos en torno a los dueños de la tierra durante la reforma agraria chilena
- José Díaz-Diego, Mathias Órdenes Delgado | PDF (Español (España))
- Tomás Guevara e o povo Mapuche
- Mariana Moreno Castilho | PDF
- História, natureza e ética nos escritos de viagem de Ezequiel Martínez Estrada
- Fabio Muruci | PDF
- O Ceará em linha reta: espaço e tempo na produção da moderna nação brasileira
- Ana Isabel Ribeiro Parente Cortez Reis | PDF
- Tina Modotti e Kati Horna, fotógrafas produtoras de duas imagens situadas entre a fotografia obrera e o humanismo
- Erika Zerwes | PDF
- O olhar trágico: regiões, violência e cotidiano
- Hélio Sochodolak | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 20 n. 1 (2016): Janeiro/Abril
Publicado: 2016-05-05
Artigos
- A astronomia e as viagens à Ásia nos séculos XIII e XIV
- Simone Ferreira Gomes de Almeida, Rafael Afonso Gonçalves | PDF
- A conversão ao cristianismo e os embates pela autoridade entre os neófitos no processo inquisitorial contra don Carlos, Chichimecatecuitli de Tetzcoco
- Fernando Torres Londoño | PDF
- Los primeros misioneros jesuitas entre guaraníes y la experiencia de las “aldeias” de Brasil
- Carlos A. Page | PDF (Español (España))
- Viajes, ciudades y exhibiciones: Las modernidades vistas y escritas por Gabriel Carrasco en 1889
- Diego P. Roldán, Paula Vera | PDF
- A modernidade sobre rodinhas: a patinação na Porto Alegre do século XIX (1878-1882)
- Victor Andrade de Melo, Cleber Eduardo Karls | PDF
- Os marcos da fazenda Beija-Flor: as estratégias de afirmação de propriedade em meio à aplicação da Lei de Terras de 1850
- Cristiano Luís Christillino | PDF
- Os usos do escrito no universo familiar: a prática da escrita no Brasil da segunda metade do século XIX
- Carina Martiny | PDF
- Instantáneas de participación ciudadana en la esfera local durante el primer peronismo
- Alejandra Laura Salomón | PDF (Español (España))
- Acumulação de capital e trabalho na agroindústria no Oeste do Paraná de 1960 a 2010
- Antonio de Pádua Bosi | PDF
- Resenhas Críticas
- A Grande Guerra cem anos depois: relações internacionais em perspectiva histórica
- Carlos Federico Domínguez Avila | PDF
Entrevista
- Refletindo sobre a profissão de historiador: entrevista com a Profa. Dra. Marieta de Moraes Ferreira
- Mauro Dillmann, Francisco de Assis de Sousa Nascimento | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 19 n. 3 (2015): Setembro/Dezembro
Publicado: 2016-02-19
- Apresentação
- Victor Melo, Petrônio Domingues, Flávio Gomes | PDF
Dossiê: Futebol, Raça e Nação no Brasil
- Futebol, nação e representações: a importância do estilo “Futebol-arte” na construção da identidade nacional
- Filipe Fernandes Ribeiro Mostaro, Ronaldo George Helal, Fausto Amaro | PDF
- “Diz-me como jogas e te direis quem és…”: estilos de jogar futebol em Pasolini, Freyre e DaMatta
- André Mendes Capraro | PDF
- Entre o ethos aristocrático e o associativismo: futebol amador e competência esportiva na cidade de São Paulo (1920-1930)
- Diana Mendes Machado da Silva | PDF
Artigos
- Ciudad e inseguridad. El discurso de la prensa sobre el delito urbano en Valparaíso, Chile, 1940-1960
- Marco Antonio León León, Mauricio Rojas Gómez | PDF (Español (España))
- O Rio Grande da Globo: temporalidades regionalistas e edição de livros (1924-1960)
- Jocelito Zalla | PDF
- Rio Grande do Sul as published by Livraria do Globo: Regionalist temporalities and publishing (1924-1960)
- Jocelito Zalla | PDF (English)
- Presença na ausência: cartas na imigração e cartas de chamada
- Maria Izilda Santos Matos, Oswaldo Mario Serra Truzzi | PDF
- Present in absentia: Immigrant letters and requests for family reunification
- Maria Izilda Santos Matos, Oswaldo Mario Serra Truzzi | PDF (English)
- The opposition to the Brazilian dictatorship abroad through cartoons and caricatures (1964-1979)
- Teresa Cristina Schneider Marques | PDF (English)
- Notas de Pesquisa
- O “campeão do Centenário”: raça e nação no futebol paulista
- Petrônio Domingues | PDF
- Resenhas Críticas
- Origens clássicas e tradição moderna da retórica política
- Claudinei Carlos Spirandelli | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 19 n. 2 (2015): Maio/Agosto
Publicado: 2015-09-11
Artigos
- Economia cristã e religiosa política: o “Memorial sobre o governo temporal do colégio de São Paulo”, de Luigi Vincenzo Mamiani
- Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron, Gustavo Velloso | PDF
- Redes transnacionais católicas e os padres Fidei Donum no Maranhão (1960-1980)
- Wheriston Silva Neris, Ernesto Seidl | PDF
- La política emigratoria franquista: medidas de acercamiento con los españoles residentes en Iberoamérica
- Elda E. González Martínez | PDF (Español (España))
- Alemania y Chile frente a la crisis del capitalismo (1973-1983). Notas para una discusión histórica
- Claudio Llanos Reyes, José Antonio González Pizarro, Jaime Vito Paredes | PDF (Español (España))
- “Una página de historia eterna”: a nação narrada pela Comisión Nacional de Museos y de Monumentos y Lugares Históricos
- Maíne Barbosa Lopes | PDF
- História e Literatura: monstruosidades femininas, degenerescência e ansiedades modernas em “Drácula” (1897), de Bram Stoker
- Clóvis Gruner, Evander Ruthieri S. da Silva | PDF
- Os lugares preenchidos pela imaginação: a cena literária como desafio aos historiadores – Carpentier e “O reino deste mundo”
- Fabiana de Souza Fredrigo, Libertad Borges Bittencourt | PDF
- A oposição à ditadura brasileira no exterior através de charges e caricaturas (1964-1979)
- Teresa Cristina Schneider Marques | PDF
- “Para preso Ex.mo Senhor: não hai hospital”: a assistência médica oferecida aos presos pobres da província de São Pedro (1855-1888)
- Tiago da Silva Cesar | PDF
- A terra em disputa: câmara municipal versus juízes comissários
- José Antonio Moraes do Nascimento | PDF
- A Cervejaria Brahma e os investimentos alemães no Brasil durante as duas Guerras Mundiais
- Teresa Cristina Novaes Marques | PDF
- Médicos para o interior, endemias rurais e desenvolvimento: o projeto da Faculdade de Medicina de Goiás em foco
- Tamara Rangel Vieira | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 19 n. 1 (2015): Janeiro/Abril
Publicado: 2015-05-11
Artigos
- Espacios en disputa: el Cuerpo de Paz y las universidades sudamericanas durante la Guerra Fría en la década de 1960
- Fernando Purcell, Marcelo Casals | PDF (Español (España))
- A devolução dos troféus da Guerra da Tríplice Aliança e a “confraternidade argentino-paraguaia” (1954)
- Paulo Renato da Silva | PDF
- História Intelectual: variações de gênero e convivência de paradigmas
- Marcos Antônio Lopes | PDF
- Sismondi histórico: a luta pela liberdade na Itália renascentista
- Rogério Arthmar | PDF
- Representações e apropriações dos topônimos/etnônimos indígenas numa carta geográfica do século XVII
- Protasio Paulo Langer | PDF
- A expulsão dos jesuítas da América colonial ibérica: um estudo comparado dos Colégios de Córdoba e do Rio de Janeiro
- Marieta Pinheiro Carvalho | PDF
- Los arrendatarios de las tierras de Temporalidades jesuitas en Buenos Aires. La Chacarita, primera mitad del siglo XIX
- María Valeria Ciliberto | PDF (Español (España))
- Em se plantando, tudo dá: agricultura e diversidade produtiva (região das Missões, Rio Grande do Sul, 1828-1860)
- Leandro Goya Fontella | PDF
- As devassas eclesiásticas e as “qualidades” dos habitantes na formação da família mestiça em Minas Gerais Colonial (1720-1780)
- Rangel Cerceau Netto | PDF
Entrevista
- Historia e historiografía sobre los pueblos indígenas: Entrevista con Raúl J. Mandrini
- Maria Cristina Bohn Martins | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 18 n. 3 (2014): Setembro/Dezembro
Publicado: 2014-12-30
- Apresentação
- Marluza Marques Harres, Rodrigo Sá Patto Motta | PDF
- Presentation
- Marluza Marques Harres, Rodrigo Patto Sá Motta | PDF
Artigos
- Memória e justificação no processo de justiça transicional argentino: da reconstrução democrática às “megacausas” (1983-2013)
- Nicholas Dieter Berdaguer Rauschenberg | PDF
- Reviver ou reunir o passado?: Um novo enquadramento da proposta historiográfica de Robert Southey
- Flávia Varella | PDF
- Cultura agraria y territorio Formosa (Argentina) en la primera mitad del siglo XX
- Noemí María Girbal-Blacha | PDF (Español (España))
- Conflitos no sul do Brasil e queixa pública contra Alvarenga Peixoto (São João del-Rei, Minas Gerais, 1776-1780)
- André Figueiredo Rodrigues | PDF
- Salas de cinema: espaços de lazer e de sociabilidade em São Leopoldo
- Carlos Eduardo Ströher, Cristina Ennes da Silva | PDF
- Notas de Pesquisa
- Criação de arquivo em História dos Saberes Psicológicos e da Psicologia no Brasil: classificação e organização de um arquivo pessoal
- Eneida Nogueira Damasceno, Marina Massimi | PDF
Resenhas Críticas
- Literatura religiosa e jesuítas no Brasil Colonial
- Mauro Dillmann | PDF
Entrevista
- Releitura histórica dos jesuítas: Conversas com o historiador português José Eduardo Franco
- Norberto Dallabrida | PDF
Dossiê: A ditadura brasileira: história e historiografia
- A breve primavera antes do longo inverno: uma cartografia histórica da cultura brasileira antes do golpe de Estado de 1964
- Marcos Napolitano | PDF
- A short spring before the long winter: a historical cartography of Brazilian culture before the 1964 coup d’état
- Marcos Napolitano | PDF (English)
- A repressão condecorada: a atribuição da Medalha do Pacificador a agentes do aparato de segurança (1964-1985)
- Mariana Joffily, Maud Chirio | PDF
- Honoring repression: the award of the Peacemaker’s Medal to state agents involved in security (1964-1985)
- Mariana Joffily, Maud Chirio | PDF (English)
- Os segredos e os mitos sobre a Guerrilha do Araguaia (1972-1974)
- Janaína de Almeida Teles | PDF
- Secrets and myths about the Araguaia Guerrilla War (1972-1974)
- Janaina de Almeida Teles | PDF (English)
- Intelectuais, literatura e imprensa no pós-golpe
- Rodrigo Czajka | PDF
- Intellectuals, literature and the press in the post-coup period
- Rodrigo Czajka | PDF (English)
- Os oficiais brasileiros da reserva e a defesa da memória institucional do “31 de março de 1964”
- Fernando da Silva Rodrigues, Cláudio Beserra de Vasconcelos | PDF
- The Brazilian military reserve officers and the defense of the institutional memory of March 31, 1964
- Fernando da Silva Rodrigues, Cláudio Beserra de Vasconcelos | PDF (English)
- Intelectuais conservadores, sociabilidade e práticas da imortalidade: a Academia Brasileira de Letras durante a ditadura militar (1964-1979)
- Diogo Cunha | PDF
- Conservative intellectuals, sociability and practices of immortality: the Brazilian Academy of Letters during the military dictatorship (1964-1979)
- Diogo Cunha | PDF (English)
História Unisinos. São Leopoldo, v. 18 n. 2 (2014): Maio/Agosto
Publicado: 2014-09-10
- Apresentação
- Anderson Roberti dos Reis, Maria Cristina Bohn Martins | PDF
Artigos
- Revolução e imaginação político-literária: o romance Os Maias como representação da sociedade portuguesa face ao liberalismo
- Virgílio Coelho de Oliveira Júnior | PDF
- Escravidão, família e compadrio: a comunidade escrava no processo de ilegalidade do tráfico internacional de escravos (1831-1850)
- Paulo Roberto Staudt Moreira | PDF
- Caboclos
- Marcio Antônio Both da Silva | PDF
- Tradição e modernidade: as touradas na Porto Alegre do século XIX
- Cleber Eduardo Karls, Victor Andrade Melo | PDF
- Voar
- Anamaria Marcon Venson, Joana Maria Pedro | PDF
- Escrever, publicar e memorar: a literatura produzida por descendentes de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul
- Maria Catarina Zanini | PDF
- La Guerra del Pacífico y el americanismo republicano en el discurso bélico peruano
- Juan Carlos Arellano González | PDF (Español (España))
Notas de Pesquisa
- Breves apontamentos sobre a formação moral do varão (Portugal, séc. XV)
- Leandro Alves Teodoro | PDF
Entrevista
- Entrevista com Patricia Seed
- Luis Guilherme Assis Kalil, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes | PDF
Dossiê: História das Américas: fontes e historiografia
- Abismos de la memoria: escritura y descubrimientos oceánicos. Una aproximación metodológica
- Carlos Alberto González Sánchez | PDF (Español (España))
- Três conceitos de história atlântica
- David Armitage | PDF
- As conquistas de México-Tenochtitlan e da Nova Espanha. Guerras e alianças entre castelhanos, mexicas e tlaxcaltecas
- Eduardo Natalino Santos | PDF
- Ciegos o engañados: narrativas sobre a conquista espiritual do Norte da Nova Espanha (séculos XVII e XVIII)
- Luis Guilherme Assis Kalil, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes | PDF
- A queda do homem civil: os antigos mexicanos e peruanos na History of America de William Robertson
- Alexandre C. Varella | PDF
- Inquisição na Amazônia colonial: reflexões metodológicas
- Marcia Eliane Souza e Mello | PDF
- Adaptaciones y apropiaciones en una cultura textual de frontera: impresos misionales del Paraguay Jesuítico
- Guillermo Wilde | PDF (Español (España))
- Elites locais e changadores no mercado atlântico de couros (Rio Grande e Soriano, 1780-1810)
- Tiago Luis Gil | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 18 n. 1 (2014): Janeiro/Abril
Publicado: 2014-06-25
- Apresentação
- Eliane Cristina Deckmann Fleck, Heloisa Meirelles Gesteira, Lorelai Brilhante Kury | PDF
Notas de Pesquisa
- Colecionando documentos, escrevendo história, imaginando uma nação: Pedro de Angelis e sua operação historiográfica
- Deise Cristina Schell | PDF
- Os intermediários da cura no Centro-Sul do Brasil
- Danielle Sanches Almeida | PDF
Resenhas Críticas
- Um reino em movimento: o impacto da circulação de plantas no mundo imperial
- Danielle Sanches Almeida, Frederico Tavares de Mello Abdalla | PDF
Entrevista
- Desafios e limites da internacionalização da História da Ciência e da Tecnologia. Entrevista com Ana Carneiro
- Eliane Cristina Deckmann Fleck, Heloisa Meirelles Gesteira, Lorelai Brilhante Kury | PDF
Dossiê: História e Ciência
- Filósofos naturais do demônio: astronomia, alteridade e missionação no sul da Índia, século XVII
- Thomás A.S. Haddad | PDF
- Saberes terapêuticos nas Minas coloniais: diálogos entre a medicina oficial e as curas não licenciadas (séc. XVIII)
- André Luís Lima Nogueira | PDF
- Os colégios jesuítas de Portugal e a Revolução Científica: Inácio Monteiro e a recepção das novas teorias da luz em Portugal
- Marília de Azambuja Ribeiro, Arthur Feitosa de Bulhões | PDF
- La piccolezza dei corpicelli: O conceito de doença epidêmica e contagiosa segundo Estêvão Rodrigues de Castro
- Bruno Martins Boto Leite | PDF (English)
- Riquezas y rutas. El Sur de Chile en la mirada científica imperial británica (1830-1870)
- Claudio Llanos, José Antonio González | PDF (Español (España))
- Ciência e educação na Escuela Nacional Preparatoria (México, 1867)
- Maria Rachel Fróes da Fonseca | PDF
- Arena de traços: os escritos de Carl Von Martius e Francisco Freire Alemão na composição de uma historiografia nacional
- Karoline Viana Teixeira | PDF
- Espaços públicos de vulgarização científica na capital imperial (1870-1889)
- Karoline Carula | PDF
- O papel da régua e do compasso nos Elementos de Euclides: uma prática interpretada como regra
- Gert Schubring, Tatiana Roque | PDF
- O desenvolvimento do Fototeodolito e seu uso na fronteira entre Brasil e Argentina
- Bruno Capilé, Moema de Rezende Vergara | PDF
- Olhares sobre a loucura e a psiquiatria: um balanço da produção na área de História (Brasil, 1980-2011)
- Yonissa Marmitt Wadi | PDF
- “Não tem a classificação americana, não existe!”: História oral, ciência do solo tropical e imperialismo(s)
- Cláudia Castelo | PDF
- Livros de ciência médica na Biblioteca Nacional: o acervo sobre as doenças nervosas (1860-1880)
- Monique de Siqueira Gonçalves | PDF
- Beribéri: doença misteriosa no Brasil Oitocentista
- Sônia Maria de Magalhães | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 17 n. 3 (2013): Setembro/Dezembro
Publicado: 2013-12-04
- Apresentação
- Gabriela Dalla-Corte Caballero, Hernán Ramírez | PDF (Español (España))
Artigos
- Sobre livros e dedicatórias: D. João e a Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801)
- Claudio DeNipoti, Magnus Roberto de Mello Pereira | PDF
- No calor da hora. Política e imprensa no primeiro liberalismo brasileiro
- Maria Beatriz Nizza da Silva | PDF
- Uma caracterização das transformações econômicas e sociais na agroindústria canavieira da Argentina, Brasil e México
- Sebastião Neto Ribeiro Guedes, Carlos Eduardo Freitas Vian, Gustavo Inácio de Moraes, Mariana Maiante | PDF
- História ambiental e desastres: encontros entre política, tecnologia e sociedade
- Jó Klanovicz | PDF
Resenhas Críticas
- Por trás da cruz e por baixo da batina pode estar o diabo
- Ana Silvia Volpi Scott | PDF
Dossiê: Poder e organização institucional dos espaços regionais nas construções estatais Latino Americanas
- La Misión Franciscana de Laishí: el proyecto del ingeniero José Elías Niklison (1910-1920)
- Gabriela Dalla-Corte Caballero | PDF (Español (España))
- Nacionalizando memorias periféricas: conmemoraciones y nacionalismo chileno en las regiones
- Gabriel Cid | PDF (Español (España))
- Proyecciones sobre el habitante “deseable”. Colonos, inmigrantes y comunidades nativas en áreas de la “frontera interior”
- Ronen Man, Julieta Man | PDF (Español (España))
- Un proyecto ‘argentinizador’. Educación y efemérides en la región patagónica y rionegrina (1908-1930)
- Cielo Zaidenwerg | PDF (Español (España))
- Sociabilidad, arte y cultura. Una experiencia en la Argentina de entreguerras
- Sandra Fernández | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 17 n. 2 (2013): Maio/Agosto
Publicado: 2013-08-30
- Apresentação
- Méri Frotscher, Stefan Rinke | PDF
Dossiê: Brasil e Alemanha pós-1945: perspectivas transnacionais
- “O continente ainda inexplorado”: a República Federal Alemã na era Adenauer e a América Latina em contexto global
- Stefan Rinke | PDF
- De “alemães no exterior” a brasileiros? A repatriação de cidadãos brasileiros da Alemanha ocupada (1946-1949)
- Méri Frotscher | PDF
- Organização e articulação do Comitê de Socorro à Europa Faminta – SEF (1946-1949)
- Evandro Fernandes | PDF
- Notícias tristes dos velhos amigos: a Alemanha pós-Segunda Guerra na correspondência de Henrique da Rocha Lima (1945-1950)
- André Felipe Cândido da Silva | PDF
- O imaginário da formação do IV Reich na América Latina: o agente Erich Erdstein no Brasil
- Marcos Eduardo Meinerz | PDF
Artigos
- Chilenización, tributos y arriendo de tierras en el espacio andino de Tarapacá (norte de Chile, 1883-1932)
- Luis Castro | PDF (Español (España))
- Sediciosa Buenos Aires: o complot de franceses e escravos no Rio da Prata
- Maria Verónica Secreto Ferreras | PDF
- As relações diplomáticas entre Alemanha e Brasil, no período de 1937 a 1942
- Andrea Helena Petry Rahmeier | PDF
- Paternidade, maternidade e ditadura: a atuação de pais e mães de presos, mortos e desaparecidos políticos no Brasil
- Vanderlei Machado | PDF
Notas de Pesquisa
- Religião, política e juventude: uma relação de aproximação e ressignifi cação
- Frank Antonio Mezzomo, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro | PDF
- Narrativas sobre a presença de “alemães” no Paraná após a Segunda Guerra Mundial: possibilidades de pesquisa
- Marcos Nestor Stein | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 17 n. 1 (2013): Janeiro/Abril
Publicado: 2013-04-30
Artigos
- “Desejando pôr a minha alma no caminho da salvação”: modelos católicos de testamentos no século XVIII
- Cláudia Rodrigues, Mauro Dillmann | PDF
- A formação de uma classe dominante: a gentry escravista na América Inglesa Continental (Chesapeake & Lowcountry, c. 1640-c. 1750)
- Thiago Nascimento Krause | PDF
- Escravidão, pecuária e liberdade: o Livro de classificação de escravos (Alegrete, década de 1870)
- Marcelo Santos Matheus | PDF
- Cuando las paredes hablan. Transformaciones en el estilo de vida de la clase alta bogotana durante el s. XIX
- Daniel Ernesto Aguilar Rodríguez | PDF (Español (España))
- Cómo pensar los asuntos internacionales-mundiales a partir del pensamiento latinoamericano: Análisis de la teorización
- Eduardo Devés-Valdés | PDF (Español (España))
Notas de Pesquisa
- Doutores da devassa: sedição e teses médicas de luso-brasileiros em Montpellier
- Rafael Dias da Silva Campos, Christian Fausto Moraes dos Santos | PDF
Resenhas Críticas
- Sobre histórias não contadas
- Maria Cristina Bohn Martins | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 16 n. 3 (2012): Setembro/Dezembro
Publicado: 2012-12-20
- Apresentação
- Cláudia Mauch, Paulo César Possamai | PDF
Dossiê: Militares, milicianos e policiais: instituições, representações e práticas
- Os múltiplos olhares sobre a história militar
- Luiz Guilherme Moreira | PDF
- Política, imprensa e a participação dos militares na Abdicação de Dom Pedro I
- Fernanda Cláudia Pandolfi | PDF
- A espada e a capela: relações de compadrio dos oficiais de milícia na fronteira meridional do Brasil (1816-1835)
- Luís Augusto Farinatti | PDF
- “Gostaria de se tornar Tenente”: oficiais da Guarda Nacional – um perfil socioeconômico no Brasil Meridional (1850-1870)
- Miquéias Henrique Mugge | PDF
- “[…] Que de polícia só tem o título, constando apenas de pobres crianças”: a (re)organização da polícia no pós-Guerra do Paraguai
- Caiuá Cardoso Al-Alam | PDF
- Prelúdio de um “pequeno exército”? A força policial paulista nos primeiros anos da República (1890 a 1895)
- Andre Rosemberg | PDF
- Militarismo, conflitos e indisciplina nas práticas policiais em São Paulo, Primeira República
- Luís Antônio Francisco de Souza | PDF
Artigos
- Mais soldados e menos padres: remédios para a preservação do Estado da Índia (1629-1636)
- Patricia Souza de Faria | PDF
- Sobre cometas e arco-íris: Antônio Vieira, os jesuítas, o conhecimento revelado e a ciência moderna
- Sezinando Luiz Menezes, Célio Juvenal Costa | PDF
- Voltaire e a visão iluminista do progresso
- Rogério Arthmar | PDF
- Las Guardias Nacionales en Argentina durante la organización nacional: balances y perspectivas historiográficas
- Leonardo Canciani | PDF (Español (España))
- Do professor paroquial às professoras catequistas: notas para a história da educação em Santa Catarina
- Clarícia Otto | PDF
Notas de Pesquisa
- Contando policiais: os registros de pessoal como fonte
- Cláudia Mauch | PDF
Resenhas Críticas
- Guerra, fronteira e ordenamento social no Brasil oitocentista
- Vitor Izecksohn | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 16 n. 2 (2012): Maio/Agosto
Publicado: 2012-08-31
Artigos
- A dupla face de Jano: magistrados, famílias de elite e mediação no extremo sul do Brasil entre 1808 e 1831
- Adriano Comissoli | PDF
- História, memória e poder. a Ação Integralista Brasileira e a reconstrução mistifi cada do passado e do presente
- Natalia Reis Cruz | PDF
- Bases histórico-políticas del Estado de Bienestar alemán y británico (temas y problemas)
- Claudio Llanos | PDF (ESPAÑOL)
- Compaixão, medicalização e exclusão: o Patronato de Leprosos da Argentina na década de 1930
- José Augusto Leandro | PDF
- O Estado positivista no norte do RS: a questão da propriedade da terra e a fundação da colônia Erechim (1890/1910)
- Márcia dos Santos Caron, João Carlos Tedesco | PDF
- Formar, moralizar e disciplinar: relações entre patrões e operárias no cotidiano de fábricas têxteis de Minas Gerais
- Irlen Antônio Gonçalves, Junia de Souza Lima | PDF
- Aspectos da cultura do carvão em Criciúma (SC): a história que não se conta
- Teresinha Maria Gonçalves, José Ivo Follmann, Gerson Luiz Boer Philomena | PDF
Entrevista
- Por cerrados, matos e pantanais. As experiências de um pioneiro da arqueologia brasileira
- Maria Cristina Bohn Martins, Jairo Rogge | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 16 n. 1 (2012): Janeiro/Abril
Publicado: 2012-05-22
- Apresentação
- Samantha Viz Quadrat, Cláudio Pereira Elmir | PDF
Dossiê: O Chile de Allende e Pinochet: memória e historiografia
- ¿Qué es lo nuevo de la nueva derecha en Chile? Anticomunismo, corporativismo y neoliberalismo, 1964-1973
- Ernesto Bohoslavsky | PDF (Español (España))
- Anticomunismo, Democracia e Geopolítica segundo Pinochet
- Ricardo Antonio Souza Mendes | PDF
- El gobierno de Allende y la UP frente al “Poder Popular” 1970-1972: Las bases radicalizadas y su dinámica
- Claudio Llanos | PDF (Español (España))
- A revista em quadrinhos Cabrochico e os debates culturais para a construção da “via chilena para o socialismo” (1971-1972)
- Ivan Lima Gomes | PDF
- As dificuldades de implementação da Via Chilena ao Socialismo: análise do impacto de três propostas econômicas
- Camilo Negri | PDF
- A batalha pelo Chile revisitada: um estudo com fontes brasileiras
- Carlos Federico Domínguez Avila | PDF
- Transição ao socialismo e transição democrática: exilados brasileiros no Chile
- Claudia Wasserman | PDF
- Um pouco além do concebível: o Chile e a Argentina na memória de um exilado brasileiro
- Carla Simone Rodeghero | PDF
Artigos
- Una mirada a la comunidad de jesuitas americanos expulsos a través de las obras de Lorenzo Hervás y Panduro S.J. (1735-1809)
- Nicolás Hernán Perrone | PDF (Español (España))
- “Pompa e circunstância” a um santo pardo: São Gonçalo Garcia e a luta dos pardos por inserção social no XVIII
- Janaina dos Santos Bezerra, Suely Cordeiro Almeida | PDF
- “Ecos de Pio IX”: política e historiografia oitocentistas na criação de um estado pontifício para a idade média
- Leandro Duarte Rust | PDF
- Frei Boaventura Kloppenburg e a história da Igreja Católica no Brasil: aspectos de uma biografia
- Solange Ramos Andrade | PDF
- Um sentido para o tempo: breve nota sobre o estudo das relações entre tempo, cristianismo e política
- Daniel Rocha, Wellington Teodoro da Silva | PDF
- Historiografia da imigração polonesa: avaliação em perspectiva dos estudos sobre o Rio Grande do Sul
- Regina Weber, Thaís J. Wenczenovicz | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 15 n. 3 (2011): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-12-23
- Apresentação
- Joana Maria Pedro, Sylvie Sagnes | PDF
Dossiê: Os males da memória
- Dar a ver memórias indizíveis. O presente do passado da escravidão em Ouidah, Benin
- Gaetano Ciarcia | PDF
- Três mortos pela França
- Yves Pourcher | PDF
- Memória da Retirada e sucessão das gerações: do silêncio ao discurso ensurdecedor
- Véronique Moulinie | PDF
- Uma memória compartilhada: o romance francês da guerra civil, do êxodo e do exílio espanhóis
- Sylvie Sagnes | PDF
- Al-Khandaq al-Ghamiq. Memórias de um bairro em ruína no centro de Beirute
- Sophie Brones | PDF
- Memória, alimentação e etnias
- Janine Gomes da Silva | PDF
- As dores e as delícias de lembrar a ditadura no Brasil: uma questão de gênero
- Joana Maria Pedro, Cristina Scheibe Wolff | PDF
Artigos
- Contexto histórico-cultural das missões na Índia: séc. XVI-XVII
- Maria de Deus Beites Manso | PDF
- Macau e os jesuítas na China (séculos XVI e XVII)
- Leonor Diaz de Seabra | PDF
- Favores do glorioso mártir: a memória jesuítica da intervenção de São Sebastião na fundação do Rio de Janeiro, séc. XVII
- Vinicius Miranda Cardoso | PDF
- Aurélio Vítor e o quinquennium Neronis
- Moisés Antiqueira | PDF
- O medievalismo no Brasil
- Ronaldo Amaral | PDF
- Colonização japonesa em Santa Catarina: metamorfoses na imigração tutelada
- André Souza Martinello, Ely Bergo de Carvalho | PDF
Resenhas Críticas
- A Companhia de Jesus na Índia (1542-1622): atividades religiosas, poderes e contactos culturais
- Marcia Amantino | PDF
- Comentários sobre Cabeza de Vaca
- Luis Kalil | PDF
- Fleck e a(s) ciência(s): um olhar sociocultural
- Luciano Marcos Curi, Roberto Carlos dos Santos | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 15 n. 2 (2011): Maio/Agosto
Publicado: 2011-09-06
- Apresentação
- Giovani José da Silva | PDF
Dossiê: Questões indígenas contemporâneas: História e Antropologia em fronteiras
- Rios, lagoas, cachoeiras e rebojos: religiosidade no espaço fluvial Nambiquara
- Anna Maria Ribeiro Fernandes Moreira da Costa | PDF
- O território Ofaié e o conceito de poder e violência em Mato Grosso do Sul
- Carlos Alberto dos Santos Dutra | PDF
- A respeito de migrações e estigmas: indígenas Camba-Chiquitano na fronteira Brasil-Bolívia, segunda metade do século XX
- Giovani José da Silva | PDF
- Indicando caminhos: da (re)construção territorial às novas perspectivas para o direito dos povos indígenas
- Rosely Aparecida Stefanes Pacheco | PDF
- Índios Xukuru: a história a partir das memórias
- Edson Hely Silva | PDF
- Educação em fronteiras culturais: prevenção das DST e da Aids entre professores indígenas do Pantanal Sul-Mato-Grossense
- Léia Teixeira Lacerda | PDF
- Questões indígenas em contextos urbanos: outros olhares, novas perspectivas em semoventes fronteiras
- Vanderléia Paes Leite Mussi | PDF
Artigos
- Prácticas, vínculos e intercambios: comerciantes y clientes en el sur de la provincia de Buenos Aires, Argentina 1922-1955
- Valeria Palavecino | PDF (Español (España))
- La historia concentrada: victorias y derrotas del gobierno de la Unidad Popular
- Claudio Llanos Reyes | PDF (Español (España))
- Paisagem, memória e transportes urbanos. O Rio de Janeiro segundo João Chagas (1897)
- Elsa Pacheco, Jorge Fernandes Alves | PDF
- “O lar transformado em inferno”: o olhar dos literatos sobre os ressentimentos dentro do casamento
- Mara Lígia Fernandes Costa, Pedro Vilarinho Castelo Branco | PDF
- Imprensa, política e publicidade: um estudo sobre a revista Caros Amigos (1997-2006)
- Rodolfo Fiorucci | PDF
- Jesuitas, guaraníes y armas. Milicias Guaraníes frente a los indios del Gran Chaco
- Pedro M.O. Svriz Wucherer | PDF (Español (España))
- Un intento en defensa del patrimonio jesuítico o una excusa para extirpar su memoria. El caso de la iglesia jesuítica de Asunción
- Carlos A. Page | PDF (Español (España))
- Antônio Vieira: o paladino da soberania real
- Maria Izabel B. Morais Oliveira | PDF
- Culto, devociones e identidad. Las prácticas de religiosidad local en el Obispado de Córdoba a principios del siglo XIX
- María Laura Mazzoni | PDF (Español (España))
- Território Kaingang na mesorregião grande fronteira do MERCOSUL: territorialidades em confronto
- Leonel Piovezana | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 15 n. 1 (2011): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-06
- Apresentação
- Flávio Santos Gomes, Paulo Roberto Staudt Moreira | PDF
Dossiê: Escravidão e experiências atlânticas
- A supressão do tráfico de escravos em Angola (ca. 1830-ca. 1860)
- Roquinaldo Ferreira | PDF (English)
- Migrações rural-urbanas entre descendentes de escravos no litoral do Rio Grande do Sul em meados do século XX
- Rodrigo de Azevedo Weimer | PDF
- Para além da partilha: divisão e manutenção de famílias escravas (Minas Gerais, século XIX)
- Jonis Freire | PDF
Artigos
- Peter Burke: trajetória de um historiador
- José D’Assunção Barros | PDF
- O ensino de História no Brasil: contextualização e abordagem historiográfica
- Carlos Leonardo Kelmer Mathias | PDF
- A comemoração do centenário da independência no México: o Paseo de la Reforma como palco para a pacificação do passado em 1910
- Luiz Estevam de Oliveira Fernandes | PDF
- Casamentos portugueses em uma capital da Amazônia: perfil demográfico, normas e redes sociais (Belém, 1891-1920)
- Cristina Donza Cancela, Daniel Souza Barroso | PDF
- Demografia histórica, família e Inquisição: possibilidades metodológicas a partir da habilitação de Familiar
- Antonio Otaviano Vieira Junior | PDF
- Comunidades tradicionais da Floresta de Araucária de Santa Catarina: territorialidade e memória
- Marlon Brandt, Eunice Sueli Nodari | PDF
- Representação do magistério sob o movimento da restauração católica e seu reflexo nas escolas da imigração alemã no RS
- Lucio Kreutz, Evaldo Antônio Kuiava, Paulo César Nodari | PDF
- Considerações sobre a atuação da Companhia de Jesus na formação dos grupos dirigentes no Rio Grande do Sul
- Lorena Madruga Monteiro | PDF
- As identidades latino-americanas: itinerários metodológicos, história e historiografia
- Luiz Fernando Silva Prado | PDF
Notas de Pesquisa
- O cadáver de um preto, que parecia ser crioulo: a morbidade dos trabalhadores escravos em Porto Alegre e Pelotas (1830/1850)
- Paulo Roberto Staudt Moreira, Natália Garcia Pinto | PDF
- Africanos diaspóricos e o Brasil pós-colonial: notas sobre as encruzilhadas de diáspora, transnacionalismo e nação
- Yuko Miki | PDF (English)
Resenhas Críticas
- Novos elementos para se pensar a história dos afro-descendentes no Uruguai
- Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 14 n. 3 (2010): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
Artigos
- Redes e tramas no mundo da escravidão atlântica, na África Central Ocidental, século XVIII
- Selma Selma Alves Pantoja | PDF
- “Uma nova guiné”: africanos em inventários e registros de batismo na cidade da Bahia da primeira metade do século XVIII
- Carlos Eugênio Líbano Soares, Carlos Francisco da Silva Júnior | PDF
- “Uns três congos e alguns angolas” ou os outros africanos da Bahia
- Lucilene Reginaldo | PDF
- Resistência escrava e a abolição do comércio transatlântico de escravos para o Brasil em 1850
- Dale T. Graden | PDF (English)
- Cerâmicas, identidades escravas e crioulização nos engenhos de Chapada dos Guimarães (MT)
- Luís Cláudio P. Symanski | PDF
- Redes sociales y parentesco en la Castilla meridional: el sistema clientelar en el Reino de Murcia (ss. XVII-XVIII)
- Manuel Pérez García | PDF (Español (España))
Notas de Pesquisa
- Arquitetando a liberdade: os africanos livres e as obras públicas no Rio de Janeiro imperial
- Carlos Eduardo Moreira de Araújo | PDF
- Sem direitos, nem cidadania: condição legal e agência de mulheres e homens africanos na Bahia do século XIX
- Luciana da C. Brito | PDF
- “Velhos respeitáveis”: notas sobre a pesquisa de Manuel Querino e as origens dos africanos na Bahia
- Sabrina Gledhill | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 14 n. 2 (2010): Maio/Agosto
Publicado: 2011-05-03
Artigos
- Mitos e fatos nas crônicas da conquista do Antigo Peru
- Ana Raquel Portugal | PDF
- “Um corpo, ainda que particular”: irmandades leigas e Ordens Terceiras no Rio Grande do Sul colonial
- Fábio Kühn | PDF
- O papel dos jesuítas na Ilustração brasileira
- Beatriz Helena Domingues | PDF
- Notas acerca das contas da câmara: poder municipal, “bem comum” e propinas na câmara municipal de Vila Rica, 1721-1734
- Fernanda Fioravante | PDF
- La resistencia maya a las escuelas rurales en Quintana Roo, 1928-1934
- Justo Miguel Flores Escalante | PDF (Español (España))
- Espaço urbano central elitista de Cachoeira do Sul (RS): a invasão dos outsiders nos anos 1930-1940
- Jeferson Francisco Selbach | PDF
- Extensão rural e hegemonia norte-americana no Brasil
- Sonia Regina de Mendonça | PDF
- Revista O Cruzeiro: um projeto civilizador através das fotorreportagens (1955-1957)
- Marlise Meyrer | PDF
- Las asociaciones profesionales de la provincia de Buenos Aires durante los años del primer peronismo (1946-1955)
- José Bernardo Marcilese | PDF (Español (España))
Entrevista
História Unisinos. São Leopoldo, v. 14 n. 1 (2010): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
Artigos
- Independência: contextos e conceitos
- Lúcia Maria Bastos P. Neves | PDF
- República versus Monarquia: a consciência histórica da década de 1880
- Maria Tereza Chaves de Mello | PDF
- A crise do Império nas partes do Brasil: o caso do Rio Grande do Sul
- Helga I.L. Piccolo | PDF
- A elite do Partido Republicano se apropria da “Revolução”
- Luiz Alberto Grijó | PDF
- A República no Rio Grande do Sul: política, etnia e religião
- René E. Gertz | PDF
- República, federalismo e fronteira
- Maria Medianeira Padoin | PDF
- O reconhecimento da República pelos países americanos
- Ana Luiza Setti Reckziegel | PDF
- A importância da cultura material e da Arqueologia na construção da História
- Carlos Carlos Xavier de Azevedo Netto, Amilton Justo de Souza | PDF
- Novas e velhas questões: revisando a historiografia sobre Volta Redonda (RJ)
- Raphael Jonathas da Costa Lima | PDF
- Celso Furtado e a administração pública: uma leitura de suas primeiras publicações (1944-1948)
- Roberto Pereira Silva | PDF
Resenhas Críticas
- Eles irão em peregrinação: a “experiência” de peregrinação segundo o “Exame geral” das Constituições da Companhia de Jesus e as práticas contemporâneas
- Fabiana Pinto Pires | PDF
- Jerarquía social y confrontación de estrategias en el Brasil esclavista
- Silvana Gómez | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 13 n. 3 (2009): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Heloisa Reichel | PDF
Artigos
- Destino e vontade, religião e política: Companhia de Jesus e Ilustração na disputa póstuma dos Ritos do Malabar
- Adone Agnolin | PDF
- Sob o signo das Luzes: o pensamento jesuítico e a Ilustração nas cartas do Padre David Fáy
- Beatriz Helena Domingues, Breno Machado dos Santos | PDF
- Os jesuítas e a Ilustração na administração de Manuel Martins do Couto Reis da Real Fazenda de Santa Cruz (Rio de Janeiro, 1793-1804)
- Carlos Engemann, Cláudia Rodrigues, Marcia Amantino | PDF
- La modernidad de los bárbaros. Los abipones de San Jerónimo del Rey y sus relaciones sociales con las fronteras santafesinas del Chaco
- Carlos D. Paz | PDF (Español (España))
- Esbozo de la literatura de los jesuitas portugueses expulsos
- Antonio Astorgano Abajo | PDF (Español (España))
- A inserção dos pentecostais na política: uma ameaça à democracia?
- Valdir Pedde, Everton Rodrigo Santos | PDF
- Notas de Pesquisa
- La Historia de la conquista en las versiones de Pedro Lozano y José Guevara. Estudios comparados de la producción escrita de la Compañía de Jesús en el siglo XVIII
- Josefina G. Cargnel | PDF (Español (España))
- Resenhas Críticas
- Comparando ocidentes
- Leandro Garcia Pinho | PDF
- Um documento jesuítico
- Leandro Karnal | PDF
- O cartógrafo e as noivinhas
- Maria Cristina de O. Athayde | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 13 n. 2 (2009): Maio/Agosto
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Cláudio Pereira Elmir | PDF
Artigos
- Mocambos: natureza, cultura e memória
- Eurípedes A. Funes | PDF
- A formação de trabalhadores brasileiros: a experiência do Colégio Isabel
- Joel Orlando Bevilaqua Marin | PDF
- Corpos masculinos na revista O Cruzeiro (1946-1955)
- Luciana Rosar Fornazari Klanovicz | PDF
- Artista do lápis: as ilustrações de Eduardo de Araújo Guerra no periódico Cabrion. Pelotas, 1879-1881
- Aristeu E.M. Lopes | PDF
- Notas de Pesquisa
- Flávio Koutzii: pedaços de vida na memória (1943-1984) – apontamentos sobre uma pesquisa em curso
- Benito Bisso Schmidt | PDF
Resenhas Críticas
- O fascismo e as origens ideológicas da ditadura argentina
- Júlio de Azambuja Borges | PDF
- Em nome do Pai: Participação da Igreja Católica na repressão política da Argentina (1955-1969)
- Ianko Bett | PDF
Dossiê: Narrativas de militância e narrativas de exílio
- El tránsito que no cesa… para ser andando. Sobre migraciones, exilios y vida académica
- Beatriz Vitar | PDF (Español (España))
- Histórias dos sentidos e da imaginação: as memórias de Flávio Tavares
- Cláudio Pereira Elmir | PDF
- Narrativas da guerrilha no feminino (Cone Sul, 1960-1985)
- Cristina Scheibe Wolff | PDF
- A anistia entre a memória e o esquecimento
- Carla Simone Rodeghero | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 13 n. 1 (2009): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Susana Bandieri | PDF
Artigos
- O hispano-americanismo historiográfico: Espanha e América na perspectiva de Ricardo Levene e Rafael Altamira
- José Luis Bendicho Beired | PDF
- Demarcaciones territoriales y regímenes jurídicos de apropiación de la tierra: Buenos Aires y Rio Grande do Sul en perspectiva comparada
- Valeria Araceli D’Agostino | PDF (Español (España))
- Formas e problemas da historiografia brasileira
- João Miguel Teixeira de Godoy | PDF
- Memória e patrimônio cultural pelo olhar da escola: a leitura como política e opção metodológica
- Rosimar Serena Siqueira Esquinsani, Valdocir Antonio Esquinsani | PDF
- Da história da fronteira à história do Oeste: fragmentação e crise na Western history norte-americana no século XX
- Arthur Lima de Avila | PDF
- Entrevista
- A história regional e a historiografia Argentina: entrevista com Susana Bandieri
- Maria Cristina Bohn Martins | PDF
Dossiê: A questão regional: aspectos conceituais e avanços empíricos
- Los mundos ocultos. Los estudios regionales em la enseñanza de la Historia en la Argentina
- Sandra Fernández | PDF (Español (España))
- La historia regional en México: reflexiones y experiências sobre una práctica historiográfica
- Dení Trejo Bajaras | PDF (Español (España))
- De cómo explicar la región sin perderse en el intento. Repasando y repensando la Historia Regional
- María Rosa Carbonari | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 12 n. 3 (2008): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- La lucha contra la contaminación y el saqueo: de las movilizaciones en Mendoza a la unión de las reivindicaciones socioambientales en América Latina
- Lucrecia Wagner | PDF (Español (España))
- O recomeço na mata: notas para uma história ambiental da colonização alemã no Rio Grande do Sul
- Juliana Bublitz | PDF
- Perspectivas de gênero acerca de experiências cotidianas no seringal Cachoeira – Acre (1964-2006)
- Marcos Montysuma, Tereza Almeida Cruz | PDF
- A paisagem em movimento: marcas do aproveitamento dos recursos hídricos em terras alagadas (bacia hidrográfica do rio Camaquã, Rio Grande do Sul, Brasil)
- Marluza Marques Harres | PDF
- Casar sim, mas não para sempre: o matrimônio cristão e a dinâmica cultural indígena nas reduções do Paraguai
- Guilherme G. Felippe | PDF
- Civilização, barbárie e as representações espaciais da nação nas Américas no século XIX
- Maria Elisa Mäder | PDF
- Nacionalismo e ufanismo na Argentina e no Brasil dos anos 1920 e 1930 através da trajetória artística de Carlos Gardel e Carmen Miranda
- Alessander Kerber | PDF
- Entrevista
- A cruz e a política – leituras do pastor e político Gernote Kirinus
- Frank Antonio Mezzomo | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 12 n. 2 (2008): Maio/Agosto
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- Platão e os Guaranis: uma análise da obra de Joseph Perramás à luz das utopias européias renascentistas e das teorias ilustradas sobre o Novo Mundo
- Beatriz Helena Domingues | PDF
- Entre doações e orações: os “principais da terra” e o mosteiro beneditino do Rio de Janeiro – sécs. XVI-XVIII
- Jorge Victor de Araújo Souza | PDF
- O movimento leigo na Igreja Católica no decorrer do século XX
- Nadia Maria Guariza | PDF
- O catolicismo popular e a Igreja: conflitos e interações
- Ricardo Luiz de Souza | PDF
- Uma história para o nosso tempo: historiografia como fato moral
- Paulo Knauss | PDF
- Repensar o passado – recobrar o futuro: história, memória e redenção em Walter Benjamin
- Marcelo de Andrade Pereira | PDF
- Orden, progreso y centralismo, Chihuahua (México) bajo el mandato porfiriano (1876-1910)
- Maria-Aparecida Lopes | PDF (Español (España))
- De “moça prendada” a “menina superpoderosa”: análise das seções de cartas de leitoras da revista Capricho (1954-2004)
- Raquel B. P. Miguel | PDF
- O poeta Geoffrey Chaucer e a “fundação” da literatura inglesa no Baixo Medievo
- Monica Selvatici | PDF
Resenhas Críticas
- Metamorfose de uma família poderosa: os Riquelme do Reino de Murcia (Espanha), séculos XVI a XIX
- Ana Silvia Volpi Scott | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 12 n. 1 (2008): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Ana Silvia Volpi Scott | PDF
Artigos
- Sistemas familiares e práticas matrimoniais subalternas da América Latina: a hegemonia questionada
- David Robichaux | PDF
- Familia y maltrato doméstico Audiencia episcopal de Córdoba, Argentina. 1700-1850
- Monica Ghirardi | PDF (Español (España))
- “Hábitos sexuados” en la ciudad puerto de Mar del Plata: mujeres y pescadores en los inicios del milenio
- José Mateo, Analía Correa | PDF (Español (España))
- La madre esclava y los sentidos de la libertad. Cuba 1870-1880
- Maria de los Ángeles Meriño Fuentes, Aisnara Perera Díaz | PDF (Español (España))
- Crônicas e notas: a imprensa hamburguense e o 13 de maio
- Magna Lima Magalhães | PDF
- O Alto Douro entre sistemas de regulação: do proteccionismo ao livre-cambismo (1852-1865)
- Carla Sequeira | PDF
- Entrevista
- La historia de la familia entre la historia social y la historia de mentalidades Razones para un diálogo sobre la interdisciplina en la investigación cultural
- Ana Vera | PDF (Español (España))
- Início /
História Unisinos. São Leopoldo, v. 11 n. 3 (2007): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- La nueva historia intelectual y sus repercusiones en América Latina
- Elías J. Palti | PDF (Español (España))
- O poeta e o historiador. Southey e Varnhagen e a experiência historiográfica no Brasil do século XIX
- Temístocles Cezar | PDF
- História, sociologia e análise do poder
- Renato M. Perissinotto | PDF
- Fazer ver o que vemos: Michel Foucault – por uma História diagnóstica do presente
- Edwar de Alencar Castelo Branco | PDF
- Olhar passageiro: um álbum de fotografias entre memória, esquecimento e imaginário
- Zita Rosane Possamai | PDF
- Por que o trabalhador livre nacional não foi aproveitado durante a escravidão? Notas sobre a história do trabalho
- Artur J. R. Vitorino | PDF
- Presença árabe na América do Sul
- Oswaldo Truzzi | PDF
- Notas de Pesquisa
- Patrimônio, memória e história: as “marcas” da trajetória imigrante nos países do Cone Sul – um estudo comparado
- Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos | PDF
- Cooperativismo rural. Estudos comparados: Rio Grande do Sul e Província de Buenos Aires (1950-1970)
- Marluza Marques Harres | PDF
- Lealdades compartilhadas: alforrias, etnicidades e família na sociedade escravista meridional (Porto Alegre-1748-1888)
- Paulo Roberto Staudt Moreira | PDF
- O Mercosul na ótica dos intelectuais brasileiros
- Heloísa Jochims Reichel, Denise Cappelari | PDF
Resenhas Críticas
- Nazismo, ocultismo e conspirações
- João Fábio Bertonha | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 11 n. 2 (2007): Maio/Agosto
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Eliane Cristina Deckmann Fleck, Maria Cristina Bohn Martins | PDF
Artigos
- El recurso de la violencia como mecanismo de cambio social en la sociedad del Paraguay Colonial a principios del siglo XVIII
- Mercedes Avellaneda | PDF (Español (España))
- A lança e as cartas: escrita indígena e conflito nas reduções do Paraguai – século XVIII
- Eduardo Santos Neumann | PDF
- El territorio jesuítico-guaraní: del enfrentamiento de sentidos al conflicto armado (1750-1761)
- Lía Quarleri | PDF (Español (España))
- A redução dos Zamuco no contexto colonial do século XVIII
- Fúlvio Vinícius Arnt | PDF
- Contato, guerra e negociação: redução e cristianização de Maynas e Jeberos pelos jesuítas na Amazônia no século XVII
- Fernando Torres-Londoño | PDF
- A ars moriendi jesuítica: história de uma prática psicológica
- Paulo José Carvalho da Silva | PDF
- Jesuítas e franciscanos perante as culturas e as religiões do Extremo Oriente: o caso da Apologia do Japão e a dramática missionação das Ilhas do Sol Nascente
- José Eduardo Franco | PDF
- As missões jesuíticas na região do Amazonas no século XVIII: um estudo de casos de mestiçagens
- Beatriz Helena Domingues, Breno Machado dos Santos | PDF
- Entre a cordilheira e o mar: exploração e evangelização jesuítica no Chile
- Artur H. F. Barcelos | PDF
- Reduções jesuíticas e povoados de índios: controvérsias sobre a população indígena (séc. XVII-XVIII)
- Maria Cristina dos Santos, Jean Tiago Baptista | PDF
- Antonio Ruiz de Montoya: promotor y defensor de lenguas y pueblos indígenas
- Graciela Chamorro | PDF (Español (España))
- Entrevista
- Antropología y lingüística en historia
- S.J. Bartomeu Melià | PDF (Español (España))
História Unisinos. São Leopoldo, v. 11 n. 1 (2007): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Ana Silvia Volpi Scott | PDF
Artigos
- Leituras sobre a emigração em Portugal – revisitação da Teoria Geral de José Frederico Laranjo (1878)
- Jorge Fernandes Alves | PDF
- João, Hans, Johann, Johannes: dialética dos nomes de batismo numa comunidade imigrante
- Sergio Odilon Nadalin | PDF
- O impacto da imigração no sistema familiar: o caso dos ucranianos de Antonio Olinto, PR
- Maria Luiza Andreazza | PDF
- Entre memórias e identidades (étnicas)
- Maria Catarina Chitolina Zanini | PDF
- O processo de construção da identidade ítalo-sul-riograndense (1875-1918)
- Paulo César Possamai | PDF
- Imigrantes italianos e a Società Italiani Uniti: algumas considerações preliminares
- Rosane Siqueira Teixeira | PDF
- A administração da África Oriental Portuguesa na segunda metade do século XVIII: Notas para o estudo da região de Moçambique
- Ana Paula Wagner | PDF
- Violência política e cisão no PRR de São Borja
- Eliane Lucia Colussi | PDF
- Ideologia e dominação: a ESG e a transição democrática no Brasil (1974-1989)
- Everton Rodrigo Santos | PDF
- Notas de Pesquisa
- A religião de Jacobina Mentz Maurer
- Martin N. Dreher | PDF
- Identidades, desigualdade e conflito: imigrantes e negros em um município do interior paulista, 1888-1914. Notas de pesquisa
- Karl Monsma | PDF
- A imigração portuguesa para o Brasil a partir de uma perspectiva microanalítica
- Ana Silvia Volpi Scott | PDF
- Intelectuais de fala alemã no Brasil do século XIX: o caso Karl von Koseritz (1830-1890)
- Imgart Grützmann | PDF
- Resenhas Críticas
- A esquerda progressista uruguaia: renovação e rupturas
- José Pedro Cabrera Cabral | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 10 n. 3 (2006): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- Uma história que se conta: o papel dos africanos e seus descendentes na formação do Rio Grande do Sul
- Regina Celia Lima Xavier | PDF
- O comércio de africanos ladinos e crioulos: vila do Rio Grande (1812-1822)
- Gabriel Santos Berute | PDF
- Ambigüidades da construção da ordem no Brasil: escravos, polícia e senhores no Oitocentos
- Adriana Pereira Campos | PDF
- “No labirinto dos rios, furos e igarapés”: camponeses negros, memória e pós-emancipação na Amazônia, c. XIX-XX
- Flávio Gomes | PDF
- Argumentos abolicionistas en Colombia
- Eduardo Restrepo | PDF (Español (España))
- Federico Brito Figueroa y la historia de los africanos sometidos a esclavitud en Venezuela
- José Marcial Ramos Guédez | PDF (Español (España))
- Entre el aporte a la identidad nacional y la reivindicación de las minorías. Apuntes sobre los afrodescendientes y la esclavitud en la historiografía uruguaya
- Alex Borucki | PDF (Español (España))
- De mitos y historias nacionales. La presencia/negación de negros y morenos en Buenos Aires
- Gladys Perri | PDF (Español (España))
- Formação de professores de História: experiências, olhares e possibilidades
- Ilka Miglio de Mesquita, Selva Guimarães Fonseca | PDF
- Do humanitarismo à intolerância. As contradições do discurso integralista
- Natalia dos Reis Cruz | PDF
- Justiça, bem comum, liberdade, autoridade e submissão para o fortalecimento do poder do príncipe na ótica de Bossuet
- Maria Izabel B. Morais Oliveira | PDF
- Resenhas Críticas
- Apontamentos sobre os encantos e desencantos de um conceito
- Caroline Jaques Cubas | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 10 n. 2 (2006): Maio/Agosto
Esta edição está temporariamente indisponível.
Caso necessário, entre em contato: periodicos@unisinos.br
Publicado: 2011-05-03
História Unisinos. São Leopoldo, v. 10 n. 1 (2006): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- Misericórdias da Santa Casa: um estudo de caso da prática médica nas Minas Gerais oitocentista
- Maria Leônia Chaves de Resende, Natália Cristina Silveira | PDF
- Dos cuidados e das curas: a negociação das liberdades e as práticas de saúde entre escravos, senhores e libertos (Rio Grande do Sul, Século XIX)
- Nikelen A. Witter | PDF
- Algumas considerações sobre história, saúde e homeopatia
- Beatriz Weber | PDF
- Lepra, morféia ou elefantíase-dos-gregos: a singularização de uma doença na primeira metade do século XIX
- Dilma Cabral | PDF
- Labirintos ao redor da cidade: as vilas operárias em Pelotas (RS) 1890-1930
- Lorena Almeida Gill | PDF
- Psiquiatría, psicología y política de izquierdas en Argentina del siglo XX: la historia intelectual de Gregorio Bermann
- Adrián Celentano | PDF (Español (España))
- Experiências de vida, experiências de loucura: algumas histórias sobre mulheres internas no Hospício São Pedro (Porto Alegre, RS, 1884-1923)
- Yonissa Marmitt Wadi | PDF
- Nas “entrelinhas” da história: sensibilidade e exclusão em narrativas da loucura
- Nádia Maria Weber Santos | PDF
- Tradução
- Gente com história, gente sem história. Diálogo entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier
- Comissão Editorial | PDF
- Notas de Pesquisa
- A loucura herda um espaço deixado pela lepra: fragmentos de história oral com os pacientes-moradores do Hospital Colônia Itapuã
- Viviane Trindade Borges | PDF
- Resenhas Críticas
- “As decaídas”: prostituição em Florianópolis (1900 – 1940)
- Silvia Maria Fávero Arend | PDF
- Fronteiras: paisagens, personagens e identidades
- Dora Isabel Paiva da Costa | PDF
- Análise do processo de tradução intercultural nas missões cristãs no Brasil
- Maria Cristina Bohn Martins | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 9 n. 3 (2005): Setembro/Dezembro
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- Familia, honor y género en Sicilia: modelos y nuevas investigaciones
- Ida Fazio | PDF (Español (España))
- Feminismo e gênero na universidade: trajetórias e tensões da militância
- Joana Maria Pedro | PDF
- Reflexões sobre violência doméstica: algumas contribuições para (re)pensar a violência contra crianças, adolescentes e mulheres
- Sônia Maria A. F. Almeida | PDF
- Quando sexo, gênero e sexualidade se encontram: reflexões sobre as pesquisas de gênero e sua relação com a Teoria Queer a partir da teologia
- André Sidnei Musskopf | PDF
- El traspaso del pensamiento de América Latina a África a través de los intelectuales caribeños
- Eduardo Devés Valdés | PDF (Español (España))
- De imigrante a empresário: formação e atuação da empresa de navegação fluvial de Nicolás Mihanovich (1875-1919)
- Lilia Inés Zanotti de Medrano | PDF
- Maldita leitura
- María Verónica Secreto | PDF
- Entre o corpo-militante-partidário e o corpo-transbunde-libertário: as vanguardas dos anos sessenta como signos da pós-modernidade brasileira
- Edwar de Alencar Castelo Branco | PDF
- O campo histórico – considerações sobre as especialidades na historiografia contemporânea
- José D’Assunção Barros | PDF
- As populações indígenas e o Estado Nacional pós-ditadura militar
- Cíntia Régia Rodrigues | PDF
- Notas de Pesquisa
- Uma história a procura de seu motivo: ensaio de método (os crimes da Rua do Arvoredo – Porto Alegre, 1863-4)
- Cláudio Pereira Elmir | PDF
- Resenhas Críticas
- Argentina y Brasil ¿perdidos en la traducción?
- Adrián Celentano | PDF (Español (España))
- Discutindo o futuro da Nova História Cultural
- João Claudio Arendt | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 9 n. 2 (2005): Maio/Agosto
Publicado: 2011-05-03
Comissão Editorial | PDF
Artigos
- Masculinidades plurais: a construção das identidades de gênero em obras literárias
- Pedro Vilarinho | PDF
- Mulheres na militância: trajetórias femininas na construção do PT do Rio
- Ana Maria Mauad, Fernanda Lima Rabelo | PDF
- Movimentos sociais e Serviço Social: protagonismo éticopolítico de mulheres
- Clair Ribeiro Ziebell | PDF
- A história de uma história – o protagonismo das mulheres na Teologia Feminista
- Marga J. Ströher | PDF
- Industrialização, urbanização e disciplinamento. O discurso moral como justificativa dos internamentos de homens e mulheres em uma instituição psiquiátrica (Hospital São Pedro, Porto Alegre, 1930-1947)
- Cleci Eulalia Favaro, Adriana Lopes Ávila, Wagner Pedroso | PDF
- O feminismo marxista e o trabalho doméstico: discutindo com Heleieth Saffioti e Zuleika Alambert
- Joana Maria Pedro, Soraia Carolina de Mello, Veridiana Bertelli Ferreira de Oliveira | PDF
- Gênero: uma palavra para desconstruir sentido e construir usos políticos
- Losandro Antonio Tedeschi | PDF
- O legado do pensamento filosófico de Leopoldo Zea para a América Latina: o latino-americanismo universal
- Werner Altmann | PDF
- Resenhas Críticas
- O processo de formação dos Estados nacionais na América Latina
- Eduardo Scheidt | PDF
- A Revolução Uruguaia de 1904: novos debates sobre sua legitimidade
- José Pedro Cabrera Cabral | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 9 n. 1 (2005): Janeiro/Abril
Publicado: 2011-05-03
- Apresentação
- Comissão Editorial | PDF
- Artigos
- Escritos guaraníes como fuentes documentales de la historia paraguaya
- Bartomeu Melià | PDF (Español (España))
- El ejercito guaraní en las reducciones jesuitas del Paraguay
- Mercedes Avellaneda | PDF (Español (España))
- El nudo gordiano de las políticas indígenas de los grupos chaqueños. Misiones, misioneros y guerras en la génesis de una sociedad de jefatura, segunda mitad del siglo XVIII
- Carlos D. Paz | PDF (Español (España))
- De coadjuvantes a protagonistas: seguindo o rastro de algumas lideranças Kaingang no sul do Brasil
- Luís Fernando da Silva Laroque | PDF
- Matar um jaguar: a natureza na cultura Guarani através do discurso missionário
- Jean Baptista | PDF
- Notas de Pesquisa
- As missões populares na Carta Ânua de 1735/43, da Província Jesuítica do Paraguai
- Beatriz Vasconcelos Franzen | PDF
- A História num outro plano: in memoriam de Marcos Justo Tramontini
- Heloisa Jochims Reichel | PDF
História Unisinos. São Leopoldo, v. 8 n. 10 (2004): Julho/Dezembro
Esta edição está temporariamente indisponível.
Caso necessário, entre em contato: periodicos@unisinos.br
Publicado: 2011-05-03
L’incendie planétaire. Que fait l’ONU? – DEJAMMET (RTA)
DEJAMMET, Alain. L’incendie planétaire. Que fait l’ONU? Paris: Cerf, 2015. Resenha de: SILVA, Daniel Afonso. Da Organização das Nações. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 7, n.16, p. 299 ‐ 303, set./dez. 2015.
O fim do conflito Leste‐Oeste modificou a densidade e a qualidade de todas as ações no meio internacional. Os Estados Unidos acreditaram ter ganhado a guerra fria e decretaram o fim da história. Doravante o mundo inteiro serviria pretensamente aos seus preceitos liberais marinados no american way of life. Mas as fraturas no modelo não tardaram a aparecer. Os europeus estavam em vias de consolidar uma nova Europa. Iugoslávia e Iraque demandavam atenção especial dos defensores da nova ordem mundial. Ruanda e Sérvia mostravam a impotência das potências. Os sul‐americanos iam‐se acomodando no Mercosul e em suas novas repúblicas ávidas por democracia. Os russos iam aprendendo a viver depois da URSS. Os chineses e indianos planificavam o seu novo lugar ao sol. Os africanos iam amargando o choque da descolonização. De súbito, veio o 11 de setembro de 2001 e com ele a revanche de todos aqueles, especialmente muçulmanos, retirados, anteriormente, da história. Seria o choque de civilizações? Não demorou a demonização do Oriente Médio e o apelo à perseguição sem fim do inimigo sem rosto nem nome encarnado no terror. Iraque e Afeganistão voltam às páginas dos jornais. Estados Unidos e seus aliados investiram contra eles. E eis que surgem os BRICs, a quintessência dos países emergentes. Mas Egito, Turquia, Líbia continuavam às voltas com suas tensões por não serem países ricos nem emergentes. Da Eurásia, georgianos e ucranianos reivindicam a soberania nacional de sua integridade territorial enquanto no Cáucaso a demanda segue pelo direito de autodeterminação. Em meio a isso irromperia a crise financeira de 2007‐2009. A recomposição de forças vai‐se impondo. Os 99% começariam a bradar mais forte contra os do 1%; e da ocupação de Wall Street insuflaram a ocupação da praça Tahrir e de outras praças. A primavera dos povos árabe estava, assim, em marcha. Da Tunísia ao Egito, ao Barein, ao Mali, à Líbia, à Síria, a palavra de ordem era modificar seus mandatários. Alguns conseguiram; outros não. Mesmo aos observadores acostumados com as turbulências do mundo contemporâneo, a aceleração dos fenômenos e das crises aflige e constrange.
Haja agonia e haja história.
Mas mais pela agonia que pela história, justamente após o conflito Leste‐Oeste, a instituição que surgiu após o conflito 1939‐1945, de nome Nações Unidas, voltou a protagonizar a resolução de conflitos e a promoção da paz. Teria ela conseguido? Essa pergunta nada ingênua e muito consequente representa a discussão central de L’incendie planétaire de Alain Dejammet.
Às voltas com as comemorações dos setenta anos das Nações Unidas em 2015, esse experiente diplomata francês e profundo conhecedor da estrutura onusiana põe em perspectiva a atuação da Organização e evoca suas profundas contradições internas de 1991 aos nossos dias, mostrando como ela vem atuando nessa reconfiguração do mundo após o fim do conflito Leste‐Oeste.
Ele ressalta que desde a gestão de Boutros Boutros‐Ghali (1992‐1996) a obsessão por reforma tomou conta das Nações Unidas. Após a paralisação de grande parte de suas atividades durante o conflito Leste‐Oeste, os anos de 1990 assistiram a sua hiperatividade. Grandes conferências em torno de temas como clima, população, racismo, direitos humanos, direitos das mulheres, habitação deram mostra de sua performance, mas não resolveram seus problemas internos. Desde seus inícios, os membros das Nações Unidas preferiram cooperar mais em pequenos grupos que com o conjunto dos participantes que hoje correspondem a 194. Isso denota desconfiança entre todos, o que acaba por impedir reformas. O caso do Conselho de Segurança talvez seja dos mais emblemáticos.
Ele avalia que, desde a fundação das Nações Unidas em 1945, os autoproclamados vencedores da segunda guerra mundial – Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França – concorrem para a manutenção da paz com seu direito a vetar ou liberar a atuação da organização na gestão de crises internacionais. O passar dos anos foi permitindo a ampliação dos membros consultivos, mas engajados como não‐permanentes. Ao menos a partir de 1994, foi‐se fazendo algum consenso pela inclusão de mais membros como permanentes. Do lado europeu, a Alemanha estaria na frente da disputa. Mas sua entrada imporia a discussão do ingresso de outros pretendentes de importância como a Itália e a Espanha. Do lado latinoamericano, o Chile e a Argentina manifestam dificuldades em apoiar as intenções brasileiras em ser membro permanente. Na Ásia cabe ao Paquistão desconfiar das manobras dos indianos. Na África inexiste consenso diante da possível candidatura da África do Sul. O caso japonês segue dos mais complexos por causar constrangimento entre norte‐americanos, russos e chineses
Em sua perspectiva, o Conselho Econômico e Social, menos conhecido e pouco difundido pela imprensa, possui importância decisiva e suscita o mesmo debate. Ao menos desde os anos de 1975 ele gravita sobre o G7, tornado G8 nos anos de 1990 e ampliado, em ocasiões, em G20 nos anos 2000. Esses grupos acabam por imprimir seus interesses no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e na Organização Mundial do Comércio. Mas como aceitar – pergunta‐se Dejammet – que, entre os africanos, somente a África do Sul faça parte do grupo e, entre os países árabes, somente a Arábia Saudita?
Além da “imperfeição” dos Conselhos, ele ainda chama a atenção para o desprezo dirigido à Secretaria Geral das Nações Unidas. Mostra que existe pouco consenso diante da atuação dos secretários gerais, mas todos vêm exercendo suas funções sob o imperativo da discrição sugerido pela Carta das Nações Unidas. Lembra que Dag Hammarskjöld (1953‐1961) foi enfático na defesa de saídas para as crises em Suez e no Congo. Maha Thray Sithu U Thant (1962‐1971) pediu mais atenção à Ásia. Kurt Waldheim (1972‐1981), ao Oriente Médio. Javier Pérez de Cuellar (1982‐1991), diante dos conflitos no Iraque, no Irã e na América Central. Boutros Boutros‐Ghali (1992‐1996), pelas operações na Iugoslávia e no mar vermelho. Koffi Annan (1997‐2007), contra os norte‐americanos em sua investida no Iraque. Ban Ki‐Moon (2008 ao presente), pelas crises humanitárias.
Dejammet ainda lembra que, às voltas com seus setenta anos de existência, as Nações Unidas organizam entre trezentas e quatrocentas reuniões anuais dispondo de um orçamento de 3 bilhões de dólares para despesas ordinárias e 8 bilhões de dólares para operações de manutenção da paz. Os Estados Unidos são os que mais contribuem, 22%, seguidos de Japão, 14%, Alemanha, 8%, França e Reino Unido, 6%, China, 5%, Rússia, 3% e todos os demais menos de 1,5%. Isso indica que a máquina burocrática onusiana ficou deveras pesada e custosa. Entretanto, reformá‐la, advoga Dejammet, continua sendo um desafio mais e mais distante mesmo diante desse torvelinho de transformações internacionais que suscitam cada vez mais o reforço das estruturas estabelecidas. Uma efetiva reforma dependeria, segundo ele, “da parte de todos, mais escrúpulos, humildade, consideração pelos motivos coletivos, ou seja, um pouco mais de conhecimento de história e geografia”. Essa franqueza permeada de clareza absoluta no domínio dos meandros das Nações Unidas, que está presente em todo o livro, é que faz de L’incendie planétaire de Dejammet uma leitura indispensável.
Daniel Afonso da Silva – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e professor‐pesquisador no Ceri‐Sciences Po de Paris. França. E-mail: daniel.afonso66@hotmail.com.
Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas. Londrina, v. 16, n.3, 2015.
Artigos
- A Aula e suas Estratégias de Ensino | Aline Rodrigues | |
- Influências do Corpo/Movimento no Desempenho de Alunos com Dificuldades de Aprendizagem | Cleonice Terezinha Fernandes, Cilene Maria Antunes Maciel, Maria Isabel Mourão-Carvalhal, Paulo Moreira Silva Dantas | |
- O Professor Frente à Leitura de Hipertextos na Construção de Sentidos | Claudia Lucia Landgraf-Valerio, Dolores Aparecida Garcia | |
- Impactos da Utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação no Processo de Ensino e Aprendizagem da Matemática | Leonardo Sturion, Marcia Cristina dos Reis, Cecilia de Morais Gonçalves | |
- Desmistificando o Uso de Software num Trabalho com a Língua Portuguesa | Afife Maria dos Santos Mendes Fontanini, Rosemari Bendlin Calzavara | |
- Política Nacional para a Inclusão no Ensino Superior: uma Revisão da Legislação | Tatiana dos Santos, Regina Célia Linhares Hostins | |
- Gestão de Corpo e Mente com Yoga: um Enfoque para Saúde, Bem-Estar e Qualidade de Vida | Márcia Cristina da Silva Oliveira, Fabiana Budy Winiawer | |
- Educação Superior: a Precarização do Trabalho Docente | Marcia Akemi Yamada, Soraia Kfouri Salerno | |
- Plano de Desenvolvimento da Educação e Gestão Escolar: Uma Visão Integrada | José Márcio Silva Barbosa, Rita Márcia Andrade Vaz de Mello | |
- Critical Teaching and Horizontal Relations in the Classroom | Fernando Pardo | |
- Ensino de Iluminação Cênica em Instituição de Educação Tecnológica: uma Abordagem Teatral | Vagner de Souza Vargas, Denise Marcos Bussoletti | |
- Atenção Oncológica do Colo de Útero no Brasil: as Políticas de Educação à Distância na Educação Permanente Profissional | Marcelo Camacho Silva | |
- Identificação de Situações de Bullying em uma Escola de Londrina-PR | Bruna Rezende Teixeira, Janaina Mazzer Salinet, Laira Cristine Estabile, Solange Maria Beggiato Mezzaroba, Paulo Guerra Soares | |
- A Cobertura da Folha de Londrina, a Eleição de 2012 e os Efeitos da Visibilidade | Romer Mottinha Santos | |
- Interatividade no Ensino e Aprendizagem de Inglês e de Química na Educação Básica: Proposta de Atividade Utilizando a Tecnologia Móvel | Alessandra Dutra, Nevton de Liz | |
Publicado: 2015-09-25
Argumentação – FIORIN (B-RED)
FIORIN, José Luiz. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015. 272 p. Resenha de: GRÁCIO, Rui Alexandre. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, v.10 n.3 São Paulo Sept./Dec. 2015.
Embora o Professor Fiorin informe aos seus leitores, logo no prefácio, que vários dos textos que compõem esta obra retomam trabalhos já publicados em diversas revistas ou livros, ele esclarece também que “tudo foi ampliado e reorganizado para ganhar a exaustividade e a coerência que a publicação deste livro exigia” (p.10).
Argumentação é um livro que se propõe “discutir as bases da argumentação” e “expor as principais organizações discursivas, ou seja, os principais tipos de argumentos” (p.10). Este objetivo é levado a cabo de uma forma sistemática e completa, aliando-se a erudição do autor a uma escrita clara e abundante em exemplos provenientes de fontes diversas.
A obra apresenta um estrutura tripartida. A parte I intitula-se “Problemas gerais de argumentação”, a parte II “Os argumentos” e a parte III “A organização do discurso”. Pela amplitude e natureza da divisão apresentada não é difícil ver que a palavra que dá título à presente obra remete, de facto, para o domínio do discurso retórico-argumentativo. Se, no prefácio, é avançada a tese de que “todo o discurso tem uma dimensão argumentativa” (p.10), ideia suportada pela referência ao dialogismo inerente ao funcionamento do discurso tal como Bakhtin o concebeu – devendo, portanto, o estudo da argumentação ir para além das microanálises que a sua teorização como “argumentação na língua” possibilita e situar-se, também, num plano discursivo – é igualmente afirmado, por outro lado, que “a retórica é, sem dúvida nenhuma, a disciplina que, na história do Ocidente, deu origem aos estudos do discurso” (p.22).
Poderíamos, pois, dizer que este livro assume que a abordagem retórico-argumentativa se tornou hoje uma perspetiva de importância crucial no campo dos estudos discursivos e que a junção dos termos retórica e argumentação implica que a chamada “retórica restrita”, cingida ao estudo estilístico e ornamental das figuras, evoluiu de novo para uma abordagem que a entrelaça com o discurso argumentativo. Nesse sentido, afirma o Professor Fiorin que “se as figuras retóricas não podem ser consideradas enfeites do discurso, então precisam de ser analisadas na sua dimensão argumentativa” (p.27). Mas, diferentemente do que acontece em Figuras de retórica (FIORIN, 2013), este livro ocupa-se de um espectro mais alargado de assuntos e não se cinge à questão das figuras. Antes mergulha nos aspectos essenciais da argumentação sem perder de vista o pano de fundo das estratégias retóricas.
Um dos aspectos essenciais através do qual se faz progredir um discurso é a sua tessitura inferencial. Ela é analisada neste livro de três pontos de vista: o lógico, o semântico e o pragmático.
No que diz respeito ao primeiro, são elencados e exemplificados diversos tipos de inferência: a eliminação, a afirmação do consequente, a negação do antecedente, a disjunção exclusiva, a regra de encadeamento, a contraposição, a regra do nem/nem, a regra de não as duas ou de negação da disjunção dupla, a regra da bicondicionalidade e, finalmente, a regra da dupla negação. Todas estas operações lógicas são determinadas por relações entre proposições e regem-se pela inferencialidade necessária.
No que toca às inferências semânticas, que colocam em jogo a relação entre o explícito e o implícito, o autor detém-se sobre o pressuposto (e respectivos marcadores) e o subentendido, assinalando neste último a característica dele permitir “dizer sem dizer” ou “sugerir, mas não afirmar” (p.39).
Finalmente, e no que concerne à inferência pragmática, a referência fundamental são os princípios que governam a utilização da linguagem na troca verbal tal como foram enunciados nas quatro máximas de Grice. Elas são aqui enunciadas, explanadas e abundantemente exemplificadas.
Após a análise da inferência, na sua tríplice dimensão, são estudadas formas de raciocínio: a dedução, a indução e a analogia.
A abordagem da dedução centra-se no silogismo. Depois da caracterização, enumeração e exemplificação das suas regras extensionais, o autor passa em revista os modos e as figuras, fazendo ainda referência aos silogismos complexos como o epiquirema, o sorites e o polissilogismo. Debruça-se também sobre o ntimema, optando pela visão que o define como um silogismo cuja conclusão se funda em premissas prováveis e não necessárias, ainda que o entimema possa ser também visto como um silogismo truncado na medida em que uma das suas premissas não é explícita.
Na indução, são diferenciadas a completa e a amplificante, sendo analisadas as condições em que uma indução é forte ou fraca.
Finalmente, no que diz respeito à analogia – cuja conclusão é também sempre provável -, o autor descreve e exemplifica o funcionamento do raciocínio analógico e mostra o que faz com que uma analogia possa ser forte ou fraca. Inclui também a comparação e o exemplo nas formas de raciocínio analógico. Note-se ainda que, em muitas situações, o autor não só explica o funcionamento do raciocínio como analisa também o modo de questionar e refutar certos tipos de raciocínio, pondo assim em prática o princípio da antifonia.
Depois desta passagem pela lógica – que aliás sugere que o autor valoriza uma visão proposicionalista da razão, ou seja, que faz da proposição o elemento essencial do discurso – dá-se entrada nos “fatores da argumentação” justamente com a seguinte definição: “Um argumento são proposições destinadas a fazer admitir uma dada tese” (p.70), fazendo equivaler o “fazer admitir” à “finalidade de persuadir”. Se as considerações sobre a lógica remetiam para o discurso monológico da demonstração, a finalidade da persuasão abre para a dimensão dialógica e retórica do discurso. Dialógica porque qualquer discurso habita o interdiscurso, e retórica pela presença de um auditório a persuadir pelo discurso e em que têm de ser tomados em consideração o ethos, o pathos e o logos.
O éthos é a imagem de si construída discursivamente pelo orador: “O éthos (…) é um autor discursivo, um autor implícito” (p.70). Essa construção pode ser mais ou menos eficaz em termos de credibilidade do orador e podemos encontrar as suas marcas no interior da “materialidade discursiva da totalidade” (p.71).
No que diz respeito ao auditório, ele surge, do ponto de vista retórico, como uma variável essencial da força dos argumentos e é crucial que o orador conheça “o pathos ou o estado de espírito do auditório” (p.73). Este conhecimento é, de facto, uma construção do orador que não é sem reflexos para o discurso que, de algum modo, tem que adaptar-se ao auditório ao qual se dirige.
Já o logos, ou discurso, sempre considerado numa situação de comunicação em que se tem de considerar a adesão do auditório, não pode ser senão do domínio do plausível, do verosímil, do provável. As conclusões das argumentações não têm um carácter coercivo, nem possuem uma validade impessoal. Pelo contrário, elas põem em jogo o preferível e só podem socorrer-se da intensidade variável da força dos argumentos.
Advoga ainda o Professor Fiorin que, apesar da distinção entre demonstração e argumentação proposta por Perelman, ela não tem de ser interpretada em termos de oposição rígida: “A distinção entre argumentação e demonstração não é tão rígida. De um lado, mesmo se fundando no preferível, a argumentação pode comportar elementos demonstrativos. Do outro, mesmo as ciências apresentam controvérsias muito grandes e, portanto, seu discurso é argumentativo no sentido de Perelman” (p.78). Parece-nos, contudo, importante assinalar que a argumentação remete, segundo Perelman, para o domínio do opinável e que este não comporta critérios formais de validação. É nesse sentido que este teorizador afirma que “a correção está para a gramática como a validade para a lógica e a eficácia para a retórica”1, acrescentando ainda que todo o discurso que não aspira a uma validade impessoal cai sob a alçada da retórica e das práticas argumentativas2.
A argumentação implica o uso da linguagem e, asserta mesmo o autor, “a argumentação é uma questão de linguagem” (p.78). Ora, a linguagem é não apenas polissémica como é também susceptível de vagueza e de ambiguidade. Ela é indissociável da interpretação e, por isso, ideias como “objetividade”, “imparcialidade” e “neutralidade” são, na realidade, conceitos impossíveis: “a linguagem” – escreve o Professor Fiorin – “está sempre carregada dos pontos de vista” (p.83) e a linguagem nunca é neutra. Dizemos sempre coisas usando certas palavras e deixando na sombra outras. Ou seja, o dizer é simultaneamente um processo de saliência e de filtragem. A seletividade interpretativa é pois uma inultrapassável condição dos usos humanos da linguagem.
No entanto, se a ambiguidade e a vagueza são inerentes à linguagem natural, remetendo para “formações discursivas que implicam interpretações e apreciações conflitantes” (p.81), nem por isso deixa de haver ambiguidades que devem ser evitadas. Estão nesse caso as ambiguidade lexicais e as ambiguidades sintáticas, para além de outros equívocos associados à polissemia das palavras.
Ressalva contudo o autor que “a linguagem natural tem a sua lógica própria, o que leva a que, no seu uso cotidiano, nem sempre se possam aplicar as leis da Lógica” (p.87). Isso mesmo também foi salientado por Perelman ao classificar a argumentação como uma lógica informal e ao associá-la à retórica e à questão da adesão.
Na senda de Perelman, também o Professor Fiorin vê no acordo prévio uma condição de qualquer argumentação. Poderíamos assim dizer que os argumentadores são pessoas que se entendem sem estar de acordo: entendem-se porque partilham pontos comuns (por exemplo, a importância e os termos de um problema), mas não estão de acordo porque diferem quanto à solução para esse problema. É claro que até os pontos de acordo podem ser estrategicamente negociados e hoje em dia muita gente se recusa a responder a perguntas feitas em termos que não aceitam.
De qualquer forma, na sociedade há sempre valores partilhados e lugares comuns (não no sentido de clichés) que são propícios a acordos prévios e Aristóteles identificou muitos deles. O Professor Fiorin retoma parte deles, explanando-os e exemplificando o seu funcionamento. O mesmo faz relativamente aos valores, salientando que eles podem funcionar de uma forma inclusiva ou exclusiva e que não são sem relação com a doxa.
A segunda parte do livro trata de diferentes tipos de argumentos. Organiza-se nas suas partes aceitando a repartição dos argumentos proposta por Perelman e Tyteca. Assim, o autor debruça-se, sucessivamente, sobre os argumentos quase lógicos, sobre os que se fundamentam na estrutura do real e sobre os argumentos que fundam a estrutura do real, não deixando de analisar também o procedimento da dissociação de noções. No entanto, a retoma da tipologia de Perelman e Tyteca é feita de uma forma alargada, com explicitações de grande valia pedagógica e com exemplificações que o autor vai buscar a diversas fontes. Aliás, o autor vai mesmo para além da tipologia proposta por Perelman e Tyteca, fazendo uma incursão por “outras técnicas argumentativas” geralmente associadas à ideia de falácia. Nesse sentido, leva em consideração a posição normativa inerente a todos aqueles que acham possível estabelecer critérios para avaliar as argumentações e distinguir os bons dos maus argumentos. Esta posição estava já patente na importância que na primeira parte do livro o autor atribuiu à lógica e ao raciocínio lógico, tendo nós assinalado a visão proposicionalista da razão para que essa valorização dos elementos lógicos apontava.
Este sublinhado é importante porquanto muitos dos atuais teorizadores da argumentação não consideram ser a proposição a melhor unidade de abordagem e estudo das argumentações. Por exemplo, para Ruth Amossy “a natureza argumentativa do discurso não implica que sejam usados argumentos formais, nem sequer significa que uma ordem sequencial de premissa conclusão é imposta ao texto oral ou escrito”3. A unidade escolhida por esta teórica para a análise das argumentações é o discurso, e foi para afastar a sua teoria da lógica e da “argumentação na língua” que ela designou a perspetiva que defende como “argumentação no discurso”. Outros, como Michel Meyer4, preferiram eleger como centrais a noção de problema e o par pergunta-resposta. Outros ainda, como Marc Angenot5, falam da argumentação retórica como algo de antilógico, havendo ainda quem defenda que a unidade propícia ao estudo das argumentação é a noção de “assunto em questão”6.
No entanto, o estudo das falácias tem a sua produtividade na medida em que coloca uma questão central no estudo da argumentação: a dimensão da avaliação das argumentações, embora esta deva ser tratada diferentemente nos discursos monológicos, nos dialógicos e nos dialogais.
Seguindo o esquema anteriormente referido, o Professor Fiorin passa em revista os argumentos quase lógicos, os argumentos fundamentados na estrutura da realidade e os argumentos que fundamentam a estrutura do real. É assim exposta toda uma tipologia de argumentos, explicado o seu funcionamento e exemplificada a sua utilização. O inventário é muito completo e rico e a ele sucede-se uma referência à dissociação de noções. O autor segue aqui de novo Perelman, que tinha definido os procedimentos de ligação e de dissociação como os procedimentos fundamentais das técnicas argumentativas.
Finalmente, e transcendendo os parâmetros da tipologia perelmaniana dos argumentos, o autor reserva uma secção do livro, como se referiu já anteriormente, a “outras técnicas argumentativas”. Trata-se de fazer aqui referência àquilo que tradicionalmente foi apelidado de “falácias”, mas que, como bem sublinha o autor, quando abandonamos uma visão teórica normativa da argumentação, mais não são do que estratégias argumentativas: “o que foi chamado falácia, no entanto, são estratégias argumentativas que sempre foram empregadas no discurso público, na publicidade, etc.” (p.200).
É claro que o que aqui está em causa é muitas vezes o uso abusivo que se faz de uma estratégia argumentativa. Quando, apelando a valores, se pretende fazer passar algo como natural ou normal, é sempre bom desconfiar desta naturalização e pensar na dimensão de historicidade das noções e das concepções. O mesmo se pode dizer do recurso a lugares-comuns e a lugares específicos na aliança com as narrativas que possibilitam construir. Também o uso dos implícitos na argumentação é uma estratégia que em certos casos pode ser questionada, nomeadamente quando se pretende fazer passar algo de implícito como inquestionável, dando origem ao que o autor chama “persuasão encoberta” (p.209).
No rol de estratégias consideradas como falaciosas ou potencialmente falaciosas, o autor refere a utilização das perguntas capciosas (ou, seja, aquelas que apresentam afirmações implícitas cuja resposta acaba por confirmar), o secundum quid (ou generalização indevida), a petição de princípio (ou raciocínio circular), a ignoratio elenchi (ou fuga ao assunto), a distorção do ponto de vista do adversário ou o argumento do espantalho (nas suas diferentes modalidades), o uso de paradoxos, ironias e silêncios (enquanto recursos argumentativos) e o argumento do excesso (hiperbólico).
Ao passar este conjunto de estratégias em revista – umas respeitantes ao raciocínio e outras ligadas à interação – o autor está ciente de que “hoje a teoria da argumentação não pode pensar o debate em termos de uma racionalidade normativa” (p.215). Com efeito, isso é também visível no conjunto de estratégias argumentativas analisadas pelo autor quer sob a designação de “argumentos que apelam ao pathos“, aí se incluindo o argumentum ad populum, o argumentum ad misericordiam e o argumentum ad baculum, quer sob a da ideia de recursos relacionados com o éthos do enunciador.
A parte final do livro debruça-se, como anteriormente se disse, sobre a organização do discurso. O autor retoma aqui a dispositio da retórica antiga e fornece indicações quer quanto à organização do discurso (retomando Aristóteles), quer relativas à organização de textos dissertativos.
Como balanço final, impõe-se dizer que estamos perante um livro que, não entrando no debate sobre os diversos pontos de vista teóricos sobre a argumentação e a retórica, proporciona ao leitor um valioso e exaustivo conjunto de conhecimentos sobre o discurso retórico-argumentativo, familiariza-o com a metalinguagem ou com a terminologia essencial deste campo de investigação – sempre recorrendo a esclarecedores exemplos que permitem perceber a atualidade da análise retórica-argumentativa – e, finalmente, proporciona-lhe uma visão simultaneamente clara e sintética dos principais conceitos que dão forma a este fascinante domínio dos estudos da linguagem. Todos estes ensinamentos são de extrema importância quando situados no quadro da vida social e quando pensamos, nas palavras do Professor Fiorin, numa das suas principais conquistas: a compreensão de que “não se poderiam resolver todas as questões pela força, era preciso usar a palavra para persuadir os outros a fazer alguma coisa” (p.9).
1PERELMAN, CH. E OLBRECHTS-TYTECA, L. Rhétorique et Philosophie.Pour une théorie de l’argumentation en philosophie. Paris: Presses Universitaires de France, 1952. p.38.
2Escreve Perelman: “[…] todo o discurso que não aspira a uma validade impessoal depende da retórica. (…) Assim concebida, a retórica cobre o campo imenso do pensamento não formalizado […]”. (Perelman, Chaïm. O império retórico. Trad. Rui Grácio e Fernando Trindade. Porto: Edições ASA, p.172-173).
3AMOSSY, R. Argumentation in Discourse: A Social Approach to Arguments. Informal Logic, Vol. 29, n. 3, 2009, p.254.
4Cf. MEYER, M. Principia Rhetorica. Une théorie générale de l’argumentation. Paris: Fayard, 2008.
5Cf. ANGENOT, M. Dialogues de sourds. Traité de rhétorique antilogique Paris: Mille et une nuits, 2008.
6Cf. GRÁCIO, R. A. Para uma teoria geral da argumentação. Questões teóricas e perspectivas didácticas. Coimbra: Grácio Editor, 2012.
Rui Alexandre Grácio – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal; rgracio@gmail.com.
Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988 | Daniel Arão Reis
Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense em “Ditadura e democracia no Brasil”, faz um passeio pela História política do país, dialogando sobre a gênese da ditadura e o frágil processo de construção da democracia, como se fora uma fina camada de gelo, prestes a rachar diante de momentos de impacto ou pressão social.
Seu livro discute as periodizações e memórias utilizados pelo senso comum e por historiadores sobre o período governado por generais, tecendo comentários provocadores e de aguda análise, sobre os diferentes sujeitos relacionados aos processos políticos brasileiros e seu envolvimento em uma multiplicidade de questões, muitas das quais, controversas. Leia Mais
A Inquisição Contestada: críticos e críticas ao Santo Ofício português (1605-1681) | Yllan Mattos
O Tribunal da Santa Inquisição em Portugal foi criado em 1536, com o intuito de zelar pela pureza da fé católica dando início a um processo de perseguição àqueles que de alguma forma cometeram, pronunciaram ou defenderam heresias, na qual os cristãos-novos seriam suas principais vítimas. Em um segundo momento, os sodomitas, bígamos, blasfemos, luteranos e feiticeiros (em menor número), se tornaram alvos constantes por parte do Tribunal. Leia Mais
O cordel e o migrante nordestino: companheiros de viagem | Júlia Constança Pereira
O cordel e o migrante nordestino: companheiros de viagem é um livro de Júlia Constança Pereira Camelo, professora do curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). A obra é uma versão da dissertação de mestrado em História defendida pela autora na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Assis), no ano de 2000. O livro se relaciona à trajetória de vida da autora, “nordestina, pernambucana, de origem rural, após trilhar um longo caminho permeado por algumas migrações”.[1]
O objetivo da obra é analisar como os poetas migrantes do Nordeste, radicados no Rio de Janeiro, desenvolveram a produção de cordel no período entre 1960 e 1990, em função do público.[2] O recorte é explicado da seguinte maneira: parte-se da década de 60, “que apresentou uma crise [na produção de folhetos de cordel] observada por todos aqueles que compararam 60 com 50” [3] ; e estende-se até as décadas de 80 e 90, porque nesse período “encontra-se a principal tendência do cordel urbano”: produção de folhetos e biografias de personagens ilustres, políticos, escritores, cientistas, pensadores e até pesquisadores voltados para a cultura popular.[4] Leia Mais
O mundo como vontade e representação. Tomo II – SCHOPENHAUER (RFA)
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. Tomo II. Tradução de Eduardo Ribeiro da Fonseca. Curitiba: Ed. da UFPR, 2014. Resenha de: LAZZARETTI, Lucas Piccinin. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v.27, n.42, p.941-946, set./dez, 2015.
A obra de Arthur Schopenhauer foi tradicionalmente recepcionada fragmentariamente, não apenas na contemporaneidade, mas também em seu tempo. A publicação do primeiro tomo de sua obra-prima, O Mundo como vontade e representação, em 1818, não foi um grande acontecimento, tampouco abalou as estruturas da filosofia alemã de sua época — filosofia essa que conhecia nas figuras de gigantes como Hegel, Schelling e Fichte a manifestação de certa tendência pós-kantiana. Essa mesma tendência de distância dos holofotes acadêmicos manteve-se quando da publicação do segundo tomo, em 1844, conjuntamente com uma reedição do primeiro tomo, de tal modo que Schopenhauer teve de apelar a seu editor, justificando-se em considerações que afirmavam ser possível ler os capítulos do segundo sem uma necessária referência ao primeiro. Essa artimanha negocial de Schopenhauer não expressava, no entanto, sua verdadeira intenção, já que, para o filósofo alemão, a leitura séria deveria ser realizada para com o todo da obra, sendo que o segundo tomo não serviria como uma complementariedade alienada do primeiro, mas, antes, uma verdadeira conjunção de unidade.
A pretensão do filósofo, no entanto, não parece ter alcançado a realidade efetiva na Alemanha de sua época, uma vez que Schopenhauer passa a ser lido apenas em seus últimos anos de vida e, além disso, ocorreu certa tendência fragmentária na recepção de sua obra em outros países, entre eles o Brasil. Apenas no início dos anos 2000 o Brasil recebeu uma efetiva tradução do primeiro tomo de O mundo como vontade e representação, realizada por Jair Barboza, e, finalmente, em 2014, recebeu a tradução do segundo tomo, realizada por Eduardo Ribeiro da Fonseca. Desde uma perspectiva inicial, o feito que representa a tradução desse segundo tomo, obra tão volumosa, já merece destaque, não por seu aspecto quantitativo, porém por seu destaque qualitativo.
Desempenhada com verdadeiro esmero, a tradução recobre o árduo labor de ter de verter para uma língua latina uma língua germânica, o que, desde o princípio, é sempre um entrave e um convite ao trabalho rigoroso. Ademais, não se pode negar o fato de que Schopenhauer está inserido em uma tradição da filosofia alemã que não apenas remonta a Kant, mas que estabelece vivo diálogo com a filosofia clássica alemã, isto é, com o idealismo alemão, de tal maneira que, ao realizar a tradução, Eduardo Ribeiro da Fonseca teve de atentar para o uso técnico-filosófico das palavras, ação na qual foi plenamente satisfatório. O cuidado em apresentar a grafia de termos em alemão — tais como Wirklichkeit, Witz ou Erfahrung — não é mero preciosismo acadêmico, mas denota o cuidado para com a tradição na qual se encontrava o autor traduzido. De igual maneira, o tradutor empenhou-se em apresentar a grafia original de termos empregados por Schopenhauer em línguas diversas ao alemão, tais como grego e latim, o que representa um respeito ao autor e permite com que o leitor se aperceba da erudição do filósofo alemão.
O maior mérito da tradução, no entanto, diz respeito ao cuidado do tradutor em produzir uma vasta gama de notas que servem não só como um auxílio ao texto de Schopenhauer, mas também como fomento da pesquisa sobre o autor em solo brasileiro. A publicação desse segundo tomo, assim, é duplamente valorosa para a pesquisa filosófica brasileira, já que serve aos estudiosos o texto completo da principal obra de Schopenhauer, além de ser acompanhado de um minucioso trabalho de análise e sopesamento da relação de Schopenhauer com outros pensadores, sobretudo com Nietzsche e Freud.
Sobre esse ponto há que se tecer um breve comentário. O tradutor, Eduardo Ribeiro da Fonseca, apresenta profunda honestidade intelectual ao declarar, em seu texto introdutório à tradução, as veredas e os caminhos que trilhou, tanto para chegar a Schopenhauer quanto para partir de Schopenhauer. Ter se aproximado do filósofo alemão pelas vias do dramaturgo sueco August Strindberg revela muito não apenas sobre o tradutor, mas sobre certa tendência de “descoberta” de Schopenhauer.
É inegável o fato de que o filósofo alemão foi muitas vezes salvaguardado e mesmo “mantido avivado” pelas forças literárias. Assim como Nietzsche encontrou primeiramente leitores de verve não estritamente necessária — com Hermann Hesse ou Robert Musil —, Schopenhauer encontrou em diversos autores de literatura sua primeira recepção fora da Alemanha. É o caso de Pío Baroja, na Espanha, de Augusto dos Anjos e Machado de Assis, no Brasil, e, é claro, de August Strindberg. Assim, quando o tradutor designa sua origem, o faz de maneira a inscrever-se em uma sólida tradição.
Por outro lado, ao partir de Schopenhauer, Eduardo Ribeiro da Fonseca passa — quase que necessariamente — por Nietzsche, mas encontra-se, por fim, com Freud. É esse o encontro que rende maior impacto sobre a tradução e, mais precisamente, sobre as notas ali inseridas. O tradutor faz referência a seu trajeto acadêmico e confessa ter realizado pesquisa sobre a relação existente entre Schopenhauer, Nietzsche e Freud1 . Dessa forma, boa parte das notas que a tradução insere com referência ao texto tem por intenção evidenciar essa relação entre os três mencionados autores, sobretudo entre Schopenhauer e Freud. As muitas notas que complementam a tradução, é certo, não se restringem à relação existente entre Schopenhauer e Freud, havendo uma série de referências pertinentes ao auxílio da leitura. Contudo, é considerável o número de vezes em que é suscitada a possibilidade de relação entre o filósofo alemão e o psicanalista vienense.
Mais do que orientar a leitura, a presença de tantas menções à possível relação entre Schopenhauer e Freud acaba delimitando uma espécie de sentido, não apenas para a tradução, mas para o próprio texto de Schopenhauer. Isso quer dizer que, em uma leitura acurada dessa tradução do segundo tomo do Mundo como vontade e representação, é quase impossível sair ileso a essa tendência relacional que o tradutor se esforça para marcar. Em determinado momento, sentese que há quase indubitavelmente uma pré-existência de certas teses freudianas no pensamento de Schopenhauer, principalmente no que diz respeito à questão do conceito de Trieb.
Essa força, advinda da leitura conjunta de tradução e notas, configura importante fator para a pesquisa de um autor que, como apontado anteriormente, havia sido recepcionado de maneira fragmentária. Por meio do trabalho de Eduardo Ribeiro da Fonseca, a leitura de Schopenhauer é animada, não pela simples existência de uma tradução, mas pela concomitante abertura de uma possibilidade de leitura e de análise, ou seja, aproximando o filósofo alemão de certa tendência psicanalítica.
No sentido de uma análise crítica, ou seja, ao se tecer ponderações que em nada apontam uma negatividade, mas apenas uma possível vacância do trabalho realizado na tradução, o traço mais marcante que se pode apresentar é quiçá uma determinação demasiado pesarosa. Tamanha é a tendência que impõe o tradutor na relação entre Schopenhauer e Freud, que acaba não demarcando outros aspectos da obra do filósofo alemão, sobretudo quando essa pode ser pensada em relação a sua própria tradição.
Schopenhauer não é apenas um autor influenciado pela filosofia de Kant. É um kantiano, que, por sua vez, travou um embate com outros kantianos. São muitas as relações e indicações presentes no segundo tomo de O Mundo como vontade e representação que colocam Schopenhauer em franco debate com a filosofia de seu tempo. Se o solo onde se trava o embate é demarcado pela filosofia kantiana, é certo que há mais personagens que Kant. Dessa maneira, quando Schopenhauer abriu o segundo tomo de sua obra-prima com um capítulo denominado “Sobre a visão fundamental do Idealismo”, estava, de alguma maneira, apontando quais eram seus principais alvos. Alvo ainda mais evidente quando se considera, por exemplo, o capítulo XII, “Sobre a Doutrina da Ciência”, já que esse termo, famoso pelo uso dado por Fichte — Wissenschaftslehre —, está presente em outros autores, entre eles Schelling e Hegel, a quem Schopenhauer visa opôr-se em seu pensamento.
De igual maneira, seria possível estabelecer, pelo uso das notas — que tão belamente o tradutor faz no caso de Freud —, a relação, ainda que de crítica e oposição, entre Schopenhauer e os românticos alemães. O capítulo XXXI, “Sobre o gênio”, talvez seja o ponto mais evidente em que certas considerações são feitas tendo em vista não só a Crítica do Juízo de Kant, mas também todo o escopo de teorias sobre o gênio no pensamento de Friedrich Schlegel, de Novalis, Jean Paul, e, novamente, Fichte, Schelling e Hegel.
Como já se afirmou, a intenção não é produzir uma ressalva, sequer uma crítica, mas uma mera consideração acerca dos níveis que poderiam ser dados na tradução. Se foi possível realizar um trabalho para com uma relação — Schopenhauer e Freud —, seria possível, igualmente, ter ressalvado esse trabalho histórico, inserindo o filósofo em seu tempo. Para além disso, por se tratar de uma primeira tradução do texto na tradição brasileira, é sobremaneira importante que sirva como uma verdadeira abertura, um convite para possíveis sentidos, e não como um direcionamento para um sentido mais preponderante.
Pouco foi considerado nos estudos brasileiros, é certo, sobre as influências mais eminentes que tiveram os pensadores posteriores a Schopenhauer — com exceção, é claro, de Nietzsche —, de modo que esse campo, já que Freud é certamente um autor posterior, também estaria aberto e passível de um tratamento. Há, por exemplo, acertada menção de Jorge Luis Borges, em Otras inquisiciones, sobre a influência de Schopenhauer em Philipp Batz2 , mas de igual maneira poderia ser considerada a influência sobre Eduard von Hartmann.
Essas considerações, no entanto, não passam de um desejo impulsionado tanto pela obra quanto pelo trabalho realizado pelo tradutor. Almeja-se mais justamente porque se vê a possibilidade para tanto, impulso esse que não seria possível por força de um trabalho parcial ou insuficiente. É pela magnitude de empreitadas como essa, da tradução, que Schopenhauer não é só revalorizado, mas também restituído de sentido valorativo dentro da filosofia.
Notas
1 Nesse sentido, é válida a menção à tese de doutorado de Eduardo Ribeiro da Fonseca, que foi posteriormente publicada em formato de livro: FONSECA, E. R. Psiquismo e vida: sobre a noção de Trieb nas obras de Freud, Schopenhauer e Nietzsche. Curitiba: Ed. da UFPR, 2012.
2 De forma poética, Borges considera: “pienso en aquel trágico Philipp Batz, que se llama en la historia de la filosofía Philipp Mainländer. Fue, como yo, lector apasionado de Schopenhauer. Bajo su influjo (y quizá bajo el de los gnósticos) imaginó que somos fragmentos de un Dios, que en el principio de los tiempos se destruyó, ávido de no ser. La historia universal es la oscura agonía de esos fragmentos. Mainländer nació en 1841; en 1876 publicó su libro, Filosofía de la redención.” (BORGES, J. L. Otras inquisiciones. Buenos Aires: Emecé, p.58).
Lucas Piccinin Lazzaretti – Doutorando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail: lucasplazzaretti@hotmail.com
[DR]
DIctablanda: works, politics and culture | Paul Gillingam e Benjamin Smith
Dictablanda: works, politics and culture (2014) é o novo livro dos mexicanistas Benjamin T. Smith1 (Universidade de Warwick, Coventry, Reino Unido) e Paul Gillingham2 (Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, EUA). Ambos são professores de História da América Latina, mas possuem uma trajetória acadêmica voltada à reflexão das políticas socioculturais do Estado mexicano no período pós-revolução (1940-1988). Sendo assim, no começo de 2013, juntaram-se com o intuito de organizar uma obra cuja premissa fosse a síntese de suas percepções e apreensões sobre o momento mencionado.
A obra recém-publicada pondera, sobretudo, acerca do poder no México após o turbulento estrondo da Revolução Mexicana (1911-1920) e, por essa mesma razão, sua reflexão vai muito além da altercação dicotômica (e também um lugar comum) que envolve as noções de democracia e ditadura. Oferecendo, em seu lugar, uma nova perspectiva aos estudiosos desse período tão complexo: a “dictablanda” (ou, em português, a ditabranda, referindo-se ao longevo regime do Partido Revolucionário Institucional (PRI; 1930-2000) e às suas posturas ditatoriais relativamente brandas). Leia Mais
Political Concepts and Time. New Approaches to Conceptual History | Javieer Fernández Sebastián
Este livro reúne, sob a coordenação de Javier Fernández Serbastián, dezesseis textos dedicados a problemas teóricos, metodológicos e historiográficos relacionados à prática da chamada “História dos Conceitos” (principalmente, mas não exclusivamente, a sistematizada por Reinhart Koselleck) e enfoques afins, elaborados por autores de vários países e de vários campos das Ciências Humanas. Trata-se de uma coletânea dotada de considerável unidade – aspecto louvável, nem sempre encontrado atualmente em obras acadêmicas coletivas – cujas contribuições, não obstante, possuem autonomia. A esta primeira edição em inglês, seriam acrescidos três outros capítulos a comporem uma edição em espanhol, publicada dois anos depois (Javier Fernández Sebastián & Gonzalo Capellán [eds.]. Conceptos políticos, tiempo e historia: nuevos enfoques en historia conceptual, Santander: McGraw Hill – Ediciones Universidad de Cantabria, 2013). O livro é dedicado a tema geral bastante explorado nas últimas duas décadas por uma historiografia pujante e de escala mundial, mas que mostra ainda um amplo campo de possibilidades a serem exploradas, como bem se vê ao longo dos capítulos aqui apresentados.
A obra é aberta por uma introdução, na qual seu editor empreende uma bem-fundamentada justificativa da atualidade do enfoque histórico-conceitual em um mundo como o nosso, “babélico”, marcado por uma “plurality of languages, cultures and conceptual systems (…) with its irremediable entourage of misunderstandings”, a potencializar uma abordagem semântica histórico-comparativa das civilizações (p.1) e sua correlata temporalização não só de conceitos, mas do próprio tempo como matéria histórica. Está dada então a base para a abertura disciplinar tratada na primeira parte do livro, intitulada “Conceptual History and Neighbouring Disciplines”. Aqui, o capítulo de Hans Erich Bödeker (“Begriffsgeschichte as the History of Theory. The History of Theory as Begriffsgeschichte. An Essay”) formula a sugestiva hipótese de uma correlação entre a História dos Conceitos de filiação alemã e uma “problem-oriented history of theory informed by social structures” (p.19). De imediato, Bödeker trata de reconciliar essa Begriffsgeschichte com modalidades – com frequência vistas como incompatíveis com ela – de história política, intelectual e das ideias, na medida em que, segundo ele, uma história de conceitos não deveria jamais ser apenas de conceitos, mas também da relação destes com palavras e objetos, isto é, de sinais linguísticos com o mundo material (trata-se, bem entendido seja, de uma defesa de uma perspectiva, não de um suposto diagnóstico de sua prática). O capítulo seguinte, de Elías José Palti (“From Ideas to Concepts to Metaphors: The German Tradition of Intellectual History and the Complex Fabrico of Language”), empreende um recorrido analítico do que o autor chama de “tradição germânica de História Intelectual”, incluindo aí desde Wilhelm Dilthey e Ernst Cassirer até Koselleck e Hans Blumenberg. Palti retoma seus outrora já bem fundamentados ataques a uma história das ideias convencional, considerando a tradição aqui analisada como responsável por uma perspectiva de compreensão histórica “that placed intelectual history on a completely new terrain, definitively beyond that characteristics of the tradition of Ideengeschichte” (p.66). Em seguida, Michael Freeden (“Ideology and Conceptual History: The Interrelationship between Method and Meaning”) desloca parcialmente a discussão, submetendo, simultaneamente, conceitos e categorias de ideologia a um escrutínio histórico que, em seus muitos meandros e sutilezas, oferece ao leitor amplas sugestões de problemas teóricos e metodológicos, como os dois com os quais encerra seu texto: “conceptual history needs to offer a diachronically complex account of how a given concept is located at a node through which many intersecting and complementary concepts travel”; e “some concepts traverse parallel paths and are consequently located in diferent semantic fields that, at most, overlap but also indicate that they can lead multiple lives synchronically” (p.97). O encerramento desta primeira parte do livro traz uma panorâmica de estudos acerca daquilo que seu autor, Peter Burke, chama de “Cultural History of Intellectual Practices”. Trata-se de um apanhado que a muitos leitores poderá resultar de utilidade, sobretudo por seu esforço em contemplar contribuições historiográficas para além daquelas produzidas no âmbito anglo-saxão, mas que representa um desvio temático muito grande em relação aos demais capítulos da obra, com os quais dificilmente algum diálogo direto pode ser estabelecido.
A segunda parte, “Temporalizing Experiences and Concepts”, traz cinco capítulos cujos autores se empenham fortemente em dialogar com a História dos Conceitos koselleckiana. Em um notável estudo, Alexandre Escudier (“‘Temporalization’ and Political Modernity: A Tentative Systematization of Work of Reinhart Koselleck”) analisa a obra do historiador alemão como um sistema de pensamento complexo e prenhe de significados, no qual temas como tempo e temporalização convergem para uma proposta de estudo comparativo da semântica política europeia. Kari Palonen (“Contingency, Political Theory and Conceptual History”) desenvolve uma abordagem da obra conceitual de Koselleck tomando-a como fonte de contribuições a uma verdadeira teoria política, pontuando possibilidades de desenvolvimento da ideia em várias sugestivas direções, como a ideia de “fortuna”, conflitos entre presente e futuro, e aproximações entre Koselleck e Max Weber. Em seguida, Pim den Boer (“National Cultures, Transnational Concepts: Begriffsgeschichte Beyond Conceptual Nationalism”) e Jörn Leonhard (“Language, Experience and Translation: Towards a Comparative Dimension”) tomam a si a tarefa de abrir a História dos Conceitos a enfoques não-nacionais, cosmopolitas e comparativos que emergem a partir da avaliação de críticas recebidas pela obra de Koselleck, refletindo sobre objetos como as línguas e seus dicionários (no primeiro caso) e a categoria experiência (no segundo). Entre os dois, encontra-se o capítulo de João Feres Júnior (“With na Eye on Future Research: The Theoretical Layers of Conceptual History”), voltado ao que o autor considera usos e abusos da História dos Conceitos e que desembocam em uma crítica direta a ela. Aqui, penso que afirmações como “not enough evidence has been gathered so far to support Koselleck’s theorethical claims about modernity”, ou “temporalization, ideologization, democratization and politicization of concepts (…) should be treated at most as hypotheses” (p.238) poderiam ser revistas ou mesmo abandonadas, tendo-se por base muitos dos resultados do Projeto Iberconceptos, dirigido por Fernández Sebastián, e com participação ativa do próprio Feres Júnior.
Os estudos apresentados na terceira parte do livro, “On the Historical Semantics of Modern Times”, se distanciam da discussão direta da obra de Koselleck e da Begriffsgeschichte, preferindo abordagens históricas de problemas mais específicos, mas que se valem ostensiva, critica e ativamente, de ambos. Assim, Giuseppe Duso (“Begriffsgechichte and the Modern Concept of Power”) passeia por conceitos como igualdade, liberdade e soberania fazendo-os confluir para uma discussão em torno do conceito de poder. Já Faustino Oncina (“Memory, Iconology and Modernity: a Challenge for Conceptual History”), de modo assaz oportuno, aborda o pouquíssimo explorado problema dos conceitos imagéticos, articulando-o com os temas da memória e da modernidade, e dialogando com sua incidência não apenas na obra escrita de Koselleck, mas também em sua atuação pública e política mais ampla. Já Jacques Guilhaumou (“The Temporality of Historical Forms of Individualization in Modern Times”), propõe uma articulação profunda e perspicaz entre a Sattelzeit koselleckiana e o desenvolvimento histórico da noção moderna de indivíduo, apontando na direção de “one of the main existencial conditions for the ego between 1750 and 1850”, isto é, “the new perception of temporality due to the realization of the existence of a humanity which both suffers and acts” (p.347). Esta terceira parte se encerra com o capítulo do próprio editor, Javier Fernández Sebastián (“‘Riding the Devil’s Steed’: Politics and Historical Acceleration in na Age of Revolutions”), na qual vários preceitos e insights da teoria da modernidade, da temporalização da história e da História dos Conceitos koselleckianas são utilizados, matizados e reconfigurados com enorme proveito para iluminar dimensões da política espanhola e hispano-americana, sobretudo, da primeira metade do século XIX. O livro, como um todo, se encerra com dois apêndices: uma fala de homenagem a Koselleck da parte de Christian Meier, onde biografia, memória pessoal e avaliação intelectual resultam em um texto de valor duplamente documental e crítico; e a “Mission Statement” do European Conceptual History Project.
Political Concepts and Time confirma o quão proveitosas podem ser elaborações teóricas e práticas historiográficas derivadas da obra de Koselleck, da História dos Conceitos e de muitos temas e problemas delas derivados ou a elas correlatos. Se é costume – talvez mais entre os historiadores do que entre outros cientistas sociais – a afirmação de que o critério máximo de toda boa teoria é a própria realidade social (empírica e limitadamente representada), os autores desta obra, sem dogmas, esquemas rígidos ou excessos intelectualistas, nos mostram mais uma vez que uma boa teoria também pode ser, ela mesma, parte dessa realidade social.
João Paulo Pimenta – Universidade de São Paulo (USP)
FERNÁNDEZ SEBASTIÁN, Javier (Org.). Political Concepts and Time. New Approaches to Conceptual History. Santander: Cantabria University Press/McGraw-Hill Interamericana de España, 2011. Resenha de: PIMENTA, João Paulo. Teoria, metodologia e historiografia da História dos Conceitos: uma avaliação necessária. Almanack, Guarulhos, n.11, p. 865-867, set./dez., 2015.
Casas importadoras de Santos e seus agentes. Comércio e cultura material (1870-1900) | Carina Marcondes Ferreira Pedro
Madame Pommery, personagem controversa de Hilário Tácito, começa no mundo dos negócios ilícitos da prostituição com sua chegada ao porto de Santos, nos primeiros anos do século XX.[1] O autor faz dela uma negociante esperta, de nacionalidade duvidosa, filha de um domador circense e de uma noviça espanhola. Como muitos outros imigrantes do período, inspiradores dessa personagem da literatura paulista, ela veio “fazer a América”, tentar a sorte numa nova terra cheia de oportunidades de negócios. A cidade de Santos era então a porta de entrada para um mundo rico, que vivia das exportações de café e das importações de mercadorias de luxo, que abasteciam São Paulo. É justamente a formação e consolidação de Santos como o local de negócios relacionados ao café, durante a Belle Époque, o tema da pesquisa, agora transformada em livro, da historiadora, Carina Marcondes Ferreira Pedro Casas importadoras de Santos e seus agentes. Comércio e cultura material (1870-1900).
Carina Marcondes Ferreira Pedro busca compreender a transformação de Santos no principal local de negócios de São Paulo no fim do século XIX, porto que exportava café e importava uma série de mercadorias, de objetos de consumo doméstico a materiais para construção. A chave para a análise dessas transformações passou pela construção da ferrovia que ligava o porto à cidade no alto da Serra. Inaugurada em 16 de fevereiro de 1867, a São Paulo Railway Company dinamizou as relações comerciais da província. A tão aguardada ligação da cidade de São Paulo com o mar não apenas possibilitou o escoamento das safras de café dos fazendeiros paulistas, e seu consequente enriquecimento, mas transformou a vida cotidiana e a sociabilidade de ambas as cidades. Além do dinheiro decorrente das exportações de café, novos hábitos também vinham no rastro da ferrovia e ligavam a então capital da província, vista como atrasada e caipira, ao resto do mundo.
A construção da ferrovia dinamizou o comércio de Santos, que já era um porto importante, mas se tornou fundamental com o trem, e ainda criou uma demanda por uma série de modificações urbanas tanto nas docas, como na própria cidade. A autora mostra em sua pesquisa como uma série de casas comerciais abriram as portas para negócios que envolviam somas consideráveis ao redor do mundo, eram os “agentes importadores” ou também chamados de “casas de importação”, que compravam mercadorias de outros países e exportavam principalmente café vindo do Oeste Paulista.
Outra chave essencial para o trabalho de Carina é entender o mundo do consumo no século XIX. Pouco estudado pela historiografia, o consumo de mercadorias importadas esteve sempre ligado à dinâmica do mundo capitalista no oitocentos. Para a antropóloga americana Mary Douglas, em seu livro clássico O mundo dos bens, a produção de mercadorias foi o que se estabeleceu como parâmetro para os estudos de economia.[2] O consumo seria relegado a uma segunda categoria de estudos, algo menor ou sem importância. Para antropóloga americana, tanto consumo como produção fariam parte de um todo, seriam dois lados de uma mesma moeda – o estabelecimento da revolução industrial e a expansão do capitalismo.
Ligado a esse novo mundo do consumo, Carina mostra como esses agentes estabeleciam contato com as casas exportadores de países produtores de mercadorias, como a Inglaterra, a Alemanha ou a França. Diz a autora: “A própria formação de um modo de vida burguês relacionado ao intenso consumo de produtos industrializados estrangeiros que foram introduzidos no país no século XIX e início do XX tem sido problemática tratada por poucos autores. No caso da região paulista, a lacuna se torna mais pronunciada em vista da própria importância que ela adquire nos processos de comércio internacional nesse período” (p. 13).
Tentar entender e fazer uma história do consumo não é fácil, já que a utilização de fontes ditas como estritamente econômicas não dá conta da complexidade do tema. Assim, o trabalho utiliza várias outras fontes para o embasamento da pesquisa. Foram analisados almanaques do período, jornais, anúncios, memórias de viajantes, legislação, correspondência diplomática, manuais de comércio e obras de propaganda governamental.
Os Almanaques são tratados de maneira especial pela autora e aparecem em quase todos os três capítulos do livro. Para a história do consumo, a utilização de almanaques como fontes de pesquisa é preciosa. Com eles, principalmente a partir das três últimas décadas do século XIX, vêm as primeiras propagandas de produtos e os primeiros anúncios. É possível assim, ver as casas importadoras, as chegadas e partidas dos navios, quem eram os negociantes de importação e exportação. Eles funcionam também como uma espécie de guia para a cidade, relevando endereços de médicos, empresários, pessoas importantes ou mesmo de lojas, escolas, hospitais.
O livro está dividido em três capítulos. O primeiro, “Santos e o comércio de importação”, dá conta das transformações urbanas pelas quais passou a cidade de Santos no período. O crescimento da cidade é visto dentro do contexto das mudanças econômicas no mundo nas três últimas décadas do século XIX. A historiadora mostra como a região do Valongo foi se valorizando com a construção da ferrovia e atraindo negociantes, alterando significativamente o tecido urbano. Assim, na mesma época, muitas ruas se dessacralizaram, ou seja, mudaram seus nomes relacionados a santidades e ao catolicismo para nomes de personalidades brasileiras ou da região.
O segundo capítulo, “As casas importadoras e suas trajetórias empresariais”, aborda as casas de importação inglesas, como a Edward Johnston & C, considerada a segunda maior firma de exportação britânica do período – ela era também a representante da companhia hamburguesa de navegação Hamburg-Süd, que tem uma extensa atividade até os dias de hoje. São analisadas casas comerciais alemãs, francesas e portuguesas. As empresas se caracterizavam pela diversidade de artigos. Assim, as firmas alemãs, como a Zerrenner, Bulow & C., traziam para o Brasil um amplo leque de bens, como ferro, aço, lubrificantes, dinamite, carbureto de cálcio, bicicletas, vinhos, biscoitos finos, queijos. A francesa Karl Valis & C. acabou por se especializar em artigos alimentares de luxo e também no comércio atacado de materiais vidrados usados para obras de água e esgoto – evidenciado a necessidade de urbanização de São Paulo na época. Já as portuguesas, como a Ferreira & C., traziam ferro e outros materiais para construção e contavam com a facilidade da língua nos seus vendedores caixeiros-ambulantes.
Finalmente, o terceiro e último capítulo trata da infinidade dos objetos importados no período. Carina Pedro retoma a ideia do historiador francês Daniel Roche, autor de História das coisas banais, para mostrar que a cidade no século XIX pode ser entendida como o centro de uma organização econômica cujo comerciante é um dos principais agentes.[3] Para Daniel Roche, “A história das atitudes em relação ao objeto e à mercadoria em nossa sociedade é aqui capital; ela postula que uma história do consumo é uma maneira de reconciliar o sujeito com o objeto, a interioridade com a exterioridade”.[4] Assim, a introdução e distribuição das mais variadas mercadorias foi uma das marcas das transformações que ocorrem a partir da década de 1870 no país e que Florestan Fernandes vai chamar de Revolução Burguesa.[5]
Para o sociólogo um dos principais agentes transformadores da sociedade no período seria o negociante. Assim, o burguês teria surgido no Brasil como uma “entidade especializada, seja na figura do agente artesanal inserido na rede de mercantilização da produção interna, seja como negociante (não importando muito seu gênero de negócios: se vendia mercadorias importadas, especulava com valores ou com seu próprio dinheiro; as gradações possuíam significação apenas para o código de honra e para a etiqueta das relações sociais e nada impedia que o usurário, embora malquisto e tido como encarnação nefasta do burguês mesquinho, fosse um mal terrivelmente necessário)”.6 Em seu estudo, ainda que circunscrito à cidade de Santos, Carina Pedro consegue recuperar a figura do negociante nas décadas finais do século XIX, inserindo-o numa rede complexa de negócios estrangeiros voltados para o mercado local, dando vida e materialidade a esse personagem complexo e fundamental.
Notas
1. TÁCITO, Hilário. Madame Pommery. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.
2. DOUGLAS, Mary e ISHERWWOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Editora da UFMG, 2014.
3. ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo, séculos XVIII-XIX. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
4. Idem, p. 26.
5. FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1974.
6. Idem, p. 18.
Joana Monteleone – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
PEDRO, Carina Marcondes Ferreira. Casas importadoras de Santos e seus agentes. Comércio e cultura material (1870-1900). São Paulo: Ateliê, 2015. Resenha de: MONTELEONE, Joana. Um mundo de mercadorias na Belle Époque de Santos. Almanack, Guarulhos, n.11, p.868-870, set./dez., 2015.
Apologie de la polémique – AMOSSY (B-RED)
AMOSSY, R. Apologie de la polémique. Paris: Presses Universitaires de France, 2014. 240 p. [Coleção L’interrogation philosophique]. Resenha de: CARLOS, Josely Teixeira. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, v.10 n.3 São Paulo Sept./Dec. 2015.
O livro Apologie de la polémique (Apologia da polêmica)1 é a mais recente obra em língua francesa de Ruth Amossy, professora emérita do departamento de francês da Universidade de Tel-Aviv e diretora do Grupo de Pesquisa Analyse du discours, Argumentation & Rhétorique (ADARR)2. Resultado de uma pesquisa global sobre o discurso polêmico na esfera democrática, realizada no quadro da Fundação de Ciências Israelense (ISF), foi publicado em março de 2014 pela editora Presses Universitaires de France, na coleção L’interrogation philosophique, dirigida pelo filósofo Michel Meyer, reconhecido pesquisador na área de Retórica e Argumentação e professor da Université libre de Bruxelles.
Fundamentada em um quadro teórico-metodológico preciso e na análise detalhada de casos concretos, e considerando que a polêmica não é de nenhum modo “uma comunicação desordenada”, Amossy mostra que a polêmica pública enquanto modalidade argumentativa, apesar de ser depreciada, desempenha um papel vital nas democracias pluralistas. O livro está organizado em três partes. Em sua Introdução, com relação à presença da polêmica no mundo contemporâneo, a autora enfatiza que os conflitos de opinião ocupam um lugar preponderante na cena política e que os meios de comunicação não param de forjar e de difundir de forma persistente as mais variadas polêmicas, ditas de interesse público. Uma prova disso é o uso constante do próprio termo “polêmica” na imprensa escrita francesa (Le Monde, Libération, etc.)3. Segundo a pesquisadora, essa presença poderia ser explicada duplamente tanto pela incapacidade dos cidadãos e dos políticos em seguir as regras de um debate racional, quanto pela curiosidade perversa do público no que se refere ao espetáculo da violência verbal. Mais do que constatar esse fato, Amossy defende que é necessário investigar em profundidade a natureza (o funcionamento e as funções sociais) dos debates conflituais nos quais se sustenta contemporaneamente a democracia em uma sociedade pluralista. No bojo dos estudos discursivos, das ciências sociais e das reflexões de Habermas, Perelman, Mouffe, dentre outros, para a professora interessa, portanto, verificar como, no âmbito de um espaço público e democrático, a polêmica se constrói no nível discursivo e argumentativo e modela a comunicação. No que toca ao posicionamento do pesquisador e às questões metodológicas na observação de debates polêmicos, ela chama a atenção para o fato de que o analista jamais pode se tornar também um polemista, exigindo deste o exame das controvérsias (seu surgimento, sua regulação, seus papéis sociais), mas nunca a tomada de partido por uma ou outra causa.
A primeira parte da obra apresenta as reflexões teóricas do trabalho e está dividida em dois capítulos. No primeiro – Gerir o desacordo na democracia: por uma retórica do dissensus, Amossy aborda por um lado a insistente busca pelo consenso e a obsessão pelo acordo, que está na base mesma da Retórica e dos estudos de persuasão, da Retórica clássica de Aristóteles à Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca, ao mesmo tempo em que descreve na sociedade contemporânea as condenações do dissensus e da polêmica, desde o Tratado da argumentação 4 de Perelman e Olbrechts-Tyteca, abrangendo as teorias da argumentação que o sucederam, como a lógica informal de Douglas Walton e a pragma-dialética da Escola de Amsterdam e de Van Eemeren.
Também nesse capítulo, a autora evoca a obra de Habermas, na qual é construída a noção de um espaço público gerado pelo discurso argumentativo, ou seja, segundo concebe esse autor, a esfera pública basear-se-ia em um modelo de discussão racional na qual os cidadãos alcançariam o acordo através da troca discursiva. A seguir, Amossy discorre sobre outro papel do dissensus (ou da divergência), apresentando um quadro teórico diverso do anterior, no qual existe uma revalorização do dissensus em diferentes domínios, particularmente no da Sociologia e da Ciência Política. Assim, a autora, partindo das reflexões advindas das ciências sociais, feitas por Lewis A. Coser, George Simmel, Chantal Mouffe e Pierre-André Taguieff, coloca a seguinte questão à página 37: “Estas perspectivas sociopolíticas podem ser traduzidas em termos de retórica para autorizar a consideração da polêmica e suas funções construtivas?”. Amossy sustenta que, se em uma democracia pluralista o conflito é inevitável e o acordo utópico, é necessário então o desenvolvimento de uma retórica do dissensus, na qual a confrontação polêmica seja vista como incontornável e útil na gestão dos conflitos.
No capítulo seguinte – O que é a polêmica? Questões de definição, a analista retoma categorias como debate, discussão, disputa, querela, altercação, controvérsia, interessando-se sobretudo por apresentar as especificidades da polêmica. Para tanto, fundamenta-se em três fontes diferentes: as definições lexicográficas dos dicionários, o discurso corrente e as conceitualizações dos pesquisadores em ciências da linguagem. A professora analisa aqui dois exemplos de polêmicas: uma em torno de uma foto “politicamente incorreta”, que exibe um homem de costas utilizando a bandeira da França no lugar do papel higiênico; e a outra acerca do exílio fiscal do ator Gerard Depardieu, após o projeto de reforma dos impostos lançado pelo presidente François Hollande em 2012. A partir da análise, constata que a polêmica é de fato um debate em torno de uma questão atual e de interesse público, que perpassa variados gêneros (panfleto, artigo de opinião etc.) e tipos de discurso (jornalístico, político etc.) e que deve ser distinguida de uma deliberação ordinária.
Na continuação do capítulo, Amossy avalia a polêmica de interesse público como modalidade argumentativa, compreendida em um continuum que passa pela dicotomização (choque de opiniões antagônicas, uma excluindo a outra), polarização (dois antagonistas diametralmente opostos polemizam diante dos espectadores da polêmica, que também devem se posicionar) e desqualificação do adversário (depreciação do ethos dos sujeitos, grupos, ideologias e instituições concorrentes). Na sequência da obra, todos os capítulos permitirão a visualização dessas modalidades em variados gêneros de texto5, investigados em sua materialidade discursiva e configuração argumentativa, bem como o esclarecimento das seguintes questões específicas: como funciona o discurso polêmico; como se constrói uma polêmica pública; qual a atuação da racionalidade nessas polêmicas; como se pode compreender, nelas, o papel e limites da violência.
É por esse prisma que a segunda parte do livro abordará as modalidades da polêmica, materializadas nos meios de comunicação, a partir do exemplo do estatuto das mulheres em dois espaços públicos diferentes: na França e em Israel. Antes de iniciar a análise, a professora evidencia que é necessário distinguir uma polêmica do discurso polêmico e da interação polêmica. “Uma polêmica” se refere ao conjunto das intervenções antagonistas sobre uma dada questão em um momento específico. Já o “discurso polêmico” define a produção discursiva de cada uma das partes antagonistas, nas quais necessariamente se inscreve o discurso do outro, como classifica Kerbrat-Orecchioni. A “interação polêmica”, por outro lado, corresponde à interação, face a face ou não, na qual dois ou mais adversários se engajam em uma discussão oral ou escrita, sempre se reportando um ao outro. Enquanto o discurso polêmicoé constitutivamente dialógico, mas não dialogal, a interação polêmica é por definição dialogal.
Com base, portanto, nessa distinção teórica, Amossy se debruça, no capítulo 3, na análise do discurso e interação polêmicos, entre junho de 2009 e outubro de 2010, no contexto do projeto de lei que pretendia proibir o uso da burca no espaço público francês. A autora exemplifica, assim, o discurso polêmico, analisando um artigo de opinião, assinado por Bénédicte Charles, da revista de esquerda Marianne (de junho de 2009), no qual examina os seguintes aspectos: a estrutura actancial e o jogo das dicotomias, o plano de enunciação e a responsabilidade jornalística, a polêmica como evento midiático, a polarização na imprensa escrita, a jornalista como polemista. Já a interação polêmica é explorada em dois exemplos: uma interação face a face no debate televisionado entre o político Jean-François Copé e uma mulher com véu; e dois posts de um fórum de discussão eletrônico que respondem ao artigo de Marianne. Qualificando a polêmica como polílogo, para muito além do diálogo, Amossy destaca então que tanto o discurso quanto a interação polêmicos desempenham funções importantes, dentre as quais a da denúncia, a do protesto, a da chamada à ação, bem como a do entretenimento.
No capítulo 4, a autora exemplifica a polêmica pública em torno da fórmula “a exclusão das mulheres” em Israel, analisando o caso da jovem Tanya Rozenblit, que em dezembro de 2011, ao subir em um ônibus da linha Ashdod-Jerusalém, sentou-se na parte da frente do transporte público, quando a prática consuetudinária estabelecia que as mulheres devem sentar-se na parte de trás, para que os homens não possam olhá-la. O episódio ganhou, a partir daí, grande repercussão pública, fortemente alimentada pela imprensa (meios de comunicação pró ultra-ortodoxos e contra os ultra-ortodoxos), convertendo-se em um debate de ordem ideológica e identitária.
Amossy afirma que essa polêmica, protagonizada por discursos laicos, de um lado, e por discursos religiosos tanto moderados quanto ultra-ortodoxos, de outro, além de transformar a jovem Rozenblit em um símbolo da resistência contra o fanatismo religioso, mostra que mesmo que as posições antagônicas não se falem diretamente, não se entendam e não cheguem a um acordo com relação às noções de espaço público, do respeito ao direito das mulheres, do lugar da religião no Estado e da liberdade individual em uma democracia, de uma certa forma elas se comunicam, na medida em que tratam dos mesmos referentes e concordam sobre o fato de que é preciso discutir. Por essa perspectiva aparentemente contraditória, é justamente a polêmica pública, enquanto interação agônica, que permite a coexistência no dissensus, através de suas funções sociais que reúnem indivíduos de opinião radicalmente opostas.
Na terceira e última parte da obra, igualmente dividida em dois capítulos, Amossy analisa o lugar da razão, da paixão e da violência nos debates polêmicos. No capítulo 5 – Racionalidade e/ou paixão, questionando se o pathos é um traço distintivo da e indispensável à polêmica, a pesquisadora se volta para a observação do debate polêmico ocorrido na França, em pleno momento de eclosão da crise financeira de 2008, acerca das formas de remuneração bonus e stock-options, distribuídos pelo Estado aos dirigentes dos bancos e das grandes empresas que declarassem estar em situação precária. Ao longo da análise, ela elucida que os debates polêmicos não se manifestam necessariamente por marcas discursivas de emoção e de paixão, esta última compreendida, no sentido retórico, como tentativa de suscitar afetos no auditório e como sentimento expresso com veemência por um locutor extremamente implicado em seu propósito. No entanto, no que concerne à presença da paixão na polêmica, a autora julga que dois fatos são inegáveis: a paixão não produz a polêmica, mas ela exacerba as dicotomias, a polarização e o descrédito ao outro; a paixão e a razão aparecem como dois componentes que só podem ser entendidos em uma imbricação e nunca dissociados. É com esse olhar que Amossy propõe a seguir a consideração de uma racionalidade da paixão e das razões das emoções. Por esse viés, no que concerne à referência ao outro, paixão e razão se manifestariam através de três modalidades do discurso polêmico: a acusação (emoções fortes centradas na indignação e na cólera, com o uso de argumentos que revelam indiretamente as razões da emoção), a injunção (emoções fortes de maneira menos marcada, apresentando argumentos que as justificam) e a instigação(denúncia velada que recorre a argumentos racionais e mostra o pathosde modo superficial).
No capítulo 6 – A violência verbal: funções e limites, a pesquisadora investiga o papel da violência na polêmica, lançando luz para o fato de que esta é fundada pelo conflito, e não pela agressividade verbal. Baseada na análise de conversas digitais, mais particularmente do fórum de discussões na internet do jornal Libération sobre os bonus e stock-options distribuídos em período de crise, Amossy assegura que a violência verbal não é nem uma condição suficiente, nem necessária para a polêmica, configurando-se mais como um acessório do que como um traço definidor dos embates públicos. Por essa ótica, a violência verbal pode ser compreendida como um registro discursivo, e não como uma modalidade argumentativa. Como o pathos, ela igualmente amplifica a dicotomização, a polarização e o descrédito. Dentro desse quadro, a professora demonstra que a violência verbal não é de nenhum modo selvagem ou descontrolada, mas, pelo contrário, é regulada a partir de certas funções e limites, agindo diferentemente a depender do gênero do discurso na qual se manifesta (um debate na TV, uma carta aberta, uma discussão política entre amigos).
Na conclusão do livro – A coexistência no dissensus. As funções da polêmica pública, Amossy consolida e expande pontos centrais tratados no decorrer das análises, dentre os quais o fato de a polêmica pública não poder ser medida em termos de diálogo e o papel da mídia na construção da polêmica. A autora resume que a polêmica desempenha funções sociais e discursivas relevantes exatamente por aquilo em que nela é reprovado: a gestão verbal do conflito operada através do desconsentimento. Apesar de esta afirmação parecer paradoxal, a analista reforça que fazer uma apologia da polêmica ou defender a coexistência no dissensus é permitir a preservação do pluralismo e da diversidade no espaço social, na medida em que a polêmica pública ou a coexistência entre posições e interesses divergentes procura um meio de lutar por uma causa e de protestar contra as intolerâncias, de efetuar reagrupamentos identitários que provoquem interações mais ou menos diretas com os adversários, de gerar os desacordos, mesmo os profundos. Assim, a polêmica nos debates públicos é entendida como fundamento indispensável da vida democrática e contemporânea.
Importa notar que a publicação do livro Apologie de la polémique surge em um momento sensível da história da França, tendo antecipado um quadro de reflexões logo a seguir visíveis, em janeiro de 2015, no contexto do atentado terrorista ao jornal Charlie Hebdo, no qual a violência física e o ato desleal de um “antagonista” pulveriza a possibilidade de construção de um espaço democrático, produzido e mantido pela divergência de posicionamentos. Se a obra de Amossy evoca uma apologia da polêmica, não posso deixar de ressaltar que a polêmica tratada pela pesquisadora se constitui em uma guerra de plumas, em uma guerra verbal 6, pois, quando a divergência de posições e a discussão verbal dão lugar à agressão física, podem ser comprovados aí os verdadeiros riscos da atividade polêmica, como chama a atenção Mesnard7. Amossy admite, similarmente, que a violência verbal sob suas diferentes formas possa combater o outro simbolicamente, mas salienta que ela jamais pode servir de passarela a uma ação que inscreva a violência no corpo.
Em um mundo digital ao alcance das mãos, no qual a expressão e difusão de posicionamentos discursivos é tão intensa quanto imensa, Apologie de la polémique se configura como obra de referência não apenas para os estudiosos da linguagem verbal, da argumentação e da análise do discurso polêmico, mas para todos aqueles que defendem a necessidade de se cultivar diuturnamente o respeito ao outro, a liberdade de pensamento e de expressão, a tolerância e a convivência pacífica com as diferenças.
1A tradução para o português dos textos em língua francesa são de minha responsabilidade.
2Obras de sua autoria: L’argumentation dans le discours. Paris: Nathan, 2000; Paris: Armand Colin, 2012 [A argumentação no discurso]; La présentation de soi: Ethos et identité verbale. Paris: PUF, 2010; em português: Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. D. F. da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005. Amossy também é editora-chefe da revista on-line Argumentation et analyse du discours.
3Comprovando que o discurso polêmico está presente em variadas esferas discursivas, analiso em minha tese de doutorado a atuação da polêmica no campo das Artes, mais especificamente no da música brasileira do século XX (CARLOS, J. T. Fosse um Chico, um Gil, um Caetano: uma análise retórico-discursiva das relações polêmicas na construção da identidade do cancionista Belchior686 p. Tese de Doutorado – área de concentração Análise do Discurso – Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014).
4PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. O. Tratado da argumentação. A nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Original: Traité de l’argumentation. La nouvelle rhétorique. 6. ed. Bruxelles: Université libre de Bruxelles, 2008. (1. ed. 1958).
5Amossy afirma que as particularidades de cada um desses textos manifestam traços gerais, esclarecedores da natureza e das funções do fenômeno global discurso polêmico.
6Confrontar o texto de Kerbrat-Orecchioni La polémique et ses définitions. In: KERBRAT-ORECCHIONI, C.; GELAS, N. (Orgs.). Le discours polémique. Lyon: Presses Universitaires de Lyon, 1980. p.03-40.
7Para o autor, “ofensiva ou defensiva, a polêmica implica riscos, quando a paixão aumenta, chegando ao confronto armado, ou até mesmo ao mínimo ataque físico”. In: COLLECTIF. Cahiers V. L. Saulnier 2. Traditions polémiques, n° 27, Université Paris-Sorbonne, 1985. p.127-129. [Collection de L’École Normale Supérieure de Jeunes Filles].
Josely Teixeira Carlos – Université Paris Ouest Nanterre La Défense – Paris Ouest, Nanterre, Hauts-de-Seine, France; josyteixeira@usp.br.
Escravidão e família escrava na Zona da Mata Mineira oitocentista | Jonis Freire
A escravidão na América portuguesa e no Brasil Imperial é um dos temas mais instigantes da historiografia brasileira, em virtude de seu impacto na formação da sociedade contemporânea. Por volta dos anos 1980, a história social da escravidão trouxe considerável renovação para a historiografia sobre a escravidão brasileira. Ao empregar novas abordagens teórico-metodológicas e fontes documentais até então pouco exploradas, os estudiosos passaram a investigar de forma profícua as facetas da escravidão brasileira em suas diversas temporalidades e regiões. Além disso, a população cativa passou a ser encarada como sujeita de sua própria história. Escravidão e família escrava, resultado da tese de doutorado de Jonis Freire, defendida em 2009 na Unicamp, insere-se nessa tradição historiográfica.
A obra centra-se na atual cidade de Juiz de Fora, que, “no decorrer do século XIX, possuiu a maior população escrava da província, com uma economia baseada, principalmente, na plantation cafeeira” (p. 28). Os eixos temáticos tratam sobretudo da demografia e família cativas e dos padrões de manumissão das escravarias pertencentes a três grandes cafeicultores, Antônio Dias Tostes, Comendador Francisco de Paula Lima e Capitão Manoel Ignácio Barbosa Lage, no período que abrange as décadas de 1830 a 1880.
Dividido em quatro capítulos, o livro trata, no primeiro deles, da formação da Zona da Mata Mineira e, especialmente, de Juiz de Fora. Analisa, ainda, por meio dos inventários post mortem, a composição da riqueza dos chefes daquelas três famílias bem como o perfil demográfico de seus cativos. Jonis Freire mostra que tais senhores – grandes proprietários de terras, escravos e cafezais – eram típicos representantes da elite cafeeira, destacando-se na economia e na política local.
Os casais Dias Tostes, Paula Lima e Barbosa Lage acumularam fortuna sobretudo a partir da cafeicultura e de empréstimos de dinheiro a juros. Jonis Freire aponta que “todas as três famílias estudadas, em algum momento, fizeram uso das ligações matrimoniais com outras famílias da elite para aumentar não só o seu prestígio social, mas, acima de tudo, os seus cabedais econômicos, {..} bem como seu status político” (p. 62). A maior parte dos patrimônios estava alocada em cativos, imóveis rurais e urbanos e em dívidas ativas.
O perfil demográfico da mão de obra desses cafeicultores sofreu mudanças ao longo do Oitocentos, devido, principalmente, ao fim do tráfico atlântico de africanos em 1850. A posse de Antônio Dias Tostes, composta por 147 indivíduos – a maior escravaria, segundo a lista nominativa de 1831 -, era basicamente constituída por homens (70,8%), africanos (85,7%) e indivíduos jovens/adultos (71,4%), com idade entre 15 e 40 anos. Já em 1837, segundo a partilha de bens de sua esposa, Dona Anna Maria do Sacramento, a posse sofreu ligeiras oscilações: a despeito da expansão da escravaria (185 ao todo), as proporções de homens e jovens/adultos mantiveram-se praticamente inalteradas, ao passo que os africanos reduziram sua participação relativa a 76,6%. Embora o autor não explique, pode-se conjecturar que o término temporário do tráfico atlântico (1831-1835) teria causado essa redução.[1]
A posse do Comendador Francisco de Paula Lima, segundo o seu inventário (1866), composta de 204 cativos, tinha um perfil semelhante à de Tostes: os homens correspondiam a pouco menos de 70% e os jovens/adultos representavam dois terços da escravaria; em 1877, de acordo com o inventário de sua viúva, D. Francisca Benedicta de Miranda Lima, dos 130 escravos, 57% deles eram homens e 45,6% jovens/adultos. Por fim, a posse do Capitão Manoel Ignácio Barbosa Lage, no ano de seu falecimento (1868), tinha 118 cativos: 64,4% deles eram homens, 50% eram jovens/adultos e 20% haviam nascido na África.
De modo geral, os dados atinentes às posses desses casais devem ser inseridos em um quadro de análise mais amplo. Pode-se, assim, entrever dois períodos distintos. No primeiro, que corresponde à primeira metade do século XIX e no qual se enquadra a propriedade do casal Dias Tostes, a escravaria tende a ser composta sobretudo por homens, jovens/adultos e africanos. Nesse período, a oferta elástica de escravos africanos permitia aos senhores adquirir mão de obra relativamente barata, via tráfico atlântico, para manter e/ou ampliar suas posses. Após o término do tráfico, em 1850, inicia-se o segundo período, no qual as propriedades dos casais Paula Lima e Barbosa Lage estão incluídas: a partir desse momento, tem-se uma sociedade escravista madura, cuja população cativa tende ao equilíbrio sexual, à simetria entre crioulos e africanos, e verifica-se, ademais, o progressivo envelhecimento da mão de obra. Há ainda tendência à reprodução via crescimento vegetativo da escravaria.[2]
O segundo capítulo aborda as formas de reprodução da escravaria utilizadas pelas famílias da elite juiz-forana. O objetivo de Freire é determinar o seu impacto sobre a manutenção e/ou ampliação das posses cativas. Para tanto, procura cruzar quatro tipos de fontes: 1) Livros de Registro de Batismo; 2) Despacho de Escravos e Passaportes da Intendência de Polícia da Corte; 3) Inventários; 4) Livros de Notas e Escrituras Públicas.
Com base no exame minucioso das fontes, o autor assinala que os casais Dias Tostes e Paula Lima valeram-se, sobretudo, do tráfico atlântico e do tráfico interno para manter e/ou expandir suas escravarias. Os Barbosa Lage, por sua vez, teriam recorrido, primordialmente, à reprodução natural de seus cativos. Nesse sentido, “conclui-se que as duas opções para o aumento do número de cativos – reprodução natural e tráfico de escravos – parecem não ter sido excludentes na referida localidade, mas complementares” (p. 159). Embora a conclusão se alinhe às ilações de uma parte da historiografia, ele não pôde determinar o impacto efetivo de cada uma das formas de reprodução da escravaria naquelas propriedades rurais.
Sobre a análise dos registros de batismo e dos inventários, podem ser feitas duas considerações. Em primeiro lugar, Freire não pondera que o número relativamente pequeno de escravos levados ao batismo pelos casais Dias Tostes e Paula Lima pode indicar somente que eles teriam sido menos cuidadosos, em relação aos Barbosa Lage, em registrar em cartório os filhos de seus cativos. O que não significa afirmar que apenas os Barbosa Lage tenham sido favorecidos com a reprodução natural de seus escravos. Ademais, nem todos os inventários dos três casais foram investigados, o que não permitiu que se acompanhasse a evolução demográfica das escravarias no tempo. Do casal Dias Tostes, o autor examinou apenas a partilha de bens de D. Anna Maria (1837), além do domicílio do casal na lista nominativa (1831); o inventário de Antônio Dias Tostes não foi localizado. Do casal Paula Lima, ambos os inventários puderam ser consultados. E, do casal Barbosa Lage, somente o inventário do Capitão Barbosa Lage (1868) pôde ser examinado; Freire não informa por qual razão não se analisou o inventário de sua esposa, D. Florisbella Francisca de Assis Barbosa Lage (1882). Vale notar que o objetivo do autor poderia vir a lume caso pudesse investigar os inventários dos herdeiros dos três casais, bem como a matrícula de escravos.
Jonis Freire dedica-se, ainda, à análise das relações familiares dos escravos. A investigação divide-se em duas partes: na primeira, estuda os laços familiares e o perfil desses cativos a partir da lista nominativa; num segundo momento, passa a tecer os enlaces matrimoniais das escravarias pertencentes às três famílias da elite juiz-forana.
No Distrito de Santo Antônio de Juiz de Fora, em 1831, cerca de 30% dos cativos adultos eram casados e/ou viúvos. O perfil dessa escravaria coaduna-se com o que a historiografia vem afirmando nas últimas décadas: a maioria dos indivíduos casados e/ou viúvos era oriunda da África e constituída sobretudo por mulheres jovens/adultas. Além disso, as médias (20 a 50 escravos) e as grandes (51 ou + escravos) posses permitiam aos escravos maiores possiblidades de encontrar um parceiro: “quanto maior o número de cativos num determinado fogo, maior o percentual de homens e mulheres casados” (p. 177).
Valendo-se do método de “ligação nominativa de fontes”, técnica historiográfica que consiste em utilizar o nome de um sujeito como fio condutor na análise do processo social baseada em séries documentais distintas, Freire investiga os vínculos familiares das escravarias dos três casais. Na propriedade dos Dias Tostes, os dados levantados indicam pequenas oscilações nas taxas de matrimônio. Em 1831, “o número de escravos descritos como casados era de 20 (…). A maioria dos casados, homens ou mulheres, era africana, respectivamente 15 e 14; seguidos por 5 crioulos e 6 crioulas” (p. 183). Os números indicam, de forma clara, que, na verdade, a quantidade de escravos casados era de 40 (27,2% do total). Nota-se aí um ligeiro deslize do autor. Já em 1837, o percentual correlato reduziu-se a 25,7%. No caso dos Paula Lima (1866) e Barbosa Lage (1868) as proporções de casados eram maiores: na primeira, o índice igualou-se a 37,2% e, na segunda, a 30,5%.
Um dos gráficos elaborados pelo autor apresenta os vínculos familiares das escravarias dos três cafeicultores. Segundo o gráfico, 13,6% (na verdade, 27,2%, conforme apontei acima) dos escravos pertencentes aos Dias Tostes apresentavam algum tipo de vínculo familiar, em 1831. Na partilha de bens de D. Anna Maria (1837), o índice correlato igualou-se a 26,7%. Por seu turno, no inventário do Comendador Paula Lima (1866), a proporção atingiu a marca de 43,9% e, por fim, na propriedade do Capitão Barbosa Lage (1868), a percentagem era de 64,9%. A partir desses dados, o autor diz o seguinte:
“(…) podemos notar que ele {Gráfico 3} demonstra uma curva ascendente entre os anos de 1831 e 1868. Ao que parece, à medida que os anos se passaram, as possibilidades da existência de algum tipo de laço familiar aumentaram. Porém, talvez o que esse gráfico esteja refletindo seja as estratégias distintas dos ditos proprietários” (p. 190).
O autor levanta duas hipóteses para explicar a “curva ascendente” do percentual de vínculos familiares dos cativos no decurso do Oitocentos. Quanto à primeira, Freire parece estar correto, haja vista o que a historiografia sobre a família escrava vem demonstrando nos últimos decênios. A segunda, entretanto, carece de dados empíricos. Tal hipótese poderia ser elucidada caso o autor tivesse acompanhado a evolução demográfica das escravarias dos três casais no tempo. A análise dos vínculos familiares dos cativos arrolados nos inventários das viúvas de Paula Lima e Barbosa Lage, provavelmente, daria respaldo a sua hipótese.
Outro ponto abordado pelo autor se refere à estabilidade dos vínculos familiares. Freire analisou apenas a partilha de bens de D. Anna Maria (esposa de Dias Tostes), e os inventários do Comendador Paula Lima e do Capitão Barbosa Lage. Concluiu, assim, que todas as famílias existentes nas propriedades dos casais Dias Tostes e Barbosa Lage mantiveram-se unidas após a partilha; ao passo que, das famílias pertencentes ao casal Paula Lima, 69% delas permaneceram juntas. No entanto, o autor não atentou para o fato de que a partilha de bens, realizada nos inventários, não é a melhor forma de detectar se as famílias foram (ou não) preservadas. José F. Motta & Agnaldo Valentin demonstraram que
“(…) os eventuais esfacelamentos sofridos pelas famílias escravas, em alguns casos, poderiam assumir uma natureza meramente “ideal”, ou pouco mais que isso, havendo em seguida à partilha reajustamentos quase imediatos entre os herdeiros, no que tange à alocação dos cativos”.[3]
Para cotejar se a divisão em partilha foi mantida, seria necessário analisar, na ausência de uma fonte mais apropriada, os inventários dos herdeiros dessas famílias e/ou a matrícula de escravos. Desta forma, não se pode concluir, a partir dos casos elencados, se havia (ou não) estabilidade dos laços familiares após a morte dos senhores, embora a historiografia venha evidenciando que boa parte das famílias cativas permaneciam unidas, mesmo antes da Lei de 1869, que proibiu a separação entre casais cativos e entre pais e filhos menores.
A grande contribuição apresentada por Freire se refere especialmente ao exame das práticas de alforria das famílias da elite de Juiz de Fora. Pode-se entrever a novidade em virtude do método utilizado, que consistiu em levantar as alforrias a partir do cruzamento de inúmeras fontes (inventários, testamentos, alforrias em cartório e na pia batismal e prestação de contas testamentárias). O autor assinala que todos os membros das famílias Paula Lima, Dias Tostes e Barbosa Lage alforriaram, respectivamente, 44, 39 e 16 cativos. Cerca da metade das manumissões das duas primeiras famílias foram “concedidas” em testamentos. Os Barbosa Lage alforriaram seus escravos, com mais frequência, em inventários.
Nesse sentido, Freire conclui que:
“(…) apesar de toda a importância da manumissão cartorial, o registro não foi condição sine qua non para a liberdade. Outros documentos tiveram o mesmo peso legal (…). Além da legalidade de tais “ritos jurídicos”, o conhecimento público daquelas manumissões, em inventários, testamentos e na pia batismal, bastava para a confirmação do status de libertos que pensavam na mobilidade geográfica” (p. 312).
O autor evidencia, ademais, que, a despeito do pequeno número de casos investigados (19 proprietários ao todo), as taxas de alforria nas pequenas posses eram mais elevadas, do que nas médias e grandes. Duas hipóteses são colocadas em evidência para explicar esse fenômeno: 1) o relacionamento entre senhores e escravos era mais “próximo” nas pequenas posses, permitindo aos senhores manumitir mais escravos; 2) os pequenos proprietários eram mais vulneráveis que os grandes e, por isso, acabavam cedendo mais na “negociação” com seus escravos, abrindo brechas para que os cativos conquistassem a alforria.
Escravidão e família escrava é uma referência importante para os pesquisadores interessados em aprofundar o conhecimento sobre o escravismo no Brasil. O livro, que apresenta farto levantamento bibliográfico atinente às temáticas abordadas, permite ao leitor situar-se nos debates pelos quais a obra perpassa. Embora Jonis Freire não tenha contemplado de forma satisfatória algumas questões, a exemplo das formas predominantes de reprodução da escravaria, deve-se destacar que os pesquisadores tem à disposição um ótimo trabalho e, dessa forma, poderão esmiuçar os assuntos que não puderam ser examinados a fundo nessa obra.
Notas
1. VOYAGES DATABASE. The Trans-Atlantic Slaves Trade Database, 2009. Disponível em: http://www.slavevoyages.org . Acesso em: 12 jun. 2015.
2. SALLES, Ricardo. E o Vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
3. MOTTA, José F.; VALENTIN, Agnaldo. A estabilidade das famílias em um plantel de escravos de Apiaí. Afro-Ásia (UFBA), Salvador, v. 27, p. 161-192, 2002. p. 186-187.
Breno Moreno – Universidade de São Paulo (USP).
FREIRE, Jonis. Escravidão e família escrava na Zona da Mata Mineira oitocentista. São Paulo: Alameda, 2014. Resenha de: MORENO, Breno. Família escrava e alforrias nas fazendas de café da elite de Juiz de Fora. Almanack, Guarulhos, n.11, p. 860-864, set./dez., 2015.
Modelagem de sistemas complexos para políticas públicas – FURTADO et. al. (CCRH)
FURTADO, Bernardo Alves; SAKOWSKI, Patrícia; TÓVOLLI, Marina (Eds). Modelagem de sistemas complexos para políticas públicas. Brasília: IPEA, 2015.
O termo complexidade é oriundo do latim complexus, que significa tecido, entrelaçado, composto em conjunto. Muito utilizada em estudos contemporâneos, tanto nas “hard sciences”, quanto nas ciências sociais, esta noção aponta em direção a uma forma específica de cosmovisão de mundo. Nesse sentido, para uma melhor compreensão do conceito, podemos pensar a complexidade a partir de duas dimensões: uma teórico-epistemológica e outra metodológica.
Do ponto de vista epistemológico, a complexidade está indissociavelmente vinculada ao esgotamento de uma epistemologia de orientação analítica. Isso porque, com o avanço científico, especialmente a partir da segunda metade do século XX, a ciência se deparou com novos enigmas, para muitos dos quais, até hoje, não foram encontradas respostas precisas. Tomemos como exemplo o campo da física. O desenvolvimento da mecânica quântica e o descobrimento de um verdadeiro mundo subatômico fizeram emergir uma série de problemas de natureza complexa, os quais escapam aos limites do método empiricista tradicional. Para estes problemas, os físicos têm apontado respostas teóricas, ou seja, puramente dedutivas, o que tem aproximado, cada vez mais, a física das especulações filosóficas. Consequentemente, a física moderna vivencia um novo paradigma epistemo-metodológico, o da física teórica.
Além disso, outras áreas da ciência também têm se deparado com problemas complexos, para os quais não têm encontrado soluções precisas. A meteorologia, por exemplo, frente às constantes mudanças climáticas, tem encontrado grandes dificuldades ao tentar prever as condições do tempo. Por sua vez, o avanço e a descoberta de novos transtornos psiquiátricos,2 causados tanto por fatores de ordem genética, quanto de ordem social e pessoal (estresse, alimentação, estilo de vida) tem sido um grande desafio às neurociências. No caso das ciências sociais, o surgimento de novos movimentos populares e de novas formas de protesto (Manifestações de Junho, no Brasil, revoltas estudantis no Chile, Los Indignados, na Espanha) tem evidenciado a ineficácia de abordagens teóricas fundacionistas,3 como o marxismo ortodoxo, o estruturalismo, o funcionalismo etc.
Esses novos problemas são de natureza complexa, justamente porque não possuem soluções definitivas, exigindo, assim, uma nova forma de encarar o mundo, seja o biológico, o químico, o psicológico ou o social. Essa nova cosmovisão de mundo (Weltanschauung) deve reconhecer o caráter complexo e misterioso da realidade, a qual é formada por uma rede infinita de inter-relações entre elementos, os quais não podem ser compreendidos de modo analítico-cartesiano, ou seja, separados uns dos outros. Tal como defende Edgar Morin, a epistemologia complexa precisa conceber o real como um organismo sistêmico, isto é, como um sistema complexo.
O trabalho com sistemas complexos exige uma abordagem metodológica igualmente complexa, que mobilize diferentes áreas do conhecimento para tentar dar conta, minimamente, do objeto em questão. Em outras palavras, a metodologia complexa transcende os limites da disciplinaridade, exigindo uma abordagem inter, multi, pluri e transdisciplinar. Pelo viés do pensamento complexo, portanto, torna-se necessário que as diferentes áreas do saber humano se aproximem e se comuniquem conceitualmente para que consigam reduzir, ainda que de forma precária, a complexidade do mundo.
A coletânea Modelagem de sistemas complexos para políticas públicas, lançada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segue, justamente, a linha de raciocínio do pensamento complexo. Editado por Bernardo Alves Furtado, Patrícia Sakowski e Marina Tóvolli, o livro reúne um renomado time de pesquisadores do Brasil e do exterior, oriundos de instituições como Universidade de Tóquio, Universidade de Bielefeld, Instituto Santa Fé, MITRE Corporation, Universidade de Michigan, New England Complex Systems Institute, Universidade de Brasília dentre outras.
Segundo Scott Page, no prefácio da obra, a complexidade intrínseca aos processos políticos e burocráticos envolvidos na formulação de políticas públicas e aos sistemas nos quais essas políticas são aplicadas, pode supor, de imediato, “que a complexidade obteria sua relevância por vontade própria. No entanto, não é o que ocorre” (p. 11). A multiplicidade de conceitos e ideias que compõem o pensamento complexo, e que poderiam enriquecer as políticas públicas, raramente é levada em consideração nesta área.
Partindo desse reconhecimento, o objetivo principal de Modelagem de sistemas complexos consiste em introduzir e explorar os principais conceitos, métodos e enfoques teóricos da complexidade, bem como verificar a maneira pela qual esta nova abordagem pode contribuir, significativamente, para as políticas públicas, que são um dos focos centrais do IPEA. A coletânea, portanto, propõe uma série de métodos para modelagem e aplicação de sistemas complexos voltados ao aprimoramento das políticas. Por sistemas complexos, a obra compreende “atores diversos e que se adaptam, que interagem com seus vizinhos e por conexões de redes” (p. 12). Desta forma, o livro parte de uma abordagem interdisciplinar, reunindo textos escritos por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, como economia, geografia, física, engenharia da computação, estatística, ciência política.
Composta por 444 páginas, a coletânea está dividida em três partes. A primeira delas, Complexidade: teoria, métodos e modelagem, reúne artigos que conceituam a abordagem de sistemas complexos, suas possibilidades e limitações, métodos e metodologias de aplicação, bem como modelos de simulação e operacionalização desses sistemas para políticas públicas. A segunda parte, Objetos de políticas públicas e a abordagem de sistemas complexos, apresenta artigos, os quais discutem a natureza complexa dos sistemas sociais, adotando o meio ambiente, a economia e as cidades como objetos de políticas. A terceira e última parte, Aplicações de sistemas complexos em objetos de políticas públicas, reflete sobre a aplicação dos supracitados sistemas em políticas no Brasil e no mundo. Também são discutidas formas de aplicação de sistemas complexos para a criação de políticas na educação, no sistema jurídico legislativo, bem como no desenvolvimento sustentável regional.
Modelagem de sistemas complexos é, sem dúvidas, um livro referencial para aqueles que trabalham na área das políticas. No entanto, podemos apontar alguns pontos negativos a respeito da obra. Primeiramente, cabe salientar que, a nosso ver, boa parte das discussões apresentadas no livro restringe-se a uma abordagem rigorosamente técnica, limitando-se à apresentação de plataformas computacionais; ao uso de linguagem matemática para a análise de simulações operacionalizadas em computador; e a abordagens puramente econômicas aplicadas a questões complexas, como o sentimento de agentes sociais, por exemplo. Assim, de um modo em geral, parece-nos que o livro carece de uma reflexão sociológica mais aprofundada, que problematize, do ponto de vista teórico, questões sociais ou relacionadas à subjetividade dos agentes.
O segundo aspecto negativo, que destacamos, está diretamente vinculado à crítica mencionada acima. Como carece de uma reflexão sociológica mais aprofundada, preferindo uma abordagem mais técnica e aplicada, a coletânea não dialoga com autores fundamentais dos estudos sociológicos sobre complexidade. A principal ausência talvez seja a do sociólogo Niklas Luhmann, que não é citado em nenhum dos 17 artigos que compõem a obra. Luhmann pode ser considerado um dos pensadores sociais mais importantes da segunda metade do século XX e o principal expoente da Teoria dos Sistemas no âmbito das ciências sociais. Em sua vasta obra, o sociólogo alemão desenvolve uma teoria geral da sociedade, que tem como tema norteador a relação entre os diferentes sistemas sociais – política, economia, educação, direito – e a redução de complexidade do mundo.4
Além de Luhmann, também não são trazidos à discussão outros importantes autores que refletem, sociologicamente, sobre a relação entre complexidade, sistemas sociais e políticas públicas. Não são citados, por exemplo, os trabalhos desenvolvidos pelo Núcleo de Investigación en Sistemas Sociales y Complejidad Sociocultural – NISS, do qual fazem parte pesquisadores como Marcelo Arnold (atual presidente da ALAS5), Hugo Cadenas, Anahí Urquiza, Antonieta Urquieta, dentre outros. Vinculado à Faculdade de Ciências Sociais da Universidade do Chile, o NISS conta, inclusive, com uma linha de pesquisa intitulada Exclusión Social, Intervençión y Políticas públicas, que tem por referencial teórico a complexidade e a teoria dos sistemas sociais.
A nosso ver, reflexões sociológicas sobre complexidade, sistemas sociais e políticas públicas, como as desenvolvidas pelos autores supracicitados, enriqueceriam consideravelmente a coletânea organizada pelo IPEA.
1 Gratuitamente disponível para download através do link http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/150727_livro_modelagem_sistemas.pdf. Acesso em: 4 de dezembro de 2015.
2 O relatório Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, publicado em 2010, aponta classificação para 297 tipos diferentes de distúrbios psiquiátricos. A versão anterior, de 1994, apresentava apenas 106 transtornos. Ou seja, em seis anos, o número de transtornos psiquiátricos conhecidos aumentou mais de 180%.
3 Uma abordagem fundacionista é aquela que pensa a realidade em termos essencialistas. No caso do marxismo ortodoxo, o fundacionismo se manifesta no determinismo econômico presente na ideia de luta de classes e na relação base x superestrutura. No caso do estruturalismo e do funcionalismo, a dimensão de fundação está presente na forma transcendental como as noções de estrutura e sistema são abordados respectivamente.
4 Luhmann desenvolve uma análise teórica referencial, a qual se debruça sobre a relação entre a ascendente complexificação das sociedades modernas, o caráter contingente do mundo atual e o processo de diferenciação funcional dos sistemas sociais na tentativa de conter (minimizar) tal complexidade. Ao realizar essa análise, o pensador alemão mobiliza um poderoso aparato conceitual, no qual estão inseridas as noções de contingência, complexidade, risco, globalização, auto-organização etc.
5 Associação Latinoamericana de Sociologia.
Everton Garcia da Costa – Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seus principais interesses de pesquisa estão nas áreas de Teoria Social Contemporânea, Sociologia da Educação, Estudos Sociais da Ciência, Epistemologia, Ciência e Tecnologia (C&T). eve.garcia.costa@gmail.com
Cad. CRH vol.28 no.75 Salvador Sept./Dec. 2015
Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III – ANTUNES (CCRH)
Ricardo ANTUNES, Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III. São Paulo: Boitempo, 2014. Resenha de: FESTI, Ricardo Colturato. Cadernos CRH, v.28 no.75 Salvador Sept./Dec. 2015.
O terceiro volume de Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil deu continuidade a um ousado projeto de pesquisa e reflexão realizado por dezenas de pesquisadores e estudantes e foi organizado e dirigido pelo sociólogo e professor da UNICAMP, Ricardo Antunes. Inicialmente intitulado “Para onde vai o mundo do trabalho? As formas diferenciadas da reestruturação produtiva no Brasil”, o projeto consolidou-se enquanto um trabalho coletivo de investigação teórica e empírica que, nestas duas últimas décadas, produziu inúmeras dissertações e teses acadêmicas, além de um amplo diálogo entre pesquisadores nacionais e estrangeiros, e resultou numa coleção que já publicou dois volumes.
O livro em questão está divido em três partes. A primeira, “O sistema global do capital e a corrosão do trabalho”, é dedicada às reflexões mais globais sobre as novas modalidades do trabalho no Brasil e no mundo. A segunda, “As formas de ser da reestruturação produtiva no Brasil e a nova morfologia do trabalho”, apresenta os resultados das pesquisas empíricas e analíticas sobre os vários ramos da economia, num esforço de compreender as particularidades da reestruturação produtiva do capital e suas consequências para o mundo do trabalho brasileiro. Já a terceira parte, “Os sindicatos na encruzilhada: ação e resistência dos trabalhadores”, reúne os artigos relacionados ao mundo sindical, aos movimentos dos trabalhadores e às suas reações a essas mudanças.
Umas das qualidades dessa coleção está na proximidade teórica encontrada na multiplicidade de textos, teses e opiniões, criando um fio condutor entre os autores e seus capítulos. Essa coerência teórica, nem sempre comum em coletâneas de textos, reflete uma posição metodológica e epistemológica frente à realidade concreta, entendida, não enquanto um caos incognoscível e explicável por tipologias externas à própria realidade, mas enquanto um movimento do real concreto, que pode ser explicado pelo cientista social a partir da abstração das totalidades parciais e dos complexos que compõem o todo, no caso, a própria sociedade capitalista. As determinações e mediações que compõem esse metabolismo social nem sempre são evidentes e, por isso, a teoria se confronta sempre com essa realidade na busca de sua afirmação/atualização.
Esse é o esforço de István Mészáros em “Marx, nosso contemporâneo, e seu conceito de globalização”, na primeira parte do volume III. O autor analisa, em seu artigo, alguns aspectos centrais do capitalismo contemporâneo, ressaltando a atualidade da teoria marxista. Também encontramos nos artigos de Alain Bihr, Jesus Ranieri, Patrícia Collado, Giovanni Alves e Caio Antunes um esforço em atualizar e problematizar alguns conceitos marxianos, tais como “trabalho abstrato”, “trabalho imaterial”, “fetichização”, “alienação” e “estranhamento”, a partir das novas questões postas pelo atual estágio da sociedade do capital.
Segundo Mészáros, há mais de três décadas o sistema capitalista tem-se mostrado incapaz de resolver (ou adiar) as suas próprias crises e contradições, tornando-as acumulativas e, portanto, estruturais. Essa crise não se resume à esfera econômica, mas “revela-se, certamente, como verdadeira crise de dominação em geral” (p. 29). A queda crescente da produtividade global e o aumento espantoso do desperdício, para a obtenção de maior acumulação de capital, são alguns aspectos da manifestação dessa crise estrutural. No mundo do trabalho, as consequências são devastadoras: a intensificação crescente do trabalho, o reaparecimento do “mais-valor absoluto” em países que incluem as “democracias ocidentais” (para não falar das periferias), o aumento das jornadas de trabalho (principalmente em países como Japão, Alemanha e Itália), o aumento do desemprego e da informalidade, a flexibilização das leis trabalhistas, a terceirização etc.
Nessa sociedade da “produção destrutiva”, o italiano Pietro Basso, em “A jornada de trabalho no início do século”, destaca e analisa os fenômenos do prolongamento das jornadas médias de trabalho e da emergência daquilo que Nilo Netto, outro coautor do livro, denomina de walmartização. Segundo Basso, se, nos anos 1990, o prolongamento da jornada média de trabalho ocorria por meio do recurso das horas extras – muitas vezes com o consentimento dos próprios trabalhadores e/ou seus sindicatos –, a partir dos anos 2000, passou a ocorrer, nos países de capitalismo avançado, como é o caso da França e da Alemanha, um aumento efetivo da jornada de trabalho.
A walmartização, nome advindo das formas de relação de trabalho e gestão inauguradas pelo hipermercado Walmart, é uma combinação entre os elementos do velho taylorismo (altos investimentos tecnológicos e parcelamento das funções) e do toyotismo (o just in time e a obsessão do desperdício zero), acrescidos por um componente novo, que não estava presente em seus modelos genuínos: a baixíssima remuneração salarial dos empregados do hipermercado e de toda a cadeia de produtores e fornecedores. O mais dramático desse “modelo de gestão” walmartizado é que a precariedade de seus empregados se sustenta com a precariedade do conjunto da classe trabalhadora, pois esta, devido aos seus baixos salários, é a principal consumidora do Walmart.
A extensão dessa precariedade objetiva para uma precariedade que envolve a esfera da subjetividade é analisada pela socióloga francesa Danièle Linhart em “Modernização e precarização da vida no trabalho”. A autora elabora o conceito de precariedade subjetiva para explicar o fenômeno de mal-estar, sofrimento e insegurança verificados em trabalhadores assalariados de empregos estáveis, como é o caso dos funcionários públicos. Na sociedade contemporânea, afirma a autora, “o assalariado é um indivíduo, uma pessoa sozinha, sem ajuda, confrontado com imposições e ideais não ajustados às realidades concretas do trabalho” (p. 52). A precariedade subjetiva está, portanto, relacionada tanto com a perda de uma identidade de classe entre os trabalhadores quanto com o enfraquecimento da ação coletiva e sindical. Esses dois processos deram lugar, nas últimas décadas, a uma complexa relação em que o capital passou a mobilizar, canalizar e formatar, a seu favor, a subjetividade dos assalariados.
Por fim, ainda na primeira parte do livro, o texto de Patrícia Villen, inspirado nos trabalhos de Basso, recoloca o problema da imigração no Brasil a partir de uma perspectiva do trabalho. Sua preocupação expressa uma opção metodológica presente nesses três volumes: a necessidade de uma intersecção entre os estudos sobre o mundo do trabalho com outras áreas das ciências sociais, tais como gênero, raça-etnia, sexualidade, geração-juventude etc.
A segunda parte do livro, composta por dez artigos, constitui um mapeamento das formas de ser da reestruturação produtiva e da nova morfologia do trabalho no Brasil. Os textos expressam pesquisas empíricas feitas nos setores da construção civil, telemarketing e telecomunicações, educação, trabalho informal, trabalhadores da arte, agroindústria e hipermercados.
Sávio Cavalcante e Selma Venco nos conduzem a uma reflexão sobre os ramos de telemarketing e telecomunicações. O primeiro autor, em seu artigo “O setor de telecomunicações no Brasil: tendências da prestação de serviços e da situação do trabalho na década de 2000”, oferece-nos uma caracterização e um mapeamento dos estudos publicados ao longo da década de 2000 sobre as telecomunicações. Já Selma Venco, em “Novos contornos da divisão internacional do trabalho: um jogo de xadrez no planeta?”, analisa como as empresas de telemarketing, de desenvolvimento de softwares e de telerradiologia utilizam-se de uma força de trabalho qualificada e barata, encontrada em países da periferia, como são os casos do Brasil e da Argentina, para impulsionar seus lucros, criando, assim, novas formas de divisão internacional do trabalho.
O trabalho informal de rua é analisado por Bruno Durães num artigo resultante de uma pesquisa de fôlego realizada conjuntamente com as professoras da Universidade Federal da Bahia, Graça Druck e Iracema Guimarães. Entrevistando 191 trabalhadores de rua, a pesquisa abrangeu vendedores ambulantes, camelôs, taxistas, vendedoras de acarajé, motoristas de transporte escolar e trabalhadores autônomos. Esses trabalhadores se inserem, segundo Durães, “quase sempre em uma imediaticidade exorbitante”, tendo que vender algo hoje para comer amanhã, ou, simplesmente, vender hoje para pagar o que comeu ontem. A conclusão do autor é que esses trabalhadores de rua não são autônomos (como muitos deles se reconhecem), pois estão inseridos na condição de funcionalidade e subsunção ao capital, “na condição de trabalhador gratuito e de exército de reserva”.
O mundo rural, em particular a agroindústria, é objeto de estudos de três autoras. Maria A. de Moraes Silva reflete sobre a nova morfologia do trabalho nos canaviais paulistas, enquanto Maira Augusta Tavares expõe as consequências da intensificação e do prolongamento da jornada de trabalho nesse setor. Num terceiro artigo, Claudia Mazzei Nogueira analisa as condições de trabalho da Sadia/Brasil Foods no segmento avícola, no Oeste Catarinense. Ela demostra como a intensificação do processo de trabalho ocorre nesse setor, numa articulação das dimensões de gênero com a exploração do trabalho, numa evidente piora das condições de vida das mulheres.
Os leitores encontrarão, também, nesta segunda parte do livro, um artigo de Fábio Villela sobre o trabalho na construção civil e uma reflexão acerca do “intelecto coletivo”, conceito extraído dos Grundrisse de Karl Marx. Na área da educação superior, Maria Izabel da Silva, em colaboração com Nogueira, analisa o trabalho docente voluntário. E, por fim, Maria Aparecida Alves apresenta sua reflexão sobre a precarização do trabalho na área de apoio técnico aos espetáculos do Theatro Municipal de São Paulo.
Na terceira parte do livro, dedicada às ações e resistências dos trabalhadores, encontraremos artigos que analisam tanto os setores mais estáveis e tradicionais, de forte barganha sindical, quanto os novos e precários do mundo do trabalho e as suas dificuldades na impulsão das lutas sindicais no Brasil.
O artigo de Sidartha Sória, “Sindicalismo e fundos de pensão no governo Lula…”, aborda a formação de uma elite sindical que, desde o final do segundo governo de FHC, passou a defender ideologicamente e a gerir fundos de pensão como uma extensão das atividades sindicais no mundo financeiro. Advindos da burocracia dos sindicatos do setor bancário, mas, também, de telecomunicações e urbanitário, dentre outros, essa elite sindical se consolidou e se expandiu nos dois mandatos presidenciais de Lula, compondo, inclusive, parte significativa dos núcleos de decisões desses governos. O estudo de Sória contribui para uma reflexão mais ampla sobre os caminhos percorridos por um amplo grupo de militantes, que, no passado, compuseram o novo sindicalismo, mas que se tornaram, ao passar dos anos, similar ao que ocorreu com a direção majoritária do PT, em “serviçais qualificados do capital”.
Porém, se uma parte do sindicalismo se converteu, durante o lulismo, em acionistas do mercado financeiro, através dos fundos de pensão, encontramos, justamente nos setores mais precarizados e fragmentados da classe trabalhadora brasileira, novos potenciais de luta e resistência. Esse é o tema que tanto Ruy Braga como Paula Marcelino tratam em seus textos. Em “A formação do precariado pós-fordista no Brasil: limites do atual modelo de desenvolvimento periférico”, Braga, com seu conceito de precariado, busca compreender a forma de ser e agir da fração mais precarizada do operariado brasileiro, que, desde os anos 1950, tem como característica a sua inquietação social e política.
Por fim, vale ressaltar a importância política do artigo que abre o terceiro volume desta coleção, escrito por Ricardo Antunes e Graça Druck e intitulado “A epidemia da terceirização”. No momento em que o livro é lançado, em meio à maior crise política do governo Dilma Rousseff e de uma significativa ofensiva ideológica dos setores reacionários, o projeto do ex-deputado federal Sandro Mabel (PMDB), o PL 4330/2004, era aprovado na Câmara dos Deputados e seguia para apreciação do Senado. O artigo faz uma análise crítica ao projeto e alerta para o fato de que, caso ele seja sancionado, a precarização do trabalho no Brasil dará um salto significativo, com um aumento exponencial da terceirização em todos os níveis e setores. A escolha desse texto como abertura do livro revela o comprometimento político e social dos intelectuais que participam deste projeto acadêmico e sua clara opção por uma sociologia comprometida com a classe trabalhadora.
Ricardo Colturato Festi – Doutorando em sociologia. Professor de Sociologia do COTIL-UNICAMP. Pesquisa sobre movimento operário brasileiro e a problemática da consciência de classe. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em sociologia do trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: movimento operário, controle operário, marxismo, pensamento social. E-mail: ricardofesti@gmail.com.
O pensar complexo na educação: sustentabilidade, transdisciplinaridade e criatividade – MORAES; SUANNO (EPEC)
MORAES, Maria Cândida; SUANNO, João Henrique (Org.). O pensar complexo na educação: sustentabilidade, transdisciplinaridade e criatividade. Rio de Janeiro: Wak, 2014. Resenha de: BASSALOBRE, Janete Netto. A COMPLEXIDADE APLICADA À EDUCAÇÃO. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v.17, n. 3, p. 795-800, set./dez., 2015.
Vivenciamos hoje o paradoxo de, ao mesmo tempo em que nos utilizamos de extraordinários avanços tecnológicos, ressentimo-nos de caminhar aleatoriamente, sem um norte ético. Vivemos em uma sociedade cada vez mais globalizada, submetida à política neoliberal geradora de graves processos de exclusão: são muito mais atendidos os interesses de mercado do que os dos seres humanos. Os ideais de igualdade social transmutaram-se em competição e massificação e a liberdade que a modernidade conhece é a liberdade de todos pensarem da mesma forma, ignorando-se o núcleo central da questão que é, na verdade, o exercício do direito à desigualdade.
Dentro desse contexto, algumas reflexões no campo da educação tendem a buscar visibilidade para novas práticas educacionais: as que intentem o fortalecimento de um ser humano conectado com a humanidade e o planeta, cada vez mais pretendente ao direito de ser e de se expressar através de seus potenciais e suas diferenças e que, igualmente, possam contemplar na ação educativa o respeito e a valorização dessa diversidade.
E nesse sentido, a obra resenhada, organizada por Maria Cândida Moraes e João Henrique Suanno (respectivamente, coordenadora e pesquisador do Grupo de Pesquisa Ecologia dos Saberes e Transdisciplinaridade), vem exatamente ao encontro desses objetivos quando analisa um princípio epistemológico que contribui para uma metodologia que auxilia a renovação de práticas pedagógicas que privilegiem a multidimensionalidade humana e o indivíduo como autor e protagonista do seu próprio processo de construção do conhecimento – a complexidade.
No primeiro capítulo – “Educação e sustentabilidade: um olhar complexo e transdisciplinar”, Maria Cândida Moraes1 inicia os trabalhos abordando o atual cenário socioeducacional, sinalizando alguns dos problemas mais emergentes, tais como a globalização e a degradação ecossistêmica e ambiental, o que nos transformou em um modelo de sociedade em crise que vem gerando novas demandas sociais, econômicas, culturais e educacionais, uma vez que essas últimas caminham paralelas aos problemas globais. Todo esse panorama, somado às problemáticas relacionadas ao “estresse docente e ao sofrimento discente” (p. 24), revela uma cultura que compromete as relações dos indivíduos com o mundo que os cerca; exclui a subjetividade no processo de aprendizagem, ignorando as demandas pessoais de cada aluno e fragmenta o homem ao negar suas emoções e outros aspectos constitutivos, forjando uma razão deturpada que apenas disseca e classifica ao invés de integrar.
Daí, então, educar na sustentabilidade, transdisciplinarmente, oferecendo um potencial enorme de possibilidades para o desenvolvimento humano, zelando pela reunificação das dimensões emocionais intuitivas e espirituais dos indivíduos dentro de um enfoque pluralista do conhecimento que, por sua vez, através da articulação entre as muitas formas de apreensão do mundo, pretende unir as mais variadas disciplinas para que se torne possível um exercício mais amplo da cognição humana.
Em “Educación, transdisciplinaridad y pensamiento ecosistémico: uma aproximación a la prática” Juan Miguel Batalloso2 leva-nos a uma exposição detalhada do seu entendimento acerca do conceito de transdisciplinaridade, postulando- o não como uma nova ciência, mas sim como uma nova forma de abordar a realidade, a existência humana e a educação – uma atitude perante a vida, ou seja, uma forma de desenvolvimento integral pessoal interno, comprometida com valores de vida e responsabilidade social e política. O autor realiza uma consistente análise das implicações práticas desses conceitos em diferentes âmbitos educacionais, o que faz mediante muitos questionamentos que reconhecem a transdisciplinaridade como um posicionamento diante da construção do conhecimento vinculado à integração com os mistérios do universo e da existência humana.
Marilza Suanno3, no terceiro capítulo “Em busca da compreensão do conceito de transdisciplinaridade” apresenta-nos resultados parciais de sua pesquisa relacionada com as inovações na educação superior, sob a ótica da complexidade, junto a 25 professores universitários de pós-graduação provenientes de vários países, cujos trabalhos baseiam-se na epistemologia da transdisciplinaridade.
Caminhando por entre as explicitações dos conceitos de disciplinaridade, pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, a autora realiza suas reflexões a partir de documentos-síntese, formulados em importantes eventos científicos internacionais, e comenta suas principais contribuições para a construção dos conceitos fundamentados no paradigma emergente, concluindo que os entrevistados mostraram desejos de ruptura com a fragmentação cognitiva em favor da perspectiva complexa que visa, principalmente à articulação do conhecimento em uma visão multidimensional e multireferencial.
A seguir, o artigo de Izabel Petraglia4 “Entre o esgarçamento e a tessitura” ressalta a indispensabilidade tanto de uma educação com consciência, voltada para a vida em sociedade, quanto de uma prática docente universitária criativa como condição de substituir o modelo quantitativo e pradonizado. Conclui argumentando sobre a urgência de uma reforma no pensamento que vise uma mudança comportamental que dirija a educação no sentido de se edificar sobre a cultura humanística, que retém em seu bojo os ideais de complexidade e atitudes conscientes perante o universo, a natureza e a existência individual e coletiva.
O capítulo seguinte, por Cleide Silvério de Almeida5, tem como título a sugestiva questão “É possível exercer uma prática educativa baseada no pensamento complexo?”. A partir dessa pergunta e alicerçada nas postulações de Edgar Morin sobre a complexidade, a autora parte em uma viagem a partir de análises e reflexões para as diversas situações enfrentadas pelos muitos operadores da educação, enfatizando que o pensamento complexo não se configura como um produto finalizado e sim como uma possibilidade em constante movimento. Em sua totalidade, o texto, rítmico e objetivo, é um convite para o trabalho educacional a ser efetuado sob novas perspectivas, abarcando diferentes áreas do conhecimento e suas subjetividades (e não só através de “fórmulas já estabelecidas que se apresentam como um porto seguro” – p. 144), e ressalta o objetivo de “enriquecer” (p. 145) a educação e tentar fazer da escola e do saber que ela traz uma parte importante da existência dos indivíduos.
Olzeni Ribeiro6 e Maria Cândida Moraes, em “Criatividade sob a perspectiva da complexidade e da transdisciplinaridade”, procuram definir o conceito de criatividade, questionando os postulados de diferentes autores que trabalham com o tema e assertivando que outro referencial faz-se necessário para o estudo dessa temática. Buscam no pensamento complexo de Edgar Morin as bases para avançar no mencionado campo, através desse novo olhar que se fundamenta em outro paradigma que não o positivismo. A partir dessa conscientização, as autoras, por intermédio de considerações e análises a respeito, refletem sobre os equívocos conceituais no campo da investigação da criatividade (como, por exemplo, confundir objetivos com a própria conceitualização do tema), afirmando a ideia de que a investigação da criatividade baseada nesse paradigma emergente não pode ser realizada fora do contexto transdisciplinar.
Por sua vez, João Henrique Suanno oferece-nos o artigo intitulado “Ecoformação, transdisciplinaridade e criatividade: a escola e a formação do cidadão do século XXI”, onde trata de uma questão de extrema importância: o papel da escola na formação de indivíduos que possam vir a forjar novas formas de enfrentamento da realidade circundante e estar completamente cientes de suas responsabilidades perante eles próprios, a coletividade e o mundo em que habitam. Como instituição social, a escola tem a responsabilidade de promover a transformação e o crescimento da comunidade em que se insere. O autor enfatiza, inclusive, o fato de que essa tarefa, ou seja, a de formar cidadãos aptos a lidar com as demandas do seu momento, não é nova: períodos anteriores também assim o exigiram; entretanto, a novidade centra-se na consciência e na responsabilidade exigidas hoje para com o planeta em que vivemos, explorado e exaurido em seus recursos.
Para o autor, a consciência ecoformadora, transdisciplinar e criativa deve ser o suporte para a concretização de ações no rumo do resgate do humano e da cidadania planetária, a partir de uma educação e de práticas educacionais ressignificadas que possam garantir melhores espaços e condições para as gerações futuras.
Em sequência, Maria Dolores Alves7, no artigo “Psicopedagogia e transdisciplinaridade: a sabedoria da diversidade” trata da articulação entre a transdisciplinaridade e a psicopedagogia, demonstrando como a segunda, sob o olhar abrangente da primeira, pode contribuir para a libertação do pensamento e viabilizar os processos inclusivos e os encontros com a diversidade, trazendo existência e poder de expressão para cada ser humano em sua singularidade. A psicopedagogia integrada à transdisciplinaridade, segundo a autora, possibilita a edificação de um mundo onde toda a diversidade terá seu lugar, em um caminho para a “humanização do humano” (p. 191).
Em “El aprendizaje mediante el teatro: uma mirada compleja y transdisciplinar”, Montse González8 analisa os aspectos criativos e formativos da arte teatral sob o manto da complexidade e da transdisciplinaridade. Buscando rever os cenários educativos formativos, realiza uma leitura do teatro como local de aprendizagem, rico em estímulos para o conhecimento das alteridades e amplia nossa visão de mundo. Citando Jacques Delors (2014, p. 198, tradução nossa), a autora pensa que podemos conceber o teatro como um espaço “… para propagar os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser”.9 Em seguida, Álvaro Schmidt Neto10, em “A metáfora na perspectiva da didática transdisciplinar” enfoca a temática da metáfora e sua importância na didática transdisciplinar, para isso utilizando o conto infantil anônimo “A lição do papagaio”. Baseado na transdisciplinaridade e no pensamento complexo, o autor procura evidenciar a necessidade de superação do paradigma positivista.
Encerrando os artigos, temos “Os operadores cognitivos do pensar complexo na docência universitária: possibilidades e desafios”, no qual Michelle Machado11, Patrícia Nascimento12 e Deliene Leite13 nos trazem sua pesquisa com 118 docentes universitários a respeito de como o pensamento complexo, por meio de seus operadores cognitivos, pode colaborar no fazer pedagógico dos professores, auxiliando-os a ressignificar a prática docente. Ressaltam que o uso de ferramentas tecnológicas ajuda a melhor se dar conta das relações antes despercebidas; entretanto, é uma técnica complementar que jamais poderá substituir o olhar e a percepção do pesquisador.
Dessa maneira, a obra resenhada, que evidencia diferentes olhares de diversos autores, apresenta-se como uma importante contribuição no âmbito da educação, tanto quando reflete sobre as urgências de novas perspectivas paradigmáticas como resposta às muitas indagações e inquietudes relativas à eficácia das práticas educacionais atuais, como também quando enfoca a complexidade e a transdisciplinaridade como caminhos producentes na construção de novas ferramentas intelectuais, capaz de contribuir para uma reforma do pensamento que possa promover uma política de educação associada a novas políticas de civilização e humanização.
A escola não deve abandonar sua função primordial de transmissão de conhecimentos; entretanto, esses ensinamentos necessitam abranger mais do que a parte cognitiva. Precisam abarcar o conhecimento da realidade e do contexto dos alunos; compreender e transmitir a cultura existente nessa realidade concreta para que as crianças e os jovens possam adquirir um conhecimento real das suas condições de vida e uma consciência crítica e empenhada na transformação social (= consciência social), dentro de um clima incentivador da criatividade, da dúvida (ingrediente indispensável para o desenvolvimento da capacidade crítica), da autonomia de espírito, da empatia com todos os indivíduos e do amor à natureza e ao planeta.
Notas
1 Professora de Pós-Graduação na UCB/DF e do Master em Educação da Universidade de Barcelona.
2 Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Sevilha.
3 Professora das Universidades Federal e Estadual de Goiás – UFG e UEG.
4 Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Nove de Julho – Uninove e Coordenadora do NIIC – Núcleo Interinstitucional de Investigação da Complexidade.
5 Professora e pesquisadora em Educação e Complexidade junto ao Núcleo Interinstitucional de Investigação da Complexidade e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho – Uninove.
6 Doutoranda em Educação e Especialista em gestão de instituições educacionais pela Universidade Católica de Brasília.
7 Pesquisadora dos Grupos Ecotrans/ UCB/ CNPq; GEPI/PUCSP/CNPq e Adeste, da Universidade de Barcelona.
8 Cofundadora da Companhia Teatral Barakas/Madrid e membro integrante do Grupo de Pesquisa GIAD, da faculdade de Pedagogia e Formação de Professores da Universidade de Barcelona.
9 No original: “… para propagar los cuatro pilares de la educación: aprender a conocer, aprender a hacer, aprender a vivir juntos y aprender a ser”.
10 Educador Corporativo da SPDM/Unifesp e membro do Grupo de Pesquisa Ecotransd/UCB/ CNPq.
|800| Revista Ensaio | Belo Horizonte | v.17 | n. 3 | p. 795-800 | set-dez | 2015 Janete Netto Bassalobre 11 Doutoranda em Educação. É diretora dos cursos de graduação à distância da Universidade Católica de Brasília.
12 Doutoranda em Educação foi professora da Universidade Católica de Brasília.
13 Professora do Curso de Pedagogia e coordenadora de Reconstrução das Práticas Docentes da Universidade de Brasília.
Janete Netto Bassalobre – Mestre em Educação pela Universidade Católica de Santos (UNISANTOS). Professora, psicóloga clínica pós-graduada em Neuropsicobiologia.
[MLPDB]Medicina, Saúde e Doenças na História (II) / História Revista / 2015
Ao propormos um dossiê com a temática Medicina, Saúde e Doenças na História para publicar na História Revista, para nossa satisfação, fomos surpreendidas com inúmeros artigos de excelente qualidade que ultrapassavam o limite de um dossiê. O editor da revista decidiu organizar os artigos em dois dossiês e publicar em dois números seguidos da revista.
O fato de recebermos tantos artigos vem reafirmar o crescimento do campo historiográfico da saúde e das doenças no Brasil. Desde mais de uma década, criou-se um núcleo de pesquisadores de algumas universidades brasileiras interessados nesse campo de estudos. Esse núcleo, aos poucos se ampliou com a inserção de mais pesquisadores de outras universidades, formando verdadeira rede de conhecimento.
Organização de simpósios em congressos da área, em especial da ANPUH (Associação Nacional de Professores Universitários de História) e da SBHC (Sociedade Brasileira de História da Ciência), publicação de artigos e de livros que tematizam a história da saúde e das doenças em suas várias vertentes consubstanciaram na construção e consolidação desse campo de conhecimento no Brasil, somado à existência crescente de linhas de pesquisa nos programas de pós-graduação, onde se formam novos pesquisadores, potencialmente novos membros dessa rede.
Esse segundo dossiê atesta a diversidade de abordagens e fontes para se estudar a história da saúde e das doenças. Primeiramente, apresentamos o artigo de Viviane Machado Caminha São Bento e Nadja Paraense Santos intitulado “Botica jesuíta: apontamentos sobre a produção de medicamentos e a utilização de recursos naturais no Brasil colonial” que analisa a atuação dos jesuítas no desenvolvimento de medicamentos e práticas de cura, no período colonial.
O segundo artigo trabalha basicamente com o “Banco de Theses de Médicos Mineiros”, disponível no Arquivo Público Mineiro (APM). Trata-se de um corpus documental já inventariado que permite abordar aspectos que dizem respeito à formação, relações sociais e atuação dos médicos mineiros.
O terceiro artigo analisa as doenças no território baiano, a partir do curandeiro Faustino Ribeiro Junior, pelo viés da alimentação. A seguir Rômulo de Paula Andrade apresenta uma fecunda discussão política a partir de uma ação da saúde pública, qual seja a da campanha de erradicação da malária na Amazônia. O artigo “Bons ares, maus colonos: ambivalência entre raça e ambiente em Doenças Africanas no Brasil de Octavio de Freitas” investiga um personagem, a partir de sua obra, contextualizando suas ações. O artigo de Marinice Sant’Ana de Oliveira e Liane Maria Bertucci tem como objeto a Semana da Tuberculose, realizada em novembro de 1937, em Curitiba, no Paraná. As autoras analisam as ações de educação em saúde pública durante o evento e afirmam que os bons ares não são suficientes para evitar a tuberculose. No sétimo e último artigo, Charles Klajman trata de duas pandemias de gripe, a Espanhola de 1918 e a Influenza A de 2009. Examina as duas gripes de forma comparada, utilizando o referencial teórico da História Ecológica.
Esperamos que, como o dossiê anterior, este também se desdobre em profícuas discussões sobre a temática proposta.
Dilene Raimundo Nascimento – Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Docente do programa de Pós‐Graduação em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz
Sônia Maria de Magalhães – Doutorado (2004) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É docente no Departamento de História da Universidade Federal de Goiás
NASCIMENTO, Dilene Raimundo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 20, n. 3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Educação em perspectiva histórica / História e Cultura / 2015
Alinhada à proposta inicial de integrar diversas áreas de pesquisa no campo das ciências humanas e sociais (História, Pedagogia, Sociologia, Filosofia etc.), esta coletânea de textos discute a educação a partir de suas múltiplas interfaces, sobretudo, com a História. Apresentamos, aqui, o fruto de dois anos de intenso trabalho na estruturação, recebimento, avaliação e correção das contribuições encaminhadas desde a aprovação da proposta deste dossiê pela Revista História e Cultura e a abertura da chamada pública de textos em 2013. As contribuições nacionais e internacionais agora publicadas contam com autores de diversas instituições e formações, de modo que estão organizadas em pequenos blocos temáticos.
O primeiro conjunto de textos está situado no campo do Ensino de História, apresentando, de forma sugestiva, abordagens e referenciais teóricos sensivelmente diferentes. O artigo assinado por Marcelo Abreu e Marcelo Rangel discute os nexos teóricos e práticos entre memória, cultura histórica e ensino de história. Integrando o entendimento do ensino de história no conjunto mais amplo de uma “cultura histórica”, os autores propõem temas, conceitos e problemas a partir dos trabalhos de Christian Laville, Jörn Rüsen, Hans Gumbrecht e François Hartog, abordando possibilidades do ensino de história em um tempo marcado pela “desorientação”, ou seja, o enfraquecimento de pilares teóricos e epistemológicos que pautavam a ação e a teorização históricas desde o século XIX (nação, identidade, verdade histórica etc.). A investigação de Livia Scheiner, construída sobre pesquisa empírica realizada no EJA do célebre Colégio Pedro II, analisa os estudos históricos e o ensino de história à luz da “cognição histórica situada”. Por meio de questionários dirigidos aos alunos, a pesquisa aborda o problema da formação histórica a partir de elementos cognitivos (experiência, interpretação, orientação) capazes de estruturar relações fundamentais com a historicidade, inserindo as formas do ensino na correlação entre uma consciência histórica situada na “vida prática” e a própria percepção da temporalidade e do passado histórico.
O segundo bloco de textos reúne abordagens que sugerem instigantes aproximações entre História, Sociologia e Filosofia, problematizando relações no campo do ensino e da pesquisa. O artigo de Renato José de Oliveira discute possibilidades de articulação da hipermodernidade e do pós-dever, de Lipovetsky, com algumas teorias da racionalidade argumentativa (Perelman e Olbrechts-Tyteca) para o entendimento de práticas e comportamentos em escolas de ensino fundamental e médio, situando, assim, as vivências escolares no contexto das ambivalências éticas e valorativas da própria modernidade (hiperindividualismo, bullying, agressões etc.). Rosana Cuba, desdobrando os diálogos entre Educação, História e Sociologia em pesquisa empírica realizada no município de São José do Rio Preto (SP), articula as profundas transformações históricas do final do século XX e início do XXI aos sentidos e significados atribuídos à escola por jovens de classe média. Destaca, nesse sentido, novas esferas de socialização (situadas na internet, por exemplo) e a dissolução de critérios de sequencialidade e hierarquização (característicos da escolarização moderna, sobretudo, a partir do século XVIII). O artigo de Leoni Henning reflete sobre as forças históricas que marcam importantes questões no campo da Filosofia da Educação no Brasil: desde configurações teóricas do campo até a prática e seus profundos sentidos políticos historicamente situados, a autora indica valiosos caminhos para o entendimento da Filosofia da Educação no processo de formação de professores no Brasil.
Analisando os processos de educação em perspectiva histórica, organizamos os demais artigos em ordem cronológica. A contribuição de Álvaro de Araujo Antunes oferece um painel teórico / historiográfico sobre os estudos produzidos em História da Educação tematizando a América Portuguesa. Além de um inventário debruçado sobre as especificidades da produção acadêmica na área, trata-se de propor alternativas de pesquisa à luz de problemas da História Cultural. Derick Santiago sugere aproximações entre os conceitos rousseaunianos de “estado de natureza” e “infância”: alinhando, portanto, temas da filosofia política e do pensamento pedagógico do filósofo de Genebra, Santiago indica uma matriz das reflexões de Rousseau calcada em dinâmicas de sociabilidade, destacando, como elemento central, uma teorização sobre o homem e suas interações sociais. O século XVIII ainda ganha outros contornos com o trabalho de Patrícia Merlo e Guilherme Marchiori de Assis, que enfatizam a pluralidade e as especificidades das Luzes na Europa a partir de uma investigação comparativa entre as obras de Ribeiro Sanches, estrangeirado português, e do marquês de Condorcet, filósofo francês. Para os autores, a ênfase do racionalismo Ilustrado nas formas de instrução conferia uma espécie de primado da educação no “esclarecimento” (para empregar a terminologia kantiana) das sociedades modernas.
O século XIX é compreendido pelo instigante estudo empírico assinado por Carimo Mohomed. O autor investiga o Movimento Aligarh, núcleo de identidade entre as populações muçulmanas da Índia Britânica, centralizando suas investigações na figura de Ahmad Khan (1817-1898), importante liderança política e intelectual da região e idealizador de um ambicioso sistema educacional para integração social: para Carimo Mohomed, as ações do Movimento Aligarh sinalizam, sobretudo, um projeto de modernização junto à comunidade muçulmana, aliando preceitos da educação islâmica aos conteúdos das ciências ocidentais. O autor, nesse sentido, enfatiza um amplo processo de regeneração intelectual dos muçulmanos na Índia, articulando o Movimento Aligarh em torno da construção de uma elite muçulmana que, educada para assumir quadros administrativos na Índia Britânica, era consciente de seu projeto na medida em que uma identidade muçulmana em elaboração na região sedimentava essa condição.
Preocupados com a História da Educação do Brasil republicano, os artigos que encerram esta coletânea apontam, além da diversidade temática, uma rica pluralidade teórico-metodológica na análise da documentação. Renan Mattos estuda algumas tensões no campo educacional nos anos 1930 e 1940: a partir das produções de Fernando do Ó, liderança espírita em Santa Maria (RS), o autor analisa, apoiado em documentação impressa e no quadro teórico de Bourdieu e de parte da historiografia sobre o período Vargas, processos e estratégias de disputa que delimitam algumas balizas do campo educacional brasileiro no período, sublinhando temas como a religião, o ensino público e a própria imagem da nação. Josineide Santana investiga o cotidiano escolar no Orfanato de São Cristóvão (SE) no início dos anos 1940: além de uma descrição minuciosa de práticas cotidianas (despesas, currículo, espaço etc.), o artigo propõe análises sobre os sentidos da educação feminina no período. Momento, aliás, rico em debates no campo educacional: Thiago Nascimento apresenta um painel dos anos 1920-1950 – conjuntura em que temas escolanovistas aparecem diretamente articulados às propostas de Delgado de Carvalho e às recepções das ideias de Dewey na configuração dos ensinos de História e Estudos Sociais no Brasil republicano.
O sugestivo estudo de Sérgio César da Fonseca, Débora Menegotti Ferreira e Maria Beatriz Prandi analisa o Parque Infantil, escola implantada em Ribeirão Preto (SP) nos anos 1950. Os autores inserem as análises documentais no contexto mais amplo de políticas de educação da infância que, desde os anos 1930, elaboravam ações estaduais na formação dos Parques Infantis: a pesquisa, dessa forma, acompanha significativas alterações das formas de educação, assistência e amparo à infância, analisando conjunturas centrais (décadas de 1950-60) para o entendimento da escolarização do Brasil. É essa mesma conjuntura que marca o ponto alto do artigo de Hilda Maria Gonçalves da Silva: analisando a Educação de Adultos no Brasil, a autora demonstra seus aspectos políticos e pedagógicos marcadamente associados aos anos 1950-70, momento de aguda modernização em sociedades da América Latina, criticando a sobrevalorização de uma concepção instrumental da forma educativa em detrimento de um ensino reflexivo e de maior possibilidade crítica: ambiguidade histórica que, conforme o argumento de Hilda Silva, prende as dimensões da educação às estruturas pragmáticas do mercado de trabalho. Finalizamos este dossiê com uma resenha de Everton Vieira Barbosa sobre o livro História & livro e leitura, de André Belo (historiador português da Universidade Rennes 2, na França), discutindo a História da Educação no contexto de uma história do livro e das formas de leitura.
Buscando, enfim, matizar algumas mediações históricas e teóricas que configuram o campo da educação, acreditamos que o presente dossiê ilustra, além de um esforço acadêmico para congregar pesquisas, uma possibilidade de interlocução entre diferentes campos para o entendimento dos processos de educação em suas dimensões políticas e socioculturais. Desejamos, nesse sentido, que a diversidade de temáticas, objetos, metodologias e teorias possa contribuir no sentido de um aprofundamento de pesquisas acadêmicas situadas na interface entre as ciências humanas e sociais e o campo da educação.
Marcus Vinicius da Cunha – Docente da Universidade de São Paulo (USP) Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da FFCLRP / USP e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP / Araraquara) Pesquisador do CNPq.
Tatiane Silva – Doutoranda em Educação – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP / Araraquara) Bolsista FAPESP.
Felipe Ziotti Narita – Doutorando em História – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP / Franca) Bolsista CAPES.
Organizadores do dossiê “Educação em perspectiva histórica”
CUNHA, Marcus Vinicius da; SILVA, Tatiane; NARITA, Felipe Ziotti. Apresentação. História e Cultura. Franca, v. 4, n. 2, set., 2015. Acessar publicação original [DR]
A invenção da América: estudos sobre Educação, História e Cultura na América Latina (1879-1950) / Cadernos de História da Educação / 2015
A historiografia contemporânea apresenta um interesse renovado nos fenômenos de produção, circulação e apropriação de saberes em diferentes espaços e tempos. Neste sentindo o dossiê que ora apresentamos procura analisar aspectos da representação da educação e da cultura na América Latina, a partir de obras literárias, ensaios teóricos, textos jornalísticos e narrativas históricas. A proposta consiste em tentar observar pontos de contato entre o que se percebe “no interior” das fronteiras nacionais, com o que se passa em suas exterioridades. Para tanto, procuramos observar os pertencimentos teóricos e institucionais de alguns autores, o recurso às traduções, identificar os destinatários, o regime de citação, núcleo documental mobilizado, bibliografia, editoras e projeto editorial para pensar os padrões narrativos das escritas que foram produzidos e / ou circularam no velho e no novo continente. Nesse caso, trabalhamos com parcela do universo latino-americano e com o sistema de referência à Europa e à própria América, de modo a observar: os modelos de escrita legitimados, as concorrências estabelecidas, bem como as tradições forjadas a partir destas experiências. O texto Na rota do progresso: representações a respeito da instrução pública na argentina (1879) analisa algumas representações forjadas pelo francês Celéstin Hippeau, por intermédio do relatório sobre instrução pública na Argentina, publicado em 1879. O procedimento do autor pode ser caracterizado como uma operação que busca construir um programa a ser seguido pelas nações, no qual dois países do novo mundo são apresentados como modelo – Estados Unidos e Argentina. Trata-se, portanto, de uma representação que termina por defender uma racionalização do modelo de instrução como saída para os diversos problemas identificados em todas as modalidades e níveis de ensino da Argentina; condição necessária para inscrevê-la na rota do progresso. José Ricardo Pires de Almeida entre duas vocações: a política e a ciência é o titulo do artigo que trata da obra L`Instruction Publique au Brésil: Histoire – Législation, escrita em 1889. O texto visa problematizar dois aspectos específicos: por um lado, explicita as convicções políticas defendidas pelo autor, particularmente a ideia da superioridade da instrução pública no Brasil em relação aos demais países da América do Sul; e, por outro, investe na discussão das características que legitimaram esta narrativa como expressão de uma concepção da escrita da história que visava interpretar o passado com isenção e objetividade. Outro historiador brasileiro analisado nesse dossiê foi Primitivo Moacyr, no texto intitulado Nacional e Continental – Brasil e Américas na perspectiva de Primitivo Moacyr. Este artigo explora aspectos da historiografia da educação e argumentos que sustentam os diagnósticos empreendidos e modelos propostos a partir da remissão às experiências provinciais entre o mundo latino-americano e as Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Também entre os autores brasileiros, temos América Latina, cultura e educação nos escritos de José Veríssimo. O artigo objetiva discutir como José Veríssimo articula cultura e educação em textos por ele publicados sobre a América Latina, situados teoricamente nos campo da crítica literária e da política. Os resultados indicam que as reflexões escritas por José Veríssimo sobre a América Latina reforçam a importância que atribuía à educação ao colocá-la como recurso de superação dos problemas sociais e políticos, promovidos pelo legado colonial e pelo processo de consolidação das repúblicas liberais. Fechando a proposta, La América enseñada: Colombia, primera mitad del siglo XX aborda as representações subjacentes ao ensino da categoria América, particularmente pela sua inserção no projeto político de definição da identidade de diferentes países latino-americanos, com ênfase para o contexto colombiano. Nas suas conclusões, o artigo aponta que a representação da América funcionou para justificar a existência de um povo, um território e uma raça que, apesar das fronteiras nacionais, compartilhava de um mesmo destino.
Os cinco artigos apresentados procuram em comum interrogar os projetos de educação, instrução e de civilização em curso no novo mundo. No conjunto, procuramos analisar o processo de constituição de matrizes de história da educação, algumas estratégias de legitimação, difusão e apropriação internacional desse saber e, no seu interior, o espaço reservado para se construir determinadas representações da América.
Carlos Eduardo Vieira
José Gonçalves Gondra
Organizadores
VIEIRA, Carlos Eduardo; GONDRA, José Gonçalves. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 14, n.3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Mito e Religiosidade Nórdica / Revista Brasileira de História das Religiões / 2015
Caro leitor,
É com imensa satisfação que apresentamos o vigésimo terceiro volume da RBHR com a temática Mito e Religiosidade Nórdica, organizado pelo Prof. Dr. Johnni Langer, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenador do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE), a quem expressamos nossa gratidão pela dedicação, seriedade e qualidade do trabalho realizado.
Iniciando a edição, o Prof. Langer apresenta um panorama dos estudos sobre religiosidade nórdica e a visibilidade por estes alcançados na academia brasileira nos últimos anos. Abrindo as discussões temáticas temos o artigo Vaningi: O javali e a identidade dos Vanir, de autoria de Hélio Pires, seguido por As runas de Cristo – aspectos da conversão da Escandinávia Medieval na Idade Média Tardia, de Álvaro Bragança Júnior. O terceiro artigo, Representações de honra e vingança na Mitologia Nórdica, é de Flavio Palamin. Contamos ainda com Oseberg: rito, mito e memória na construção da identidade nacional norueguesa no século XX, de Mário Jorge Bastos e Munir Ayoub; além de Discutindo o Xamanismo no Mito e na Literatura Escandinava: uma breve revisão historiográfica, escrito por Maria Emília Monteiro Porto e Pablo Gomes de Miranda.
A Saga do Santo Jón, de Arno Maschmann de Oliveira e André Araújo de Oliveira, é o sexto artigo apresentado; logo em seguida contamos com A sacralidade que vem das taças: o uso de bebidas no Mito e na Literatura Nórdica Medieval, de Luciana de Campos e A descoberta do Horizonte, a cristianização dos Vikings na América, de autoria de Gleudson Cardoso, José Lucas Fernandes e André Santos. O penúltimo artigo intitula-se O simbolismo da águia na religiosidade nórdica pré-cristã e cristã, escrito por Johnni Langer, Ricardo Menezes de Oliveira e Andressa Ferreira e, por fim, temos o texto Uma pequena igreja, um grande almofariz cultural: iconografia céltica religiosa em Kilpeck, Inglaterra, século XII, de Elisabete Leal e Amanda Basilio Santos.
A edição conta ainda com três artigos livres. São eles: “Esta religião sobre a qual todos os homens concordam” – a invenção da maçonaria, uma revolução cultural entre religião, ciência e exílios, de Dévrig Mollès e que analisa o interesse crescente pela Maçonaria na América Latina. Pensando esta realidade sociólogos e historiadores das religiões, das relações internacionais ou das ciências regularmente salientarem sua importância nos processos de modernização do século XIX. O autor aponta como, apesar de ser uma questão ainda pouco conhecida na América Latina, a sua atualidade não é duvidosa: o mostra, por exemplo, o persistente conflito ideológico com a Igreja Católica. Para alimentar a compreensão e a reflexão sobre estas questões, o autor questiona qual foi a relação entre a criação da Maçonaria e a revolução cultural do século XVIII, o século do Iluminismo, da ciência e da razão?
O segundo artigo livre, de autoria de Jérri Marin, intitula-se A construção de imagens de D. Carlos Luiz D’Amour durante as visitas pastorais pela diocese de Cuiabá em 1885 e 1886, e analisa as imagens construídas acerca do bispo D. Carlos Luiz D’Amour e da sua gestão durante as duas visitas pastorais que realizou em 1885 e 1886 ao norte e ao sul da diocese de Cuiabá. As fontes são os relatórios das viagens que foram publicados em 1886 e 1890. Por fim, Paulo Rogério Melo de Oliveira, em Padre Roque González: entre a história e a hagiografia, interpreta as biografias / hagiografias escritas em homenagem e em prol da beatificação e santificação do padre Roque González de Santa Cruz, na primeira metade do século XX, buscando perceber como as obras, escritas por jesuítas historiadores, situam-se numa fronteira difusa entre a história e a hagiografia. A edição conta ainda com resenhas de dois livros, quais sejam, Buscando el Reino. La opción por los pobres de los argentinos que siguieronal Concilio Vaticano II e Fim da era constantiniana: Retrospectiva genealógica de um conceito crítico, produzidas respectivamente por María Andrea Nicoletti e Sebastian Pedro Pattin Correio.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Vanda Serafim
Gizele Zanotto
Editoras
SERAFIM, Vanda; ZANOTTO, Gizele. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.8, n.23, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
O lunar de Sepé – Paixão, dilemas e perspectivas na educação – SAVIANI (RBHE)
SAVIANI, Dermeval. O lunar de Sepé – Paixão, dilemas e perspectivas na educação. Campinas: Autores Associados, 2014. 181 p. Resenha de: SILVA, Sarah Maia Machado. Revista Brasileira de História da Educação, Maringá, v. 15, n. 3 (39), p. 321-327, set./dez. 2015.
Com muitas obras significativas publicadas, atualmente Dermeval Saviani é professor emérito da Unicamp e coordenador geral do grupo nacional de estudos e pesquisas ‘História, Sociedade e Educação no Brasil’ (HISTEDBR). É Doutor em Educação pela PUC de São Paulo (1971) e Livre Docente em História da Educação pela Unicamp (1986). Entre 1994 e 1995, realizou estágio sênior na Itália. Condecorado com a medalha de mérito educacional do Ministério da Educação, também recebeu da Unicamp o Prêmio Zeferino Vaz de Produção Científica em 1997. Foi contemplado, por duas vezes, com o Prêmio Jabuti: em 2008, pela publicação do livro História das ideias pedagógicas no Brasil e, em 2014, pela publicação de Aberturas para a História da educação. Em 2012, recebeu pelo GT de História da Educação da Anped a Estatueta Paulo Freire, homenagem dedicada aos pesquisadores indicados pelos grupos de trabalho.
A obra O Lunar de Sepé – Paixão, dilemas e perspectivas na educação está organizada em doze capítulos e faz parte da coleção ‘Educação contemporânea’, da editora Autores Associados. Essa coleção abrange trabalhos que abordam o problema educacional brasileiro de uma perspectiva analítica e crítica. Educação e paixão são dois termos que movimentam os capítulos da obra, visto que são termos que têm uma relação: a educação pode ser considerada apaixonante e a paixão pode significar padecimento. O livro trata dos dois sentidos da palavra paixão.
A obra, que apresenta coletânea de estudos feitos por Saviani, em conferências realizadas em diferentes momentos, aborda o sofrimento dos educadores, colocando em xeque as contradições configuradas nas vicissitudes, nos dilemas e nos paradoxos enfrentados por eles no empenho em assegurar à população o direito à educação. Nesse sentido, a obra apresenta possibilidades para a realização de um trabalho significativo, resultado da dedicação apaixonada à educação.
No prefácio, Saviani destaca a motivação para a realização dessa produção, que, segundo ele, tem uma ligação intelectual e emocional; sua curiosidade intelectual destaca São Sepé, cidade do Rio Grande do Sul com nome de santo, santo este desconhecido da biografia de santos católicos. Então, a partir do poema popular ‘O lunar de Sepé’, o autor infere que a canonização de Sepé se deu não por um processo no Vaticano, mas pelo imaginário popular. O trabalho se intensifica com o VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, momento em que Saviani elaborara um estudo sobre a migração de sete povos das missões, tendo como eixo o poema ‘O Lunar de Sepé’. Ao satisfazer sua curiosidade, o autor também oferece uma homenagem à cidade natal de sua esposa. O prefácio apresenta ainda a estrutura geral da obra, bem como um breve relato sobre cada capítulo.
‘O Lunar de Sepé e a derradeira migração: a educação jesuítica entre as coroas de Espanha e Portugal’ é o título do primeiro capítulo, que apresenta na íntegra ‘O lunar de Sepé’, poema citado por Maria Genórica Alves, mestiça descendente de índios missioneiros. O poema está publicado no livro Contos gauchescos e lendas do Sul (1999) por J. Simões Lopes. Nesse capítulo, o autor retrata o fenômeno das migrações, elucida que as migrações ocorrem pela expansão do comércio, o que conduziu muitos povos do ocidente europeu a se lançar nas grandes navegações, visando à conquista de novas terras. O autor recua no tempo para trazer à tona as missões jesuíticas; assim, destaca que, em 1492, ocorre a descoberta da América por iniciativa espanhola e, em 1500, ocorre a chegada dos portugueses ao Brasil. Saviani fecha o capítulo com a seguinte reflexão: Que modelo educativo poderá dar conta dos conflitos e das contradições que atravessam o fenômeno das migrações neste tumultuado mundo em que vivemos?
O segundo capítulo, ‘Vicissitudes e perspectivas da pedagogia no Brasil’, a palavra ‘vicissitudes’, conforme o autor, retratada no prefácio do livro, sugere as dificuldades, os contratempos, as contrariedades, as crises, as provocações, os incômodos vividos pelos professores. Saviani enfatiza que, para a intencionalidade da realização da prática educativa, a pedagogia surge como uma teoria que deve orientar essa intencionalidade. Para o autor, desde a chegada dos jesuítas ao Brasil, temos a preocupação em desenvolver ação educativa de forma intencional.
De acordo com o autor, o termo ‘pedagogia’ está ausente da problemática pedagógica desde a expulsão dos jesuítas. Assim, no plano educacional de Nobrega, no Ratio Studiorum e nas reformas pombalinas, não aparece o termo ‘pedagogia’.
Saviani expõe, durante o capítulo, as vicissitudes que transcorrem no curso de pedagogia e na sua instauração, e indica que a primeira reformulação do curso de pedagogia aparece com a nossa primeira LDB, lei 4024/61, no parecer 251, de 1962. Nessa reformulação, manteve-se a duplicidade de bacharelado e licenciatura, assim como o núcleo básico do currículo formativo, e houve a dissolução do esquema 3+1. O autor destaca que as vicissitudes pelas quais passava a pedagogia conduziram à organização, na I Conferência Brasileira de Educação realizada em 1980, do Comitê Pró-participação na reformulação dos Cursos de Pedagogia e Licenciatura, transformado, em 1983, na Comissão Nacional pela Reformulação de Cursos de Formação de Educadores (CONARCFE), que, em 1990, se converte na Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope). Em 2006, a pedagogia aprova as suas Diretrizes curriculares nacionais, aspecto apontado por Saviani como a oitava vicissitude da história da pedagogia no Brasil. O autor também assinala que o espaço apropriado para a realização de estudos e pesquisas educacionais amplos são as faculdades de educação.
No terceiro capítulo, ‘Pedagogia, paixão e crítica’, texto organizado para a aula inaugural de 2011 no curso de pedagogia da Unicamp, o autor se coloca em diálogo com os calouros do referido curso. Destaca a importância e o fascínio deles pelo ofício que chama de apaixonante: a pedagogia, que tem como objetivo a produção da humanidade no homem, e, nesse sentido, ele destaca o sentido dual da palavra paixão. Para abordar essa dualidade, Saviani aponta a paixão de ser professor em cinco estações em seu texto: 1.ª) a estação ‘Educação na Grécia’ elabora a perspectiva rígida e de sofrimento de que se reveste a educação; 2.ª) a estação ‘Educação em Roma’ apresenta a relação de entusiasmo pela educação e também de sofrimento, a relação de menosprezo à exaltação da educação, ambos os polos sintetizados na paixão; 3.ª) a estação ‘Educação na idade média’ assinala a decadência da cultura clássica e o surgimento das universidades e dos mestres livres; 4.ª) a estação ‘Educação moderna ou burguesa’ apresenta a constatação de uma escola institucionalizada e de uma educação miserável e precária; 5.ª) a última estação, ‘Educação no Brasil’, destaca a paixão do educador e seu padecimento, e a contradição de uma política educacional mais preocupada com as estatísticas do que com a qualidade da educação. O autor revela que é desejável estimular, nos estudantes de pedagogia e nos próprios pedagogos, o entusiasmo e a dedicação pela causa da educação, mas devemos atentar a uma postura ingênua que pode trazer o resultado contrário do que se quer de um ofício apaixonante como a pedagogia.
No capítulo seguinte, ‘Ética, educação e cidadania’, o autor aborda a trilogia ética, educação e cidadania, colocando a educação literalmente no centro do debate, remetendo às suas obras para elaborar alguns conceitos, como o de educação. Conforme o autor, a educação não apresenta a ética nem garante a cidadania, mas ela institui a humanidade no homem. O texto apresenta uma descrição sobre o homem, a educação e a ética e seus valores. Saviani coloca a educação escolar como um aspecto necessário para o desenvolvimento da cidadania, que juntamente com a ética, formam a trilogia apontada pelo autor. Tendo em vista essa trilogia, ele considera a sociedade burguesa e a divisão de classes, expondo as determinações sociais e históricas ali expressas, aspecto importante para a compreensão dos impasses recorrentes na sociedade atual capitalista e burguesa. Diante desse contexto, a ética, a educação e a cidadania, para o autor, converter-se-ão na expressão plena do desenvolvimento da existência humana.
No quinto capítulo, ‘Dilemas e perspectivas da formação de professores no Brasil’, o autor apresenta a situação atual da educação e a formação de professores; para tanto, retoma aspectos sobre a educação no século XX. O autor expõe cinco dilemas na formação de professores a partir de pareceres, resoluções e diretrizes nacionais. Os pareceres não denotam elementos que garantam uma formação de professores consistente. Além de apresentar os dilemas, o autor descreve as perspectivas da formação docente no Brasil, que ele coloca como desafios a serem enfrentados na formação de professores, principalmente a fragmentação e a descontinuidade das políticas educacionais. As condições do trabalho docente é outro ponto decisivo na formação, pois assim aparece o valor social da profissão. A garantia de uma formação consistente assegura condições adequadas de trabalho, e para tanto se deve olhar para os recursos financeiros correspondentes.
‘O direito à educação’ é o sexto capítulo, em que se apresenta a educação como direito proclamado, diferenciando os direitos civis, políticos e sociais. Para debater essas diferenças, o autor analisa as medidas tomadas pelo Estado perante o direito à educação.
No sétimo capítulo, o tema é ‘O paradoxo da educação escolar: análise das expectativas contraditórias depositadas na escola’. ‘Que escola queremos?’ é a questão que o autor analisa para elaborar os paradoxos que circulam no âmbito da sociedade no que se refere à educação. Saviani aponta que queremos uma escola que forme para a cidadania, e assim explora o paradoxo da escola cidadã, o paradoxo da escola imparcial, o paradoxo da escola igualitária e o paradoxo da escola equalizadora. O autor enfatiza que o desafio posto pela sociedade capitalista à educação pública poderá ser enfrentado com a superação da sociedade capitalista. Explica que a educação está intrinsecamente relacionada com os meios de produção capitalista e que, contraditoriamente, nela há elementos para a transformação do capital.
No oitavo capítulo, ‘Importância da filosofia para a educação’, o autor recorre à filosofia para compreender a situação atual da educação, marcada pela crise de paradigmas, pois considera a filosofia e a história como produção da própria existência humana no tempo. É a partir da filosofia que se acompanham reflexiva e criticamente as propostas educacionais e seus fundamentos e o homem se coloca como sujeito histórico.
‘Politecnia e a formação humana’ é o debate do nono capítulo, em que a noção de politecnia e de trabalho são o referencial. Saviani entende o conceito de trabalho como princípio educativo, ou seja, toda organização educativa se dá a partir do trabalho e do entendimento da realidade do trabalho. O homem se constitui enquanto homem a partir do trabalho, pois é preciso produzir sua existência. Nesse sentido, o que define a existência humana é a realidade do trabalho, e o autor assevera que a realidade da escola deve ser analisada por esse ângulo. A ciência atinge uma parcela pequena da humanidade nas formas anteriores de sociedade, e é na sociedade moderna que a ciência vai alargar o conjunto da sociedade, pois a potência material é incorporada ao trabalho social produtivo. Isso porque o domínio da ciência corresponde ao conjunto da sociedade; assim, o currículo escolar elementar precisa considerar essencialmente o domínio da linguagem escrita, sendo composto pelo domínio da linguagem, da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais. O autor considera que não podemos perder de vista o caráter transformador e revolucionário da educação diante de um momento em que, mais do que nunca, é necessário lutar e resistir para a transformação da sociedade, caminhando na possibilidade de que todos os homens se beneficiem do desenvolvimento das forças produtivas.
O décimo capítulo aborda o futuro da universidade entre o possível e o desejável. Saviani define que a universidade se encontra com dois futuros possíveis. O primeiro é que a universidade se verga às imposições do mercado. Com essa possibilidade, o autor constata que a universidade corresponde à tendência dominante e aponta ser um futuro indesejável. O segundo tem a sua possibilidade condicionada à reversão da primeira, o que implica projetos econômicos em torno da vida social atual. E inversamente ao primeiro, esse futuro não é previsível e sua visibilidade é problemática, mas desejável. A partir dos aspectos históricos da educação, o autor desenha o quadro em que se configura a educação superior no Brasil, afirmando estar ela submissa aos mecanismos e às demandas do mercado, sendo este um aspecto mundial que também se manifesta no Brasil.
‘Pós-graduação em educação, interdisciplinaridade e formação de professores’ é o décimo primeiro capítulo, no qual o autor segue discutindo a educação superior em nível de pós-graduação e resgata o significado e a implantação da pós-graduação no Brasil, abordando sua estrutura organizacional. A organização da pós-graduação no Brasil acontece com o parecer n. 9.77 do Conselho Federal de Educação em 1965. Trata-se de um parecer que trata da conceituação dos estudos pós-graduados, com base em experiências americanas. Para a abordagem crítica sobre a interdisciplinaridade e a abordagem científica da educação, Saviani analisa a estrutura curricular da pós-graduação. O autor problematiza a banalização da questão interdisciplinar recorrente na atualidade e explica o que é ciência da educação a partir das disciplinas psicologia, sociologia e história da educação. As abordagens disciplinares e interdisciplinares correspondem a um movimento analítico, abstrato, necessário para se passar à síncrese, movimento empírico, e ao concreto, a síntese do todo (caótico), conforme descreve o autor baseado na intuição do todo (articulado) apropriado pelo pensamento. Saviani afirma que este é o caminho para constituir uma ciência da educação. O capítulo ainda abre uma discussão sobre a formação docente e a pós-graduação, o resgate da história da educação a partir da colônia, apresenta como se deu a formação de professores.
E o capítulo final, décimo segundo, elenca ‘A importância da educação no projeto de desenvolvimento do País’. A questão do financiamento da educação é abordada pelo autor nesse capítulo final, no qual expõe que a relação entre educação e desenvolvimento pode ser considerada a partir de três distintas concepções: educação pelo desenvolvimento, educação para o desenvolvimento e educação como desenvolvimento. Como conclusão, destaca o Plano Nacional de Educação, como estratégia importante para tornar real a qualidade da educação pública. O autor enfatiza que dois eixos do PNE são necessários para isso: o financiamento e o magistério. A questão docente é primordial, pois dela depende o alcance das metas voltadas para a melhoria da qualidade na educação básica.
O livro é direcionado especificamente aos professores que sofrem com a questão salarial, com constrangimentos morais e materiais; professores sobrecarregados de aulas, que atuam em situações de precarização na escola. Saviani coloca em pauta o debate crítico sobre as questões educacionais e convoca a união das forças representativas dos professores, alunos e pais, na busca de uma educação de qualidade para a transformação da realidade social, política e cultural da sociedade em que vivemos com tantas desigualdades. Trata-se de uma obra de referência, alicerçada em compromissos éticos e políticos sólidos, preocupada com a elevação da cultura científica para todos, no sentido da tranformação da sociedade e do universo educativo. Para tanto, o autor se fundamenta nas matrizes culturais e filosóficas clássicas e no marxismo, reafirmando a necessidade da luta, da resistência, para a construção de uma sociedade coletiva para todos.
Desiré Luciane Dominscheck – Doutoranda em Educação linha de Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Membro do Grupo de estudos e pesquisa: HISTEDBR, Professora do História da Educação- Centro Universitário Internacional-Uninter. E-mail: desiredominschek@hotmail.com
Sarah Maia Machado Silva – Doutora em Educação :Linha Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas -Unicamp, membro do grupo de pesquisa Paideia. E-mail:sarahmariamachado@hotmail.com
Educação Digital na Contemporaneidade | Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais | 2015
Esta edição da Revista n.3, reúne alguns textos apresentados no 6º Seminário Nacional do EDaPECI – realizado na Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, maio de 2015.Trata-se do Dossiê Educação Digital na Contemporaneidade.
É uma temática atual, a qual se faz presente nas pesquisas sobre educação, ensino e aprendizagem. No afã de utilizar e aplicar a farta e emergente tecnologia na atualidade, docentes se transmutam em pesquisadores, debruçam-se sobre suas práticas e desenvolvem na maioria das vezes estudos exploratórios. O espectro das pesquisas resultantes é amplo, abarcam contextos de EAD, cursos online, jogos digitas, vídeos, audiovisuais e redes sociais entre outros assuntos. Na maioria das vezes surgem despretensiosamente, como atividade do cotidiano, porque a tecnologia adentra os muros escolares, no interior das mochilas dos jovens e se instala nas atividades e conversas dentro e fora da sala de aula. Leia Mais
Americanidades / Mnemosine Revista / 2015
A Revista Mnemosine vem a público em 2015.4 com a temática da Americanidade em suas páginas. Refletir sobre a América hoje é tarefa fundamental para cientistas sociais, momento em que mais uma daquelas crises econômicas ditas “globais” nos atinge com suas particularidades, mas também com suas generalidades, tornando-se, como quase sempre, política e social. Os autores tiveram total liberdade para tratar a temática de forma bem ampla, sem limitações de temas específicos dentro dessa generalidade, pois acreditamos que somente a criatividade e o livre pensar poderá nos ajudar nesses tempos difíceis.
Ival de Assis Cripa nos leva ao período da conquista da América e recupera visões de autores fundamentais para se compreender a América Latina, mais especificamente o já conhecido autor mexicano Octavio Paz e o pensador contemporâneo Serge Gruzinski, não somente confrontando o pensamento de ambos, mas também de Tzvetan Todorov.
José Pereira Júnior apresenta reflexões sobre a chegada do espiritismo da França para a América Latina, focando particularmente o Brasil pelo fato de melhor acesso à documentação e número de adeptos. A trajetória religiosa de Allan Kardec até Fancisco Xavier e Divaldo Franco é central no artigo, na medida em que é vista também como forma de resistência à hegemonia católica na América Latina.
Edfaildo Eudes de Lima Amaro nos traz um tema aparentemente já muito estudado por historiadores, ou seja, a figura de Evita Perón e sua mitificação. A maior novidade de seu trabalho reside, no entanto, em explorar a imagem de Evita ainda hoje no ciberespaço, através da Fundação Eva Perón, criado para que a mesma não seja esquecida e, ao mesmo tempo, fornecendo uma documentação nova para historiadores distantes dos arquivos argentinos.
Celso Gestermeier do Nascimento e Hilmaria Xavier Ribeiro procuram contribuir em dois aspectos com Mnemosine: tanto numa discussão acerca do uso de fontes para o historiador – filme, romance, músicas – quanto a respeito da memória do fato histórico. E isso é feito a partir da percepção política e do transcorrer das diferentes perspectivas de tempo para os principais personagens do filme “A casa dos espíritos”.
Adriano Díez Jiménez está preocupado com as migrações de colombianos que tem aumentado para a província de Sevilha, na Espanha e de como eles são submetidos a duras condições de vida e de sucesso econômico proporcionando-nos, também, reflexões acerca de metodologia de trabalho e da formação / ou não de laços sociais com suas comunidades de origem.
Andréia Brito de Souza e Claudimara Cassoli Bortolotto também analisam a temática da imigração, só que desta vez o foco é a imigração haitiana para o Brasil na atualidade, em particular as cidades de São Paulo e Cascavel e como esse processo afeta as cidades enquanto espaço de diversidade cultural e o próprio Estado nacional que não pode deixar de lado as demandas desses imigrantes.
Quando lembramos o significado da dimensão religiosa para a formação social da América Latina, e em particular a dinâmica de reconfigurações em suas expressões ao longo do século XX, ganha importância o texto de João Marcos Leitão Santos com um estudo de uma faceta particular que se disseminou no protestantismo latinoamericano a partir dos anos setenta do século passado, que foi a associação de intelectuais leigos e teólogos organizados em associações de diversos perfis, e com menor grau de vinculação institucional com as denominações protestantes, no caso, o autor investiga as gêneses da Fraternidade Teológica Latinoamericana / FTLA a partir do seu emblemático encontro de Jarabacoa, Costa Rica, em 1983.
Celso Gestermeir do Nascimento – Doutor. Professor de História da América da Unidade Acadêmica de História e Professor da Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande.
NASCIMENTO, Celso Gestermeir do. Apresentação. Mnemosine Revista. Campina Grande, v.6, n.4, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Connections after Colonialism. Europe and Latin America in the 1820s | Matthew Brown e Gabriel Paquette
Resultado de um projeto de pesquisa colaborativo, Connections after Colonialism. Europe and Latin America in the 1820s reúne as reflexões que tiveram lugar no simpósio “Re-thinking the 1820s”, realizado em maio de 2009 na Trinity College, Cambridge. O evento contou com a presença de historiadores da Europa, América do Norte e América do Sul e se propôs a avaliar o jogo de continuidades e rupturas nas conexões – intelectuais, políticas, culturais e econômicas – entre Europa e América Latina na década de 1820, ao fim do processo das independências ibero-americanas.
Na introdução, intitulada “Between the Age of Atlantic Revolutions and the Age of Empire”, Matthew Brown e Gabriel Paquette dedicam-se a uma instigante reflexão a respeito do lugar dos anos de 1820 na historiografia. Afirmam que as conexões atlânticas durante essa década foram negligenciadas pelos pesquisadores. O paradigma da Era das Revoluções na tradição intelectual, ao enfatizar a ruptura das independências políticas na América Latina, tendeu a ofuscar o fato de que a dissolução dos impérios ibéricos não rompeu abruptamente as relações entre o Velho e o Novo Mundo. Embora os organizadores da obra não neguem o alcance das mudanças provocadas pela dissolução dos impérios ibéricos e pelas revoluções de independência na América Latina, voltam os olhos para a persistência da “influência mútua entre o Velho e o Novo Mundo após a independência”, procurando identificar elementos da reconfiguração dessa relação. O ofuscamento da década que a obra analisa também decorreu da ênfase do paradigma da História Atlântica no período compreendido entre 1500 e 1800, embora pesquisas recentes no interior desse paradigma tenham apontado para a necessidade de dar maior atenção ao início século XIX, como salientam os organizadores.
Mais do que negar a operacionalidade dos paradigmas citados, os organizadores propõem outra abordagem na introdução. “Our approach is to move beyond the recognition of change and continuity within the age of revolution and to explore the untapped possibilities as well as structural limitations of both the age of revolutions and Atlantic history paradigms through analysis of one coherent and discrete unit of time”. Os anos de 1820 são tradicionalmente vistos na historiografia como a consolidação do fim do período colonial ou como o início de algo que se tornaria importante posteriormente (os estados nacionais na América Latina), ou seja, como o término de uma era e o início de outra. Rejeitando esse enquadramento, os organizadores se perguntam, ainda na introdução, “how the historiographical picture might appear if we removed the 1820s from these paradigms and identified the shifts and transformations unique to this decade”. Para Brown e Paquette, os anos vinte são uma unidade de estudo coerente. Foi a década de “planos não realizados”, “rotas não tomadas”, década em que os “clamores de liberdade” se colocaram contra “a parede de tijolos da resistência realista”, quando a “resiliência das heranças coloniais foi testada, mas não destruída”.
No mesmo ano de realização do simpósio em Cambridge, uma importante obra era publicada no ambiente intelectual ibérico no seio do projeto conhecido como Iberconceptos. Trata-se do Diccionario político y social del mundo ibero-americano: la era de las revoluciones, 1750-1850, dirigido por Javier Fernándes Sebástian, integrado por mais de uma centena de pesquisadores de diferentes espaços acadêmicos dedicados a estudar alguns conceitos, linguagens e metáforas políticas que circularam no mundo iberoamericano ao longo dos últimos séculos, partindo de uma perspectiva comparada e transnacional. Embora não exclusivamente concentrado no período das revoluções liberais e das independências ibero-americanas, o ainda ativo projeto Iberconceptos tem dado atenção especial ao período, formulando questões muito semelhantes às do livro organizado por Brown e Paquette. Iberconceptos é apenas um exemplo dos muitos projetos coletivos recentes de grande fôlego a revisitar o período das revoluções liberais e de independência no ambiente intelectual ibérico.
Em Connections after Colonialism, é louvável o esforço coletivo e coeso dos historiadores que, por meio de estudos de caso em cada capítulo, conferem materialidade à proposição principal do livro. Os organizadores identificam quatro dimensões das conexões atlânticas analisadas no conjunto da obra: o liberalismo; o envolvimento anglo-americano na América Latina; as correlações transnacionais construídas pela circulação de pessoas e ideias entre Europa e América Latina; e, por fim, as transformações envolvendo a escravidão e o tráfico de escravos. O liberalismo transatlântico é tema contemplado por todos os capítulos, mas ganha destaque no estudo de Brian Hamnett (dedicado à análise dos anos de 1820 em sua dimensão política transatlântica) e no de Josep Fradera (que se concentra na dimensão econômica do liberalismo espanhol, especialmente no que diz respeito ao espaço colonial).
Em “Themes and Tensions in a Contradictory Decade: Ibero-America as a Multiplicity of States”, Hamnett avalia um amplo conjunto de problemas e contradições característicos dos anos de 1820, como a diversidade de projetos políticos em teste, a revisão institucional da Igreja Católica, as tensões dos projetos liberais no espaço hispano-americano, a centralidade dos conflitos territoriais, étnicos e econômicos nas disputas políticas liberais, a persistência de heranças coloniais, a reconfiguração das relações econômicas entre Europa e América Latina e a inserção do liberalismo espanhol num contexto europeu de explosão de revoluções liberais. Em “Include and Rule: The Limits of Liberal Colonial Policy, 1810-1837”, Josep Fradera propõe-se a entender o significado e os limites dos esforços feitos pelos liberais espanhóis nos anos de 1810-14 e 1820-23 para dar nova vida ao seu exausto império, com ênfase na análise da política econômica liberal voltada ao espaço colonial. O autor também lida com um grande número de problemas: a tensão entre os princípios liberais de igualdade política e a multiplicidade étnica do império espanhol, a persistência de heranças coloniais que permearam essas tensões e o momento de reconfiguração da economia imperial espanhola, envolvendo também discussões a respeito da escravidão negra. Tanto Hamnett como Fradera salientam a natureza profunda das mudanças que ocorreram nos anos vinte. Tal natureza, muitas vezes os obriga a considerar a década dentro de um quadro mais geral de reconfiguração das relações entre Europa e América Latina que transcende os limites impostos pelo recorte cronológico do livro. O esforço sugere repensar continuamente a abordagem da década como uma “unidade de estudo”. A abordagem mais geral dos capítulos citados nos coloca diante de um contexto de crise, de reconfiguração das formas políticas que não é exclusividade nem ineditismo da década em questão, embora tenha se agudizado de maneira contundente e definitiva durante seu curso.
No segundo capítulo “Rafael del Riego and the Spanish Origins of the Nineteenth-Century Mexican Pronunciamiento”, Will Fowler navega entre as dimensões do liberalismo atlântico como tema geral e as correlações transnacionais de práticas políticas no espaço atlântico ibérico. Destaca-se pela perspicaz análise de uma nova forma de fazer política característica dos anos de 1820, o pronunciamiento. Segundo Fowler, tal prática foi inaugurada na Espanha em janeiro de 1820 por Rafael Riego (ao menos nomeada pela primeira vez como tal) e serviu de inspiração para diferentes espaços do Atlântico dos anos de 1820. O autor dá atenção especial à repercussão do pronunciamiento de Riego e à reprodução dessa prática política na Espanha e no México, realizando uma muito bem sucedida análise de seus significados políticos, salientando que, embora os objetivos imediatos de Riego fossem malogrados, esse evento teve alcance amplo como modelo de se fazer política não somente nos anos de 1820, mas também ao longo do século XIX.
O envolvimento anglo-americano na América Latina é outro tema que permeia o horizonte de preocupação da obra, mas ganha destaque nos capítulos 6, 8, 10 e 13. No sexto, “An American System: The North American Union and Latin America in the 1820s”, Jay Sexton reavalia o lugar da mensagem de James Monroe de 1823, evitando considerá-la pelas lentes do imperialismo tardio oitocentista, e procurando matizar como, embora o imperialismo não tenha sido um plano arquitetado para dominar a América Latina, sua lógica levou a essa direção. O autor analisa questões como as disputas entre as unidades federativas, os poderes federais da União, a maneira como os Estados Unidos se sentiam ameaçados pela intervenção europeia na América do Norte, a competição no espaço latino-americano entre Grã-Bretanha e Estados Unidos e o debate polarizado no congresso em torno do posicionamento da república a respeito do Congresso do Panamá. No interior desse complexo debate, Sexton identifica um marco importante para uma agenda estadunidense beligerante voltada à América Latina.
No capítulo 8, “Corinne in the Andes: European Advice for Women in 1820s Argentina and Chile”, Iona Macintyre, ao identificar a questão feminina como uma preocupação liberal transatlântica dos anos de 1820, analisa a política educacional para as mulheres na Argentina e Chile. Demonstra o crescimento da influência britânica nas políticas educacionais da América Latina, mapeando a circulação de princípios e valores britânicos divulgados pela obra do espanhol José Joaquín de Mora. No capítulo 10 “Porteño Liberals and Imperialist Emissaries in the Rio de la Plata: Rivadavia and the British”, David Rock analisa a presença britânica no Rio da Prata nos anos vinte, com particular atenção aos investimentos britânicos promovidos por Bernardino Rivadávia quando ministro-chefe da província de Buenos Aires e presidente das Províncias Unidas do Rio da Prata. Rock demonstra que a comunidade britânica cresceu nos anos de 1820 na região e que acabou sendo objeto de violência e repulsa no fim da década. O mérito do autor é evidenciar que esse movimento de influência britânica no Rio da Prata foi conformado não somente pelo próprio interesse britânico, mas também pelas disputas políticas locais, sendo, portanto, moldado por elas.
No décimo terceiro e último capítulo “The 1820s in Perspective: The Bolivarian Decade”, Matthew Brown também dá destaque considerável à questão da influência britânica na América Latina. O capítulo não deixa de ser uma espécie de conclusão do livro e se esforça por identificar temáticas comuns aos capítulos anteriores, retomando alguns dos pressupostos da introdução. Brown defende que Simon Bolívar foi uma figura antes representativa do que excepcional dos anos de 1820. Por meio da análise da trajetória de Bolívar e de outros protagonistas políticos como José Antônio Paéz e Tomás Cipriano de Mosquera, Brown refuta o simplismo segundo o qual o colonialismo ibérico teria oferecido caminho direto ao neocolonialismo imperial britânico ou estadunidense nos anos de 1820. A presença britânica na América Latina não resultou somente da pressão de uma potência no interior de um espaço que teria cedido pacificamente à sua hegemonia. Brown destaca o protagonismo político de sujeitos históricos da América Latina que buscavam o modelo britânico como alternativa às perturbações que tiveram lugar na França e no Haiti, o que teria permitido às elites, entre outros fatores, manter suas posições locais de privilégio. Rock e Mancyntire apontam para a mesma direção, uma vez que documentam o esforço de protagonistas dos quadros políticos e administrativos hispano-americanos no sentido de incentivar a presença britânica na América, tanto como referência intelectual como por meio do incentivo à imigração. Tal esforço reflete a crença no modelo britânico como uma via que conferiria aos novos Estados independentes feições mais modernas e civilizadas.
Estudos de caso perseguem as influências recíprocas entre Europa e América nos anos de 1820 analisando a trajetória de atores sociais e de ideias no interior do espaço atlântico. A fim de entender como o patriotismo italiano evoluiu após 1821, Maurizio Isabella dedica-se a encontrar interlocutores intelectuais e políticos dos liberais italianos, dando destaque à América Latina. No quarto capítulo da obra, “Entangled Patriotisms: Italian Liberals and Spanish America in the 1820s”, Isabella apresenta a trajetória de alguns liberais italianos que se deslocaram para diferentes espaços da América Latina em nome da revolução, o que evidencia a natureza internacional do patriotismo e do liberalismo no espaço atlântico nos anos de 1820. No capítulo 5, “The Brazilian Origins of the 1826 Portuguese Constitution”, Gabriel Paquette identifica, como o próprio título anuncia, as origens brasileiras da Constituição Portuguesa de 1826 a partir da evidência da autoria da Carta. O texto teve por base a Constituição do Brasil de 1824 e recebeu adaptações e retoques de D. Pedro, então imperador do Brasil e legítimo herdeiro do trono português. Seu texto sustenta a ideia de que a influência mútua entre Brasil e Portugal persistiu após a independência do Brasil. Os capítulos de Isabella e Paquette reforçam um dos sentidos da mutualidade da influência entre Europa e América ao demonstrarem que o espaço da América Latina também influenciou a Europa durante os anos de 1820, e não somente o contrário, como aponta a maioria dos estudos. Ao mesmo tempo, os capítulos de Isabella, Paquette e Fowler reforçam o constitucionalismo e o liberalismo como fortes vetores de transformação política, elementos do emaranhado das conexões atlânticas que se aprofundam pela via da solidariedade ideológica nos anos de 1820.
Por meio da análise da trajetória política de Bernardo O’Higgins no Peru, Scarlett O’Phelan Godoy rastreia as conexões atlânticas nos anos de 1820 ao longo do capítulo 7, “The Chilean Irishman Bernardo O’Higgins and the Independence of Peru”. O’Higgins tem origem familiar irlandesa e, ao mesmo tempo, ligada aos quadros administrativos coloniais espanhóis. Estudou na Europa, o que propiciou a ele uma rede de contatos em torno de ideias liberais, e atuou politicamente durante o processo de consolidação da independência no Chile e no Peru. A autora demonstra que a trajetória política de O’Higgins tocava no complicado enredo de questões políticas que o aproximou e/ou afastou de figuras-chave como San Martín e Bolívar no Chile e no Peru..
No capítulo 9 “Heretics, Cadavers, and Capitalists: European Foreigners in Venezuela during the 1820s”, Reuben Zahler empreende análise meticulosa sobre a crescente imigração para a Venezuela nos anos de 1820, problematizando a própria concepção de “estrangeiro”, já que, no período analisado, o senso de unidade nacional não existia na Venezuela, tampouco na Grã-Colômbia. O autor apresenta os diferentes perfis de estrangeiros presentes na Venezuela nesta década, os estímulos à imigração, os impactos gerados por essa presença e o quanto a presença dos estrangeiros ajudou os Estados em formação a perseguir sua agenda liberal, nutrindo o livre-comércio, promovendo um padrão de código unitário, apoiando a liberdade e diversidade religiosa e reconfigurando o lugar institucional da Igreja Católica. Aqui é o caminho da circulação de pessoas que fortalece a evidência das conexões transatlânticas nos anos de 1820.
O problema da escravidão e do tráfico de escravos é objeto de análise nos capítulos 11 e 12 (além do 3, de Fradera, já mencionado). Em “There is No Doubt That We Are under Threat by the Negroes of Santo Domingo: The Specter of Haiti in the Spanish Caribbean in the 1820s”, Carrie Gibson demonstra como o medo de revoltas coloniais e/ou escravas adquiriu contornos mais dramáticos no Caribe espanhol em função do espectro do Haiti. Após discutir os significados do medo e a dificuldade de mensurar os muitos tons e níveis desse medo, Gibson defende que o espectro do Haiti foi fundamental para determinar a continuidade do pacto colonial e a fidelidade à Espanha em Cuba e em Porto Rico. No capítulo doze, “Bartolomé de las Casas and the Slave Trade to Cuba circa 1820”, Christopher Schmidt-Nowara demonstra como a autoridade de Bartolomeu de Las Casas foi mobilizada no debate público no seio do liberalismo espanhol, especialmente por proprietários de escravos de Cuba. Las Casas foi utilizado como autoridade para compreender, defender ou atacar a escravidão e o tráfico de escravos diante do seu crescimento sem precedentes em Cuba. Tomados em conjunto, os capítulos sobre a escravidão e o tráfico negreiro evidenciam um importante eixo de conexões transatlânticas ao longo do século XIX. Convém salientar que as tais conexões atlânticas estabelecidas em função da escravidão não se limitaram às relações Europa-América. Também envolviam conexões intelectuais entre os três bastiões da escravidão na América – Brasil, Cuba e sul dos Estados Unidos – e conexões econômicas entre tais espaços com a África a despeito das pressões britânicas pelo seu fim, como têm apontado pesquisas recentes.
Como já foi sinalizado, há um esforço recente de renovação historiográfica a respeito do tema do liberalismo e das revoluções de independência na América Ibérica, e o já mencionado projeto Iberconceptos pode ser tomado como representativo de tal esforço. Ele dá destaque às conexões atlânticas além dos limites dos Estados-nacionais por meio do aporte teórico da história dos conceitos. Ainda que não o digam dessa forma, Brown e Paquette operam em um campo semelhante ao do Iberconceptos, na medida em que supõem que o advento da modernidade caracterizou o período compreendido entre os fins do século XVIII e início do XIX, e que apontam para os problemas provocados pela abordagem nacionalista do período.
Matthew Brown, em notas conclusivas do capítulo treze, salienta: “The overall conclusion encouraged by the works collected here, alongside other recent scholarship, is that the 1820s produced no outright winner: no European empire achieved hegemony in the Americas, no national political project proceeded untroubled, and no political ideology (monarchism, republicanism, or mixed constitution) was unequivocally ascendant. (…) As a unit of study, the 1820s lend themselves to the study of imperfect beginnings and unfinished endings”. A provisoriedade averiguada de maneira inegável ao longo dos capítulos e reafirmada por Brown não é exclusiva da década analisada na obra, embora tenha ganhado contornos específicos durante os anos de 1820. Não seria – cabe perguntar – a provisoriedade acima diagnosticada a própria crise do Antigo Regime que, para além do desmantelamento dos impérios ibéricos, representou também uma transformação mais ampla, qual seja, o advento da modernidade? Seria possível prescindir dessa última categoria, ou da de crise, como poderosas ferramentas para analisar os anos de 1820? Ao avaliar a assertiva de que os anos de 1820 devem ser tomados como unidade de estudo coerente – como defendem os organizadores -, acredito que, tanto pela via da consagrada dialética braudeliana das durações históricas, como pela centralidade das categorias de modernidade e de crise, não reconhecidas como tais em Connections after Colonialism, a periodização do livro é pouco operacional e limitadora.
O esforço de muitos autores de cada capítulo por recuperar as hipóteses anunciadas na introdução e estabelecer diálogos com outros capítulos, bem como o notável rigor metodológico presente na introdução e nas notas conclusivas, deixam a impressão difusa de que há um projeto (ou uma tendência) em favor da organização de um novo enfoque historiográfico no interior da “velha” história atlântica. De fato, as conexões atlânticas foram reconfiguradas nos anos de 1820, e de maneira muito bem sucedida a obra explora os elementos que dão à década analisada um caráter peculiar. O liberalismo/constitucionalismo, a intensificação na circulação de pessoas e ideias ao longo dos anos de 1820, a reconfiguração das relações da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos com a América Latina e as transformações acercada escravidão e do tráfico de escravos, todos esses tópicos justificam a necessidade de se analisar os anos de 1820 como um marco importante de transformação. No entanto, reconhecer a peculiaridade dos anos de 1820 não diminui, antes fortalece, a necessidade de repensar a periodização proposta na obra por meio da interlocução com outras vertentes historiográficas que anteriormente ao esforço aqui empreendido tem se debruçado há anos sobre periodização, temas, problemas e espaços semelhantes. Tal interlocução poderia fortalecer a tese principal dos organizadores, segundo a qual os destinos da Europa e América não se separam a partir das revoluções de independência, mas antes se reconfiguram, sendo os anos de 1820 fundamentais para bem compreender esse processo.
As ressalvas aqui enunciadas não comprometem o mérito de Connections after Colonialism. Ao identificar as relações de influência mútua entre Europa e América Latina nos anos de 1820, superando a abordagem simplista da dominação da segunda pela primeira ou da sucessão de ambas como mera transferência de hegemonias, o livro se apresenta como uma grande contribuição historiográfica para o estudo transnacional do século XIX.
Cristiane Alves Camacho dos Santos – Universidade de São Paulo (USP).
BROWN, Matthew; PAQUETTE, Gabriel (Orgs.). Connections after Colonialism. Europe and Latin America in the 1820s. Tuscaloosa: The University of Alabama Press, 2013. Resenha de: SANTOS, Cristiane Alves Camacho dos. Almanack, Guarulhos, n.11, p. 854-859, set./dez., 2015.
Memória e teoria da História: debate e prática historiográfica | Escrita da História | 2015
Em sua quarta edição, a Revista Escrita da História – REH vem buscando se consolidar como um espaço de debate e reflexão acerca dos diferentes tipos de abordagem da ciência de Clio. Assim, em consonância com o movimento dos Annales, que promoveu e insistiu na necessidade de alargar a noção de fonte histórica, trazemos o dossiê Memória e teoria da História: debate e prática historiográfica no intuito de congregar pesquisas que, ao explorar documentos nem sempre valorizados pela historiografia tradicional, apresentaram possibilidades de entrevermos “histórias dentro da História”, alusão comumente empregada por pesquisadores no campo da história oral.
Ainda que nem todos os textos inseridos no dossiê se apropriem desta metodologia – ou mesmo disciplina, como consideram alguns estudiosos –, seus autores, de modo geral, articularam memórias como objetos da História. Individual ou coletiva, a memória foi abordada como um processo de “construção social” e os pesquisadores investigaram este objeto evidenciando múltiplas histórias, memórias e identidades em diferentes contextos. Em certa medida, os estudos também atuaram como “a pequena ponta de um iceberg” – como observou Jacques Le Goff –, ou seja, revelaram uma ínfima parcela de toda uma conjuntura sociocultural, econômica e política. Leia Mais
Sociologia no Espelho. Ensaísticas, cientistas sociais e críticos literários no Brasil e na Argentina (1930-1970) – BLANCO; JACKSON (PH)
BLANCO, A.; JACKSON, L. C. Sociologia no Espelho. Ensaísticas, cientistas sociais e críticos literários no Brasil e na Argentina (1930-1970). São Paulo: Editora 34, 2014. Resenha de: TEDESCO, Alexandra Dias Ferraz. Historiadores e sociólogos no espelho. Projeto História, São Paulo, n. 54, pp. 322-330, Set.-Dez. 2015.
A obra de Luiz Carlos Jackson e Alejandro Blanco que comentaremos nesse espaço, Sociologia no Espelho – Ensaístas, cientistas sociais e críticos literários no Brasil e na Argentina (1930-1970), publicada em português pela Editora 34, em 2014, traz, em seu título, algumas das implicações e tensões que constituem o próprio cerne da hipótese do livro. A proposta chama atenção não apenas pelo recorte temporal (datas paradigmáticas nos dois países, que sugerem ainda um período de constantes choques políticos e tensões sociais) mas, principalmente, pela multiplicidade de agentes em análise e em interação, que abre caminho para a hipótese estruturadora da análise dos dois autores: a ideia de que as trajetórias intelectuais operam em relação dinâmica com o contexto de institucionalização das referidas áreas acadêmicas e, ainda, que se pautam – em maior ou menor grau – pelas vicissitudes dos processos sociais que se desenvolvem na esfera não-acadêmica. Assim, embora a proposta do livro aborde, com riqueza de detalhes, algumas oscilações epistemológicas importantes, as questões políticas e sociais não aparecem de forma sorrateira na análise, outrossim, constituem matéria de base para a compreensão da relação entre ensaístas, cientistas sociais e críticos literários nos dois contextos.
Seguindo a proposta dialética da obra, o lugar intelectual de que falam os autores é um dado importante para a compreensão mais ampla da proposta metodológica contida na obra. Alejandro Blanco, graduado em sociologia pela Universidade de Buenos Aires e doutor em História pela mesma universidade, atualmente pesquisador do CONICET, desenvolve uma série de pesquisas no âmbito da História Intelectual, notadamente sobre o processo de institucionalização da sociologia na Argentina.1 Luiz Carlos Jackson, por seu lado, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo trabalhou, em sua tese de Livre Docência na mesma Universidade com a perspectiva da Sociologia Comparada.2 Essas breves considerações biográficas ajudam a contextualizar o esforço conjunto do qual resulta Sociologia no Espelho, na medida em que as problematizações buscadas na obra refletem uma importante flexibilidade disciplinar, fundamental, em nosso ponto de vista, para dar corpo a um projeto comparativo que trabalha na fronteira entre a sociologia da cultura, a análise das trajetórias e a história intelectual. É nesse amalgama, inclusive, que o livro ganha centralidade também nas discussões historiográficas, notadamente naquelas que pretendem abrir-se a diálogos transversais, abrindo mão de uma visão laudatória de suas fronteiras epistemológicas. O esforço por operar com um escopo metodológico tão amplo e diversificado dá a tônica, como veremos, da estruturação dos capítulos.
A obra, que conta com prefácio do professor Sergio Miceli, está dividida em três capítulos. São eles, A Batalha dos Gêneros, focado nas relações nem sempre amistosas entre a sociologia e as disciplinas já consolidadas nos campos intelectuais dos dois países – notadamente com o ensaio, Sociologias Comparadas, momento em que os autores aprofundam a reflexão teórica e descortinam as vinculações temáticas dessa sociologia que emerge, nos dois países, a partir das décadas de 1930 e 1940 e, por fim, Terrenos da Crítica, onde a análise se dirige para as relações desse processo de institucionalização da sociologia com o amadurecimento de uma crítica literária profissional nos dois países.
É importante destacar que, ademais da clareza da divisão dos capítulos, há fios condutores evidentes entre eles, quais sejam: a natureza dinâmica do método que evita comparações estanques, procurando lançar uma luz conjunta aos dois contextos, a relação entre o processo de institucionalização da sociologia com os processos político sociais mais amplos e, não menos importante, a articulação das hipóteses a partir da trajetória do que os autores denominam como os “quatro ases” desses processos: Gino Germani e Adolfo Prieto, no caso argentino, e Florestan Fernandes e Antonio Candido, no caso brasileiro. Detenhamo-nos agora, brevemente, aos desdobramentos da hipótese.
O primeiro capítulo parte da ideia de que os embates pelos quais a sociologia procurou se colocar no rol das instâncias de fala acadêmica autorizada foram, nos dois contextos, distintos, sobretudo no grau desses enfrentamentos. No caso argentino, a existência de uma ampla rede de financiamento privado de revistas e circuitos intelectuais operando à margem de uma Universidade que, embora mais antiga que as brasileiras, esteve permanentemente exposta às intervenções do campo político, contribuiu para uma relação de enfrentamento mais branda em relação às tradições consagradas da tradição intelectual argentina, notadamente o ensaio. Além disso, a composição social argentina das décadas de 1930 a 1950 – com a entrada maciça de imigrantes e o aumento de demandas de inserção da classe média – fomentou uma composição mais diversificada para o recrutamento dos universitários na década de 1950. Essa circunstância favoreceu, na análise dos autores, a emergência da sociologia como voz paralela no campo acadêmico, na medida em que a tônica dos ensaios que circulavam na Argentina nas décadas de 1930 e 1940 – e que eram dominados por autores amplamente lastreados por vinculações pessoais e familiares com o mercado privado de instâncias culturais tradicionais, como cafés e salões – não se propunha a reconstituir os nexos históricos e sociais da formação do país, estando muito mais vinculados à chamada “literatura de crise”.3 Comparativamente, o caso brasileiro apresenta um panorama distinto. Nesse caso, o processo de institucionalização dos estudos sociológicos é confrontado com um campo literário consolidado, desde meados do Segundo Império, em torno do romance. Nesse campo já bastante articulado, a relação estreita entre essa tradição romancista e os ensaístas dos “estudos sociais” brasileiros, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Hollanda, promoveu uma configuração salutar: na medida em que as propostas sociológicas desenvolvidas na USP e na ELSP confrontaram-se em termos metodológicos de forma mais dura que em relação ao caso argentino, o fato de esses literatos pertencerem a uma larga tradição de vinculação burocrática e institucional, leva a uma flagrante continuidade nos temas, pelo menos até a década de 1950.4 Em suma, o problema da “formação da nação” marca essa confluência de temas, muito embora a “forma” literária fosse questionada pelo projeto empírico que se gestava nas instituições de sociologia de São Paulo.
No segundo capítulo, uma pergunta inicial aglutina e justifica as digressões teórico-metodológicas que se seguem. Precisamente, como explicar, apesar das diferenças sugeridas no capítulo anterior, o aparecimento de empreendimentos intelectuais tão bem sucedidos, como os de Gino Germani, no caso argentino, e de Florestan Fernandes, no caso brasileiro? A resposta passa por uma análise da questão estrutural das Universidades em que operam esses agentes. A partir de um histórico da formação das três instituições centrais da análise, quais sejam, a Faculdad de Filosofia y Letras da UBA (1896), a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP (1934) e a Escola Livre de Sociologia e Política (1933), o cotejamento dos autores se direciona a pensar de que forma as condições institucionais desses três centros viabilizaram, oportunizaram ou dificultaram um projeto acadêmico bastante ambicioso que une dois “ases” desse processo: Gino Germani e Florestan Fernandes. Na análise comparada, chegam à conclusão de que enquanto Florestan operava a partir de uma tradição mais consolidada e de uma ampla rede de apoiadores (formada, o que não é destituído de importância, por sumidades como D. Pierson e R. Bastide), Germani não conta com essa retaguarda, tampouco com um capital cultural acadêmico comparável ao brasileiro. Sinteticamente, “o brasileiro caminhou da ciência à política, o argentino trilhou o caminho inverno” (161).
Essa condição é fundamental pois é a partir das respectivas tradições intelectuais e institucionais em que se inseriram que os sociólogos desenvolvem suas estratégias de legitimação no espaço público. As Universidades argentinas, como apontado anteriormente, sofreram com longas intervenções – especialmente, a Universidade de Buenos Aires. Posto isso, os espaços acadêmicos atuaram como peça fundamental no acumulo de capital cultural dos intelectuais argentinos, motivo pelo qual a relação do mundo intelectual com o mundo político é comparativamente mais permeada por tensões e oscilações. No caso brasileiro, onde o Estado foi o grande empregador dos “homens de letras” ao longo de toda a primeira metade do século XX, a estrutura universitária era substancialmente mais rígida, o que torna os empreendimentos da sociologia mais orgânicos institucionalmente e, ao mesmo tempo, mais heterônomos em relação à tradição intelectual já estabelecida.
Já postas, dessa forma, as vicissitudes do processo inicial de enfrentamento da sociologia e constituição como uma disciplina autônoma nos dois países, e já balizados seus principais articuladores teóricos em confluência com as questões institucionais, passa-se para o capítulo final, Terrenos da Crítica. Nesse momento da análise a sociologia desponta, enquanto disciplina institucionalizada e em vias de especialização, enquanto legitimadora de uma série de prestígios acadêmicos, relações fundadas tanto no projeto teóricoepistemológico desenvolvido nos dois contextos, quanto nas trajetórias de seus dois protagonistas, que dão uma medida da posição de destaque que a sociologia ocupou, nos dois países, em relação a outras disciplinas do campo acadêmico.
Embora a esta altura já esteja claro que os embates da sociologia para estabelecer-se enquanto disciplina autônoma foram gradualmente distintos nos dois países, a tensão que se observa entre essas perspectivas sociológicas ascendentes e o campo da crítica literária é um fator em comum em ambos os contextos. Em síntese, “nos dois casos e quase ao mesmo tempo a crítica literária aproximou-se da sociologia, esforçando-se por obter um estatuto mais científico do que detinha até, aproximadamente, a primeira metade do século XX” (pg.
167). Como explicar, no entanto, esse movimento compartilhado? Para encontrar essa resposta, Blanco e Jackson trazem mais dois “ases” para o desenvolvimento do argumento: o argentino Adolfo Prieto e o brasileiro Antonio Candido. A análise dessas trajetórias procura levar em conta as tradições intelectuais nas quais se plasmam e, especificamente, as formas de inscrição institucional da crítica literária nos dois países. Salientando a relação díspar dos dois autores em relação ao polo central, representado então pela sociologia, os autores historicizam essas trajetórias cuidadosamente, considerando aspectos às vezes tidos como marginais, como a repercussão das publicações periódicas na definição de um espaço de autonomia para a crítica literária. Ao fim e ao cabo, a posição marginal do crítico literário Adolfo Prieto – atuante em universidades marginais da Argentina – e a posição central de Candido – ligado originalmente ao grupo de Florestan Fernandes na USP – contribuem para entender as disputas epistemológicas travadas por eles dentro de um quadro mais amplo, constituído em função da estrutura dos campos intelectuais em que se inseriram.
Nesse sentido, para dimensionar o impacto da sociologia na Crítica Literária é fundamental ter em vista que o método empírico, repertório teórico e epistemológico que une os projetos de Germani e de Florestan, logrou tornar-se, nas décadas de 1950 e 1960, o próprio paradigma através do qual deveriam se legitimar as análises sobre a modernização nos dois países. Dessa forma, observar de que forma os críticos literários foram confrontados com esse critério de validação, e de que forma se apropriaram do mesmo, é, indiretamente, perscrutar a circulação acadêmica do projeto sociológico, considerando suas distinções mas entendendo-o, como está suposto na proposta da obra, sob o mesmo foco de luz comparativo.
Os capítulos, como pretendemos demonstrar, abordam as tradições intelectuais dos dois países, as vicissitudes das organizações acadêmicas do Brasil e da Argentina e, por fim, as trajetórias dos “quatro ases” a partir de uma perspectiva comparada. A defesa do método, contudo, não é apenas um artifício narrativo, mas constitui o centro da hipótese, e perpassa os capítulos de forma sincrônica, conferindo a eles uma perspectiva contingente, atenta aos perigos de naturalizar determinadas relações entre sujeitos e objetos de pesquisa.
Consideramos, nesse sentido, que a contribuição do livro passa pela consideração das estratégias dos discursos científicos, acadêmicos, intelectuais, enquanto constituintes das dinâmicas de prestígio que organizam as relações entre as disciplinas. Dessa forma, é nessa trincheira entre auto-referenciamento disciplinar e cooperação metodológica que o livro ganha relevância, também, para historiadores.
Entender a disputas entre sociólogos, ensaístas e críticos literários – admitindo, quando é o caso, suas continuidades – em termos de estratégia de legitimação específicas pode indicar, no campo da história, um caminho de auto-reflexidade importante: assim como os “ases” do baralho em que se movem os sujeitos da pesquisa oscilam nas posições dentro do campo, as fronteiras disciplinares não respondem, somente, à discordâncias epistemológicas: são organizadoras do campo e, como tal, exigem, permanentemente, a “vigilância epistemológica” sugerida por Pierre Bourdieu.5 Não se trata, dessa forma, de obscurecer especificidades, mas de abrir-se ao diálogo, de abrir-se a um esforço conjunto de entendimento do mundo intelectual.
Notas
1 Além de uma série de artigos sobre a recepção de autores como Weber e Simmel na Argentina, é possível consultar, também, Razón y Modernidad, publicado em 2006 pela Editora Siglo XXI.
2 No caso de Jackson é possível consultar, além de seus estudos sobre a chamada Escola Paulista de Sociologia, a obra Os Parceiros do rio Bonito e a Sociologia de Antônio Cândido, publicado pela Editora da UFMG em 2002.
3 Esse é um dado importante para compreender os embates dentro do campo intelectual argentino, na medida em que, nesse caso, dá-se uma separação entre o campo acadêmico universitário (mais diretamente influenciado pelas hecatombes políticas das décadas de 1930 e de 1940) e uma longa e consolidada tradição de circulação de ideias e intelectuais nos ambitos privados, restritos às sociabilidades criollas. Exemplo dessa condição é o próprio CLES (Colégio Livre de Estudos Superiores) que atua – nos momentos de intervenção peronista na Universidade – como alternativa aos intelectuais que tiveram suas cátedras caçadas durante o regime. A existência e a força dessas plataformas de consagração acadêmica extra-universitárias, portanto, contribui para que a sociologia que emerge dentro do mundo acadêmico, na década de 1950, não dispute a mesma posição no campo intelectual. É um contraste bastante marcado em relação ao caso brasileiro, onde a tradição literária esteve, desde sua origem, vinculada às instituições acadêmicas, tanto por seu público como pela trajetória de seus principais autores.
4 Os autores levam em conta, nessa análise comparativa, que enquanto Buenos Aires era o grande centro da vida intelectual argentina, centralizando a maior parte desses embates, o caso brasileiro apresenta um outro fator de complexidade: as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro vivenciaram processos radicalmente distintos. Enquanto na primeira, pela questão da imigração e da relativa distância dos centros políticos de decisão, foi possível pensar a sociologia enquanto um projeto de cunho científico, no caso carioca a precoce criação de institutos ligados ao poder governamental tornou os embates mais imbuídos de conteúdo político. Essa relação é perene ao longo de todos os capítulos do livro, na medida em que se, em certos sentidos, Buenos Aires aparece em relação de similitude com o Rio de Janeiro – pela proximidade do poder e pelas redes de burocracia oficiais que se constituíam num fator dificultador da economia -, em termos de base de recrutamento e de projeto teórico e metodológico, a capital portenha possuía paralelos importantes com a cidade de São Paulo.
5 BOURDIEU, P. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2001.
Alexandra Dias Ferraz Tedesco – Mestre em história pela UNESP, campus de Franca, e doutoranda do programa de Pós Graduação em História da UNICAMP, bolsista do CNPq.
Arquivos pessoais: reflexões disciplinares e experiências de pesquisa | Luciana Heymann, Isabel Travancas e Joelle Rouchou
Embalado por um movimento entendido nos estudos da pós-modernidade como “o retorno do sujeito”1 se percebe há mais de trinta anos um aumento crescente do interesse de pesquisadores quanto a utilização de arquivos que “vão além” daqueles considerados “consagrados”. Mas quais seriam estes arquivos “para além”? A palavra “arquivo” correntemente esta associada à imagem de grandes conjuntos documentais onde podem ser encontrados os saldos das atividades burocráticas de determinada instituição, seja ela pública ou não. Já os arquivos “para além” ultrapassariam essa noção circunscrita de arquivo como um lugar de verdade e imparcialidade.
Como exemplo destes diferenciados corpos documentais, se colocam os arquivos pessoais, que, durante décadas, desde as primeiras manifestações do movimento Annales, ficaram marginalizados pois entendia-se que estes estavam ligados a um fazer histórico a ser superado. No entanto, mudanças no “fazer” historiográfico ligadas sobretudo a releitura de uma história política e o desejo de construção de uma história do “ordinário”, do homem comum, suas práticas e hábitos trouxeram novamente à cena tais vestígios, instigantes testemunhos de trajetórias individuais. Leia Mais
Palavras molhadas e escorregantes: origens clássicas e tradição moderna da retórica política – LOPES (HU)
LOPES, M. A. Palavras molhadas e escorregantes: origens clássicas e tradição moderna da retórica política. Londrina: Eduel, 2015. 132 p. Resenha de: SPIRANDELLI, Claudinei Carlos. Origens clássicas e tradição moderna da retórica política. História Unisinos 19(3):377-380, Setembro/Dezembro 2015.
Lendo Palavras molhadas e escorregantes, percebemos a retórica como uma espécie de narrativa em seu estado de arte. Eis uma máxima que somos instados a desenvolver com a leitura do livro. Inicialmente, a obra merece duas leituras: a primeira, leve e descompromissada, com o intuito de ir “bebendo” as palavras (posto que estas vêm “molhadas”), tendo o cuidado para que não escorreguemos em suas sinuosidades. Ler com liberdade e emoção, portanto, é esse primeiro nível de leitura.
Em um plano complementar aderente ao anterior vem o deleite da razão: a leitura saboreada com as lentes da reflexão atenta. Modestamente até, Lopes se arvora no papel de expor uma análise das transformações nas concepções da arte retórica fundeada em perspectiva histórica. Injustiça: o livro se mostra a “pedra de afiar de Isócrates”, o grande mestre da eloquência, que, desprovido de voz possante, tornava os discípulos magistrais discursadores. O pequeno livro, nesse formato, já é uma dessas pedras.
A obra é uma condensação das reflexões do autor sobre os períodos de auge da retórica (a Antiguidade clássica greco-romana e a Época Moderna, sobretudo ao longo do Renascimento), e trata também dos elos entre esses momentos de esplendor das técnicas persuasivas, para a ruína e/ou a realização do bem público.
O autor mostra os altos e baixos e as formas “mais éticas” de como os tratadistas e os homens públicos fizeram uso da retórica. Em linhas gerais, Lopes elabora um apanhado de diversas, bem escritas e enxutas formas de explicar o termo retórica. E formas essas realizadas por experts, ao longo dos séculos – porque fazer isto não é, conforme mostra o autor, tarefa de fácil realização.
Quanto à estrutura, o livro está arranjado pelas seguintes unidades temáticas: um prefácio curto, mas que esclarece, na medida de uma apresentação de tal natureza, o que é o objeto do livro e o seu grau de inserção nos estudos acerca da história da arte do bem dizer. Uma apresentação enxuta e explicativa de qual espírito dominou a concepção da obra, bem como uma profissão de fé na utilidade do texto frente aos interesses do público leitor; e mais três capítulos que constituem o cerne da obra e que desenvolvem e ilustram um número considerável de cenas históricas acerca dos usos e efeitos da arte retórica, em diferentes tempos e situações.
O primeiro capítulo, intitulado “Retórica antiga e moderna”, é dividido em cinco intertítulos: “Arte de sutilezas inesperadas”; “Orador: confeiteiro de palavras”; “Discurso prático, discurso gráfico”; “Alteração de fisionomia” e, finalmente, “Coruja de óculos ou ciência pós-moderna”. Em proporções de síntese, essas unidades expõem as origens históricas da retórica com os gregos, até as formas com que ela se expressa em nosso próprio tempo. Aliás, para essas formas, poderíamos propor, a partir de Lopes, que a retórica diz respeito à arte da sedução, de se fazer convencer por palavras (escritas ou faladas) acompanhadas de gestos que também cumprem um papel respeitável no jogo da eloquência e, portanto, das persuasões convincentes.
Em determinada passagem, o autor expõe uma noção de retórica em Aristóteles: segundo o Estagirita, na vida em sociedade, emitir sons nada significa, pois o preciso seria o saber falar e, de preferência, sabendo o que dizer (Lopes, 2015, p. 24). Quis ele dizer que o domínio da linguagem estabeleceu e desenvolveu processos de comunicação, modeladores, em diversos modos, da vida social. Nesses processos, a retórica, segundo Lopes, formara capítulo à parte, e sua arte (do grego “techné”, técnica) tornou-se fundamental. Arte essa cheia de sutilezas, a qual gregos e romanos levaram a termo de modo especialmente elevado e, em alguns casos, beirando a perfeição, com Sólon, Péricles, Demóstenes, Isócrates, Cícero, Sêneca, entre tantos outros artistas do verbo.
Um aspecto que impressiona positivamente no texto é o bom equilíbrio entre o material de apoio encontrado pelo autor (textos diversificados de vária autoria), com fartas referências diretas e indiretas dos mesmos, e os usos que se fazem deste vasto aparato documental. Com efeito, o autor parece se equilibrar com algum conforto entre as agudas reflexões dos clássicos e os seus próprios argumentos, no que procura extrair as nuanças que considera de sua própria alçada no trato com engenhos lubrificados e de complexo manejo. De fato, Lopes debruça-se sobre a técnica que manipula os termos e os torna objetos ensaboados, a arte oratória, no que revela os expedientes dos que a elevaram a alturas invulgares, como Demóstenes e Cícero. Numa síntese desse primeiro capítulo, que cumpre função didática aos leitores iniciantes no tema, o autor demonstra como a palavra calculada e cuidadosamente calibrada por oradores emerge de circunstâncias eminentemente práticas da vida social e da experiência política, sobretudo em períodos de agudas crises: E não custa lembrar que o mais célebre discurso de Péricles decorreu de uma guerra, a do Peloponeso, do mesmo modo que a peça mais conhecida de Demóstenes relaciona-se com as investidas das forças militares de Felipe de Macedônia (Lopes, 2015, p. 34).
Assim, a arte da retórica pode ser posta na afirmação de que é frequentemente uma tensão entre visões de mundo conflitantes ou mesmo uma guerra aberta, mas na forma de palavras, e palavras ajustadas estrategicamente, com força avassaladora para conquistar, desfazer ou destruir inimigos.
O segundo capítulo, cujo título reúne elementos sob a rubrica geral de “Merecimentos e vilanias do nobre engenho”, abriga um leque generoso de sete aspectos justamente reveladores das sutilezas do discurso retórico, a saber: “Louvor de obscuridade”; “Arte de papagaios”; “Bigorna moral”; “Gracejos, trovas e névoas”; “Retórica das virtudes”; “O ouro falso dos oradores” e, por fim, “Retórica do prazer”. Nesse capítulo, o autor mostra as regras de utilização de discursos retóricos modernos (sobretudo as inventivas concepções renascentistas, que ampliaram em muitos graus as noções vindas do mundo antigo), enfatizando as formas da eloquência do período moderno. Neste capítulo, Lopes parece (apenas parece!) expor a vocação incontornável da arte retórica para maledicências, bem como sua especial capacidade de fomentar intrigas. No presente capítulo, o autor ocupa-se em descrever os que se utilizam da ironia e do riso na retórica, e as formas malévolas de como a mesma pode ser utilizada, seja por líderes políticos ou religiosos inescrupulosos; seja por aqueles que nada têm a dizer, mas desejam parecer consistentes; e pelos que querem persuadir astuta ou inteligentemente aos outros com uma mentira (eis o caráter amoral da retórica).
Mas todos fugindo da clássica forma de expor apenas a verdade enxuta num discurso, algo comum entre os clássicos da Antiguidade. E, para exibir toda essa variação de desconcertantes contrastes, Lopes procurou ser bastante seletivo ao escalar aquilo que se pode descrever como os espécimes mais raros na bem povoada fauna de escritores ocidentais modernos e contemporâneos, desde pensadores que ironizam ou valorizam os usos e abusos da retórica.
E por falar em fauna, integram o presente campo figuras do calibre de Pascal, Fénelon, Locke, Schopenhauer, Nietzsche, etc., bem como historiadores relevantes da área. Ainda no segundo capítulo, Lopes retoma um argumento do orador ateniense Demóstenes, para quem a retórica (por ele concebida como a “perícia no dizer”) deve conter essas coisas – ou seja, se é utilizada para o bem ou para o mal é outra história. O importante é que a retórica seja competentemente praticada, o que significa ser necessário elevá-la à condição de arte. Eis o que parece ser a lição de Lopes. O capítulo, ao fim e ao cabo, demonstra-nos o quanto a retórica pode ser uma arma letal, e mais ainda quando manejada com convincente destreza para perseguir interesses contrários à realização do bem comum. Aliás, em terra brasilis, o reino multicolorido de nossos oradores políticos há muito tem se revelado suficientemente persuasivo nas técnicas de aromatizar a ruína de seu próprio eleitorado, fazendo crer que a marcha rumo ao precipício não é apenas uma jornada cativante aos que, cordeiramente, confiam nas promessas eternas renovadas nos palanques sazonais, mas a própria porteira escancarada a um futuro salvador. Justamente por esse ângulo, percebe-se o risco que mora no discurso retórico.
O terceiro e último capítulo, sob a curiosa rubrica de “Sobre a arte de assaltar os sentidos”, desenvolve unidades voltadas para a exploração das formas de realismo político (o maquiavelismo e as perspicácias de seu gênero), bem como os contradiscursos aplicados como a necessária resistência ética às redescrições morais, seja as propostas concebidas pela criativa verve de Maquiavel, seja pelo não menor senso de agudeza de uma série de maquiavelistas avant la lettre. Tais intertítulos foram assim chamados: “Vinho novo em barril usado”; “Novo catálogo de valores”; “A eloquência como arma de fogo”; “Manipulações da linguagem” e, por fim, “Flexibilizar a moral”. No presente capítulo, o autor pretende dar conta de analisar as estratégias do realismo político, no que tange aos modos como este gênero de literatura política faz uso dos métodos e técnicas da retórica. Em certo sentido, Lopes dá continuidade ao capítulo anterior, ao mostrar a grande atualidade dessas características de utilização da retórica na política. E o autor não economiza: explora a atualidade do pensamento de Maquiavel, principalmente naquelas passagens mais originais de O príncipe, para confrontações, comparações e aprofundamentos, mostrando-os como prenhes de elementos da retórica, da persuasão do discurso redescritivo das morais consolidadas pela tradição clerical, e das distâncias e proximidades estabelecidas por Maquiavel entre a virtude e o cinismo que a referida obra abarca.
Aliás, Lopes faz uso não apenas de Maquiavel, mas também de Hobbes, entre outros escritores políticos antigos e modernos, todos mestres naquilo que, segundo o autor, melhor se convencionou tratar-se a retórica, que é ser instrumentalizada para a política, mormente para conquistar e manter distintas maneiras de dominação.
Mantendo ainda o foco sobre o mestre florentino, Lopes mostra a proposição deste, segundo a qual a retórica deve ser o árido terreno onde o mais importante é a ética do equilíbrio na realidade amarga, bem antes que a ética de idealizações distantes do mundo real. Coisas do perspicaz observador da realidade sem rodeios que foi Maquiavel.
As coisas ditas em tais termos, somos tentados a pensar em utilidades práticas para o livro de Lopes, como as de fazer leigos ou não no assunto poderem melhor expressar e polir palavras que pretendam utilizar. Mas, para além de tentar um ponto central ou consenso mínimo (tarefa a que a obra não se propõe), o autor mostra-se interessado nas correlações que a retórica possui com a ética; e que aquilo que ela busca pela persuasão (uma de suas principais finalidades) não escape do raio da verdade e acabe se avizinhando ao cinismo e à mentira. Isso relaciona a retórica com a ética (e a política) neste mundo contemporâneo.
Por outro lado, a obra leva o leitor a entender que a arte da retórica (e elementos a ela relacionados, como eloquência, oratória, persuasão, ética, moral, verdade, beleza, racionalidade, sedução, etc.), indo das pequenas sociedades gregas clássicas às grandes sociedades modernas e ao complexo mundo contemporâneo, pode ter passado da singeleza socrático-platônica da busca da verdade sincera para o abarcar das profundezas humanas da perfídia, do cinismo e da simulação.
Palavras molhadas e escorregantes contém ainda uma importante ressalva final. Nela, o autor explicita serem os textos que resultaram no presente livro material de reuso, uma vez que a obra foi composta de escritos já divulgados em periódicos e agora aperfeiçoados, alinhados e colados em um trabalho de apoio escolar. Antes dispersos, os textos agora formam corpo com sentido ampliado, entende ele. A junção articulada dos textos acabou por representar uma unidade orgânica, digamos assim, e de fato constitui um conjunto harmônico de textos que dialogam internamente, para além de uma simples juntada de trabalhos dispersos. Coisas de um atento observador da realidade sem rodeios de nosso mundo selvagemente produtivista? Ou interesse legítimo em ampliar um tema de interesse para os estudantes? A verificar com o próprio autor…
Last, but not least, é digno de nota o esforço com que o autor batiza capítulos e numerosos intertítulos, fazendo coro e mimetizando uma série considerável de pensadores – no caso, os escritores mais saborosamente viperinos e de língua afiada que a cultura política do Ocidente pôde produzir. Com os cuidados de um cavalheiro do período vitoriano, os títulos quase falam por si, dando corpo e espírito à obra, em uma síntese detentora de justos contornos. Escritos com pena e tinta de galhofa, e com desprezo da melancolia, temos trechos especialmente instigantes como as seguintes passagens: Orador: confeiteiro de palavras; Arte de papagaios; Vinho novo em barril usado; Flexibilizar a moral, entre outros. Assim, “rindo”, o autor não pretende nos castigar, mas ampliar compreensões diversificadas sobre os costumes e a moral, sempre pelo atalho da análise histórica da retórica.
Sem mais detalhes de um livro rico em detalhes acerca das formas artísticas de expressão gráfica e oratória, fica a sugestão de um desdobramento deste Palavras molhadas e escorregantes que se empenhasse em abordar a retórica nos quadros da ética do mundo contemporâneo, sobretudo aquela posta na imagem mais do que na palavra (escrita ou falada). Enfim, uma interpretação dos meios de comunicação atuais, os quais, avançados tecnologicamente, unificam as pessoas mundo afora, com formas de persuasão voltadas mais aos olhos e ouvidos do que aos textos.
Claudinei Carlos Spirandelli – Universidade Estadual de Londrina Rod. Celso Garcia Cid, PR 445, Km 380 86051-990, Londrina, PR, Brasil 1 Professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: spirandelli@uel.br.
Práticas de leitura e religiosidade em Dom Quixote – VIANNA (C)
VIANNA, Marielle de Souza. Práticas de leitura e religiosidade em Dom Quixote. Caxias do Sul: Educs. Resenha de: BOMBASSARO, Luiz Carlos. Conjectura, Caxias do Sul, v. 20, n. 3, p. 225-230, set/dez, 2015.
Para quem deseja estudar e compreender as significativas e complexas relações entre literatura, leitura e religiosidade, está à disposição um belo e instigante livro: Práticas de leitura e religiosidade em Dom Quixote, de Marielle de Souza Vianna, publicado pela Editora da Universidade de Caxias do Sul (Educs). Nesse livro, a autora mostra como o entrelaçamento de leitura e religiosidade constitui um dos temas centrais daquele que é considerado um dos romances fundadores da literatura moderna: Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Numa investigação meticulosa, que associa reconstrução histórica do contexto sociocultural e análise textual da obra cervantina, Vianna destaca a importância que a leitura e a religiosidade adquirem na estruturação dessa obra-prima, romance que marcou a transformação radical da literatura ocidental. O resultado é uma defesa inconteste do valor e do sentido da leitura e um convite para revisitar a fascinante, multifacetada e desafiadora obra de Cervantes.
A paixão pela leitura e pelo seu ensino é declaradamente o motivo que deu origem ao livro. Vianna a toma como pressuposto de seu trabalho que, além de ser uma produção simbólica marcante da nossa cultura, a leitura é antes um modo específico de interpretação da realidade e uma forma de vida. A leitura vem entendida, assim, como “um processo dinâmico constituído por múltiplas dimensões que envolvem o modo de ser, de perceber e de agir do ser humano no mundo”. (p. 12). Dessa hipótese de trabalho, o leitor encontrará provas incontestáveis já nas primeiras páginas do livro, quando a autora indica quatro dimensões básicas da leitura: uma ontológica, uma estética, uma gnosiológico-hermenêutica e outra ética. A prática de leitura configura, assim, o modo de ser, de conhecer e de agir. Por isso, Vianna descreve o ato de ler como “uma relação existencial, um processo de descoberta e de construção de si mesmo e do mundo”. (p. 9). A prática de leitura é uma forma de vida e de convivência. Leia Mais
O Colégio Pedro II e seu impacto na constituição do Magistério Público Secundário no Brasil (1837-1945) / Revista Brasileira de História da Educação / 2015
O conjunto de textos que compõem este dossiê se refere à pesquisa desenvolvida pelo grupo História da Profissão Docente, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio – mas que envolve pesquisadores de outras instituições universitárias -, intitulada O Colégio Pedro II e seu impacto na constituição do magistério público secundário no Brasil, financiada pelo CNPq e pela Faperj [*]. A pesquisa propõe-se a estudar o processo de constituição de uma identidade profissional específica por parte desse segmento da categoria docente, o magistério público secundário, a partir de um recorte institucional. Toma como objeto de estudo o Colégio Pedro II, com um largo espectro temporal (1837- 1945), buscando entender como, ao longo desse período, foi se configurando o seu quadro docente, considerando-se o lugar que a instituição ocupa no processo de institucionalização do ensino secundário no Brasil e o seu caráter modelar. O marco inicial da pesquisa é a criação do colégio, em 1837, com a qual a própria denominação de ensino secundário passa a ter curso legal entre nós. O marco final, 1945, foi estabelecido em função do término do período do Estado Novo, ao longo do qual foi gestada uma política de centralização do controle do ensino secundário nas mãos do governo federal, por meio do Ministério da Educação e Saúde Públicas, que se consubstanciou na Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942, e sob cujo impacto, a nosso ver, o colégio encerra uma espécie de ciclo e perde o seu caráter de colégio padrão.
A referida pesquisa possui uma equipe grande de pesquisadores, de cerca de 15 integrantes, entre professores da PUC-Rio e de outras instituições (UFF, UFOPE, UESA), pós-graduandos da PUC-Rio, bolsistas de iniciação científica e voluntários, o que nos permitiu rastrear vários arquivos da cidade do Rio de Janeiro, entre os quais o Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II (Nudom), o Arquivo Nacional, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), além de outras fontes disponíveis na internet.
A pesquisa se desenvolve com uma pesquisa-mãe, que é assumida pelo grupo como um todo, e com alguns subprojetos vinculados. A pesquisa-mãe vem se debruçando, particularmente, sobre o período imperial.
Dos subprojetos vinculados, já resultaram a dissertação de Mestrado de Gilberto Vieira Garcia (2014), orientada pela professora Patrícia Coelho, que estudou a trajetória profissional dos dois primeiros professores de música do colégio, nos seus anos iniciais de funcionamento, e uma tese de Doutorado, de Jefferson Soares (2014), orientada por mim, que se debruçou sobre o quadro docente do colégio, entre os anos de 1925 e 1945, período marcado por três reformas (Rocha Vaz, em 1925, Francisco Campos, em 1932, e Gustavo Capanema, em 1942), que consolidaram o processo de institucionalização do ensino secundário brasileiro. Foi, em particular, a tese de Jefferson que nos permitiu estabelecer, com clareza, o marco final da pesquisa.
Há um terceiro subprojeto vinculado à pesquisa, que se configurou inicialmente como um projeto de Pós-Doutorado, financiado por uma bolsa PNPD / Capes, ainda em fase de conclusão, que vem se debruçando sobre o período ao longo do qual o colégio funcionou sob a denominação de Ginásio Nacional (1890-1911), e que está sendo desenvolvido por André Freixo, atualmente professor do departamento de história da UFOP. Por fim, outra integrante do grupo, professora da UFF, Flávia Soares, fez a sua tese de Doutorado sobre os professores de matemática do colégio, durante o período imperial. Por meio dessa estratégia, conseguimos estabelecer para a pesquisa um recorte temporal de longa duração, sem nenhuma pretensão de esgotar a análise do período, fugindo também de uma visão de linearidade do processo.
Dois sociólogos franceses têm sido os nossos principais interlocutores: François Dubet e Claude Dubar. Com relação a Dubet, a nossa referência central é a análise que este desenvolve sobre a profissão docente, em seu livro Le Declin de l’Institution (DUBET, 2002). Dubet situa essa profissão entre aquelas que se remetem ao ‘trabalho sobre o outro’, ou seja, “[…] atividades assalariadas, profissionais e reconhecidas que visam explicitamente a transformar o outro, ou, conjunto das atividades profissionais que participam da socialização dos indivíduos” (DUBET, 2002, p. 9, tradução nossa).
Partindo do pressuposto de que o ‘trabalho sobre o outro’, nas suas origens, foi concebido como um ‘programa institucional’, que designa particularmente um modo de socialização ou um ‘tipo de relação com o outro’, esse autor estabelece distinções entre a forma como se configuraram o trabalho do professor primário e o do professor secundário. Chama a atenção, igualmente, para o fato de que mudanças nesse ‘programa institucional’ repercutem na percepção que os professores possuem do seu trabalho docente e, consequentemente, da sua própria identidade profissional.
Quanto à interlocução com Dubar, esta se desenvolve em torno à sua percepção do processo de profissionalização como um processo de socialização que se desenvolve ao longo de toda a vida do sujeito (DUBAR, 1997). Desse ponto de vista, a identidade profissional do professor se configuraria como o resultado, sempre instável e provisório, da mediação de múltiplas interferências: as relacionadas ao controle estatal e as que emanam da cultura institucional em que aquele se encontra inserido, interagindo ambas com as identidades visadas pelo próprio sujeito. Particularmente importante, no caso, é a categoria, proposta por Dubar, de ‘estratégias identitárias’, que podem ser externas e internas à instituição e que buscamos identificar no caso dos nossos sujeitos.
Para esse autor, igualmente, a identidade profissional possui, também, uma ‘dimensão geracional’, devendo-se, portanto, atentar para as características das ‘gerações de professores’, pois elas constituem uma referência importante em termos da historicidade desse processo identitário.
Os textos incluídos neste dossiê se remetem a distintos momentos da história da instituição objeto do nosso estudo e têm recortes bastante diferenciados. Os três primeiros textos se remetem ao período imperial e os dois outros se debruçam sobre o período republicano a partir de óticas distintas.
O primeiro texto, de Luciana Borges, Ivone G. Lopes e Regina Lucia F. Cravo, intitulado Verdadeiras Glórias Nacionais: a memória acerca das primeiras gerações de professores do Colégio de Pedro II através das páginas da Revista da Semana, aborda a memória construída sobre os professores do Colégio de Pedro II, do período imperial, chamando a atenção para o seu caráter ‘monumental’, por meio da análise dos artigos publicados na Revista da Semana, entre os anos 1928 e 1941, ao longo dos quais se comemora o centenário do colégio.
O segundo texto, de Ana Waleska Mendonça, Fernando dos S. Silva e Paloma de O Rezende, A Classe de Repetidores do Colégio de Pedro II: um degrau na carreira docente ou uma estratégia de formação?, debruçase sobre uma peculiar categoria docente, criada no colégio em 1855, a ‘classe dos repetidores’, que não só passou a constituir um degrau na carreira docente interna ao colégio, como também, e talvez principalmente, apresentava-se como uma estratégia de formação docente.
O terceiro texto, de Gilberto Vieira Garcia, com o sugestivo título: Lições e Mestres de Música no Colégio Pedro II (1838-1858): contrapontos à memória da educação musical no Brasil, estuda em particular a trajetória dos dois primeiros professores de música do colégio, chamando a atenção para o lugar da educação musical no seu ‘projeto institucional’ e, a partir daí, discutindo a memória construída sobre a história da educação musical no Brasil.
O quarto texto, de André Freixo e Patrícia Coelho, O ensino renovado de História pelo catedrático do Colégio Pedro II Jonathas Serrano, já se aplica ao período republicano e analisa a proposta de renovação do ensino de história, implementada no colégio (uma ‘renovação conservadora’), no início da década de 1930, por Jonathas Serrano, à época catedrático da disciplina e ex-aluno do Ginásio Nacional, ‘nascido e criado’ no colégio.
O quinto e último texto, de Jefferson da Costa Soares, Os Professores do Colégio Pedro II: categorias, trajetórias e aspectos identitários (1925-1945), estuda os professores que lecionaram no colégio, entre 1925 e 1945, buscando identificar as várias categorias docentes existentes, ao longo desse período, as trajetórias de alguns desses professores e alguns aspectos da identidade dos mesmos enquanto professores do Colégio Pedro II, em um momento crítico da história do magistério secundário no Brasil.
Nota
* O projeto se vincula a um amplo programa de pesquisa de caráter interinstitucional que se intitula A construção da identidade do professor do ensino secundário, normal e profissional: uma abordagem comparativa, que envolve pesquisadores de várias instituições universitárias do Rio de Janeiro e que recebeu o apoio da Faperj.
Referências
DUBAR, C. A Socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto: Porto Ed., 1997.
DUBET, F. Le Declin de l’Institution. Paris: Seuil, 2002.
GARCIA, G. V. Tão sublime quanto encantadora arte: o ensino de música no Imperial Collegio de Pedro II (1838-1858). 2014. 288 f. Dissertação (Mestrado em Educação)-Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
SOARES, J. C. Dos professores ‘estranhos’ aos catedráticos: aspectos da construção da identidade profissional docente no Colégio Pedro II (1925- 1945). 2014. 100 f. Tese (Doutorado em Educação)-Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
Ana Waleska Pollo Campos Mendonça – Doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRio), Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pesquisadora do CNPq. E-mail: awm@puc-rio.br
MENDONÇA, Ana Waleska Pollo Campos. Apresentação. Revista Brasileira de História da Educação. Maringá, v. 15, n. 3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Imagem e cultura visual / Revista História da Educação / 2015
Esse dossiê busca contribuir com os estudos que se inscrevem na interface entre cultura visual e história da educação e ampliar as possibilidades investigativas da dimensão visual da educação, em perspectiva histórica. Mais que incorporar os documentos visuais como elementos complementares do campo empírico das pesquisas, em geral calcadas sobre os escritos, pesquisar as imagens e a cultura visual, encontra sentido na problematização dos aspectos da visualidade da educação, seja ao delimitar os contornos das cadeias de produção, circulação, usos, consumo e apropriações das imagens; seja ao explorar as associações entre o visível e o invisível, nas quais estão subjacentes as relações de poder configuradoras do social. Desse modo, ao problematizar a dimensão visual da educação, vários dos estudos aqui apresentados propõem novas miradas às imagens produzidas, com diversas funções, no âmbito escolar e universo familiar, ambos extensamente investigados pelos historiadores da educação. Porém, instiga a ultrapassar o âmbito tradicionalmente consagrado dos estudos de história da educação ao apresentar objetos ainda pouco desbravados entre nós, como as revistas ilustradas ou o cinema.
Os artigos aqui reunidos procuram contemplar pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e internacionais, não se restringindo àqueles vinculados diretamente ao campo da História da Educação. Convidam o leitor a dialogar com aportes teóricos e metodológicos oriundos da História da Arte, da Semiótica, da Estética, do Cinema, da Comunicação, da Arquitetura, entre outras áreas cuja tradição assenta-se no trabalho com as imagens. Acredita-se que esses olhares podem contribuir com as investigações em história da educação, uma vez que propõem indagações mais enriquecedoras a documentos já interpretados a partir de outros aspectos, ou proporcionar a descoberta de repertórios visuais relegados a segundo ou terceiro plano.
Assim, abrindo o dossiê, Olivier Lugon em Nova objetividade, nova pedagogia: a respeito de Aenne Biermann. 60 Fotos, (1930) analisa o livro de fotografias dessa artista que se inseriu no movimento da Nova Pedagogia alemã, cujo substrato consistia em substituir o ensino livresco tradicional pelo contato direto com os elementos do saber. Segundo Lugon, a Nova Objetividade na fotografia, por essa razão, alcançou um papel pedagógico de grande relevância na Alemanha ao possibilitar aos estudantes o contato visual com as coisas do mundo. Mas mais que possibilitar a produção de livros com imagens didáticas para uso em sala de aula, tarefa que vários fotógrafos assumiram naquele contexto, a aprendizagem da fotografia foi incluída nas escolas alemãs, primeiramente como recurso do ensino gráfico criativo e, posteriormente, como ferramenta do ensino de diversas matérias através da projeção visual. Desse modo, Lugon aborda como arquitetura e fotografia foram reunidas de modo a construir no espaço da sala de aula um ambiente de máxima concentração para aprendizagem por meio das imagens, elaboradas de forma mais objetiva possível em relação ao seu referente, possibilitando, no isolamento da escola em relação ao mundo, conhecê-lo através das imagens fotográficas. Por outro lado, o autor explora as concepções contraditórias que reuniram fotografia e pedagogia moderna, nos anos 1920, mostrando que estas buscavam uma aprendizagem sem a leitura, restituindo à criança seu primeiro olhar sobre as coisas e tentando afastá-la das noções já incorporadas através da cultura e da educação.
Andrea Cuarterolo, em El cine científico en la Argentina de principios del siglo 20: entre la educación y el espectáculo, aborda a produção e exibição de filmes científicos, balizados pela ideia de conciliar aprendizagem e diversão. Inicialmente, produzidos por médicos cirurgiões, tais filmes caracterizavam-se como recursos pedagógicos destinados a um público especializado, adquirindo, na década de 1920, características de ampla divulgação visual das ciências para as massas de imigrantes não conhecedores do idioma, em contexto de propagação de doenças contagiosas e de difusão das ideias higienistas. Ao chegarem às escolas esses filmes constituíram-se como híbridos de espetáculo e educação, algumas vezes, alcançando grande sucesso de bilheteria nas casas de exibição por abordarem temáticas censuradas, sob véu científico. Além do especial interesse que suscita o texto da autora pela dimensão educativa do cinema nas primeiras décadas de sua existência, esta explora os denominados filmes órfãos, realizando uma arqueologia desses materiais parcamente preservados e difundidos da história do cinema na Argentina.
Na sequência, Ana Maria Mauad em Usos e funções da fotografia pública no conhecimento histórico escolar introduz a noção de fotografia pública, reportando-se, por um lado, à produção de imagens de eventos sociais, realizada por autores independentes ou a serviço institucional; e, por outro lado, às funções de representações do poder na cena pública. Segundo a autora, o potencial de mobilização de memórias e de representações históricas tornam a fotografia pública documento e monumento do passado, daí sua utilização pelos livros didáticos de história. A partir de quatro situações, a autora analisa criticamente os usos e funções da fotografia pública nos livros didáticos, alertando para as ausências observadas e oferecendo pistas para uma operação histórica com imagens, que considere os circuitos de produção e circulação, bem como as economias visuais nas quais se inserem.
Cláudio de Sá Machado Júnior em Fotografia, imprensa de variedades e educação: discursos visuais e textuais sob o foco de uma pedagogia de revista problematiza o potencial educativo da imprensa de variedades e sugere pistas metodológicas à História da Educação, através do exame das configurações narrativas que associam imagens fotográficas e textos escritos. A partir da análise da Revista do Globo, o autor discute em que medida fotografia e escrita inserem-se numa pedagogia do olhar, de modo a compor um mundo pré-configurado e em consonância com seu público leitor.
O último artigo do dossiê intitula-se A grafia dos corpos no espaço urbano: os escolares no álbum Biografia duma Cidade, Porto Alegre, 1940, de minha autoria. São tecidas considerações em torno da relação entre cultura escolar, cultura fotográfica e cultura visual. Nessa perspectiva, é possível verificar a produção de uma cultura visual escolar particular caracterizada por diversos elementos, entre os quais as fotografias veiculadas em relatórios, álbuns, revistas, cartões postais. Através da análise de determinadas imagens fotográficas do álbum Biografia duma cidade, é possível perceber, entre outros aspectos, os modos de inserção da cultura escolar no espaço urbano, bem como explorar as relações entre visibilidade e invisibilidade dos sujeitos fotografados, seja na escola, seja na cidade.
Por fim, vale ressaltar que este dossiê, tendo em vista os limites estabelecidos pela revista, constitui um anúncio de uma parcela do potencial de investigações em torno das imagens e da cultura visual no âmbito da História da Educação, que no Brasil tende a se expandir. O desejo é menos de esgotar as possibilidades, tarefa inalcançável, e mais de inspirar pesquisadores a incorporarem em seus estudos a dimensão visual reportada à educação, almejando, ainda, que os achados suscitados de documentação ainda quase inexplorada fomente a preservação dos repertórios visuais, seja nas instituições escolares, seja no âmbito privado.
Zita Rosane Possamai – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
POSSAMAI, Zita Rosane. Apresentação. Revista História da Educação. Porto Alegre, v. 19, n. 47, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]
Origens da Pedagogia da Alternância no Brasil – NOSELLA (TES)
NOSELLA, Paolo. Origens da Pedagogia da Alternância no Brasil. Vitória: Edufes, 2012, 288 p. Resenha de: ARAÚJO, Ronaldo Marcos de Lima. Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.13, n.3, set./dez. 2015.
Paolo Nosella é italiano de nascimento (1942), mas mora no Brasil desde a década de 1970. Veio ao Brasil para trabalhar com educação popular, participando da criação das primeiras Escolas da Família Agrícola (EFAs). Aqui fez mestrado (1977) e doutorado (1981) em Filosofia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e fixou residência no município de São Carlos, em São Paulo.
Nosella compõe uma geração de pesquisadores que constituiu a educação como um campo de pesquisa científica no Brasil, ainda nos anos 1970. É um dos pioneiros da Associação Nacional de Pós-Graduação em Pesquisa em Educação (ANPEd), onde teve (e tem) participação destacada no GT09 – Trabalho e Educação, do qual é um dos fundadores. Por isso recebeu homenagem no Intercâmbio Nacional dos Núcleos de Pesquisa em Trabalho e Educação (Intercrítica), em 2014, por sua contribuição à área e em alusão aos 22 anos de publicação do livro A escola de Gramsci, obra de referência para o campo.
É professor aposentado da Universidade Federal de São Carlos e hoje leciona na Universidade Nove de Julho. Pesquisador sênior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou inúmeros artigos, livros e capítulos de livros sobre educação popular, história da educação, trabalho e educação e, em particular, sobre Antonio Gramsci, de quem é um estudioso e apaixonado pela obra e história.
O livro Origens da Pedagogia da Alternância no Brasil é fruto do trabalho desenvolvido no mestrado de Nosella, com dissertação defendida em 1977, sob o título Uma nova educação para o meio rural: sistematização e problematização da experiência educacional das escolas da família agrícola do movimento de educação promocional do Espírito Santo(1977), sob a orientação de Dermeval Saviani (que escreveu o prefácio do livro). Sua publicação resgata um texto que trata de temática muito relevante no Brasil atual, a Pedagogia da Alternância, recuperando as suas origens, algumas de suas conformações em diferentes países e sua experimentação brasileira na EFA, revelando também diferentes problemas neste uso.
A justificativa para esta publicação, 36 anos depois da defesa da dissertação que lhe deu origem, se revela na afirmação de Miguel Arroyo (2004), que destaca a necessidade de conhecermos mais profundamente a construção histórica da educação promovida pelo movimento social do campo, pois esta pode nos mostrar muito sobre a educação pensada sobre outras bases, o da formação humana integral. Também evidencia a sua relevância o crescimento no Brasil, nas últimas décadas, dos movimentos sociais do campo, com o protagonismo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tomam a educação como parte de seus objetivos estratégicos de transformação social e que assumem a Pedagogia da Alternância como uma opção metodológica.
Na sua pesquisa Nosella buscava sistematizar a experiência de Pedagogia da Alternância da EFA. Para isso, utilizou o método fenomenológico existencial, que ele traduz como um movimento dialógico entre a observação-reflexão do autor e a situação analisada.
O autor faz a opção de no livro não atualizar o texto da dissertação, deixando ‘as marcas do tempo’. Nele o autor defende a tese de que a Pedagogia da Alternância pode ser identificada a partir de seu princípio fundamental de articulação entre escola e vida e de sua vinculação com os movimentos sociais dos trabalhadores. Pedagogicamente caracteriza-a como uma pedagogia vocacional e não profissionalizante, a serviço dos jovens do meio rural, orientada pelo objetivo fundamental de mudança social, fazendo uso de um plano de estudo, em um ambiente educativo com pequenos grupos, tendo assegurada a participação dos pais agricultores.
Ao tratar das origens da Pedagogia da Alternância, no primeiro capítulo do livro, o autor destaca que ela surge com a tarefa de enfrentar o problema colocado de que a terra seria o oposto da sabedoria, da ciência, e de que ao jovem de origem rural não restaria outra alternativa a não ser sair do campo se quisesse alcançar ‘a sabedoria’. A oposição entre a terra e a sabedoria, ciência e sucesso exigia, portanto, que fosse criada uma nova educação.
Registra a ação do sacerdote Abbé Granereau, que criou a primeira escola em alternância na França, em 1935, com o objetivo de reunir jovens de diferentes localidades que precisavam trabalhar no campo. O aspecto singular desta origem é a articulação entre esta Pedagogia com a ação e com o que hoje poderíamos chamar de desenvolvimento local. “A ‘Maison-Familiale’ nunca foi uma escola isolada da ação e do desenvolvimento sócio-econômico de seu meio” (p. 49).
O autor relata a expansão das Maisons Familiales na França, a experiência na Itália e na África para depois relatar a experiência brasileira nas EFAs por meio do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes).
Sem abrir mão do seu senso crítico, marca de sua personalidade, o autor destaca um problema com o qual se defrontava a Pedagogia da Alternância desde a sua origem (e que ainda permanece), a ideia de se tornar uma escola “sem abertura para a cidade ou para outras formas de educação”. Criticando Abbé Granereau, diz que “ele queria uma formação rural totalmente fechada, que perfizesse todo o sistema escolar, do primário até a universidade rural” (p. 51). Para o autor, esta é uma “tentação”, a de realizar uma obra em si, uma escola para os camponeses, uma espécie de “reserva indígena” ou de “redução jesuítica agrícola” e que tal ideia seria contrária ao ideal de liberdade que a proposta carrega.
Nosella fecha o primeiro capítulo falando da criação da Associação Internacional das Escolas das Famílias Rurais, em 1975, no Senegal, identificando os objetivos da Associação e informando o quadro geral das EFAs no mundo. Para ele, as EFAs têm variadas possibilidades de materialização, mas foi aplicável em diferentes regiões do mundo mantendo suas características fundamentais, o princípio da alternância e a vinculação com os movimentos sociais, o que lhe conferiria um caráter avançado.
No segundo capítulo do livro, ao tratar do plano pedagógico das EFAs partindo da experiência do Mepes, faz uma descrição geral das escolas e revela a origem da necessidade de construção de um plano pedagógico. Explica que este plano se constituiu de um conjunto de documentos que define as linhas gerais para a organização das EFAs; nele se enuncia que o objetivo fundamental da escola é a mudança social e que esta deva se orientar pelas ideias de participação, igualdade, conscientização, democracia e fim da exploração entre as classes. Assim, a EFA é definida como uma escola vocacional e não profissionalizante, a serviço dos jovens do meio rural.
Do ponto de vista metodológico, seriam três as suas principais características: a alternância; o ambiente educativo com pequenos grupos, internato e convivência; e a participação dos pais agricultores. Define o autor que a função da alternância é proporcionar a reflexão sobre a vida e a experiência real. Para o Mepes, “a vida da família e da comunidade de cada aluno representa o ponto de partida da educação nas escolas-família” (Mepes apud Nosella, p. 85).
Para a alternância, o plano de estudo ganha centralidade, pois se constitui no
instrumento fundamental da Escola-Família, ele é a pedagogização da alternância; é a forma concreta de efetivar as potencialidades educativas da alternância; é o veículo que leva para a vida as reflexões, as questões, as conclusões (…) O Plano de Estudo é um guia (questionário) elaborado pelos alunos juntamente com a equipe dos professores, ao findar uma semana de aula, a fim de investigar, com seus pais, um aspecto da realidade cotidiana da família, seu meio e suas vivências. As respostas ao Plano de Estudo, que o aluno anota em seu caderno de propriedade ou do lar, são postas em comum ao voltar à Escola no início da nova sessão de aula (Mepes apud Nosella, 1977, p. 86).
A alternância e o plano de estudo não se constituem, como se pode ver, numa estratégia de instrumentalização na realidade concreta dos conteúdos discutidos na escola. Sobre isto, Nosella conclui:
Note-se que o Plano de Estudo jamais é uma aplicação técnico-agrícola, no sentido da escola ensinar aos alunos técnicas cada vez mais aprimoradas para ele, em seguida, aplicá-las na propriedade de sua família. O enfoque do Plano de Estudo é a conscientização: “é um compromisso dos alunos e de sua família para analisar sua própria vida” (p. 86).
Toma-se a participação como um ponto realmente essencial da escola, mas a ela se associa o conceito de responsabilidade, rejeitando-se a participação formal.
Nosella finaliza este capítulo destacando a prática de avaliação nas EFAs, onde esta atividade é compreendida como “tudo aquilo que se faz para conscientizar”. A avaliação assim compreendida se revela como uma atitude constante, exame de consciência, revisão de vida, onde a avaliação da aprendizagem é apenas mais um componente. O autor registra que na experiência estudada avaliam-se tudo e todos, grupal e individualmente, a cada momento, avaliam-se as atitudes, as aptidões e a aprendizagem dos alunos, a integração e a participação do aluno na comunidade local, o ambiente educativo, a capacitação e a integração dos monitores, a participação dos pais e tudo mais que se relaciona à vida da escola e dos alunos. Nesta experiência, todos são os agentes avaliadores, e o plano pedagógico determina o que e como cada agente pedagógico irá avaliar.
No terceiro capítulo é tratada a experiência do Centro de Formação e Reflexão (CFR), que realiza um curso de formação específica para os docentes das EFAs. O Mepes tomava este como se fosse uma “Escola-Família de grau superior” tendo como objetivos a conscientização, a fundamentação teórica e a capacitação técnica. Nesta experiência, o docente era pensado como um agente educacional que deveria realizar mudanças sociais no meio ambiente de sua escola.
No quarto e último capítulo, o então mestrando Paolo Nosella identifica alguns dos principais problemas verificados na experiência e ensaia uma “tentativa de análise”, não exaustiva, sobre cada um deles. Entre os problemas observados pelo autor destaca-se a ideia de intercâmbio econômico-cultural entre Brasil e Itália que funcionou em um único sentido, apenas Itália-Brasil. Apoiando-se em Darcy Ribeiro, o autor coloca a possibilidade de esta experiência ter sido acompanhada de um processo de invasão cultural.
Nosella questiona a forte concentração de poder existente na EFA e a consequentemente pouca participação da comunidade nas decisões. Como terceiro problema, o autor destaca o impasse da expansão das EFAs, que encontra resistência dos pais que, supõe o autor, “temem a escolarização por ser um meio de êxodo do seu filho da lavoura e, portanto, causa da perda de mão de obra” (p. 120).
O quarto problema identificado por Nosella refere-se ao dilema existente entre o uso do plano de estudo ou do currículo oficial, pois este pode levar à perda da especificidade metodológica da EFA.
Também o centro de formação é verificado em uma situação-problema, já que não fica claro se o seu papel é de formar para a metodologia já elaborada ou se colocar aberto para experimentações.
O sexto problema identificado relaciona-se à fuga dos técnicos agrícolas que assumem a função docente, mas que abandonam o movimento em busca de outras oportunidades profissionais.
Por fim, Nosella destaca o sétimo problema, a dificuldade financeira de manutenção das EFAs, que dependem do apoio das comunidades e de recursos municipais, estaduais e federais.
Em seu capítulo conclusivo, Nosella observa, entre outras coisas, que a EFA do Mepes é uma iniciativa fundamentalmente positiva “por ser ela uma crítica radical ao sistema tradicional de ensino do meio rural contrapondo-se a ele como uma alternativa estrutural e metodológica, intencionalmente revolucionária” (p. 146).
Ao registrar a sua ambiguidade, pois não nasceu como obra da classe agrícola brasileira, observa que possibilidades futura da Pedagogia da Alternância estariam articuladas às perspectivas da própria classe, já que interessa apenas aos dominados um projeto de mudança social, conteúdo desta pedagogia.
O livro em tela também traz como anexos diferentes documentos, de estatuto a planos e organograma do Mepes, preservando assim a sua história e favorecendo o trabalho de novos pesquisadores interessados na experiência estudada.
O livro é finalizado com um ‘posfácio de atualização’, escrito por João Batista Begnami e Thierry De Burghgrave. Nele são atualizadas algumas informações relativas ao número de associações regionais e de EFAs no Brasil, com dados de 2012, e apresentadas algumas fases da Pedagogia da Alternância no Brasil. Também são feitas considerações acerca das EFAs em relação aos movimentos de Educação do Campo no Brasil.
Este livro de Nosella, além da descrição que faz da experiência de Pedagogia da Alternância nas EFAs e dos problemas que identifica nesta experimentação, contém uma defesa de um projeto de formação humana, de conteúdo revolucionário, que toma a mudança social como principal finalidade.
Sua leitura é necessária para todos os educadores, mais ainda para aqueles que se comprometem com os projetos de educação que se articulam à ideia de mudança social e que tomam a liberdade como referência.
Sua característica descritiva não impede que o autor deixe clara a sua leitura comprometida, de quem esteve envolvido com aquela experiência, prática e teoricamente, que se revelou e se mantém crítico de qualquer perspectiva de instrumentalização da formação humana e de sua conformação à realidade dada. Nosella olha sempre para o futuro, para uma escola de educação inteira em uma sociedade sem classes, e é articulada a este projeto que ele situa a Pedagogia da Alternância.
Referências
ARROYO, Miguel. O direito do trabalhador à educação. In: GOMES, Carlos M. (org.). Trabalho e conhecimento: dilemas na educação do trabalhador. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 2004. [ Links ]
NOSELLA, Paolo. Uma nova educação para o meio rural: sistematização e problematização da experiência educacional das Escolas da Família Agrícola do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo. Dissertação (Mestrado em Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1977. [ Links ]
Ronaldo Marcos de Lima Araujo – Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências da Educação, Pará, Brasil. E-mail: rlima@ufpa.br
[MLPDB]Trabalhadores técnicos em saúde: aspectos da qualificação profissional no SUS – MOROSINI et al (TES)
MOROSINI, Márcia Valéria Cardoso; LOPES, Márcia Cavalcanti Raposo; CHAGAS, Daiana Crús; CHINELLI, Filippina; VIEIRA, Mônica. (Orgs.). Trabalhadores técnicos em saúde: aspectos da qualificação profissional no SUS. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2013. 447 p.p. Resenha de: MARTINS, Maria Inês Carsalade. Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.13, n.3, set./dez. 2015.
Esta nova publicação da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), Trabalhadores técnicos da saúde: aspectos da qualificação profissional no SUS, resulta do estudo “Processo de qualificação de trabalhadores técnicos em saúde: a conformação dos grupos profissionais”, desenvolvido pelo Observatório dos Técnicos em Saúde da EPSJV/Fundação Oswaldo Cruz, integrante da Rede de Observatórios de Recursos Humanos em Saúde no Brasil. As organizadoras da coletânea de artigos são professoras-pesquisadoras da EPSJV: Márcia Valéria Cardoso Morosini, Márcia Cavalcanti Raposo Lopes, Daiana Crús Chagas, Filippina Chinelli e Mônica Vieira.
A primeira parte do livro se dedica a construir o referencial teórico que orienta as pesquisas sobre os grupos profissionais de saúde em áreas abrangidas pelo Programa de Formação de Profissionais de Nível Médio para a Saúde (Profaps), do Ministério da Saúde, considerado como uma política de ampliação e qualificação da força de trabalho no setor saúde. Compartilho da avaliação de Gaudêncio Frigotto que, logo na apresentação do livro, destaca que a leitura do conjunto dos textos revela dois aspectos centrais e diferenciados nas análises sobre a formação e a qualificação dos trabalhadores: o esforço de construção coletiva de um referencial teórico que redunda em coerência interna nos diferentes aspectos estudados; e a compreensão de que as políticas de formação da classe trabalhadora são parte constituinte e constituída de projetos societários em disputa.
O conceito de qualificação, o papel da regulação profissional e educacional e a dinâmica da formação técnica e da ocupação de postos de trabalho em saúde no Brasil dos anos 2000, em uma perspectiva histórica, contextualiza o estudo e aponta para questões indutoras das pesquisas realizadas sobre diversos grupos profissionais: administrativos na gestão da saúde; técnicos de informações e registros em saúde; técnicos em radiologia; técnicos em histologia; técnicos em citologia; técnicos em análises clínicas; técnicos em hemoterapia; técnicos em vigilância em saúde; cuidadores de idosos; e agentes comunitários de saúde.
Para definir os marcos conceituais que fundamentam a discussão, no primeiro capítulo, as autoras fazem uma revisão teórica sobre o conceito de qualificação, contrapondo-se à abordagem das competências, conceito que vem sendo apropriado pelo segmento patronal, quase sempre associado ao de empregabilidade. A tese defendida é de que a qualificação não é fruto ou desdobramento natural das tecnologias e novas formas de organização do trabalho. Entendendo a qualificação como historicamente construída, condicionada pelo contexto econômico, político e social e, portanto, uma síntese de múltiplas determinações, as autoras argumentam que
as relações de poder entre capital e trabalho e os fatores socioculturais que influenciam o julgamento da sociedade dependem da conduta e estratégias empresariais (métodos de gestão e controle da força de trabalho) e da consciência e organização dos trabalhadores (na busca de maior decisão e intervenção no processo produtivo). (Chinelli, Vieira e Deluiz, 2013, p. 43).
No âmbito da saúde, o estudo possibilita ao leitor fazer um resgate do processo de institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), ao pesquisar as diferentes trajetórias de formação e qualificação dos técnicos em saúde, bem como das regulações profissional e educacional das diferentes profissões/ocupações.
Tendo como pressuposto teórico que a qualificação não está somente relacionada ao conteúdo do trabalho exercido, mas é uma relação social, um processo e, ao mesmo tempo, um produto social, o segundo e o terceiro capítulos fazem o resgate histórico da criação, transformação e regulamentação das profissões/ocupações técnicas em saúde. Segundo os autores, esse processo se intensifica nos anos 1970 e 1980, o que evidencia o caráter tardio delas em relação à regulamentação do trabalho industrial, relacionando as políticas indutoras no sentido da profissionalização dos técnicos de nível médio em saúde e o modelo de produção e organização setorial.
A análise da dinâmica da formação técnica e da ocupação dos postos de trabalho em saúde nos anos 2000 orienta a abordagem do quarto capítulo. A partir da base de dados do censo escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o estudo aponta para a predominância do setor privado na formação técnica em saúde no período 1999–2009, relacionando esse fenômeno ao fato de que essa área de formação nunca se consolidou “como de interesse público, nem [foi] desenvolvida pelas instâncias públicas” (Vieira et al., 2013, p. 127). Por outro lado, com base na evolução dos postos de trabalho de níveis elementar, auxiliar e técnico, ocupados nos estabelecimentos de saúde, e nos dados da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária (AMS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o período 1999–2009, o estudo discute o aumento na taxa de crescimento dos postos de trabalho em saúde, relacionando-o com as políticas públicas de saúde priorizadas no período. Os autores indicam que, em relação à totalidade dos postos de trabalho criados no setor terciário no período, houve uma marcante expansão dos postos ligados ao cuidado em saúde; o aumento dos níveis de escolaridade da força de trabalho ocupada no setor; e o setor público ainda constitui um importante mercado de trabalho para as ocupações de nível médio/intermediário (técnico/auxiliar) e, principalmente, para as de nível elementar, entre outras questões.
A segunda parte do livro, partindo do referencial teórico esboçado acima, reúne os resultados das pesquisas que recuperam a história da criação e institucionalização de dez grupos profissionais. A leitura dos capítulos nos leva a refletir que, de certa maneira, a criação/(re)recriação de algumas profissões/ocupações técnicas se relacionam diretamente com um determinado contexto de mudanças no modelo de atenção e transição epidemiológica. Nesse sentido, destaca-se a trajetória das agentes comunitárias de saúde, dos cuidadores de idosos e dos técnicos em vigilância em saúde. Do ponto de vista da transição tecnológica, as mudanças impactam diretamente a formação e regulação dos técnicos de radiologia, histologia, citologia, análises clínicas e hemoterapia. Finalmente, considerando os métodos de organização da produção dos serviços, as mudanças implicam a reorientação do processo de qualificação dos técnicos de registro e informações em saúde e dos trabalhadores administrativos que atuam na gestão da saúde.
Entre as principais questões levantadas, a (in)visibilidade, o campo de atuação, a identidade profissional, o mercado de trabalho e o desenvolvimento tecnológico são questões que perpassam todas as análises e se colocam como pontos de reflexão sobre os desafios, possibilidades e limites da qualificação dos trabalhadores de nível médio no sistema de saúde, tanto público como privado, no Brasil.
Trata-se, portanto, de uma importante referência não apenas para os ‘formadores’, mas para gestores, trabalhadores, reguladores e estudiosos do campo da saúde, que se ocupam e se preocupam com a qualidade dos serviços de saúde e com a qualificação do trabalho e do trabalhador enquanto processo indissociável.
Maria Inês Carsalade Martins – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: minescm@globo.com
[MLPDB]Provas de liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação – SCOTT et. al (VH)
SCOTT, Rebecca J; HÉBRARD, Jean M. JOSCELYNE, Vera. Provas de liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação. Campinas: Editora da Unicamp, 2014. 296 p. DIÓRIO, Renata Romuldo. Provas de liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação. Varia História. Belo Horizonte, v. 31, no. 57, Set./ Dez. 2015.
Edouard Tinchant, um homem negro, “descendente de haitianos”, nascido em New Orleans, sul dos Estados Unidos, viveu na Antuérpia, onde foi fabricante e comerciante de tabaco. Em 1899, ele escreveu para Máximo Gomez, um dos líderes pela luta da independência cubana, para fazer um pedido. Tinchant pretendia usar o nome e o retrato do general Gomez como marca de seus melhores charutos. O pedido seria uma forma de reverenciar um defensor do antirracismo, causa que marcou a história dos seus antepassados e descentes.
A referida carta foi encontrada por Rebecca Scott e Jean Hébrard, no Arquivo Nacional de Cuba, e, a partir desta, esses pesquisadores iniciaram uma busca surpreendente por outras informações relativas à vida profissional e pessoal de Tinchant. Eles obtiveram dados sobre cinco gerações de uma família constituída pela união entre uma africana e um francês, Rosalie e Michel Vincent, e essa extensa pesquisa documental deu origem ao livro Provas de Liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação.
As trajetórias de homens e mulheres de cinco gerações da família de Tinchant foram resgatadas com base em registros encontrados em arquivos. Estes documentam momentos de suas vidas em diferentes locais onde se instalaram, como Cuba, Estados Unidos (Luisiana), Haiti, Bélgica (Antuérpia) e França. As histórias são elucidadas a partir da análise de cartas de alforria, batismos, testamentos, contratos de casamento, recenseamentos, dentre outros. O pano de fundo são os acontecimentos políticos que perpassam a crise do escravismo e do colonialismo no Mundo Atlântico e as revoluções antirracistas e de cunho liberal do século XIX. As principais são a Revolução Haitiana, a Revolução Francesa de 1848, a Guerra Civil e a Reconstrução nos Estados Unidos.
Por meio dos estudos dessa família, o livro aborda questões relativas a tráfico, escravidão, liberdade e condições impostas aos descendentes de escravos nos séculos posteriores à emancipação e em contextos de guerras. As histórias dos membros dessa família convergem na luta por direitos, como a preservação da liberdade, a legitimidade das uniões conjugais e a garantia da cidadania. Na opinião de Rebecca Scott e Jean Hébrard, Rosalie e seus descendentes eram conscientes da importância dos documentos para a reivindicação de suas prerrogativas, e em função disso, procuravam os meios para que os registros fossem produzidos. Esse é o fio condutor de histórias vivenciadas pelas pessoas que possuíam laços consanguíneos em locais e momentos tão díspares.
O livro dialoga com trabalhos mais recentes que buscam uma narrativa de biografia. Nesse caso, trata-se de pequenas biografias desenvolvidas a partir das escolhas individuais dos descendentes de Rosalie, apresentadas em nove capítulos. São micro-histórias “em constante movimento”, como afirmam os autores. Partidas, chegadas e fixação em diferentes localidades denotam uma relação direta com condicionantes como legislação, hierarquia social e guerra.
Tráfico, escravidão e liberdade são elucidados pela trajetória de vida de Rosalie na segunda metade do século XVIII. Os principais mecanismos de administração da escravidão nos domínios franceses e espanhóis no Novo Mundo são relatados a partir das experiências dessa africana dentro de um contexto mais amplo em que estava inserida. São evidenciados os indícios da sua travessia pelo Atlântico, da Senegâmbia para Santo Domingo, Caribe, passando pelo período que viveu sob o regime da escravidão até a sua libertação.
No período da Revolução Haitiana Rosalie era denominada na documentação como Marie Françoise. Nessa ocasião, ela era liberta e possuía quatro filhos, fruto da relação conjugal com o francês Michel Vincent. Em uma tentativa de fuga para Cuba, a família foi separada, a filha, Elisabeth Vincent, foi levada para Nova Orleans, onde mais tarde casou-se com o carpinteiro Jacques Tinchant. Edouard, mencionado anteriormente, era um dos cinco filhos nascidos dessa união, nenhum deles se encontrou com a avó, Marie Françoise. Embora os Tinchant apresentassem uma confortável situação na Louisiana, a família partiu para a França em 1840. Pelo que consta nas fontes encontradas, o motivo teria sido a tentativa de escapar das severas leis que incidiam sobre homens negros e seus descendentes nos Estados Unidos daquela época.
A trajetória política de Edouard Tinchant merece destaque, pois ele foi diretor de uma escola de crianças libertas, veterano do exército da União na guerra civil e representante multirracial no sexto distrito de Nova Orleans. No entanto, foi na Antuérpia que ele teve uma espetacular ascensão econômica com a produção e venda de charutos finos. Seus negócios estenderam-se para Nova Orleans e também para o México, onde Joseph Tinchant, irmão de Edouard, representou o empreendimento. Eles transitaram entre a América do Norte e a Europa, deixando registros como empresários ou cidadãos respeitáveis. Em 1875, Joseph foi mencionado nos documentos como Don Joseph Tinchant, que, de acordo com as formas de tratamento local, indicava ser um cidadão do México.
Em 1937, Marie-José Tinchant, uma jovem de 21 anos que era neta de Joseph Tinchant, deu uma entrevista ao jornal londrino Daily Mail. A publicação mostra que, embora Marie-José fosse uma moça delicada, culta e filha de um próspero comerciante de charutos da Antuérpia, teve seu casamento anulado por causa da tez da sua pele. Mesmo fugindo e conseguindo realizar o casamento, ocorreram tentativas de anulação da união da parte dos pais do noivo, com base no preconceito racial. Anos depois ela é presa pelas forças nazistas de ocupação da Bélgica, supostamente por ser um membro do Movimento de Resistência durante a Segunda Guerra, e morre em um campo de concentração em 1945, na Ravensbrück, Alemanha.
Os momentos de vida elucidados no livro resultam de um levantamento exaustivo de fontes sobre os membros das famílias de descendentes da ex-escrava Rosalie, depois referida como Marie Françoise. As histórias são retratadas com acentuada tendência, por parte dos autores, em suposições de informações que não são captadas por meio dos documentos. De todo modo, isso em nada compromete o trabalho, tamanho o esforço em evidenciar como essas gerações fizeram uso desses papéis para legitimar seus direitos e superar restrições que os ligavam à escravidão. O livro nos mostra que quanto mais distante da condição escrava, maiores as chances de obter ascensão econômica, social e até mesmo política. Contudo, também deixa claro que em cada uma dessas conquistas havia uma luta constante em torno do combate ao racismo que assolou e ainda assola gerações até os nossos dias.
Por abarcar um período tão abrangente, marcado por tantas mudanças, o livro interessa aos especialistas da escravidão, do fim do colonialismo e dos conflitos antirracistas no Mundo Atlântico, mas também àqueles dedicados a debates mais contemporâneos acerca da luta contra o racismo
Renata Romuldo Diório – Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutoranda em História Social da Cultura. Universidade Federal de Minas Gerais. Rua Amador Catarino Jales, 105, Distrito de Padre Viegas, Mariana, MG, 35422-000, Brasil. renatadiorio@hotmail.com.
Guerra Literária: panfletos da Independência (1820-1823) – CARVALHO e. al (VH)
CARVALHO, José Murilo de; BASTOS, Lúcia; BASILLE, Marcelo (Orgs). Guerra Literária: panfletos da Independência (1820-23). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. GASPAR, Tarcísio de Souza. Guerra Literária: panfletos da Independência (1820-23). Varia História. Belo Horizonte, v. 31, no. 57, Set./ Dez. 2015.
A confluência de novas tecnologias de comunicação – as chamadas redes sociais – com velhas insatisfações políticas tem modificado, disseminado e talvez potenciado o debate e a mobilização política no Brasil e noutras partes do globo, e contribuído para a ocorrência de movimentos como a Primavera Árabe e os protestos de junho de 2013 no Brasil. É impossível prever o futuro dessa interação. Mas o seu passado, isto é, o da correlação entre a efervescência de ideias e de manifestações públicas de opinião e a deflagração de conflitos políticos de grande escala, foi historicamente consagrado. Nos últimos séculos, momentos de crise coincidiram quase sempre com a proliferação de falas, de textos e de outras expressões do pensamento. Alterações políticas trouxeram consigo furor comunicativo. Ou, antes disso, a popularização de conceitos ocasionou modificações no vocabulário e nas estruturas políticas.
A monumental obra em questão, dividida em quatro grossos volumes, expõe uma dessas felizes – e raras – combinações entre proliferação da palavra e efervescência política na história brasileira. Organizada por três grandes nomes de nossa historiografia política, a coleção de panfletos da Independência traz boa parte do que se escreveu e se discutiu publicamente no Brasil ao longo de um curto, porém, crucial período, no qual transformações políticas decisivas se sucederam em ritmo acelerado. O movimento liberal do Porto, em agosto de 1820, foi o estopim de tensões impactantes no mundo luso-brasileiro, suscitadoras da produção de expressivo conjunto de panfletos manuscritos e impressos, que alimentaram o debate envolvido na constitucionalização do reino lusitano, nas eleições e nos debates das Cortes, na emancipação brasileira e na afirmação inicial do novo Estado americano. Em obra pretérita, intitulada Às armas, cidadãos! (2012), os organizadores já haviam dado à luz 32 panfletos manuscritos redigidos entre 1820 e 1823. Agora, em Guerra Literária: panfletos da Independência, completam a coleção com a parte mais robusta do acervo, composta pelos folhetos políticos impressos à mesma época, num total de 362 panfletos.
Coligida em diferentes instituições, ao longo de décadas de pesquisa acumulada por seus organizadores, a edição crítica dos panfletos é um colosso documental. Seu impacto na historiografia interessada na independência e na história do pensamento político brasileiro na primeira metade do século XIX promete ser expressivo, tanto por facilitar o acesso a documentos importantes, quanto por revelar fontes pouco utilizadas ou desconhecidas. Os impressos informam sobre a formação de uma incipiente esfera pública de discussão política, que incluiu “periodiqueiros”, jornalistas, membros das elites coimbrã e brasiliense, bacharéis, militares, religiosos, letrados e leitores diversos e se estendeu, pela oralidade, até grupos populares e iletrados. Esse lastro social do processo constitucional e independentista apenas recentemente começou a ser descortinado por nossa historiografia. A obra interessa ainda por se coadunar a diferentes perspectivas da história política em voga, como as que perseguem conceitos (sob influência de R. Koselleck),linguagens (inspirada em autores como J. G. A. Pocock e Q. Skinner) e culturas políticas. Essa historiografia, mais afeita às expressões populares e ordinárias do pensamento político, de preferência aos cânones e aos registros oficiais, tem reconstituído formas de pensar, de agir e de se exprimir em embates ou processos políticos, historicamente situados.
Guerra Literária cumpre bem os requisitos de uma obra de referência. Os volumes estão ordenados por gêneros literários e, no interior desses, os panfletos se dispõem em ordem cronológica anual. A opção pelo gênero textual adequa-se às características da documentação. Datados apenas com o ano de publicação, os folhetos não se prestam a sequenciamento cronológico preciso. Tampouco poderiam ter sido organizados por autor, haja vista a ocorrência comum do anonimato e do pseudônimo. Os dois primeiros tomos, compostos por cartas (v. 1) e por análises, reflexões e projetos de teor especulativo (v. 2), são mais homogêneos. O terceiro e o quarto englobam tipos distintos: sermões, orações, discursos, diálogos, catecismos, dicionários, manifestos, proclamações, representações, protestos, apelos e elogios (v. 3); e poesias, relatos, exposições, memórias, notícias e narrações (v. 4). Nesse volume ainda constam os folhetos políticos impressos na Cisplatina, então parte do Reino Unido. Os organizadores contribuíram com uma introdução geral à coleção e outras específicas a cada volume. Os panfletos platinos tiveram introdução especializada, redigida por Ana Frega. O leitor conta ainda com cronologia do período, índices onomásticos, notas biográficas e o rol das tipografias envolvidas.
Os impressos eram “literatura de circunstância” que almejava comunicar-se com o grande público. A oralidade impregnou textos em forma de diálogo, orações, catecismos, entre outras. Cabia fazer circular o “novo vocabulário político”, valendo-se de técnicas retóricas e de artifícios literários. Os panfletos tomaram as ruas. A leitura em voz alta e a rede de murmurações e de boatos levaram o conteúdo de discursos e de comunicações escritas àqueles que não sabiam ler. Baratos e acessíveis, os escritos de circunstância serviam, como se disse à época, ao entretenimento dos que não podiam pagar entrada no teatro. Num contexto de agitação política, foram instrumentos fundamentais de participação e de mobilização. Possibilitaram a intervenção do homem comum no espaço público. Disseminaram notícias e informações políticas, tornando-as de domínio público. Popularizaram, em frequência inédita no Brasil, os conceitos políticos oriundos da Ilustração e do contexto revolucionário que desestruturou o Antigo Regime (v. 1, p. 12-16).
Apesar do clima de liberdade de expressão e de participação política, manifestada inclusive através do voto, as heranças coloniais daquela sociedade escravista restringiram e, no limite, inviabilizaram essa esfera pública. Nos panfletos relativos à situação brasileira, a escravidão metaforizava o despotismo e a tirania. A princípio, a constituição deveria estipular “os direitos do cidadão livre”, distinguindo-o do “escravo de tantos senhores”. Em seguida, a postura recolonizadora adotada pelas Cortes transformou-se numa tentativa de escravização, “como se fôssemos um punhado de miseráveis escravos sujeitos à discrição e capricho de seus senhores, e não um Reino aliado mais poderoso e com mais recursos do que o mesmo Portugal” (v. 2, p. 110-123). Um poema feminino que se acredita ter sido escrito por menina baiana de 13 anos indagou: “Justos céus, de que nos servem/Bases da Constituição/Se a lusa tropa só quer/Impor-nos a escravidão” (v. 4, p. 263).
A independência garantiu a alforria política das elites regionais, antes submetidas à metrópole europeia. Como discursou posteriormente o deputado Lino Coutinho, “o Brasil quebrou os ferros da escravidão e separou-se do reino e se pôs no estado de independência”. Mas não estendeu esse “estado” à massa de africanos e de descendentes submetidos ao cativeiro doméstico, desprovida do foro de cidadania, privada do acesso à educação formal e alheia, portanto, aos conteúdos da cultura escrita e do debate político letrado. Segundo José Bonifácio, “nossa independência não é mais do que aquela de um filho que se emancipa”. Em 1822 apenas uma parte da ex-colônia se emancipou ou, em termos kantianos, atingiu sua maioridade política. Faltou que o mesmo ocorresse à outra parte, cuja razão, desprovida de uso público, ainda forceja por libertar-se da escravidão.
Tarcísio de Souza Gaspar – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais. Campus Muzambinho. Estrada de Muzambinho, km 35, Bairro Morro Preto, Muzambinho, MG, 37.890-000, Brasil. tarcisio.gaspar@gmail.com.
História da educação brasileira: do período colonial ao predomínio das políticas educacionais neoliberais – SHIGUNOV NETTO (VH)
SHIGUNOV NETO, Alexandre. História da educação brasileira: do período colonial ao predomínio das políticas educacionais neoliberais. São Paulo: Salta, 2015. 277 p. FORTUNATO, Ivan. História da educação brasileira: do período colonial ao predomínio das políticas educacionais neoliberais. Varia História. Belo Horizonte, v. 31, no. 57, Set. / Dez. 2015.
Parece simples a tarefa de produzir uma resenha: ler, reler, entender, resumir e comentar. Mas não é. Trata-se de ler, reler, compreender o que foi escrito dentro do contexto em que fora produzido, cotejando-o com as referências e os objetivos da obra, sejam estes declarados ou apanhados nas entrelinhas. Mais ainda, trata-se de tornar público o pensamento do autor, pois, é pela resenha que estudantes, professores, pesquisadores… leitores, tomam conhecimento da importância e relevância de determinado livro para determinada obra. Particularmente, por precaução, não costumo assumir toda essa responsabilidade. Prefiro assinar o que escrevo, pois qualquer equívoco recai somente sobre minha própria produção.
Não obstante, a “História da educação brasileira: do período colonial ao predomínio das políticas neoliberais” é um livro que merece todo esse esforço, redobrado até. Isso porque a tarefa escolhida – e cumprida com êxito – exigiu de seu autor demasiado empenho para recobrir toda nossa história educacional que, praticamente, se equivale a nossa própria história cultural desde o “descobrimento”, tendo em vista que as primeiras escolas foram criadas e geridas pelos jesuítas, que também foram os primeiros mestres.
Não obstante, Shigunov Neto deixa claro os propósitos de sua investigação logo na apresentação do livro: “indicar que a educação brasileira sempre esteve vinculada aos interesses da ideologia dominante” (p. ix). Assim, o leitor pode esperar muito mais do que somente ler sobre o desenvolvimento cronológico da educação brasileira desde o século XVI até o momento atual. Isso porque Shigunov Neto nos apresenta uma obra que circunscreve toda nossa história educacional a partir das complexas contingências sócias, econômicas e políticas de cada período vivido pelo país… sendo a educação, como reforça constantemente o autor, vinculada aos interesses daqueles que estavam no poder.
Ao prefaciar a obra, o professor Pedro Demo deixa expresso que o livro de Shigunov Neto é “obra longa, densa, resultado de esforço hercúleo de pesquisa sistemática” (p. vii). E de fato é. Seu autor consultou algumas dezenas de livros, tratados, leis, documentos etc. listando quase duas centenas de referências no final. Ademais, o autor faz excelente uso das notas de rodapé, esclarecendo, por meio de breves explicações biográficas, quem foi quem na história da educação brasileira, fortalecendo ainda mais a contextualização dos acontecimentos. Sua redação é clara, objetiva e impessoal, tornando-se outro ponto de destaque da obra pois, para cada momento histórico apresentado, foi feito um excelente cotejamento de ideias de vários autores, promovendo não apenas o relato do período, mas possibilitando a reflexão sobre a transformação histórica do Brasil e da história da nossa educação.
O livro começa recuperando o período das grandes navegações, recobrindo o momento vivido por Portugal e os motivadores que levaram os portugueses a procurar por novas terras além-mar e, assim, “descobrir” o Brasil. Os primeiros capítulos são destinados, então, a descrever as navegações e as subsequentes fases de colonização do país e os diferentes projetos educacionais implantados: o jesuíta, o pombalino, o ideal de D João VI… Na densa redação que oferece para cada projeto, Shigunov Neto busca evidenciar sua hipótese de que cada reforma educacional no país teve (e ainda tem) como propósito “a total destruição e substituição das antigas propostas” (p. 47).
O capítulo sexto é o mais intenso do livro, tratando, em mais de uma centena de páginas, sobre o período republicano, momento em que a educação pública e para o trabalho industrial entra efetivamente na pauta na agenda política: “foi somente no período republicano”, afirma (p. 267), “que a educação começou a tomar contornos diferenciados e a se constituir num problema de ordem social”. Assim, Shigunov Neto recobre os ideais de educação nas constituições federais e nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, 1968, 1971 e 1996, sem se desvincular de seu objetivo principal: demonstrar que a educação brasileira sempre esteve vinculada aos interesses de quem assumia o poder. O último capítulo do livro é dedicado às discussões a respeito da influência das políticas neoliberais na educação nacional, buscando retratar o momento vivido desde o final do século passado.
Essa densa e extensa obra a respeito da História da Educação Brasileira pode e deve ser lida pelos alunos de todas as licenciaturas e de cursos voltados para ciências humanas, assim como precisa ser lido por estudantes de pós-graduação interessados na história e na educação brasileira. Pode ser lido de uma só vez, mas não é recomendado. Deve ser lido parcimoniosamente, permitindo-se momentos de parada. Ao final, se o trabalho de Shigunov Neto resultou na análise de uma trajetória pessimista, conforme indicou Pedro Demo no prefácio, cabe aos educadores de hoje e de amanhã encararem essa triste jornada, compreendendo-a para, então, transformarem-na em uma marcha um tanto mais entusiasmante.
Ivan Fortunato – Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Ensino, Ciência, Cultura e Ambiente (NuTECCA). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Campus de Itapetininga/SP. Avenida João Olimpio de Oliveira, 1561, Itapetininga , SP, 18.202-000, Brasil. ivanfrt@yahoo.com.br.
Boletim Historiar. São Cristóvão, n.9, 2015.
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Publicado: 2015-08-17