Linguagem e discurso : modos de organização – CHARAUDEAU (A-RL)

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso : modos de organização. São Paulo: Contexto, 2014. 256p. Alfa – Revista de Linguística, São José Rio Preto, v.60 n.3 São Paulo set./ dez. 2016.

Organizado por Aparecida Lino Paulikonis e Ida Lucia Machado, o livro “Linguagem e fala: esquemas organizacionais”, de Patrick Charaudeau, publicado pela Contexto, é o resultado de um esforço conjunto do Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso (ICDA, Rio), de a Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FURJ) e o DAC (Centro de Análise de Discurso) da Universidade Federal de Minas Gerais (FUMG), Faculdade de Artes, no Brasil, e o Center d`Analyse Du Discours ( CAD), de Paris XIII, na França. Durante anos, os laboratórios mencionados mantiveram contato com o CAD, por meio de convênio entre CAPES / COFECUB, e essas parcerias trouxeram contribuições interessantes para a pesquisa. No entanto, apesar desses relacionamentos importantes, os pesquisadores perceberam que uma parte importante dos estudos de Patrick Charaudeau ainda não estava ao alcance do público brasileiro. Uma vez evidente essa lacuna, e reconhecida a importância do trabalho de Charaudeau, pesquisadores do contexto brasileiro reuniram-se em torno de alguns de seus escritos, especialmente aqueles que refletem as linhas gerais de sua Teoria Semiolinguística, traduzindo e adaptando-os ao idioma português, o que resultou em este livro.

Os organizadores apontam para a noção de “adaptação” e mencionam que é possível que muitos pesquisadores que já estudaram a Teoria Semiolinguística reconheçam algumas passagens de trabalhos publicados desse autor. No entanto, sob a supervisão do próprio autor, essa equipe organizou uma mistura de vários escritos, transformando esse trabalho em novo material, em comparação com uma tradução simples. Nessa perspectiva, muitos conceitos foram revisados ​​ou remodelados nesta edição, várias tabelas foram revisadas e apresentadas novamente, de acordo com o estado atual da teoria, várias outras reformulações ganharam tons contemporâneos e os exemplos foram trazidos à realidade do contexto brasileiro. O trabalho é justificado por várias razões. O linguista que o inspirou sempre expôs conceitos inovadores sobre Análise do Discurso, entre os quais a “Lei da Língua” e os papéis atribuídos aos diferentes sujeitos participantes, sujeitos fitossociais e aqueles que trabalham com a linguagem, internos e externos a essa Lei; a importância atribuída ao sentido explícito e implícito, sempre considerando as circunstâncias do discurso que determinam tal ato; os contratos que os regem, os diferentes procedimentos discursivos pelos quais o discurso pode ser organizado e de ordem expositiva, descritiva, narrativa e argumentativa (CHARAUDEAU, 2014, p.10). O livro segue duas das principais linhas de pensamento de Patrick Charaudeau. O primeiro apresenta uma reflexão sobre o discurso, os protagonistas do ato da linguagem e sua relação com o sentido discursivo; o segundo destaca princípios básicos que se referem à organização discursiva de diferentes atos de comunicação que enfrentamos como sujeitos falantes durante nossas vidas. Vale ressaltar que, em determinados momentos, os organizadores questionam a forma como os esquemas de organização da fala são abordados pelos livros didáticos e o ensino da língua portuguesa nas escolas (CHARAUDEAU, 2014, p.107). Com o objetivo de entender melhor esta questão, os professores apresentam uma definição e uma função atribuída a eles, todas devidamente explicadas através de exemplos de textos jornalísticos, literários e da internet, além de livros didáticos. questionar a maneira como os esquemas de organização da fala são abordados pelos livros didáticos e pelo ensino da língua portuguesa nas escolas (CHARAUDEAU, 2014, p.107). Com o objetivo de entender melhor esta questão, os professores apresentam uma definição e uma função atribuída a eles, todas devidamente explicadas através de exemplos de textos jornalísticos, literários e da internet, além de livros didáticos. questionar a maneira como os esquemas de organização da fala são abordados pelos livros didáticos e pelo ensino da língua portuguesa nas escolas (CHARAUDEAU, 2014, p.107). Com o objetivo de entender melhor esta questão, os professores apresentam uma definição e uma função atribuída a eles, todas devidamente explicadas através de exemplos de textos jornalísticos, literários e da internet, além de livros didáticos.

O trabalho visa: 1) mostrar a visão de Charaudeau sobre a Lei da Língua. É um fenômeno rico e complexo da comunicação, atividade que ocorre no teatro da vida individual de cada um e cuja colocação em cena resulta de vários componentes lingüísticos e situacionais; 2) divulgar ao público brasileiro noções consistentes e claras analítico-discursivas, excelentes ferramentas teóricas que podem ser aplicadas na análise de diferentes “corpora” vinculados a esse tema tão fluido e fascinante que é o Discurso (CHARAUDEAU, 2014, p. 10) Em seu prefácio, traduzido por Angela MS Correa, o próprio Patrick Charaudeau afirma que o livro é um trabalho de adaptação desse grupo de pesquisa brasileiro a partir de algumas de suas anotações e espera que o material permita a todos os pesquisadores e professores, bem como todos os amantes da linguagem , analisar as especificidades dos discursos que circulam na sociedade brasileira, pois é verdade, segundo ele, que todo discurso é um testemunho das especificidades culturais de cada país. Ao fazer tal afirmação, o autor mostra a importância do trabalho para todos os pesquisadores brasileiros que dedicam parte de seu tempo ao estudo da análise de linguagem e discurso. Essa posição atende aos objetivos propostos pelos pesquisadores de três laboratórios que não mediram esforços para criar oportunidades, através da publicação deste livro, de disseminar as idéias de Charaudeau no contexto brasileiro. “Uma problemática semiolinguística no estudo da fala” é o título da primeira parte do livro, com foco no tratamento de problemas na análise do discurso. No inicio, Ao se aproximarem dos limites do território da Análise do Discurso, os organizadores apontam que propõem realizar um primeiro caminho, chamado por eles de “campo da linguagem”, deixando claro que tal exploração não será de natureza não histórica e não exegética . O texto traz algumas reflexões sobre o que certas teorias linguísticas e semióticas propõem como atitudes diante da linguagem, destacando, entre as conclusões, que o processo de comunicação não é resultado de uma única intenção, uma vez que é necessário considerar não apenas o que poderia ser declarado intenções do emissor, mas também o que diz que o idioma age sobre a relação particular que vincula o emissor e o destinatário. A idéia é que um determinado ato de linguagem pressuponha que nos perguntemos sobre ele, sobre as diferentes leituras que é provável que ele sugira, o que nos leva a considerá-lo como um objeto duplo, constituído por um explícito (o que é expresso) e um implícito (lugar de múltiplos sentidos que dependem das condições de comunicação) (CHARAUDEAU, 2014, p.17). Como resultado, o texto traz a afirmação de que uma Análise Semiolinguística do Discurso é semiótica ao examinar um objeto que só se constitui através da intertextualidade. O último depende dos assuntos da língua, buscando extrair dela um possível significante. O texto também afirma que uma análise do discurso semiolinguística é lingüística, devido ao fato de o instrumento utilizado para interrogar o sujeito ser construído a partir de um conceito estrutural de fatos do trabalho desenvolvido por quem trabalha com a linguagem. Em outras palavras, essas diferentes atitudes em relação à linguagem apresentadas por Charaudeau se referem a diferentes maneiras de ver os objetos,

O texto chama a atenção para o fato de levar o leitor a pensar em certas questões, que resumem os objetivos da proposta semiolinguística. Esses questionamentos referem-se a conceitos de signos, comunicação e competência linguística e funcionarão, a partir de agora, como eixos em torno dos quais outras seções do livro serão desenvolvidas. Como resultado, no primeiro semestre, é possível ver a ênfase na questão da dupla dimensão, explícita e implícita, do fenômeno da linguagem. De maneira bastante didática, a partir de definições e exemplos por meio de equações e diagramas, os organizadores lideram a discussão sobre o Núcleo Metadiscursivo. A relação dialógica do ato de fala, enquanto produção e interpretação, é evidenciada, por exemplo, pela explicação de contratos e estratégias de fala. As situações de comunicação são apresentadas em detalhes e os assuntos da linguagem são definidos: destinatário, intérprete, locutor e comunicante. O ato de linguagem como ato inter-enunciativo implica o suposto conhecimento que circula entre os protagonistas da linguagem; o sujeito, produtor do ato de linguagem e o interlocutor, sujeito desse ato. A questão da produção e recepção, em relação à linguagem como encenação, é um ponto central do trabalho.

Terminando a primeira parte do livro, os pesquisadores afirmam que, para analisar um ato de linguagem, é importante considerar não apenas a intenção do sujeito que se comunica, mas também quem o texto induz a falar ou que assuntos o texto induz a conversa, que, de uma perspectiva semiolinguística, dá origem a possíveis ações interpretativas.

A segunda parte do livro trata da organização do discurso e é dividida em princípios de organização do discurso, modo de organização da enunciação, modo de organização descritivo, modo de organização narrativa e argumentativa. Esses cinco textos são divididos em vários tópicos muito didáticos, apresentando exemplos ilustrativos, o que facilita a compreensão da leitura. Ao enfocar os princípios de organização da fala, os organizadores enfatizam que o livro é uma adaptação da última “Gramática do Significado e Expressão”, produzida por Patrick Charaudeau em 1992, direcionada aos leitores brasileiros e cujo conteúdo é o verdadeiro fundamento da linguagem: o discurso (CHARAUDEAU, 2014, p.67). Como o foco está na comunicação, o texto descreve que comunicar é agir e, portanto,

Finalmente, o livro concentra-se em encenações discursivas e gêneros a partir de reflexões envolvendo o assunto comunicação, textos e gêneros. Como a pesquisa nesse campo da análise de discurso ainda não é conclusiva, os organizadores apresentam uma tabela com algumas correspondências entre modos de discurso e gêneros.

Em relação ao modo de organização da enunciação, os editores, de maneira emblemática, retornam o foco aos protagonistas, aos seres da fala, internos à linguagem. O texto descreve que enunciar é organizar as categorias da linguagem e distinguir as três funções do modo de enunciação: estabelecer uma relação de influência entre o falante e o ouvinte (comportamento ALOCUTIVO), revelar os pontos de vista do falante (comportamento ELOCUTIVO) e retornar à fala de um terceiro personagem (comportamento DELOCUTIVO) (CHARAUDEAU, 2014, p.82).

Posteriormente, o trabalho explica os procedimentos dessa construção enunciativa, classificados como lingüísticos e discursivos. Para ilustrar, são apresentados alguns procedimentos do primeiro item: interpelação, liminar, autorização, sugestão, apreciação, possibilidade, proclamação, declaração, promessa. Os procedimentos discursivos são descritos em diferentes modos de organização da fala, ao longo do trabalho, considerando que provêm dos efeitos do conhecimento, realidade / ficção, confidencialidade e gênero (cenário descritivo), a fim de envolver o leitor nos modos, estatutos e pontos de intervenção visão do narrador (cenário da história) na posição diferente do sujeito argumentativo e valores atribuídos aos argumentos (cenário argumentativo). Depois de mostrar uma imagem ilustrativa dos procedimentos enunciativos de construção, descrevendo a relação entre comportamentos enunciativos e as especificações enunciativas, bem como as categorias de linguagem correspondentes, cada uma dessas categorias de linguagem é discutida em detalhes. Numa abordagem criativa e crítica, os organizadores discutem, finalmente, os modos de organização descritivo, narrativo e argumentativo, questionando a metodologia com a qual esses modos de organização são abordados nos exercícios escolares. Com o objetivo de esclarecer essas abordagens errôneas, é possível implicar, nesses três textos finais, a tarefa de definir esses modos e suas funções. Os exemplos ilustrativos de diferentes fontes, como artigos de jornal, livros didáticos, textos literários e textos da internet foram explorados com eficiência, o que pode levar os professores a pensar sobre as abordagens linguísticas a serem usadas nas aulas.

Também se destacou a equipe responsável pelo trabalho de tradução, constituído por Angela Maria da Silva Correa (ICDA-RIO), Emília Mendes (NAD-FUMG), Lilian Manes de Oliveira (ICDA-RIO), Lucia Helena Martins Gouvêa (ICDA). -RIO), Marco Barbosa Venicio (ICDA-RIO), Norma Cristina Guimarães Braga (ICDA-RIO) e Rosane Santos Mauro Monnerat (ICDA-RIO). A dedicação desses profissionais possibilitou, através de um competente trabalho de tradução, a circulação das idéias de Charaudeau no contexto brasileiro.

É um trabalho cheio de méritos, dentre os quais merecem destaque os exemplos ilustrativos e a maneira didática de definir os termos. A linguagem e a fala podem ser caracterizadas como instrumentos para analisar adequadamente as especificações dos discursos que circulam na sociedade brasileira.

Além de contribuir para o enriquecimento das discussões sobre Análise do Discurso, este livro divulga as idéias de Patrick Charaudeau. Nesse sentido, este livro não se destina apenas a estudiosos da linguística, mas também a todos aqueles que desejam entender melhor o processo de comunicação. Em suas 256 páginas, o trabalho pode atingir a meta que se estabeleceu e esclarecer as anotações de Charaudeau, tornando-se, portanto, relevante também para iniciantes nas teorias da análise de discurso, especialmente na Teoria Semiolinguística.

Antonio Escandiel de SOUZA – UNICRUZ – Universidade de Cruz Alta. Cruz Alta – RS – Brasil. 98005-000 – [email protected]

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