Espaços da Política / Revista Brasileira de História / 2001

Seis artigos compõem o dossiê Espaços da Política organizado para este número da Revista Brasileira de História. Os espaços da política são aqui tomados como aqueles onde se manifestam as nem sempre explícitas relações de poder e nos quais entram em conflito representações e imaginários sociais.

A revista se abre com o artigo de Vicente Sánchez Biosca que, analisando o documentário Shoah, reflete sobre as relações entre memória e esquecimento, entre o fato e suas representações, entre o poder nazista e o horror dos campos de concentração.

Os dois textos seguintes abordam temáticas latino-americanas. José Luis Bendicho Beired discute a extrema direita nacionalista na Argentina, no período entre as duas guerras mundiais, e seu projeto de dominação continental. Apresenta os fundamentos do discurso desse grupo, mostrando seus objetivos e sua concepção de história. Mary Anne Junqueira estuda a revista Seleções, entre 1942 e 1970 e suas representações sobre o território latino-americano. Toma a idéia de wilderness como central para entender o imaginário norte-americano sobre o Oeste; para a autora, a revista associa o território da América Latina ao Oeste e à wilderness.

Os três artigos que fecham o dossiê são diversificados em seus temas. João Pinto Furtado trabalha com a historiografia sobre a Inconfidência Mineira, procurando desmontar alguns mitos construídos sobre a mesma. Pensa que seus protagonistas não formavam um grupo com forte coesão ideológica que propugnava a construção de um projeto de nação definido. Magnus Roberto de Mello Pereira aborda um tema original pouco trabalhado pela historiografia: o direito de almoçataria nas cidades de Portugal e de sua colônia brasileira. Defende a tese de que o Estado moderno voltado para as políticas públicas nasce pela apropriação das atribuições administrativas da cidade. Finalmente, Ernst Pijning estuda as medidas políticas impostas pela Coroa portuguesa para controlar o contrabando no século XVIII, em particular no Rio de Janeiro. Analisa os diversos interesses conflitantes em jogo, a ambivalência do fenômeno e o fracasso em condenar essas práticas como imorais.

Os artigos que se seguem tem por palco as cidades de Recife e de São Paulo. Virgínia Pontual visita as narrativas de memorialistas que descreveram Recife desde o século XVI até o presente. Constata que as mesmas representações nas narrativas de origem continuam sendo reproduzidas e superpostas às da atualidade. Entretanto, mudam os sinais de positivo no passado para negativo no presente. Maria Inês M. Borges Pinto estuda a produção de parte da intelligentsia paulistana enfatizando suas perspectivas contraditórias sobres nacionalismo e regionalismo. Detêm-se na obra de Mário de Andrade e nas vozes dissonantes de Antônio de Alcântara Machado e Manuel Bandeira.

Luis Humberto Martins Arantes tem a peça de Jorge de Andrade, A Moratória, escrita em 1950, como foco de seu estudo. Tecendo as relações entre teatro e história, mostra como o dramaturgo, ao narrar a decadência das elites cafeeiras na década de 1930, constrói uma representação do “homem brasileiro”. Regina Dalcastagnè estabelece um diálogo entre história e literatura, escolhendo duas obras – O Cortiço e Viva o Povo Brasileiro – de Aluísio de Azevedo e de João Ubaldo Ribeiro respectivamente. Ainda que produzidas em épocas diferentes, separadas por quase um século, a autora mostra como a crítica à violência das relações de dominação social está presente nos dois textos.

O último artigo se debruça sobre as fontes documentais, matéria prima do historiador. Analisa a natureza diversa de fontes para o estudo dos preços de escravos, entre 1871 e 1874, na região do Vale do Paraíba, especialmente, as cidades de Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá e Silveira,.

Este número da Revista Brasileira de História, o primeiro organizado pelo novo Conselho Editorial, concentra uma série de artigos com temáticas bastante originais, elaborados por competentes pesquisadores. É preciso mencionar, ainda, que a edição desta revista contou com os imprescindíveis recursos do CNPq.

Conselho Editorial


Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.21, n.42, 2001. Acessar publicação original [DR]

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