Últimos dossiês DESTAQUE
História e Audiovisual: pode(res), discursos, linguagens, mitos e mitologias políticas | Temporalidades | 2022
Detalhe de capa de História & Audiovisual, de Rafael Rosa Hagemeyer (Autêntica, 2012)
Trata-se de uma experiência interessante refletir sobre o percurso da Revista Temporalidades, desde sua concepção até a sua atual edição, e perceber como os dossiês temáticos apresentados pela Revista dialogam com perspectivas de naturezas distintas em termos de fontes historiográficas. Por meio da diversidade de temas seus textos trazem, associados a historiografia e debates que proporcionam, percebe-se que, de fato, a Revista Temporalidades cumpre o papel que se propõe.
Fiz parte da equipe de concepção e produção da Revista entre os anos de 2013 e 2014, e hoje, quase uma década depois, me sinto lisonjeado de ser convidado a escrever a apresentação da Revista, sobretudo, diante de um dossiê que me compraz e que também faz parte de minha trajetória enquanto discente do Programa de Pós-graduação em História da UFMG e dos seguimentos de minhas pesquisas. Leia Mais
Exílios latino-americanos e solidariedade transnacional durante a Guerra Fria | Cuadernos de Historia – Serie economía y sociedad | 2022
Nações parte da OTAN (em azul) e do Pacto de Varsóvia (em vermelho) | Imagem: Wikipédia
Na América Latina, o exílio, entendido como a exclusão de opositores das esferas públicas e do território nacional, foi um mecanismo central da vida política de diferentes países da região desde o período das guerras de independência e a consolidação dos Estados Nacionais no século XIX, até se converter em parte de sua cultura política.1 Do mesmo modo, o asilo, como correlato do exílio, configura se como figura recorrente, primeiro como tradição e em seguida como instituição jurídica, oferecendo proteção internacional por razões políticas.2
As ditaduras que se instalaram no subcontinente durante a Guerra Fria e seus métodos de repressão massivos provocaram a exclusão e a perseguição de dezenas de milhares de opositores políticos e setores descontentes das esferas públicas e das políticas nacionais. Este fenómeno de massificação dos deslocamentos na região começou com o golpe na Guatemala no ano de 1954 e teve sequência com a ditadura de Fulgêncio Batista em Cuba, até se tornar um padrão a partir da década de 1960. Caracterizou-se pela diversificação do perfil dos solicitantes de proteção internacional de asilo frente à inédita situação dos Estados da região que se aproximaram do sistema universal de proteção de refugiados.3 Leia Mais
Patrimônio Musical Brasileiro | LaborHistórico | 2022
Brasão da Orquestra Lira Sanjoanense
O dossiê temático “Patrimônio Musical Brasileiro” reúne artigos relacionados tanto ao patrimônio musical histórico acumulado em fontes musicográficas e gravações, quanto ao patrimônio musical transmitido pela memória e pelas tradições comunitárias, além das intersecções entre esses dois campos. A proposta visa estabelecer conexões entre esses campos de estudo e contribuir para a integração do conhecimento de todas as formas de patrimônio musical relacionadas ao Brasil, evitando assim sua separação estanque, ainda que se reconheça a especificidade de transmissão e da pesquisa de cada uma delas.
Com este dossiê, desejamos fortalecer o conceito de patrimônio musical e estimular o desenvolvimento de linhas pesquisas a partir dessa ideia nuclear, porém considerando sua diversidade intrínseca, nas representações, celebrações, expressões, construção e uso de instrumentos musicais, manifestações, grupos e lugares associados à memória musical, bem como ao estudo dos conjuntos documentais, organológicos, fonográficos, iconográficos, hemerográficos, bibliográficos e afins, ainda que, do ponto de vista metodológico, predominem na atualidade os trabalhos referentes a estas duas abordagens: Leia Mais
Rememoración: entre agencia y actualidad del passado | História da Historiografia | 2022
Detalle del mural de artista Diego Rivera con el famoso eslogan de Emiliano Zapata: “Tierra y Libertad” | Imagem: Wikipedia
Durante los primeros años del siglo XXI, la opinión pública renovó las querellas provenientes de la filosofía de la historia y de los llamados estudios de la memoria. En el plano político, recientemente, una nueva versión del neoliberalismo —especialmente en América Latina— ha reformulado sus modos de lidiar con los sentidos históricos. Parece haber allí una invitación a la deshistorización del presente, mas que a prima facie se comprende como un dispositivo de un supuesto agenciamiento que impulsaría al sujeto a ser autosuficiente y a conseguir autónomamente sus objetivos. ¿Pero no estaría en la base de dicho empoderamiento el hecho de que aquello que los sujetos van a buscar libremente no es siempre nada muy distinto a lo que ya existe? ¿No daría esto lugar a una formulación hipócrita de usos del pasado, con sus correspondientes relatos, mitos políticos y hazañas de origen? En este contexto, ¿se alojaría el mito en un uso hipócrita del pasado o en la propia pretensión de Verdad? ¿Existiría, en todo caso, un “por fuera” del mito? ¿No estaremos atrapados en el círculo de lo mítico, en el que la fantasía mítica última consistiría, justamente, en pretender escapar de él? Nuevamente es la teoría de la historia la que viene a informar estos interrogantes. La tesis de que la historia no puede ser comprendida como continuum o como historia magistra vitae no ha perdido vigencia y, sin embargo, eso no entra en contradicción con la inapelable necesidad de los distintos sentidos históricos para la acción colectiva.
En este contexto y en la búsqueda de una actualización histórica, la estructuración de las dimensiones temporales se conjuga con lo social, dando lugar a conflictos teóricopolíticos. La intervención de usos del pasado, que disponen de vivencias y recuerdos colectivos, vuelve nuestro tiempo pretérito un campo de batalla. Así, los modos de construcción del conocimiento histórico se ubican en el centro de la escena, despertando disputas por el sentido del pasado y las formas de acceder a él. A su vez, las diversas interacciones entre historia y memoria y memoria y olvido estructuran tanto nuestro espacio de experiencias como nuestro horizonte de expectativas, forjando distintas perspectivas para el futuro y modos de narrar el pasado. Este dossier es un llamado a reflexionar nuevamente sobre los conceptos clásicos y reversionados de la filosofía de la historia, tales como rememoración, experiencia, aceleración, prognosis y estratos del tiempo, entre otros, a efectos de alumbrar la potencia contemporánea, la politicidad, la agencia y las posibilidades para la movilización que presenta la historia. Leia Mais
Ditaduras: revisitando o caso brasileiro | Revista Eletrônica Trilhas da História | 2022
Detalhe de capa de A chegada do III Reich, de Richard J. Evans
“Uns dizem que essa história aconteceu há muitos e muitos anos, num país muito longe daqui. Outros garantem que não, que aconteceu há poucos e poucos dias, bem pertinho. Tem também quem jure que está acontecendo ainda, em algum lugar. E há até quem ache que ainda vai acontecer” (Machado, 1982, p. 5). Assim se inicia a obra já clássica de Ana Maria Machado, Era uma vez um tirano (1982). Num momento de transição do regime Ditatorial brasileiro para a abertura política rumo ao estabelecimento da democracia, ainda que tutelada em muito pelos militares, o livro dedicado ao público infanto juvenil revela um conjunto de elementos sensíveis daquele contexto e, ao mesmo tempo, da fiação da memória e dos fatos ainda prementes na vida daqueles que se afrontaram com um regime ditatorial.
Assim, a ruptura de uma ordem autoritária – sem ferir a experiência da leitura deste livro poderoso – se torna possível pela ação de três crianças e é permeada pela arte. Sem dúvida, historiadores e cientistas sociais são fundamentais, mas escritores, poetas, músicos, cineastas, artistas plásticos e outros artesãos da realidade, foram decisivos na luta e contestação do regime ditatorial. Dessa maneira, “se ainda fosse abril, o que faríamos, sendo em tempo do III Reich?” (1995, p.69). A questão aberta pelo poeta Capinan fica em suspenso. Continua difícil pensar tempos e espaços onde a repressão passou a ser normalizada, nos quais a inquisição retorna como vício constituinte do capitalismo ocidental. Os valores do liberalismo ficam aposentados compulsoriamente sempre que necessário, para que prevaleça a soberana decisão de estabelecer a Ordem. Certa ordem, bom dizer, baseada em desordens subterrâneas e inúmeras ilegalidades. Terrorismo de Estado, como se diz atualmente. Leia Mais
A História Global e as fronteiras na Antiguidade | Fronteiras – Revista Catarinense de História | 2022
Detalhe da Estela de um mercenário em Pátiris (2134–2040 a.C.) | Imagem: Wikipédia
Entre as grandes rupturas culturais do final do século XX, a crise do eurocentrismo – entendido como a cosmovisão que situa a modernidade ocidental como modelo e destino da história universal – foi a que teve mais efeitos no campo historiográfico global. As diferentes áreas do campo reagiram de modos particulares: enquanto a História Econômica e comparada reviu a centralidade da Europa na história mundial (revisão exemplificada na corrente intelectual do ReOrient), a História Social buscou ressaltar a imbricação entre estruturas e agência dos grupos subalternos tanto nas sociedades, quanto nas memórias ocidentais. A História Cultural, por sua vez, ressaltou as tensões implicadas na construção de identidades e representações sociais tais como “civilizado” ou “colonial” (como nas abordagens pós- e decolonial), e a História Ambiental reelaborou as relações entre sociedade e ambiente para além do discurso da “conquista da natureza” ou do “lamento da degradação”.
Neste contexto, novas áreas emergiram, como a História Global, cuja missão de criticar o eurocentrismo e o internalismo metodológico orienta os mais diversos estudos, das macro comparações ao estudo das “micro globalizações”, das redes aos sistemas-mundo, dos impérios em contato aos viajantes, dos processos transnacionais aos fenômenos ambientais globais. Central no projeto da História Global é a crítica das fronteiras projetadas pelas sociedades contemporâneas sobre o passado, sob o efeito dos estados nacionais e suas comunidades imaginadas, o que desvinculou as sociedades de seus contextos concretos. A História Antiga dialogou com estas perspectivas, resultando na promoção de três abordagens significativas: a história dos grupos subalternos antigos, a história da recepção e usos da Antiguidade no mundo contemporâneo, e a história das conexões e contatos entre as várias sociedades antigas em seus contextos mais amplos. Nestas três abordagens, o problema das fronteiras é central e se desdobra em múltiplos aspectos, fronteiras sociais e espaciais, internas e externas, trazendo a necessidade de se revisitar conceitos e metodologias que tomavam este termo como dado. Assim, é preciso refletir como definir as fronteiras entre grupos sociais, como dominantes e subalternos, por exemplo, ou entre segmentos de grupos subalternos. De que maneira Antiguidade foi utilizada em contextos de fronteira no Ocidente, como a América Latina contemporânea? Em relação à História Global, fronteiras como “mundo romano”, “Egito”, “mundo grego”, “África”, estão além da projeção dos estados nacionais sobre o passado antigo, mas de que maneira podemos entender esses limites tendo em vista uma visão êmica de fronteira? Quais eram os contextos nos quais as sociedades se interagiam? Qual era a relação entre fronteiras internas e externas às sociedades? A integração a contextos maiores potencialmente eliminava as fronteiras? O objetivo deste dossiê é refletir sobre os problemas associados aos conceitos de fronteira na Antiguidade. Leia Mais
Iconografia e cultura material da morte no Mundo Antigo | Revista M. | 2022
Morte após a morte na mitologia grega | Imagem: Super Interessante
O DOSSIÊ Iconografia e cultura material da morte no Mundo Antigo é composto por doze artigos que versam sobre diferentes abordagens teóricometodológicas das culturas visual e material da morte nos mundos egípcio, persa, grego, romano, céltico e viking. Trata-se de um dossiê multilíngue, com contribuições em inglês e francês, além do idioma nacional, para o qual contribuem quatorze autores, entre os quais, somando-se aos pesquisadores brasileiros, aqueles ligados nomeadamente a instituições britânicas, gregas e francesas.
Os três primeiros textos abordam o Oriente Antigo. Dois artigos sobre o mundo egípcio trazem contribuições significativas sobre a iconografia funerária, refletindo sobre as interações das imagens com o mundo dos vivos e suas funções em relação ao mundo dos mortos. No artigo Caminhando com Amenemhet em seu funeral: afetando e sendo afetado na Tumba Tebana 123, José Roberto Pellini interpreta as cenas nas paredes das tumbas faraônicas enquanto elementos discursivos com funções que se completam por meio das interações com os vivos. Dessa forma, as imagens criam e afetam o público que frequenta o ambiente funerário, provocando ações e ativando seus significados para os mortos. A interação entre o mundo dos vivos e o dos mortos se dá por meio do mundo visual. Leia Mais
A Literatura como campo e reflexão para a História | Escrita da História | 2021
Detalhe de capa de O Exército de Cavalaria, de Isaac Bábel.
Dialogando com o dossiê da edição passada (História e Linguagens: História. Ficção. Literatura), as discussões propostas no dossiê dessa edição foram estruturadas, basicamente, na ligação entre a História e Literatura, levando em conta as inúmeras intersecções entre as duas perspectivas apontadas.
Como já foi exaustivamente apontado e discutido, a História enquanto uma área de pesquisa científica passou por inúmeras modificações e metamorfoses, deixando de ser apenas uma disciplina de caráter factual e memorialística para tornar-se, no alvorecer do século XXI, uma forma de compreensão da ação humana em suas mais variadas formas e matizes, incorporando elementos de outros campos do saber e sempre aberta à novas formas de se pensar tais aspectos, embora sempre mantendo sua essência e características próprias, tendo em vista a dimensão temporal e as relações advindas desse ponto. Leia Mais
Ensino de História: etnicidade e relações raciais | Crítica Histórica | 2022
Sem Título, Maria Lídia Magliani | Foto: reprodução/Nonada
O dossiê intitulado Ensino de História: etnicidade e relações raciais apresenta um conjunto de textos que problematizam as práticas pedagógicas fomentadas pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. O ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, bem como aquele sobre história indígena já demarcavam o artigo 26 A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (LDB). Mas o Brasil, bem indígena, afro e afro-indígena, ainda sofre com as mazelas geradas pelo eurocentrismo, racismo e pela mentalidade colonial. Esse conjunto de leis orientou o estudo da história e da cultura afrobrasileira e indígena em salas de aula em todo o país, assim como movimentou os currículos dos cursos de História. As pesquisas realizadas, antes das referidas legislações, apontaram que grande parte dos cursos, de base eurocêntrica, “não ofertavam aos futuros professores componentes curriculares relativos à história africana e indígena” (Guimarães, 2022, p. 10).
Em outras palavras, acreditamos que está na hora de realizarmos mudanças políticas substanciais na eleição dos sujeitos da narrativa histórica, mostrando as contribuições dos povos africanos e suas diásporas, bem como as contribuições dos povos indígenas para a história geral. Como responder às grandes questões sociais do mundo contemporâneo sem entender a história da África e da Ásia? Por outro lado, acreditamos também na atuação política dos professores que deveriam se dedicar mais ao mapeamento e criação de práticas educativas antirracistas, do que permanecer denunciando o racismo e afirmando a inexistência de materiais didáticos. Assim, a nossa intenção de discutir práticas pedagógicas antirracistas ainda se faz necessária, e urgente, em um país fortemente marcado por desigualdades sociais e defensor do mito da democracia racial brasileira. Leia Mais