Fundação Rockefeller e o desenvolvimento da Saúde Global: contornos locais e circulações internacionais | História Debates e Tendências | 2021

Fundacao Rockefeller undação Rockefeller

De tempos em tempos, a historiografia passa por transformações que impactam o trabalho dos historiadores e conduzem reavaliações em termos de perspectivas teóricas, conceituais e metodológicas. Tratam-se das reconfigurações nos modos de produção de conhecimento, que alteram os diálogos entre os integrantes de um campoi e produzem novas relações com outras áreas do saber.

O dossiê que apresentamos nesta edição da revista História: Debates e Tendências discute o papel da Fundação Rockefeller na saúde, em uma perspectiva histórica – com a contribuição de pesquisadores de diferentes gerações dos estudos sobre a agência internacional –, e sob a lente de dois conceitos que se impõem como desafios na atualidade: Saúde Global e Circulação.

A Fundação Rockefeller foi criada como uma instituição filantrópica nos primeiros anos do século XX e contribuiu para o desenvolvimento da saúde em diversos lugares do globo, a exemplo da América Latina, África e Ásia. Por meio da International Health Comission (IHC), entre 1913 e 1916; do International Health Board (IHB), de 1916 a 1927; e da International Health Divison (IHD), de 1927 até o seu fechamento, em 1951, financiou escolas de Higiene e Saúde Pública, a formação de agentes sanitários e campanhas de erradicação de enfermidades como a ancilostomíase, a febre amarela e a malária (FARLEY, 2004, p. 2; CUETO, 1994).

Não seria aqui o caso de fazer um balanço historiográfico sobre as perspectivas de análise sobre a atuação da agência filantrópica, o que já foi realizado com excelência em outros momentos por Cueto (2015a, 2020).ii Em síntese, os primeiros estudos sobre a Fundação Rockefeller foram realizados por seus ex-funcionários, que tinham por motivação celebrar o humanitarismo e universalidade da sua filantropia. Na década de 1970, as pesquisas foram marcadas por uma perspectiva crítica, que via a atuação da instituição como ferramenta do imperialismo da política externa norte-americana e, de forma sutil, da ampliação de uma hegemonia cultural. Tais ideias eram influenciadas tanto pela teoria da dependência, que pensava que os centros metropolitanos impediam o desenvolvimento das “periferias”, quanto pelo marxismo presente nos vínculos dos primeiros estudos entre ciência e imperialismo. Já nas décadas de 1980 e 1990, surgiram novas pesquisas que questionaram especialmente três dimensões: refutaram a ênfase exagerada no lado emissor da relação filantrópica; combateram a ideia de que a ciência na chamada “periferia” seria periférica ao conhecimento universal; e, por fim, desarticularam os pressupostos autoritários da agência doadora (CUETO, 2015a, p. 10-11).

Cada uma dessas perspectivas analíticas foi forjada em contextos específicos, orientada pela própria forma como as relações internacionais foram interpretadas ao longo da segunda metade do século XX e pelas formas como seus respectivos autores liam o mundo. Com pesquisadores sérios e engajados na produção do conhecimento científico, esses estudos permitiram a conformação de uma área altamente especializada, pautada em pressupostos consistentes. Sem sombra de dúvidas, debates sobre perspectivas teóricas e metodológicas fornecem a base de sustentação para a complexidade de um campo, nesse caso, o dos estudos sobre a Fundação Rockefeller.

A publicação de um dossiê sobre uma agência internacional de saúde, no momento em que a pandemia de Sars-coV-2 (Covid-19) ainda impacta o mundo, proporciona uma reflexão sobre as formas de governança global e o papel desempenhado pelas instituições internacionais. Os primeiros esforços na área da saúde internacional estiveram ligados à intensificação das pandemias, durante o século XIX. A primeira pandemia de cólera só afetou a Ásia, mas, a segunda, no ano de 1827, demandou um grande número de ações coordenadas por diferentes governos (CUETO, 2015b). Ao longo dos oitocentos, aos poucos, se compartilhou o entendimento de que algumas enfermidades só poderiam ser erradicadas com acordos entre diferentes nações, o que resultou, também, em conferências sanitárias para discutir tais doenças e suas medidas profiláticas.

As agências multilaterais de saúde ganharam destaque e influência global durante o século XX, especialmente a Organização Mundial da Saúde (OMS), criada em 1948 com a missão de “garantir o mais alto nível possível de saúde a todos os povos”, sem distinção de raça, religião, crença política, status econômico ou distinção social. Cueto, Brown e Fee (2019, p. 1) identificam duas perspectivas da OMS que marcaram sua história: durante suas primeiras décadas de existência, a instituição foi reconhecida como líder internacional em questões de saúde e doença, além de ocupar o centro de uma rede global de cientistas, médicos e formuladores de políticas de saúde pública; mas, no final da década de 1980, a agência foi acusada de ineficiência, falta de transparência e de irrelevância, com um sério questionamento sobre o seu papel de autoridade na coordenação em saúde.

Durante a pandemia de Covid-19, os historiadores e cientistas sociais estão sendo chamados a discutir e a compreender melhor as histórias das agências multilaterais de saúde, quando essas instituições ganham, mais uma vez, importância global. Tais agências trabalham na validação do conhecimento científico sobre o vírus que afeta o mundo, na coordenação de testes e na distribuição de vacinas, de modo que os países ricos não sejam os únicos a imunizar suas populações e a reduzir o número de mortes enquanto os países pobres padecem.

Apesar do papel relevante que desempenham, as agências multilaterais não podem ser observadas como ferramentas de “salvação global”. A experiência histórica demonstra que suas atuações não foram desprovidas de interesses, tensões e limitações relacionadas aos contextos nos quais atuaram. Atualmente, o programa Covax Facility, por exemplo, lançado como uma resposta à pandemia pela OMS e por entidades filantrópicas, em abril de 2020, tem como um de seus objetivos auxiliar todas as nações a terem acesso às vacinas de forma justa e igualitária. Mesmo assim, não conseguiu evitar que, nesse momento, os países africanos sejam aqueles que possuem os menores índices de vacinação se comparados aos países com maior poder econômico.iii

Figura 1 – Mapa de vacinação no mundo em 3 de agosto de 2021.

Figura 1 – Mapa de vacinacao no mundo em 3 de agosto de 2021. undação Rockefeller

Fonte: Mapa de vacinação no mundo… 4 ago. 2021.

Este dossiê também parte do compromisso dos seus organizadores com a história e a historiografia da saúde e das ciências. Nos últimos anos, esses pesquisadores se dedicaram à produção sobre a atuação da Fundação Rockefeller, influenciados por conceitos como Saúde Internacional, Saúde Global e Circulação de Conhecimento.iv Esse interesse é resultado da fertilidade dos estudos sobre a Fundação Rockefeller, em constante crescimento desde a década de 1980 no Brasil. Não por acaso, país que recebeu vultuosas quantias da agência internacional para a erradicação de enfermidades e que foi contemplado com bolsas de estudo para médicos e profissionais da saúde, especialmente nos Estados Unidos (SANTOS; FARIA, 2003).

Os conceitos de Saúde Global e de Circulação têm ganhado relevância nas discussões contemporâneas sobre agentes, saberes, práticas e instituições de saúde em perspectiva global. Longe de ser uma questão resolvida, o conceito de Saúde Global é uma “porta aberta” para discussão, a partir das diferentes formas como é utilizado. Segundo Cueto (2020), a ideia de Saúde Global superou a de Saúde Internacional, que era utilizada para se referir às enfermidades, organizações e programas mundiais vinculados à saúde e que teve hegemonia com a criação de agências multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a OMS, na segunda metade do século XX. Acusado de ser uma ferramenta nas mãos dos governos neoliberais, o conceito passou a ser utilizado para denunciar as injustiças sociais e sanitárias, inclusive as emanadas durante a etapa neoliberal, mas ainda precisa superar questões como o nacionalismo metodológico, o domínio de diferentes línguas e o acesso aos acervos pelos pesquisadores, entre outras questões.

Por outro lado, o conceito de Circulação aparece como uma perspectiva importante na desconstrução do binarismo centro-periferia, que por algum tempo esteve no centro das análises que enfocavam a emissão e a recepção de ações, práticas e conhecimentos em saúde. Kapil Raj (2007) é um dos autores que contribui para essa discussão. O autor demonstra como a criação da ciência moderna foi atribuída, historicamente, à Europa Ocidental, desconsiderando as contribuições de outros povosv, como os chineses. Ao problematizar a ideia de que uma “difusão” emana do centro e atinge uma periferia, Raj alerta como os valores morais e políticos da ciência moderna têm sido questionados e como a difusão desses valores ao resto do mundo é posta, atualmente, em questão. Em contraposição:

Essas compreensões, no entanto, são alteradas pela experiência em um processo em constante mudança do qual ambos os lados participam, o que torna tais encontros complexos eventos históricos e momentos de descoberta. Finalmente, historiadores, sociólogos e filósofos da ciência têm, nas últimas décadas, minado radicalmente a compreensão tradicional de que a ciência moderna tem sua própria lógica de desenvolvimento baseada em regras e métodos rigorosos, imutáveis, explícitos e empiricamente testados que estão além dos limites da análise social e histórica. Afastando-se de uma concepção de ciência como um sistema de proposições ou descobertas formais, esses estudos recentes buscam compreender a construção, manutenção, extensão e reconfiguração do conhecimento científico, enfocando igualmente os aspectos materiais, instrumentais, corporais, práticos, sociais, políticos e cognitivos do conhecimento. Optando sistematicamente por estudos de caso detalhados dos processos através dos quais o conhecimento e as habilidades, práticas e instrumentos associados são criados em detrimento das grandes narrativas ou dos relatos do ‘grande quadro’, eles demonstraram a natureza negociada, contingente e situada das proposições, habilidades e objetos que constituem o conhecimento natural (RAJ, 2007, p. 8).vi

Ao considerar os saberes e a atuação de indivíduos “mediadores”, é possível compreender o processo de circulação de conhecimentos, saberes, práticas e ideias. É por meio da interação entre diferentes culturas especializadas na produção de novos conhecimentos que se compreende o conhecimento científico naquilo que o autor define como “zona de contato”. Colocadas as questões que norteiam a organização desta compilação de textos, segue a apresentação dos artigos que a compõem.

O texto de Darwin Stapleton abre o dossiê com um estudo sobre os principais aspectos e resultados do programa de bolsas de estudo oferecido pela Fundação Rockefeller e o seu impacto na globalização do conhecimento em saúde pública entre 1915 e 1940. Segundo o autor, esperava-se que os bolsistas aumentassem seus conhecimentos e habilidades e que contribuíssem com a saúde pública nacional no retorno ao seu país de origem. Stapleton analisa a trajetória da bolsista Lidia LaFace Antinoro, entomologista italiana que se formou na Universidade de Roma. Antinoro não apenas recebeu orientações da Fundação Rockefeller, mas tentou moldar elementos da bolsa nos seus próprios termos. Além disso, o artigo discute a importância dos laboratórios e das estações de campo da Rockefeller, visitados pelos bolsistas, com ênfase na experiência da estação da Andalusia, Alabama, Estados Unidos.

Em seguida, Josep L. Barona analisa o papel desempenhado pela Fundação Rockefeller e pela Liga das Nações (LN) na saúde da Europa, na primeira metade do século XX. Para o autor, a intervenção filantrópica internacional ampliou o compromisso das autoridades políticas com noções de saúde pública, direitos civis, bem-estar e progresso, em um contexto no qual o desenvolvimento da medicina social acompanhou a crescente formação de autoridades independentes, especialistas em saúde. A diplomacia internacional se tornou uma ferramenta essencial não apenas para uma estabilização política, mas também para a negociação de soluções para problemas transnacionais de saúde como a contenção de epidemias e a formação de intercâmbios de profissionais sanitários.

O desenvolvimento de uma saúde moderna na China é analisado por Liping Bu, que discute eventos como a construção do Peking Union Medical College, de postos de saúde urbanos e rurais e a criação de uma administração nacional de saúde, dando visibilidade às dinâmicas locais/globais, às negociações e às personagens que atuaram na elaboração e reelaboração de concepções de saúde, de programas de ensino e de atuação entre a população chinesa. Um destaque está na atuação de John Grant, que introduziu o conceito de eficiência médica, com base em uma prática combinada de medicina curativa, preventiva e medicina estatal, sob a responsabilidade governamental para a saúde das pessoas.

Lina Faria e Luiz Antônio de Castro Santos fazem uma reflexão sobre os modelos de educação no Brasil, partindo da noção de saúde internacional patrocinada por agências como a Fundação Rockefeller, na primeira metade do século XX. A análise se volta para o Relatório Flexner e a sua influência sobre a reformulação do ensino médico em diferentes países. Os autores consideram que as recomendações presentes no documento ainda são relevantes, especialmente sobre a prática médica e a aprendizagem experimental, mas que o modelo de educação preponderante no Brasil possui características daquele elaborado pelo médico, filósofo e líder político francês Pierre-Jean Georges Cabanis, a exemplo das estruturas conceituais lineares com matriz curricular disciplinar, formatos tradicionais de prática pedagógica.

O artigo de Rodrigo César da Silva Magalhães analisa a implementação da Campanha Mundial de Erradicação da Febre Amarela nas Américas e na África, lançada em 1918 pela IHC, da Fundação Rockefeller. Esse programa foi fundamental para testar os limites e possibilidades da saúde global, além de ser marcado por transformações constantes na compreensão sobre vetores e formas de transmissão da enfermidade, a pesquisa internacional em laboratórios e a produção de novos conhecimentos científicos, o que impactou diretamente sobre as bases da campanha e a sua continuidade.

Federico Rayez e Karina Inés Ramacciotti produzem um balanço historiográfico sobre as atividades da Fundação Rockefeller na Argentina no período entre 1930 e 1940. Os autores analisam a importância da agência filantrópica internacional na elaboração de projetos de melhoria na formação de médicos, enfermeiros e cientistas. A atuação da Rockefeller é analisada em conjunto com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), construindo um espaço de promoção de saúde, medicina e pesquisa em perspectiva transnacional.

Soma Hewa se debruça sobre o envolvimento do IHB, da Fundação Rockefeller, num vasto programa de promoção da atenção primária à saúde no Sri Lanka, muito antes da OMS discutir essa questão para os países em desenvolvimento. Hewa acompanha processos como a campanha de controle da ancilostomíase – com foco nos trabalhadores imigrantes na Índia – ainda em 1916; e o programa de saúde com base na comunidade, que englobava prevenção de doenças, educação em saúde e serviços de bem-estar infantil. A filantropia da Rockefeller chegou ao Sri Lanka durante o domínio colonial europeu no início do século XX e teve uma recepção hostil da administração colonial. Os funcionários da Fundação agiram com cautela e ouviram os cidadãos locais no desenvolvimento de estratégias de saúde pública.

A institucionalização da enfermagem na Colômbia, por meio da Direção Nacional de Higiene, é objeto de estudo de Polyana Aparecida Valente e Denise Nacif Pimenta. A partir das trajetórias das bolsistas Jane Louise Cary White, Carolyn Tenney Ladd e Paulina Gomez-Veja, compreendem as complexas relações entre o local e o global, as tensões entre as aspirações dos indivíduos e os projetos mais amplos que atravessam suas vidas. Paulina Gomes-Veja, professora, bacteriologista e primeira mulher colombiana a receber uma bolsa do IHB, em 1926, teve que lidar com as desigualdades de gênero que afetaram (e ainda afetam) a vida de muitas profissionais da saúde. Quando solicitou uma viagem para se doutorar em Ciências e Higiene na Universidade Johns Hopkins, teve o pedido negado devido ao seu envolvimento com o movimento feminista.

Rita de Cássia Marques apresenta as conexões entre a formação internacional do bioquímico José Baeta Vianna e o trabalho desenvolvido em seu laboratório, em Minas Gerais, no Brasil. Dessa experiência, Vianna trouxe conhecimentos que foram reelaborados na formação de seus seguidores. A partir de fontes escritas e registros orais, a autora analisa os aspectos que compõem a atuação em laboratório e as descobertas que envolveram o iodo e o tratamento do bócio endêmico.

O artigo de Jean Segata, Elisa Oberst Varga e Nathália dos Santos Silva conecta interesses de pesquisas antropológicas sobre políticas públicas de saúde que enfatizam os entrelaçamentos multiespécie com o debate histórico sobre as relações entre Estado, ciência e mosquitos no Brasil. Partindo de uma sofisticada etnografia, os autores analisam a implementação e consilidação de uma política de controle do Aedes aegypti, por meio da Equipe de Vigilância de Roedores e Vetores (EVRV), órgão da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMSPA). Passado e presente se encontram nesse texto para mostrar que o mosquito não é apenas um vetor de doenças, mas que agencia ciência, tecnologia, interesses corporativos e modelos de políticas públicas.

O dossiê ainda conta com uma rica entrevista com Marcos Cueto, na qual rememora a sua trajetória como pesquisador, sua aproximação com o Rockefeller Archive Center e com a Casa de Oswaldo Cruz. Além disso, problematiza conceitos como Saúde Internacional/Global, discute os potenciais movimentos de pesquisa sobre agências filantrópicas internacionais e as últimas tendências da historiografia da saúde e das ciências. Na seção Fontes Comentadas, o documento Yellow Fever Prevention: Ways and Means, Survey, Organization and Execution of the Work of the Yellow Fever Commission for Brazil é apresentado por Christiane Maria Cruz de Souza, em uma análise contextualizada, que revela a existência de uma repartição robusta para o controle da febre amarela, com profissionais distribuídos hierarquicamente em diferentes cargos e funções e que atuavam no antigo Norte (hoje Nordeste) do Brasil.

Por fim, um diálogo íntimo com a história das ciências é realizado por Bráulio Silva Chaves ao resenhar o livro O Feroz Mosquito africano no Brasil, de autoria de Gabriel Lopes. A análise segue os rastros deixados por Lopes na introdução do seu livro, um diálogo com Ludwick Fleck e com Carlos Alvarez Maia, e conecta o leitor com as possibilidades de inter-relacionar fatores microssociais e macrossociais, como a agenda da saúde nacional e o papel das agências internacionais, com ênfase na Fundação Rockefeller.

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Esta edição de História: Debates e Tendências também conta com quatro artigos na Seção Livre. No primeiro deles, Vitor Wagner Neto de Oliveira reflete sobre a crise política brasileira, a partir das jornadas de junho de 2013, com ênfase nas táticas da esquerda que definiram os rumos do Partido dos Trabalhadores em suas políticas de aliança. Em seguida, Sandro Aramis Richter Gomes investiga os processos de formação e dissolução do Partido Reivindicador Proletário do Paraná, entre 1933 e 1934. O foco está na organização interna da ação eleitoral dos partidos minoritários que surgiram nos estados brasileiros durante o Governo Provisório.

O texto de Jadir Peçanha Rostoldo expõe, a partir de uma revisão bibliográfica, o debate econômico sobre as teorias do subdesenvolvimento e da dependência, tendo como referência o pensamento econômico desenvolvido pela Comissão Econômica para a América Latina. E Gabriela Lima Grecco e Diego Sebastián Crescentino mostram como a fonte literária é importante para comprender imaginários e representações na construção histórica. Analisam a obra Sagrada Esperança como uma ferramenta política dos dominados, durante o proceso de independência de Angola, para uma conscientização e construção de identidade.

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Convidamos todos os leitores a apreciarem esta edição de História: Debates e Tendências e a usufruírem do vasto conhecimento compartilhado por cada um dos autores que integram este número, a quem deixamos os nossos sinceros agradecimentos!

Notas

i. Para mais informações sobre o conceito de campo científico, conferir Bourdieu (1983).

ii. Em artigo na revista Quinto Sol, em 2020, o autor analisa as tendências de análise da história da saúde global, o que dialoga intimamente com as formas como a Fundação Rockefeller foi interpretada ao longo do tempo.

iii. Conferir: MAPA DA VACINAÇÃO NO MUNDO… Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/67957/mapa-da-vacinacao-no-mundo-quantas-pessoas-ja-foram-imunizadas-contra-covid-19. Acesso em: 4 ago. 2021.

iv. Para mais informações, conferir Batista (2019a, 2019b, 2020a, 2020b, 2020c), Batista e Silva (2020), Batista e Souza (2020), Batista e Ferreira (2021). Além disso, Porto (2017, 2020a, 2020b, 2021).

v. A partir dessa abordagem cultural da ciência, o caráter inato e universal da produção do conhecimento, típico de uma visão eurocêntrica, passou a ser questionado. Tornou-se importante pensar em termos de uma concepção de “tecnociência pós-colonial”, onde se propõe uma simetria de tratamento na análise da ciência fora do eixo ocidental. Isso pressupõe uma compreensão das maneiras pelas quais a tecnociência está implicada na circulação da razão universal, na descrição de modernidades alternativas e no reconhecimento de hibridações, misturas, condições de fronteiras e de interseção entre as culturas científicas distintas (ANDERSON, 2002).

vi. No original: “These understanding, however, are changed by experience in a constantly shifting process in which both sides participate, and that makes such encounters complex historical events and moments of Discovery. Finally, historians, sociologists, and philosophers of science have in the past decades radically  undermined the traditional understanding that modern science has its own logic of development based on rigorous, immutable, explicit, and empirically tested rules and methods which lie beyond the pale of social historical análisis. Moving away from a conception of science as a system of normal propositions or discoveries, these recent studies seek to understand the making, maintenance, extensión, and reconfiguration of scientific knowledge by focusing equally on the material, instrumental, corporeal, practical, social, political, and cognitive aspects of knowledge. Systematically opting for detailed case studies of the process through which knowledge and associated skills, practices, and instruments are created in preference to grand narratives or ‘big-picture’ accounts, they have demonstrated the negotiated, contingent, and situated nature of propositions, skiulls, and objects that constitute natural knowledge.”

Referências

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Organizadores

Ricardo dos Santos Batista – Doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor da graduação em História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Conceição do Coité/ Alagoinhas, BA, Brasil. Pós-doutorando na Faculdade de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9578390926356664. Orcid.org/0000-0002-7959-5929. E-mail: [email protected].

Paloma Porto – Doutora em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisadora Colaboradora do Instituto René Rachou, Fiocruz, Minas Gerais, Brasil. Pós-doutoranda no Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5470316486597126. Orcid.org/0000-0001-8583-6592. E-mail: [email protected].


Referências desta apresentação

BATISTA, Ricardo Santos dos; Fundação Rockefeller e o desenvolvimento da Saúde Global: contornos locais e circulações internacionais. História Debates e Tendências. Passo Fundo, v.21, n.3, p.5-15, set./dez. 2021. Acessar publicação original [IF].

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