Política. El código Chávez – Descifrando la intervención de los Estados Unidos en Venezuela / Eva Golinger

A autora

A doutora Eva Golinger é advogada, especialista em leis internacionais sobre direitos humanos e imigração. Desde 2003, a autora investiga, analisa e escreve sobre a intervenção dos EUA na Venezuela, recorrendo ao Freedom of Information Act (FOIA) para obter informações sobre os esforços do governo norte-americano para minar os movimentos políticos progressistas da América Latina.

Golinger vive em Caracas, Venezuela, desde 2005. Em 2009, venceu o Prêmio Internacional de Jornalismo no México. “La Novia de Venezuela” como é chamada pelo presidente Hugo Chávez, é autora de vários títulos de sucesso como: “The Chávez Code: Cracking US Intervention in Venezuela” (2006 Olive Branch Press), “Bush vs. Chávez: Washington’s War on Venezuela” (2007, Monthly Review Press), “The Empire’s Web: Encyclopedia of Interventionism and Subversion”, “La Mirada del Imperio sobre el 4F: Los Documentos Desclasificados de Washington sobre la rebelión militar del 4 de febrero de 1992” and “La Agresión Permanente: USAID, NED y CIA”.

El Código Chávez – Descifrando la intervención de los Estados Unidos en Venezuela é o seu primeiro livro, sendo publicado no The New York Times, The Washington Post, Newsday, Chicago Tribune, International Herald Tribune, The Wall Street Journal, Los Angeles Times, bem como outros importantes meios de difusão. O livro foi traduzido e publicado em oito idiomas: inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, russo, persa e turco.

O livro

O título do livro, El Código Chávez – Descifrando la intervención de los Estados Unidos en Venezuela, já revela ao leitor a intenção da autora: discorrer afirmativamente e apresentar provas robustas que ratificam as tentativas de intervenção do governo dos Estados Unidos na Venezuela, observadas a partir de uma lista de documentos disponibilizados no livro.

Em 2003, respaldada na Lei de Liberdade de Informação dos Estados Unidos (FOIA), Eva Golinger, com o apoio do jornalista Jeremy Bigwood, começou a investigar a ingerência estadunidense no golpe de 2002 contra o presidente Hugo Chávez, descobrindo que na ocasião, mais de 20 milhões de dólares foram investidos pelo governo norte-americano no financiamento de grupos “antichavistas”.

O presidente Hugo Chávez foi eleito em 1998 e reeleito em 2000, após a Assembleia Constituinte. Em 2002, Venezuela atravessava um momento extremamente delicado. As dificuldades no combate ao crime organizado, a pobreza generalizada e a corrupção, somados a uma crise econômica decorrente na queda nos preços do petróleo, tensionaram as relações entre o governo e setores da população venezuelana.

Os empresários estavam profundamente descontentes com algumas medidas adotadas pelo presidente Chávez, como por exemplo, um pacote de leis criada e aprovada que assegurava a expropriação de terras para a exploração de petróleo. As relações diplomáticas com os EUA também foram acentuadamente comprometidas. O relacionamento amistoso entre a Venezuela e Cuba e o discurso anti-estadunidense acabou provocando um clima de insatisfação nos EUA. Aproveitando esse período de forte tensão entre EUA e Venezuela, a NED quadruplicou seu financiamento no território venezuelano e a oposição cresceu assombrosamente.

Nesse cenário de instabilidades, vários protestos populares, sobretudo os de grupos vinculados ao setor petrolífero, amparados por militares, questionaram as políticas adotadas pelo governo venezuelano. O momento crucial ocorreu quando o presidente Hugo Chávez destituiu executivos da PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A). Imediatamente foi organizada uma greve geral prevista para durar 24 horas. Um grande número de descontentes aderiu a manifestação que se iniciou no dia 10 de abril de 2002 e se estendeu por dois dias.

Conforme relatos no livro El Código Chávez, a violência havia se instalado por toda parte. Vítimas de ambos os lados das concentrações foram atingidas por disparos. No calor dos conflitos, Ramírez Pérez acusou Chávez pelas mortes e conclamou uma insurreição militar. A autora sugere que houve manipulação das imagens dos confrontos, feitas em estúdios, e que circularam por todo o mundo com o objetivo de justificar a renúncia do presidente Chávez.

No dia 12 de abril de 2002, o Palácio foi tomado pelos líderes da oposição e Pedro Carmona, chefe da Fedecámaras, foi nomeado presidente provisório da Venezuela, governando o país por 24 horas. Os seguidores de Chávez tomaram as ruas e exigiram o retorno do presidente deposto. 48 horas depois, Chávez ressurge, reassumindo o governo da Venezuela.

Em outubro de 2004, Eva Golinger teve acesso a documentos ultrassecretos da CIA, mas considerados “desclasificados” graças a Lei de Liberdade de Informação (FOIA). Esta assegura aos pesquisadores a obtenção de informações sobre o governo norte-americano e suas ações. Os documentos analisados pela autora revelam o conhecimento prévio e a cumplicidade da gestão de George Bush com o golpe de estado.

Suas análises investigativas não apenas pretendem comprovar a ingerência dos EUA na Venezuela, como também contribui de forma significativa para reforçar a consciência dos venezuelanos acerca desse intervencionismo.

O livro apresenta inúmeras solicitações a diversos organismos norte-americanos como o Departamento de Estado, Departamento de Defesa, Exército, CIA (Agência Central de Inteligência), Comando Sul dos EUA, Departamento de Agricultura, NED (Fundação Nacional para a Democracia), USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), entre outros, para que tivessem acesso à documentação referente à Venezuela. Trata-se, portanto, de uma pesquisa longa e de acordo com Eva, sem data prevista para a sua conclusão. Ainda segundo a autora há uma demora proposital dos EUA em atender as solicitações da FOIA, até como estratégia para evitar que a informação chegue ao público.

Boa parte do livro aborda documentos relevantes que corroboram a intenção norte-americana no Golpe de 2002 na Venezuela. O leitor encontrará na obra organogramas que explicam a estrutura geral do fluxo de dólares estadunidenses na Venezuela, assim como resumos de projetos aprovados da NED (National Endowment for Democracy) para a Venezuela, doações e informes da missão da NED, uma entidade privada, sem fins lucrativos e que teria sido criada para apoiar o crescimento e fortalecimento das instituições democráticas em todo o mundo, mas à serviço da CIA, salvaguardando os interesses norte-americanos. É disponibilizado ainda uma lista detalhada dos documentos “desclasificados” do Departamento de Defesa e do Departamento de Estado.

Há alguns anos foram solicitados pela autora a abertura de outros arquivos, quiçá ainda mais comprometedores e que trazem evidências claras sobre os planos do governo Bush contra a gestão de Chávez, embora os EUA neguem veementemente ciência dos detalhes do golpe contra o presidente venezuelano em abril de 2002.

O livro traz relatos que mostram a presença de embarcações e aeronaves norte-americanas em território venezuelano, sem autorização, por ocasião do golpe.

Também são apresentados no livro documentos confidenciais que revelam que os EUA tinham ciência dos detalhes do golpe contra o presidente venezuelano Hugo Chávez.

A investigação meticulosa de Golinger objetiva esclarecer, especialmente ao povo venezuelano, a participação norte-americana numa rede de conspirações premeditadas em aliança com a oposição venezuelana com o propósito de fragilizar o processo democrático no país.

Por ocasião foi atribuído a Chávez a imagem de um vilão autoritário, uma ameaça terrorista. Nesse contexto, a NEDatuaria “promovendo a democracia”, apoiando entidades como partidos políticos, sindicatos, movimentos de dissidentes e meios de imprensa. Tendo investido mais de 20 milhões de dólares, justamente nos setores da oposição responsáveis pela paralisação petroleira e na campanha do referendo, e como consta no livro, financiando alguns dos que apoiaram o golpe militar de 2002.

Semelhante à NED, a USAID, outra entidade norte-americana, criada para o desenvolvimento internacional, mas que na verdade funcionaria como instrumento de penetração da CIA na sociedade civil injetando “legalmente” milhões de dólares desviados de grande parte de seus fundos para apoiar movimentos políticos no exterior que iam ao encontro dos interesses dos EUA.

De acordo com a autora, trata-se de um fundo adicional que a CIA utilizava para as suas intervenções encobertas, tendo sido criado, inicialmente, com o objetivo de desenvolvimento de ajuda humanitária no mundo.

O livro fala sobre os investimentos milionários que a USAID e a NED têm sistematicamente investido na Venezuela desde 2001, a fim de fomentar conflitos e instabilidade sob o discurso da “promoção da democracia”.

O objetivo, portanto, da pesquisadora é mostrar ao leitor detalhadamente como os Estados Unidos articularam seu plano de intervencionismo e de subversão para a América Latina.

O golpe fracassou, mas, de acordo com Eva, isso não significa que não tentarão em outro momento, e que não se pode desconsiderar o poder e a inteligência estratégica do governo dos EUA. Por outro lado, não se subestima a força e a determinação dos venezuelanos. Povo aguerrido em sua luta por justiça, tendo na figura de seu líder um referencial.

Resenhista

Dulcien GomesGraduanda em História pelo Centro Universitário La Salle (UNILASALLE)/RJ. Pesquisadora do LEBATP (Laboratório de Estudos Brasil e América no Tempo Presente) da mesma Instituição.


Referências desta resenha

GOLINGER, Eva. Política. El código Chávez – Descifrando la intervención de los Estados Unidos en Venezuela. La Habana: Editorial de Ciencias Sociales, 2005. Resenha de: GOMES, Dulcien. Boletim do Tempo Presente, Rio de Janeiro, n.7, p.1-5, 2013. Acessar publicação original. [IF].

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