História e Religião / Revista Mosaico / 2009

Há muito tempo alguém escreveu que a característica básica do mundo religioso é a presença do sagrado. Este seria meio indefinível, fugaz, mais emocional que racional, algo que ficaria contido nas profundezas subjetivas da fé. As Ciências Humanas, desde os grandes clássicos, tem adotado outra postura, na tentativa de explicar esses mistérios que tanto fascinam os povos.

A história cultural tem renovado o campo dos estudos religiosos. Busca-se o enfoque mais na experiência que nas regras, mais nos sujeitos que nas instituições. Este número da revista Mosaico traz em sua seção Dossiê um conjunto de sete textos enfatizando as possíveis relações entre História e Religião.

No primeiro artigo, Considerações sobre a trajetória inicial da arqueologia bíblica, Gabriella Barbosa Rodrigues e Pedro Paulo A. Funari procuram descrever como os inícios da arqueologia bíblica estão marcados por uma mistura de interesses políticos, econômicos, científicos e apologéticos, que demarcaram a investigação.

No texto Nas catacumbas de Roma: uma ‘história da morte’ para reconstruir vidas, Ivoni Richter Reimer procura mostrar como as imagens e inscrições das catacumbas de Roma preservam a memória de mulheres e crianças e como o uso de referenciais da ‘história da morte’ e da intertextualidade habilita ao entendimento do imaginário, revelando parte da vida destas pessoas no contexto familiar e eclesial.

Wilhelm Wachholz, em seu texto Identidades forjadas na interdependência: o caso católico e protestante no Brasil do século XIX, procura mostrar como a inserção e o estabelecimento do protestantismo no século XIX forjou uma nova identidade religiosa no Brasil. Esta foi construída, basicamente, em embates com o catolicismo romano. Foi, portanto, na différance, que delimita as fronteiras simbólicas de cada um, através de discursos de oposição ao outro.

No artigo Ciência e religião: a relação entre médicos e religiosos no instituto de psiquiatria do HCUSP, Luiza Maria de Assunção busca perseguir a pergunta acerca do nível em que se dá a relação entre ciência e religião na atualidade, por meio de pesquisas sobre a relação da medicina psiquiátrica e com a capelania religiosa do Instituto de Psiquiatria do HCUSP, composta pelo serviço religioso católico e evangélico.

Com o texto Sacerdotisas do Sertão: histórias religiosas, Jocyléia Santana Dos Santos busca narrar a história de mulheres que implantaram a religiosidade da denominação batista entre o final da década de 1930 até o início dos anos 1980 na região norte do estado de Goiás.

Lourival Andrade Junior, em seu texto Acendam seus Cigarros: cigana Sebinca Christo e a religiosidade não oficial, busca como se dá a constituição da religiosidade não oficial no contexto da cidade de Lages, em Santa Catarina, analisando a trajetória da cigana Sebinca Christo e a reverência que ela desperta, principalmente, post mortem.

Por fim, André Luiz Caes, em A “Orientalização do Ocidente”: elementos reflexivos para a compreensão da interação e integração entre os valores religiosos orientais e ocidentais, busca mostrar como no campo de estudo das chamadas Ciências da Religião, nas últimas décadas, a interação entre os valores religiosos ocidentais e orientais tem sido um tema de grande interesse. Ele reflete sobre a tese da “orientalização do Ocidente”, a qual propõe que as crenças e valores religiosos do Ocidente estão em processo de substituição pelas crenças e valores religiosos característicos das religiões orientais.

Na seção Artigos figuram dois textos. No primeiro, “Em busca do tempo perdido”: contribuição ao estudo da cidade contemporânea, Eda Goes aborda a questão da violência, no âmbito dos estudos sobre a cidade contemporânea, buscando demonstrar a importância dos estudos históricos entre as pesquisas interdisciplinares necessárias ao enfretamento da complexidade que caracteriza o urbano. Utilizando principalmente entrevistas, a autora volta sua atenção às representações sociais da violência e a sua expressão, material e simbólica, nas realidades não metropolitanas do Estado de São Paulo.

O segundo texto, de Jales Guedes Coelho Mendonça, intitulado A queda de Bonfim e a escolha prévia de Campinas, aborda também a história urbana. Estuda como foi a tomada de decisão acerca do local para a construção, do que seria, a nova capital do Estado de Goiás.

Na seção de Resenhas, trazemos uma análise da obra Cristianismos no Brasil Central (Editora da UCG, 2008), escrita por Raquel Miranda.

Por fim, na seção Resumos de dissertações, são apresentados os resumos de duas dissertações defendidas no segundo semestre de 2009 no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em História na Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Agradecemos a ajuda do academico de direito Cassius Dunk Dalosto pela ajuda na leitura e formatacao dos textos, bem como ao doutorando Claude Detienne pela traducao dos resumos ao inglês.

Desejamos bom proveito na leitura!

Eduardo Quadros – Professor da Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Haroldo Reimer – Professor da Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de Goiás


QUADROS, Eduardo; REIMER, Haroldo. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.2, n.2, jul. / dez., 2009. Acessar publicação original [DR]

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