Arquivos Escolares: desafios à prática e à pesquisa em história da educação / Revista Brasileira de História da Educação / 2005

Os arquivos escolares têm emergido nos últimos dez anos como temática recorrente no campo da história da educação. Relatos de experiências de organização de acervos institucionais, narrativas sobre as potencialidades da documentação escolar para a percepção da cultura escolar pretérita (e presente), publicação de inventários e guias de arquivo, elaboração de manuais e reprodução de documentos (digitados ou digitalizados) vêm mobilizando investigadores da área, renovando as práticas da pesquisa e suscitando o uso de um novo arsenal teórico-metodológico.

O interesse pela singularidade no tratamento das diversas fontes para a produção historiográfica, manifesto em décadas precedentes, já tinha forjado um deslizamento em direção à história, à teoria da linguagem e à antropologia, dentre outras disciplinas, impelindo à busca de documentação sobre o passado educacional em arquivos públicos, institucionais e particulares, e mesmo à elaboração de documentos pelo recurso à história oral. O esforço de sistematização das informações e sua disponibilização, então iniciado, pela própria magnitude do projeto, demandaram a constituição de grupos de pesquisa, cujo funcionamento regular propiciou a extensão do mapeamento das fontes documentais.

A esse movimento tem-se entretecido, mais recentemente, a preocupação com a preservação de acervos e a atenção aos primados da arquivística e da museologia, enredando os historiadores da educação na discussão sobre a cultura material, o exercício do arquivamento e do descarte e as técnicas específicas de conservação de cada suporte ou objeto. Tais interlocuções têm ampliado ainda mais o horizonte do trabalho em história da educação, ao mesmo tempo provocando fissuras no que se considera a seara do historiador e questionando fronteiras disciplinares.

Ao lidar com os arquivos mortos de escolas, os investigadores têm sido instados a mobilizar a comunidade escolar e atentar para seus anseios. A literatura vem demonstrando a importância em associar alunos, professores e funcionários à organização e manutenção dos acervos escolares, na certeza de que a perenidade dessas iniciativas repousa no seu acolhimento pelo efetivo da escola. Despontam, assim, argumentos em defesa da necessidade de integrar o funcionamento da secretaria à prática do arquivo permanente, gerando instrumentos de trabalho próprios ao universo documental da escola; e sobre a relevância em tornar o arquivo vivo, seja pela participação de alunos e professores na atividade de organização e guarda do acervo, seja pelo uso de alguns documentos escolares em sala de aula.

Em contrapartida, a percepção de que os objetos e móveis localizados nas instalações escolares estão intrinsecamente ligados à constituição das práticas escolares atuais e antigas, tecendo com os documentos textuais e fotográficos múltiplas histórias da escola e da educação, tem levado pesquisadores a problematizar as balizas que tradicionalmente distinguem documentos arquivísticos e museológicos e a advogar o não desmembramento dos acervos escolares.

Os artigos aqui reunidos exploram a interdisciplinaridade dessas iniciativas, trazendo matizes das discussões recentes, nas quais o entrelaçamento das atividades de campo à reflexão teórico-metodológica confere densidade à análise. São várias as abordagens. Ora, a ênfase recai sobre a tarefa metódica e minuciosa da organização do acervo, detalhando as ações realizadas e os obstáculos superados. Ora, o interesse volta-se para problematizar as relações entre arquivos, história e história da educação. Os autores são, todos, pesquisadores em história da educação, embora tenham distintas formações (história, pedagogia e matemática) e diversas inserções institucionais (professores e arquivistas). E participaram do I Encontro de Arquivos Escolares e Museus Escolares, realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em História da Educação (NIEPHE), na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), entre 26 e 28 de julho de 2005.

Com o objetivo de contribuir para a consolidação dos trabalhos sobre a temática, sistematizando e socializando o debate, o encontro congregou pesquisadores portugueses e brasileiros das várias regiões, na expectativa de propiciar intercâmbios e estimular ações conjuntas. A proposição do presente dossiê reitera esse convite, reconhecendo que os desafios à prática e à pesquisa em história da educação que o convívio com os arquivos escolares suscita vêm sendo enfrentados de maneiras variadas pelos investigadores da área.

Diana Gonçalves Vidal


VIDAL, Diana Gonçalves. Apresentação. Revista Brasileira de História da Educação. Maringá, v.5, n.2, jul. / dez., 2005. Acessar publicação original [DR]

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