Invenções da Idade Média: óculos, livros, bancos, botões e outras inovações geniais – FRUGONI (HH)

FRUGONI, Chiara. Invenções da Idade Média: óculos, livros, bancos, botões e outras inovações geniais. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 184 p. Resenha de: CAVALCANTE, Felipe Cabral. História como entretenimento: o prazer que pode ser proporcionado por uma obra do conhecimento histórico. História da Historiografia. Ouro Preto, n. 6, p.218-220, março 2011.

O livro resenhado não é uma obra que contenha, como o título atesta, todas as invenções da Idade Média e, portanto, venha a servir como manual para a busca de aparatos criados naquele período histórico; no entanto, é inegável sua utilidade como fonte introdutória sobre o tema.

A confusão foi causada pela tradutora que, ao transpor o título da obra para o português, promoveu uma pequena alteração. O título original, em italiano é: “Medioevo sul naso: occhiali, bottoni e altre invenzioni medievali”, que em português traduz-se por “A Idade Média sobre o nariz: óculos, botões e outras invenções medievais” ao invés de, como optou a tradutora Eliana Aguiar, “Invenções da Idade Média: óculos, livros, bancos, botões e outras inovações geniais”.

O livro tem o objetivo de, como a metáfora1 do título original subentende, mostrar “invenções” da Idade Média que utilizamos até hoje sem que percebamos, mas que estão “bem debaixo de nossos narizes”. Além disso, através desses inventos, pretende mostrar o cotidiano da Baixa Idade Média, especificamente, do período que se convencionou chamar de Renascimento, por meio das mudanças que esses novos aparatos provocaram nos hábitos cotidianos das pessoas.

A escritora do livro, a historiadora Chiara Frugoni, filha do grande medievalista Arsenio Frugoni, nascida em Pisa, concentra seu recorte geográfico de estudo na Itália,2 e, ao escrever sobre as invenções, utiliza obras já publicadas sobre o assunto, mesclando suas informações em uma só, na tentativa da construção de uma genealogia o mais exata possível sobre a invenção de determinado aparato.

Dentre as obras utilizadas há um destaque para Decameron, de Giovanni Boccaccio e Il Trecentonovelle, de Sacchetti, além da utilização da análise semiótica de diversas imagens, constando na obra uma média de 100 ilustrações, todas previamente interpretadas pela autora.

Sobre o método de escrita da autora, observa-se que ela utiliza em seu discurso a primeira pessoa, ao fazer comparações entre nossos dias e a Idade Média; fora isto, o discurso, em geral, é feito em terceira pessoa.

Como já mencionado, cada capítulo do livro constitui-se em um resumo de obras já publicadas sobre o assunto, mas, o que realmente merece destaque no livro, além das diversas ilustrações analisadas no decorrer da obra, são as notas de rodapé, por constituírem uma fonte “riquíssima” para um aprofundamento maior de cada questão introduzida pelo livro, pois possuem indicações de leituras auxiliares, além de exporem as citações diretas, ou seja, os trechos tirados das fontes primárias em sua língua original, para que possa ser feita a comparação entre o original e a tradução.

Sobre a exposição factual cronológica, percebe-se não se tratar, necessariamente, de algo feito de maneira diacrônica, considerando a existência de certos momentos sincrônicos, nos quais são feitas comparações para, em seguida, ser possível retornar ao diacronismo, sempre tentando unir um fato ao outro, para demonstrar que as mudanças, ocorridas na Idade Média, não ocorreram de forma isolada, mas sim, juntas, sendo que algumas, como demonstra a autora, foram consequência de outras.

Invenções da Idade Média – um livro que foi escrito em 2001, mas que só recebeu tradução para o português em 2007 – desmistifica o falso modelo convencionado de que a Idade Média teria sido a Idade das Trevas.

Não se trata de um manual prescritivo, mas sim, de uma leitura sugestiva aos interessados em aprofundar conhecimentos sobre o assunto, tanto pela sua abrangência sobre diversos temas, quanto pela diversa bibliografia indicada pelas notas de rodapé. Além disso, não se constitui apenas em uma obra para estudo, mas também para entretenimento, devido ao emprego de uma linguagem simples, a qual foi transposta também pela tradutora, tornando a leitura bastante agradável.

Notas

1 “Sobre o nariz”.

2 Provavelmente por ela ser italiana.

Felipe Cabral Cavalcante – Graduando Universidade Federal do Amazonas. E-mail: [email protected] Rua Monte Castelo, 16, conjunto Coophasa – Nova Esperança 69037-430 – Manaus – AM Brasil.