Cultura Celta e Germânica / Brathair / 2010

Entendendo a cultura como um repositório das tradições, hábitos, costumes e objetos do cotidiano produzidos por um povo, dedicamos esta edição à cultura celta e germânica, com artigos e resenhas produzidas por docentes e pesquisadores de instituições do Brasil e da Europa.

Com relação aos germanos, dois artigos trabalham com a religiosidade cristã e a visão dos clérigos sobre os visigodos e os suevos. Enquanto Ronaldo Amaral (Univ. Fed. do Mato Grosso do Sul) se concentra nas “faces do mal” no relato hagiográfico Vita Sancti Frutuosi (VSF), Leila Rodrigues da Silva e Rita de Cássia Damil Diniz (Programa de Estudos Medievais da UFRJ) analisam o pensamento de dois bispos de origem hispânica, Idácio de Chaves e Isidoro de Sevilha, sobre os suevos, enfocando as suas atividades de pilhagem, relacionamento com o poder romano e com outras populações da região, segundo o pensamento desses religiosos, nas obras Crónica, de Idácio, e Historia de los Godos, Vándalos y Suevos, de Isidoro.

A construção da memória na Inglaterra relacionada ao passado anglo-saxão e celta, associado a imagens de heróis míticos, é abordada por Angélica Varandas (Univ. de Lisboa) e por Nazareth Lobato (Univ. Fed. do Rio de Janeiro). Varandas, com base na conceituação de Campbell sobre o herói, analisa as figuras de Beowulf e Gawain, mostrando suas características e os traços que proporcionam um rompimento entre o herói medieval e o da Antiguidade, além de enfatizar a importância daqueles dois guerreiros na constituição do passado inglês. Lobato analisa outro importante personagem, o anglo-saxão Robin Hood e sua construção na narrativa cinematográfica, em especial no filme The Adventures of Robin Hood (As Aventuras de Robin Hood), 1938, dirigido por Michael Curtiz e William Keighley.

Especificamente sobre a cultura celta, temos quatro artigos. A cineasta portuguesa Antonieta Costa, com base em tradições da ilha dos Açores reabilita a cultura imaterial de Portugal, que tem por base tradições célticas. Celia Ruiz (Univ. de Valladolid) analisa o papel das festas e banquetes na cultura irlandesa através das celebrações narradas no Leabhar na hUidre (The Book of the Dun Cow , c. XI) e Leabhar Laighneach (Book of Lecam, s. XII).

Monica Amin (Univ. Federal do Rio de Janeiro) aborda a importância do papel feminino entre os celtas. Amin analisa a imagem das mulheres e seu papel na educação dos jovens como mestras de armas, das artes, da magia e como iniciadoras sexuais, através das narrativas do Mabinogion (conjunto de contos galeses).

Quanto às resenhas, Pedro Paulo Funari (Univ. de Campinas) analisa o livro Les royaumes barbares em Occident (2010), de Magali Coumet & Bruno Dumézil, que constitui uma importante contribuição para a compreensão dos povos germânicos na Europa Ocidental e na formação do Feudalismo. Os autores contestam a visão tradicional das “grandes invasões” e da “queda de Roma” e defendem as relações de negociação entre romanos e germânicos e da sua penetração no império pelo sistema alianças (foedera) e hospitalidade (hospitalitas) a partir do século IV. Também discutem a influência do cristianismo de tipo ariano sobre esses povos e a formação dos reinos germânicos no século V.

Já Daniele Gallindo Gonçalves Silva (Otto-Friedrich-Universität Bamberg) discorre sobre o Livro de Peter Dinzelbacher, Warum weint der König? Eine Kritik des mediävsitischen Panritualismus, que aborda o panritualismo e a crítica do autor a esse tipo de “modismo” nos estudos na medievística alemã.

Desejamos aos leitores um verdadeiro mergulho no entrecruzamento das culturas celta, germânica e romana e convidamos a todos a uma excelente incursão nos artigos e resenhas do dossiê “Cultura Celta e Germânica”.

Adriana Zierer – Professora Doutora (UEMA). E-mail: [email protected]


ZIERER, Adriana. Editorial. Brathair, São Luís, v.10, n.2, 2010. Acessar publicação original [DR]

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