Estudos Vikings / Brathair / 2011

Desde os anos 1960, os Vikings vem recebendo reavaliações e novos estudos por parte dos acadêmicos. Tanto o impacto das conquistas, colonizações e influências culturais dos escandinavos, quanto investigações da própria sociedade nórdica, estão despertando novas possibilidades de conexões e de entendimentos para a Alta Idade Média. Muito mais do que simples bárbaros que aterrorizaram o litoral europeu, a Era Viking constituiu um dos mais importantes períodos do medievo, estabelecendo rotas comerciais e culturais entre o mar do Norte, o Mediterrâneo e o mundo oriental; nesta época surgiram importantes cidades, como Dublin e Kiev, e outras foram reorganizadas outras, como York; o importante ducado da Normandia na França foi estabelecido; colônias foram instaladas em áreas inóspitas e marginais ao mundo Ocidental, como o leste russo, o norte da Escócia e o Atlântico Norte. A tradição oral dos povos escandinavos deu origem a uma das mais importantes produções literárias do medievo, as sagas islandesas, e sua mitologia possui repercussão mesmo na sociedade atual.

No Brasil, os estudos escandinavísticos estão tendo um início de muito fôlego. A revista Brathair concede espaço para as pesquisas desta área há muitos anos, como a edição especial “Sagas islandesas”, publicada em 2009 (edição 9(1)), e o Simpósio Nacional e Internacional de Estudos Celtas e Germânicos, organizado pelo grupo BRATHAIR que desde 2004 vem promovendo atividades relacionadas aos estudos nórdicos.

Mais recentemente, a criação do NEVE, Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (www.nevevikings.tk), demonstra um segundo amadurecimento da escandinavística em nosso país. Seus membros, integrantes de vários programas de pós-graduação e universidades brasileiras, iniciam uma articulação entre as mais variadas pesquisas e temas da Escandinávia Medieval. Prova disso é que a maioria dos trabalhos apresentados na presente edição da revista Brathair, são de pesquisadores vinculados ao NEVE.

Inicialmente, Solange Ramos de Andrade e Flávio Guadagnucci Palamin, discutem o tema da juventude, da velhice e da morte nas Eddas, as mais importantes fontes para o estudo da mitologia escandinava.

O artigo de Renan Marques Birro, Siward da Northumbria († 1055) e a Batalha dos sete dormentes (c. 1054), investiga algumas questões biográficas e ideológicas das narrativas escandinavas.

Em seguida, João Bittencourt analisa a questão das localidades britânicas que receberam denominações de origem nórdica, estabelecendo importantes conexões entre toponímia e lingüística na Europa Setentrional.

Por sua vez, Grégory Cattaneo investiga o tema da subsistência, alimentação e carestia na Islândia Medieval.

Eduardo Consolo dos Santos reflete sobre as representações de Átila na Canção dos Nibelungos, outra importante fonte literária medieval.

Claire Musikas investiga o tema das viagens para a Índia na Eireks saga víðförla, demonstrando que as sagas lendárias podem servir para importantes estudos sociais e culturais da Escandinávia Medieval.

A edição ainda apresenta uma resenha de Grégory Cattaneo para a edição italiana do Hávámal, um dos mais famosos poemas éddicos; e o livro Os três dedos de Adão, uma coletânea de ensaios sobre mitologia medieval, de autoria de Hilário Franco Júnior, resenhado por Ruy de Oliveira Andrade Filho.

Em seguida, duas importantes traduções inéditas em língua portuguesa, abordado fontes da literatura escandinava medieval: A vida e a paixão do conde Waltheof, por Renan Marques Birro; e A Saga de Hálfdan, o Negro, por Pablo Gomes de Miranda.

A edição encerra-se com uma entrevista com Neil Price, uma das grandes autoridades mundiais em Arqueologia Escandinava da Era Viking.

Esperamos que a presente edição da revista Brathair desperte o interesse do leitor para os estudos escandinavísticos em nosso país, ainda não consolidados academicamente, mas com certeza, com um futuro muito promissor.

Johnni Langer – Professor Doutor (UFMA / BRATHAIR). NEVE, Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos. E-mail: [email protected]


LANGER, Johnni. Editorial. Brathair, São Luís, v.11, n.1, 2011. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê