Realismo, História e Ficção/Cadernos de Pesquisa do CDHIS/2021

A emergência do paradigma realista na produção cultural europeia em meados do século XIX é capítulo chave na história das formas de representação. As proposições e debates que ajudaram a definir o estatuto das artes plásticas e da literatura ficcional também estabeleceram parâmetros de sentido para gêneros letrados como a historiografia. Se as convenções da história literária indicaram a formação de uma escola, ou de um estilo, observa-se que o realismo norteou práticas de representação interessadas na descrição, e na apreensão, da realidade. Mais do que um programa estético circunstancial, o realismo pode ser pensado como problematização recorrente das relações entre imaginação, forma e narrativa. Leia Mais

História & poesia épica | ArtCultura | 2019

Além de nos oferecer a primeira exposição doutrinária a respeito do gênero épico, Aristóteles, em sua Poética, registrou as diferenças entre poesia e história: a primeira, no seu entendimento, volta-se para ações possíveis, plausíveis e/ou prováveis; a segunda, por sua vez, é concebida como narrativa sobre a alétheia dos acontecimentos, detendo-se no particular. Em suma, a história teria por objeto verdades desprovidas de ornamentos ou floreios linguísticos e a poesia, por ser mais filosófica e, consequentemente, universal, não precisaria se ater à sucessão cronológica dos fatos: quando trata de matérias históricas, ela o faz em detrimento da verossimilhança.1 As distinções sugeridas, no entanto, não devem ofuscar os nexos existentes entre o canto poético do aedo inspirado e as narrativas históricas registradas como fruto de testemunhos (in)diretos. Os trabalhos reunidos neste dossiê levaram em consideração os preceitos aristotélicos e analisaram diferentes epopeias com base em seus códigos linguísticos, concebendo-as como fontes promissoras, e não mais como obras de “ficção” românticas potencialmente ricas em epígrafes, como se integrassem as margens da história. Leia Mais

A instituição retórica e a sua longa duração/Cadernos de Pesquisa do CDHIS/2018

Na segunda metade do século XVIII, a literatura romântica suplantou a longeva instituição retórica. Por outras palavras, uma “arte nova” ancorada nos regimes de estética suprimiu os diferentes gêneros retórico-poéticos surgidos em tempos remotos. Não obstante, é recorrente (e problemática) a adoção indiscriminada do conceito de “literatura”, como se seus fundamentos fossem universais e/ou atemporais. O presente dossiê, multívio como o herói Odisseu, reuniu trabalhos sobre diferentes práticas letradas a partir de seus códigos linguísticos, concebendo-as como objetos tecnicamente arranjados e cuidadosamente articulados com base nos estilos e preceitos do gênero ao qual se afinam. Ater-se a esse universo significa considerar a historicidade das letras e, simultaneamente, da retórica que as organiza. Leia Mais