História e Culturas Políticas / Sæculum / 2011

Nos últimos tempos a produção historiográfica tem passado por uma renovação no campo da história política, após um longo período de certo ostracismo. Essa nova história política vai além do campo institucional na maneira de explicar e interpretar os comportamentos sociais, as sensibilidades, percepções e vivências das sociedades, o que se tornou possível através da aproximação entre a história política e a história cultural. Percebendo que o estudo do político é, necessariamente, multidisciplinar, os novos historiadores da política observam as representações e a multiplicidade de práticas e instituições políticas, a partir de um conjunto de atitudes, crenças, ideias, normas, tradições e comportamentos de seus atores.

Nesse sentido, essa renovação pode ser observada nos sete artigos que compõem o dossiê sobre História e Culturas Políticas. É o caso do estudo das peculiaridades da imigração europeia em Santa Catarina, através de uma análise comparativa entre as regiões do Sul, Vale e Norte do estado, bem como a inserção sócio-econômico-político dos imigrantes e seus descendentes, de João Henrique Zanelatto. Em outra perspectiva Isabel Cristina Leite discute, historiograficamente, o conceito de culturas políticas e analisa duas tradições inseridas no campo das culturas políticas de esquerda no Brasil: a tradição comunista e a nacional-trabalhista e as organizações guerrilheiras.

Os comportamentos e peculiaridades sobre os atores sociais são observados no texto de Wesley Garcia Ribeiro Silva no debate que apresenta sobre as relações entre o espaço urbano e o exercício da política, a partir das práticas, rituais e símbolos do poder na cidade do Natal nos anos de 1960. Ainda sobre questão urbana, Samuel Silva Rodrigues de Oliveira discute a política urbana e o movimento de favelas em Belo Horizonte e as performances de luta pelo direito de moradia entre 1947 e 1964.

Juniele Rabêlo de Almeida investiga o ciclo de movimentos reivindicatórios dos policiais militares brasileiros, ocorrido ao final do primeiro semestre do ano de 1997. Miriam Hermeto se propõe a analisar o contexto mental de produção da tragédia brasileira Gota D’ Água (Chico Buarque e Paulo Pontes, 1975), que se constituiu em diálogo com a cultura política comunista brasileira, durante a ditadura militar. Por fim, a partir do estudo das redes familiares Serioja R. C. Mariano analisa as culturas políticas e as relações de poder na província da Paraíba, entre os anos de 1825 a 1840.

Nos demais artigos, observamos outras temáticas que vão desde análises que procuram entender, a partir do campo da memória e da história das instituições escolares, a constituição da Escola Normal da Parahyba do Norte no Oitocentos, de Rose Mary de Souza Araújo, ou a disciplinarização dos corpos das crianças por meio da introdução das disciplinas de Hygiene e Educação Physica nas escolas da cidade da Parahyba no início do século XX, objeto das pesquisas de Azemar Soares Júnior. A proposta de Ludmila Gomides Freitas é discutir como o conceito de bárbaro pôde ser utilizado em diferentes gêneros discursivos, de jesuítas e colonos, para fundamentar projetos políticos distintos de integração do indígena à ordem colonial, enquanto que Silvia Cristina Martins de Souza analisou como o ilustrador Ângelo Agostini (Cabrião, 1866-1867) utilizou-se do lápis litográfico para construir determinadas representações sobre o teatro e as audiências paulistanos no período em que viveu na São Paulo imperial.

Maria da Conceição Silva investigou as propostas curriculares da disciplina História, considerando as concepções conceituais e metodológicas que constituíram o seu estatuto para o ensino de História em Goiás. Em seguida, Iraci Del Nero da Costa propõe uma definição para o conceito de Demografia Histórica estabelecendo as relações entre demografia e história. E por fim, mas não menos importante, a entrevista com o Professor do Departamento de História da UFMG, Rodrigo Patto Sá Motta, na qual se discute, entre outros temas, o papel dos atores e a dinâmica das instituições políticas na história.

Os Editores


Equipe Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.24, 2011. Acessar publicação original [DR]

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