Mitologia Germânica e Celta / Brathair / 2006

A revista Brathair sempre ofereceu estudos envolvendo o tema dos mitos europeus. Mas em especial, a edição 4 (1) 2004 dedicou-se ao dossiê temático da revista: Mitologia e religião Celta e Germânica. Dois anos depois, novamente a revista vem brindar seu público com uma edição especial sobre este tema. Se por um lado as investigações, em específico nesta área, ainda não contam com expressiva quantidade de pesquisadores nacionais, já podemos perceber a formação de um pequeno núcleo de interessados, desde graduandos até professores, promovendo pesquisas de qualidade.

O dossiê inicia-se com o artigo de Patrícia Pires Boulhosa, A *mitologia escandinava de Georges Dumézil: uma reflexão sobre método e improbabilidade. Nele, a pesquisadora sistematiza diversas críticas sobre a teoria da tripartição do mitólogo francês Georges Dumézil, especialmente as advindas de fontes da Escandinávia do período Viking. Sem dúvida, um texto importante para a germanística brasileira, tanto por seu caráter teórico quanto metodológico, instigando os novos estudos sobre o tema.

Em seguida, o artigo do renomado professor Ciro Flamarion Cardoso, Aspectos da cosmografia e da cosmogonia escandinavas. Em um brilhante e erudito trabalho, Cardoso analisa um dos mais famosos poemas édicos, a Völuspá, utilizando pressupostos teórico-metodológicos de Todorov, além de refletir sobre a mais recente historiografia da religiosidade e mitologia da Escandinávia da Era Viking. Além de um qualitativo referencial de método para as novas gerações, este artigo de Cardoso também reflete essencialmente sobre as fontes primárias advindas do medievo, suas utilizações e contexto para os estudos envolvendo os mitos nórdicos.

O terceiro artigo do dossiê é Mythica Scandia: repensando as fontes literárias da mitologia Viking, de Johnni Langer, onde o autor realiza uma sistematização crítica acerca dos estudos sobre fontes literárias do século XII e XIII, especialmente islandesas, e sua utilização para os estudos de mitologia e religiosidade dos escandinavos medievais.

Filippo Lourenço Olivieri contribui com o quarto artigo, Os Celtas e o culto das águas: crenças e rituais. Sendo um tema de escassa investigação em nosso país, este estudo sobre mitologia e religiosidade dos povos Celtas demonstra o enorme potencial que ainda pode ser efetuado sobre a temática do culto às águas, que o cristianismo medieval soube explorar muito bem no processo de evangelização e arquitetura religiosa.

Na seqüência, Das Märchen vom Schlauraffenland, ou A História de um País de Monos e Loucos, de Sylvia Maria Trusen, explora a sobrevivência de temas míticos medievais na cultura folclórica germânica do Oitocentos. A obra dos irmãos Grimm ainda representa um enorme potencial de investigação para os germanistas.

O último artigo do dossiê conta com uma participação internacional: A cabra e o bode nos bestiários medievais ingleses, da medievalista portuguesa Angélica Varandas. Em seu interessante estudo, a historiadora procura entender os simbolismos e significações para o imaginário medieval, de certos animais e suas origens cristãs e clássicas. Uma área de investigação ainda precária no Brasil e que sem dúvida, pode tornar-se tema de valiosas contribuições para o futuro.

Na seção artigos, uma tradução do excelente trabalho “Fuga poética” de Almqvist, de Lars Lönnroth (Universidade de Göteborg, Suécia), um dos maiores especialistas em literatura escandinava. Nele, o pesquisador analisa a peça teatral Amorina (1822), do sueco Carl Almqvist, seu contexto original e modificações posteriores ao romantismo, bem como sua recepção no mundo contemporâneo.

Em seguida, apresentamos uma resenha do livro Os príncipes da Irlanda: a saga de Dublin, de Edward Rutherfurd, foi realizada por Luciana de Campos. Um romance histórico que, apesar de suas deficiências e erros, pode ser uma leitura útil para os que tem interesse pela história antiga e medieval da Irlanda.

Outra resenha, Sangue de gelo (Coleção Angus Saga), do escritor Orlando Paes Filho, foi realizada por Johnni Langer. Nesta resenha, percebemos como um romance histórico de péssima qualidade pode tornar-se propagador de estereótipos e falsas imagens sobre os Vikings e a Idade Média.

A edição foi abrilhantada por uma entrevista do conceituado professor Ruy de Oliveira Andrade Filho, com o título Estudos Germânicos Medievais. Sem dúvida, um texto que deve ser conhecido por todos aqueles que tem interesse em medievalismo e a propagação dos estudos germânicos em nosso país. A revista também traz uma tradução do anglo-saxão, Fragmento de Finnsburh (século X d.C.), realizada por Erick Ramalho. Demonstrando que o Brasil também tem potencial para realizar pesquisas de tradução de fontes primárias da Idade Média, a exemplo da Europa e outras regiões.

Esperamos que esta edição da revista Brathair possa contribuir com novos rumos da pesquisa acadêmica, incentivando, instigando, questionando e, principalmente, oferecendo perspectivas teóricas e metodológicas para as gerações futuras e seus objetos de pesquisa. Para as próximas edições, preparamos outros dossiês temáticos, facilitando a identificação e o conhecimento das pesquisas: Civilização da barbárie? Os bárbaros e as sociedades mediterrâneas – encontros, desencontros e confrontos (sécs. VII a.C. – IV d.C.), Brathair 7 (1) 2007; Mitos arturianos: do medievo ao contemporâneo, Brathair 7 (2) 2007; Morte, Funeral e Vida após a Morte. Explorando atitudes em relação à mortalidade, ritual e a concepção de Outro Mundo, Da Europa da Idade do Ferro à Alta Idade Média, Brathair 8 (1) 2008. Aguardamos as novas contribuições para o periódico, acreditando que cada vez mais, os estudos Celtas e Germânicos estão sendo consolidados no Brasil.

Johnni Langer – Professor Doutor

Luciana de Campos – Professora Mestre

Organizadores


LANGER, Johnni; CAMPOS, Luciana de. Editorial. Brathair, São Luís, v.6, n.2, 2006. Acessar publicação original [DR]

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