A mulher celta e germânica – Novas perspectivas / Brathair / 2008

Ao longo de oito anos consecutivos, a Revista Brathair vem colaborando com as discussões acadêmicas acerca dos estudos celtas e germânicos. Com suas publicações semestrais e simpósios bianuais, o grupo tem procurado fomentar a pesquisa e o debate interdisciplinares, proporcionando, assim, aos seus leitores artigos de diversos e renomados especialistas.

Nas últimas décadas, o número de trabalhos dedicados à História das Mulheres e aos Estudos de Gênero vem crescendo, mas, ao que parece, no Brasil, as contribuições referentes à História Antiga e Medieval ainda são esparsas. Pesquisas envolvendo a temática nas sociedades celtas e germânicas vem ocupando especial destaque em línguas inglesa e alemã, principalmente com as publicações de: Lyn Webster (Celtic women); Jennifer Heath (The women of celtic myth); Christina Harrington (Women in a celtic church); Judith Jesch (Women in the viking Age); Jenny Jochens (Old Norse images of women); Sarah Anderson (The women in Old Norse literature and myth), Zoe Borovski (Women and performance in Old Norse Literature), Carol Clover (Men, women, and power in early Northern Europe; Maiden warriors and other sons), Caroline Bynum (Holy feast and holy fast. The religious significance of food to medieval women); Ingrid Bennewitz e Ingrid Kasten (Genderdiskurse und Körperbilder im Mittelalter. Eine Bilanzierung nach Butler und Laqueur); Eva Maria-Carne (Die Frauengestalten bei Hartmann von Aue. Ihre Bedeutung im Aufbau und Gehalt der Epen.) dentre outras.

O dossiê, aqui publicado, apresenta sete artigos que exploram o universo do Gênero e da História das Mulheres. Os primeiros cinco artigos são análises de textos literários e imagens medievais. A mestranda em Artes da UFES, Elza Heloisa Filgueiras propõe o exame das representaçoes mitológicas femininas, que foram cristianizadas, em iluminuras de um manuscrito do séc. XV das Metamorfoses de Ovídio. Seguindo a linha da tradição de textos germânicas, temos os artigos de Jennifer Hufnagel e Sabrina Hufnagel, ambas graduadas pela Otto-Friedrich-Universität Bamberg. A primeira, tendo como base as Estrofes Femininas do trovador Kürenberg, demonstra como o trovador delineia um feminino mais emancipado. A segunda apresenta uma discussão acerca da personagem Kriemhild, de A Canção dos Nibelungos, à luz dos Estudos de Gênero, mais especificamente na interseção entre corpo e poder. A análise da Melusina na obra de Jean D’Arras é o foco do artigo apresentado pela professora da UEMS Márcia Maria de Medeiros. Mestre em Literatura Alemã pela USP e doutoranda pela mesma Universidade, Valéria Sabrina Pereira nos guia numa perspectiva comparativista pelo universo das táticas femininas de poder, tecendo uma comparação entre o universo germânico d’ A Canção dos Nibelungos e o islandês, representado n’A Saga Volsungos.

O artigo teórico de Tatiane Sant’Ana Coelho Reis, graduada em História pela UFRJ, apresenta a discussão acerca do estudo da masculinidade, que começou a se desenvolver após o paradigma dos estudos das mulheres. A autora demonstra, assim, que falar em gênero não implica somente falar das mulheres, mas também dos homens. Na mesma vertente da discussão teórica, a professora da UFRJ e pesquisadora do CNPq, Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva, uma das grandes especialistas brasileiras em Estudos de Gênero da Idade Média, aborda os estudos de gênero de matriz pós-estrutralista e convida os medievalistas brasileiros a repensar suas pesquisas. De acordo com Silva, “os estudos de gênero pós-modernistas apresentam uma opção vigorosa ao propor análises sobre os saberes / significações sobre a diferença sexual aliado ao das hierarquias, assimetrias, negociações e micro-poderes, sem a pretensão de propor conclusões gerais.”

O escandinavista e professor da UFMA Johnni Langer apresenta uma resenha sobre o livro de Martina Sprague Norse warfare: unconventional battle strategies of the ancient vikings, no qual a autora apresenta as características gerais da sociedade escandinava e o estilo de vida dos vikings, abordando além da tecnologia náutica, os equipamentos militares e as técnicas de batalha e exemplificando o tema com guerreiros famosos.

Fechando o presente dossiê apresentamos uma entrevista com a especialista alemã em Estudos de Gênero da Idade Média, a catedrática em Filologia Alemã da Idade Média (Deutsche Philologie des Mittelalters) Ingrid Bennewitz da Otto-FriedrichUniversität Bamberg.

Nada melhor do que lembrar das palavras da Prof. Dr. Bennewitz para encerrar a nossa apresentação: “Gênero ainda não adquiriu a dignidade científica de outras categorias de análise.” Esperamos, assim, que este dossiê seja a todos os interessados um deleite e para aqueles que ainda não se aventuram no universo do gênero, um desafio a trilhar tão fascinante estrada.

Daniele Gallindo Gonçalves Silva – Professora Mestre. Doutoranda, Otto-Friedrich-Universtät Bamberg. E-mail: [email protected]

Luciana Campos – Professora Mestre. UNIVIMA. E-mail: [email protected]

Filippo Lourenço Olivieri – Professora Mestre. CEIA / UFF. E-mail: [email protected]


SILVA, Daniele Gallindo Gonçalves; CAMPOS, Luciana; OLIVIERI, Filippo Lourenço. Editorial. Brathair, São Luís, v.8, n.2, 2008. Acessar publicação original [DR]

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