O Poder American | José Luís Fiori

Em geral, deve-se desconfiar dos livros puramente acadêmicos – isto é, de autores universitários em tempo integral – que trazem como objeto o tema central que dá título a este livro, o “poder americano”, ainda mais quando ele pertence, como é o caso, a uma coleção que se identifica como “Zero à Esquerda”. Poder-se-ia esperar uma coleção de diatribes contra o império e a dominação global dos EUA, em nada condizente com uma análise séria que a atual situação de hegemonia da “hiperpotência” requer em benefício de todos os interessados nas origens e na dinâmica desta situação absolutamente única na história da humanidade. Esta coletânea constitui, porém, uma agradável surpresa, no sentido em que os trabalhos passam longe da crítica apaixonada ou do simplismo econômico. Aqui e ali permeia algum ressentimento contra a situação periférica ou dominada da América Latina, resultado de velhas teorias conspiratórias sobre a “concentração do poder econômico e militar”, mas o conjunto de ensaios revela que os autores não se contentaram com essa visão acadêmica tradicional.

Se fôssemos parafrasear Lênin, se poderia dizer que a atual Pax Americana é a Pax Britannica mais as tecnologias de informação, mas é evidente que o poder global não se explica apenas pelo domínio tecnológico ou militar. Um dos autores acredita que o poder tecnológico americano pode ser visto como um empreendimento militar: ele retoma a noção de “complexo militar-industrial-acadêmico” para explicar as razões do sucesso americano desde meados do século XX. Uma análise de extração marxista, porém, poderia argumentar que os EUA criaram um “modo inventivo de produção” absolutamente inédito em termos históricos e eficiente em seus vários aspectos: econômicos, militares, culturais, sociais, institucionais e em muitas outras vertentes “civilizacionais”. Isto não data do pós-Segunda Guerra, mas vem desde antes de Benjamin Franklin. Leia Mais