Realidades do processo civilizatório: múltiplos olhares / Tempo Amazônico / 2018

É com satisfação que apresentamos a edição 2018.2 da Revista Tempo Amazônico, revista eletrônica semestral da seção Amapá da Associação Nacional de em História (ANPUH / AP). Esforçando-se para dar conta da multiplicidade dos estudos de história social, exploramos através de um Dossiê com o tema “Realidades do processo civilizatório: múltiplos olhares”, incorporando diversas abordagens e problemáticas versando sobre política, gênero, educação e religião. Nesse sentido, podemos identificar 03 seções na presente edição: Política, educação e civilidade; Cultura e gênero; Educação e religião.

A linha que perpassa os artigos visa identificar caminhos para o processo civilizatório a partir da experiência brasileira. A questão que delineia esse dossiê pode ser assim expressa: “como passar da constatação da diversidade enquanto realidade social para o plano da conduta ética com relação à alteridade”? Veremos que, como nos alerta Norbert Elias (1993; 1994), é preciso captar as convenções e tensões que marcam o processo civilizatório na dinâmica social, de modo a compreender e reconhecer o outro como sujeito em suas múltiplas dimensões. Esse princípio é parte de um projeto civilizatório essencialmente humanista. Com essa ideia em perspectiva, convidamos os leitores a refletir sobre os artigos desse volume.

Abrindo a seção sobre política, ensino e civilidade, temos o artigo de Mayara Laet Moreira, intitulado “Campanhas contrárias às touradas cuiabanas: ressonâncias do projeto civilista e do movimento de modernização brasileiro na capital mato-grossense dos anos de 1920”. O texto versa sobre a influência do movimento civilista do processo de modernização nacional que tomou curso na década de 1920 e que permitiu questionar a prática das touradas consociadas com a tradicional festa do Divino Espírito Santo. A seguir temos o artigo nomeado “O processo de gestão do conhecimento no ensino superior quanto à disposição didática”, de Cássia Plácido de Oliveira e Patrícia Ferreira dos Santos. O artigo se interessa em mostrar a relevância da gestão do conhecimento para o ensino superior, problematizando o uso da didática para o processo de ensino e aprendizagem.

A segunda seção traz artigos que discutem questões que relacionam cultura e a temática de gênero. Renato Silveira indica os modos como a musicalidade pode ser mobilizada para prover meios simbólicos de resistência à comunidade LGBTQI+ diante as práticas correntes de homofobia e transfobia, no artigo intitulado “A música e a cultura popular como ferramentas de resistência LGBTQI+”. Sua proposta é discutir a heteronormatividade padrão e suas possibilidades de desconstrução por meio de ferramentas discursivas. Nessa mesma seara do gênero, temos o artigo de Emilayne Souto, denominado “Gênero e direito à cidade em tempos de exceção: o caso das mulheres do Porto do Capim”. Com pesquisa localizada em João Pessoa-PB, a autora procura refletir sobre a mobilização de mulheres na luta pela pelo direito à cidade e seus desafios.

A terceira seção propõe relacionar educação e religião em diversas frentes de debate. Para fundamentar a discussão, iniciamos com o texto de Roniria Silva dos Santos e Raimundo Márcio Mota de Castro, intitulado “Desafios da escolha epistemológica: um pensar a partir dos postulados de Paulo Freire”. A proposta é cotejar o pensamento educacional freiriano com a conjuntura de uma sociedade da informação, no seio da qual ganham relevo a necessidade de criticidade e da capacidade analítica. Nesse mesmo diapasão, temos o artigo “O desafio de educar em meio ao caos – uma abordagem Freireana e Buberiana de uma educação para o diálogo como intervenção”, de autoria de Wanildo Figueiredo de Sousa, Andressa Fabiany Santiago de Souza e Laryssa Carolyne Maciel de Oliveira, que investiga os instrumentos desenhados pelos autores citados para a mediação pedagógica, com vistas a tornar o processo educativo uma relação dialógica com o mundo da vida do educando, e assim promover a prática da tolerância com relação à diversidade. A abordagem empreendida por Eronilson Mendes de Sousa, Solange Murrieta de Oliveira e Aldeni Melo de Oliveira, no artigo “A relação dos alunos e professores com o ensino religioso, baseado na diversidade”, versa sobre a proposição de práticas éticas por meio de ensino religioso em ambiente virtual – EaD. Aqui a religião como promotora da inclusão do outro pela aceitação da diversidade se torna ponto central. Caso exemplar dessa agenda de inclusão da diversidade pode ser constado no artigo seguinte, de Alessandro Ricardo Pinheiro Brandão, intitulado “Tenda Espírita São Sebastião Harmonia e Caridade: a história da Umbanda no Amapá”, que permite visualizar uma tradição plena de saberes e práticas, bem como um caso sensível de demanda por tolerância e reconhecimento social. Concluindo, temos a esclarecedora entrevista realizada por Marcus Vinicius Freitas Reis, Nelson Mateus Machado dos Santos, Jordan Silva da Costa com o Dr. George Harrison Ferreira de Carvalho, tratando sobre “A desmistificação do chá da ayahuasca”, a qual nos permite entender a relação entre mística e saúde nas tradições ayahuasqueiras.

Samuel Correa Duarte – Bacharel em Sociologia e Mestre em Ciência Política pela UFMG, Mestre em Planejamento e Desenvolvimento Territorial pela PUC-Goiás, Doutorando em Sociologia pela UECE. Professor da área de Ciências Sociais na UFMA.


DUARTE, Samuel Correa. Tempo Amazônico, Macapá, v.6, n.1, 2018. Acessar publicação original [DR]

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