Sagas Islandesas / Brathair / 2009

Dentre toda a produção literária do medievo, certamente as sagas islandesas ocupam um lugar diferenciado, seja pela grande quantidade, diversidade ou qualidade do material preservado. Certamente, elas poderiam ter tido um impacto muito maior na cultura ocidental, caso tivessem sido preservadas em uma língua com influência continental mais abrangente, como foi o caso do antigo inglês, antigo saxão e antigo-alto-alemão. Em todo caso, as sagas constituem um foro privilegiado das atuais pesquisas sobre a Escandinávia e a Europa Setentrional, não somente para refletir sobre o mundo nórdico, mas também para evidenciar sua influência sobre a Europa medieval e, ao mesmo tempo, demonstrar as conseqüências e marcas culturais por elas legadas. Estas estão presentes até nossos dias, seja no cinema, seja na literatura (como nos livros de Tolkien), seja na cultura de massa. A própria palavra saga transformou-se em sinônimo de uma ação aventuresca e heróica, tanto no umbral da História quanto no da Ficção. Nada mais justo do que se investigar a recepção e a estrutura destas fontes para o contexto da própria época em que foram elaboradas.

A revista Brathair foi pioneira na elaboração de pesquisas sobre Escandinávia Medieval em nosso país, com a publicação de artigos, resenhas e entrevistas acerca desta temática desde 2003. Com a elaboração desde dossiê específico sobre sagas islandesas, percebemos que o interesse por parte tanto de graduandos quanto por professores e medievalistas no estudo das fontes escandinavas vem se ampliando e diversificando bastante, além do que nota-se o crescente contato e participação de pesquisadores estrangeiros, presentes desde a primeira edição da Brathair.

O dossiê inicia-se com o artigo da professora Chiara Benati, Faroese Oral Tradition and Icelandic Saga: The Case of the Ásmund Cycle, tratando de como a tradição literária de Asmund foi recepcionada no contexto sócio-cultural das ilhas Faroe, um aspecto pouco explorado pelas pesquisas, bem como apresentando algumas discussões sobre a relação entre oralidade e sagas islandesas.

Em seguida, o artigo de Ricardo da Costa e Renan Birro, Os ricos proprietários rurais e a cristianização da Islândia (sécs. IX-XIII), trata de um tema importante mas ainda pouco explorado em nosso país: a transformação religiosa da Europa Setentrional durante o medievo.

O professor João Bittencourt contribuiu com o artigo Aventura e Magia no Mundo das Sagas Islandesas, apresentando uma excelente sistematização de alguns temas relacionados à magia nas sagas islandesas.

Por sua vez, o artigo de Johnni Langer Galdr e feitiçaria nas sagas islandesas: uma análise do poema Bulusbæn analisa especificamente as concepções sobre a feitiçaria nórdica durante a Baixa Idade Média.

Outro trabalho relacionado às crenças religiosas dos escandinavos é Mito e magia na Volsunga saga, de Claudio Moniz, em que o autor discorre sobre uma das mais importantes criações literárias medievais, recentemente traduzida para o português.

Em outra perspectiva, o tema dos mercenários é examinado no artigo Os varangos nas sagas islandesas, de Théo Moorsburger, discutindo a relação entre História e Literatura Nórdica.

Outra contribuição internacional faz-se presente com o artigo Der lautlose Weg zur Walküre: von Nibelungenlied zu Prosaedda, de Peter Hvilshøj Andersen, que examina as conexões entre mito e literatura, especialmente nas sagas islandesas e literatura germânica.

A seção de tradução foi contemplada com a importante contribuição de Mariano Gonzales Campo, que apresenta a inédita tradução ao espanhol da Óláfs saga kyrra.

O dossiê encerra-se com a entrevista do escandinavista alemão Rudolf Simek, uma das maiores referências aos estudos nórdicos em línguas germânicas.

Esperamos que a presente edição especial possa despertar um maior interesse nas novas gerações de pesquisadores, além de servir como referencial bibliográfico e de pesquisa. Agradecemos todos os que apóiam os estudos celtas e germânicos em nosso país e prestigiam a revista Brathair.

No momento da redação deste dossiê, fomos informados do falecimento do escandinavista Claudio Moniz, associado ao NEA-UERJ e pesquisador de mitologia nórdica. Fica aqui nossa homenagem a um importante colaborador do grupo Brathair e esperamos que seus trabalhos iluminem as futuras gerações de germanistas!

Johnni Langer – Professor Doutor (UFMA). E-mail: [email protected]

Álvaro Bragança Júnior – Professor Doutor (UFRJ). E-mail: [email protected]


LANGER, Johnni; BRAGANÇA JÚNIOR, Álvaro. Editorial. Brathair, São Luís, v.9, n.1, 2009. Acessar publicação original [DR]

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