Civilização da barbárie? Os bárbaros e as sociedades mediterrâneas: encontros, desencontros e confrontos / Brathair / 2007

A Revista Brathair, cumprindo com seu objetivo acadêmico precípuo, qual seja, fomentar os estudos de cunho interdisciplinar acerca das civilizações celtas e germânicas, assim como investigar os desdobramentos, resquícios, lacunas e desaparecimentos de seus traços culturais desde os primeiros indícios histórica e arqueologicamente datados até as novas descobertas nos albores do século XXI, apresenta aos leitores neste número contribuições de vários e renomados especialistas sobre uma diversidade de temas, que têm em comum o mundo celta-germânico.

Assim é que, em seu sétimo ano, a Brathair publica o dossiê Civilização da barbárie? Os bárbaros e as sociedades mediterrâneas: encontros, desencontros e confrontos, que visa trazer ao público brasileiro algumas das questões atualmente em debate acerca das relações entre as populações ditas “bárbaras” com o Mediterrâneo. As contribuições que nos chegaram foram primordialmente dedicadas aos contatos de celtas e germanos com o Império Romano. Tal se explica, primeiramente, pelo grande interesse que tal temática tem despertado nos classicistas brasileiros desde os anos 90. Depois, em virtude da centralidade deste debate tanto para pré-historiadores quanto classicistas. Os estudos sobre contatos e colonialismo continuam crescendo e, em verdade, se tornam cada vez mais interessantes, uma vez que nos aprofundamos nas diversidades regionais e na ação humana.

Questões acerca do imperialismo romano e o revisionismo dos conceitos de “aculturação”, e “Sincretismo Cultural” na forma de romanização e de construção do Império Romano têm sido centrais no debate internacional desde fins dos anos 70, mais recentemente enverendado pela construção de identidades locais e as formas de articulação entre culturas locais e cultura imperial.

Em meio a este debate, o presente dossiê traz o resultado de duas pesquisas recentes que trabalham o processo de romanização e a construção de uma cultura imperial na Península Ibérica e um artigo sobre as interações entre Roma e a Germânia.

O artigo de Leonard A. Curchin, The Romanization of Art in Celtiberia (Central Spain), Professor Titular da Universidade de Waterloo (Canadá), mostra como o processo de romanização daquela região da Peninsula Ibérica criou uma arte denominada “provincial”, em que se misturam elementos do conquistador aos nativos de origem celta.

Como segunda contribuição ao dossiê tem-se o elucidativo e instigante artigo de Pedro Paulo Funari e Cláudio Carlan (NEE-UNICAMP) que versa sobre o tema Romanos e Germânicos: lutas, guerras, rivalidades na Antigüidade Tardia, cujo centro do estudo foca como através da numismática relações de tensão entre romanos e germânicos podem ser evidenciados nos séculos finais do Império Romano do Ocidente.

Fechando o dossiê, Norma Musco Mendes (LHIA-UFRJ) analisa, em seu trabalho Roma e o Império: Estruturas de Poder e Colapso, as questões pertinentes à criação, apogeu e derrocada dos impérios, no caso em estudo, o Império Romano. Sua análise nos traz um balanço do processo de expansão romana, tecendo, em particular, comentários substanciais sobre a província da Lusitânia.

Na Seção de Artigos, Eduardo Fabbro (UNB) discute em seu texto Juliano, o apóstata e a entrada dos francos no império romano; primavera de 358, a partir das informações coletadas do historiador Amiano Marcelino, as contingências que levaram a tribo germânica dos francos, de fundamental papel nos séculos seguintes para a formação da Europa medieval, a adentrarem as regiões de domínio romano à época do imperador Juliano.

O vikingologista Johnni Langer (USP) apresenta-nos em seu artigo O Mito do Dragão na Escandinávia suas reflexões acerca da presença do animal fabuloso na tradição eddaica, tanto prosaica quanto poética, e tendo como ponto principal o Ragnarök, episódio considerado por muitos mitólogos como fim e reinício da mitologia nórdica, além de incluir em seu estudo subsídios materiais a partir de achados arqueológicos.

A Seção de Resenhas traz uma resenha do livro de Edmond Baily, A lenda de diamante. Sete lendas do mundo celta. São Paulo: Madras, 2006, intitulada Druidismo cristão? feita por Luciana de Campos. A articulista discorre sobre a época e as circunstância sócio-culturais que permearam a sua publicação em princípios do século XX, sem, porém, deixar de assinalar, ao lado da contribuição da obra para a difusão da cultura celta, os vários equívocos e erros históricos acerca dos celtoi presentes nessa compilação de lendas.

Em seguida, João Lupi, em uma resenha com tema correlato ao dossiê deste número, apresenta-nos a obra de Laurent Flutsch, L’Époque romaine ou la Mediterranée au nord des Alpes. Lausana: Presses polytechniques et universitaires romandes, col. Le Savoir Suisse, 2005. Em seus comentários críticos, o estudioso de Florianópolis demonstra como a obra, inserida numa coleção com dados introdutórios sobre a história da Suíça e preparada por um arqueólogo de Lausanne-Vidy, é antes de tudo uma chamada de consciência histórica e política aos suíços, em que o passado celta deve ser resgatado e quase venerado.

Na seção de Entrevistas, Johnni Langer conversa com o arqueólogo Frank Røberg sobre o tema Arqueologia Escandinava: da Pré-História aos Vikings, em que se discute várias teorias da Arqueologia, com ênfase maior na questão dos vestígios em terras nórdicas desde a Pré-História até á era viking.

Como texto inédito colocado à disposição de estudiosos e leigos, na seção de Tradução, temos Os livros das cartas do bispo São Patrício tradução para o português feita por Dominique dos Santos, precedida por pequena introdução, apresentada juntamente com o texto original em latim, e seguida de bibliografia e notas explicativas.

Com essa plêiade de textos, artigos e contribuições de alto grau acadêmico acreditamos que a Revista Brathair cada vez mais se aproxima de seu ideal de consolidar em nosso país uma área de estudos e pesquisas interdisciplinares sobre as culturas celtas e germânicas. Tal finalidade continuará a ser nossa meta e, para tanto, os próximos números da Revista trarão os dossiês ‘Lenda e Mitologia Arturiana’ e ‘Morte, Funeral e Vida após a Morte. Explorando atitudes em relação à mortalidade, ritual e a concepção de Outro Mundo. Da Europa da Idade do Ferro à Alta Idade Média’. Convidamos, pois, a todos que continuem a contribuir para esse esforço conjunto de construção das áreas de Estudos Célticos e Germânicos na academia brasileira!

Adriene Baron Tacla – Professora Doutora

Álvaro Alfredo Bragança Júnior – Professor Doutor


TACLA, Adriene Baron; BRAGANÇA JÚNIOR, Álvaro Alfredo. Editorial. Brathair, São Luís, v.7, n.1, 2007. Acessar publicação original  [DR]

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