20 anos da ANPHLAC | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2013

Temos a grata satisfação de apresentar este Dossiê Especial da Revista Eletrônica da ANPHLAC, comemorativo dos 20 anos de existência da Associação. O Dossiê destina-se ao público em geral e especialmente a dois grupos de leitores, não excludentes entre si: de um lado, os professores que atuam nos diversos níveis de ensino e trabalham com História das Américas, e de outro, os interessados no desenvolvimento da História da América Latina no âmbito acadêmico, brasileiro e internacional.

A ideia de realização de um número que visasse refletir sobre as duas décadas de vida da instituição foi sugerida cerca de um ano atrás pelo Prof. Cleverson Rodrigues da Silva (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande/MS). Ela foi recebida pelo Conselho Editorial ao mesmo tempo com euforia e receio. A origem da ANPHLAC está ligada a um esforço coletivo, de professores e historiadores que, vivenciando em suas práticas profissionais uma série de circunstâncias difíceis (como falta de bibliografia especializada e o pouco reconhecimento da área, para ficar só em algumas), associaram-se e promoveram estratégias de colaboração, diálogo e ajuda mútua. Daí o entusiasmo com que acolhemos esta tarefa que guarda, sim, ainda que não exclusivamente, a dimensão comemorativa. Na outra ponta, a preocupação derivava diretamente de um compromisso ético assumido com nosso ofício, qual seja, o de mantermos o pensamento crítico, o que, sabemos, é elemento raramente usual nos eventos celebrativos. Queríamos evitar o simples enaltecimento da efeméride e a mera reiteração dos acontecimentos positivos.

Comemoração e crítica. Como resolver esta difícil e improvável equação?

Por meio de convites feitos a historiadores atrelados à trajetória da Associação e através de sugestões de temas aos artigos, almejávamos um dossiê que propiciasse a composição de uma espécie de painel com os marcos fundamentais da história da ANPHLAC, ao mesmo tempo que ponderasse sobre as fronteiras abertas e os limites a serem vencidos.

Assim, surgia um primeiro grupo de textos composto por depoimentos de “fundadores” da ANPHLAC, isto é, daqueles que estiveram presentes ao encontro de Mariana, na UFOP, em 1993, quando a Associação foi oficialmente inaugurada. Os depoimentos rememoram o passado, bem como refletem sobre a relação passado/presente/futuro. Trazem considerações sobre os passos da Associação, desde a fundação e ao longo das duas últimas décadas, mas também analisam a situação política nacional e internacional neste período. Enfatizam uma mudança importante na história da ANPHLAC, que foi a abertura às pesquisas sobre América do Norte (para além do México), o que ocorreu em 2002, e levou à mudança do nome da Associação (de Associação Nacional de Pesquisadores em História Latino-americana e Caribenha para Associação Nacional de Pesquisadores em História das Américas). Os colaboradores do primeiro grupo são: Heloisa Jochimns Reichel (que esteve vinculada à UFRGS e à UNISINOS), Maria Helena R. Capelato (USP), Maria Ligia C. Prado (USP) e Cecília S. Azevedo (UFF), que é acompanhada por outra especialista em História dos Estados Unidos, Mary A. Junqueira (USP).

Os depoimentos são seguidos por artigos temáticos, que dão conta de um leque diversificado de questões. Jaime de Almeida (UnB) trata dos Encontros bianuais da ANPHLAC, realizando um balanço comparativo de suas diferentes edições. Eliane Garcindo de Sá (UFRJ/UERJ) e Francisca Nogueira de Azevedo (UFRJ) abordam experiências realizadas por elas e por outros pesquisadores na década de 1990, referentes a levantamentos de fontes de pesquisa sobre América Hispânica em arquivos do Rio de Janeiro, instrumento fundamental desenvolvido numa época em que os catálogos e acervos online não eram ainda uma realidade. José Luis B. Beired (Unesp/Assis) examina a produção da pesquisa em História das Américas, por meio da análise de defesas de Dissertações e Teses nos diferentes programas de Pós-Graduação do país. Mostra como as tendências teórico-metodológicas variaram no tempo e ainda como cada programa, por razões diversas, acabou desenvolvendo enfoques temáticos e teóricos específicos. Antonio Carlos Amador Gil (UFES) narra como a internet foi, desde muito cedo, estabelecida na ANPHLAC e pondera sobre seu papel como ferramenta fundamental para a comunicação e integração dos associados, bem como para a visibilidade da Associação. Hernán Ramiro Ramírez (UNISINOS) apresenta uma análise da Revista Eletrônica da ANPHLAC, mostrando as dificuldades e conquistas ao longo do tempo, bem como as estratégias para adaptação às exigências das agências avaliadoras. Partindo de documentos como os Anais dos Encontros bianuais e as sucessivas edições da Revista da Associação, Cleverson Rodrigues da Silva (UFMS) pondera em seu artigo sobre a questão da distribuição regional da produção da ANPHLAC. Patrícia Funes, da Universidade de Buenos Aires, comenta a posição original da Associação, de congregar pesquisadores que estudam países estrangeiros “com exceção do Brasil” (a não ser em caso de comparações ou conexões), conseguindo criar, com isso, um espaço convergente que agrega os participantes e ao mesmo tempo fortalece a área. Ainda analisa aspectos da produção historiográfica latino-americana, de meados do século XX aos dias de hoje, assinalando a atual “emancipação” do campo, em outras décadas avaliado de antemão a partir de rótulos generalizantes. Finalmente, Kátia Gerab Baggio (UFMG) encerra o dossiê, apresentando os desafios da ANPHLAC para o futuro, abordando desde questões metodológicas, como as perspectivas comparadas, conectadas e transnacionais, que se abrem às novas pesquisas, até os problemas relativos ao ensino e aos materiais didáticos.

Quando os convites foram feitos aos especialistas, apesar de termos um ideal em mente, não determinamos estritamente os conteúdos a serem desenvolvidos, mas sugerimos caminhos. Nem todos os convidados tiveram condições de participar, infelizmente. Dentre os que colaboraram, alguns propuseram adaptações ao que foi indicado inicialmente como tema, o que foi acatado em sua totalidade, de forma que os autores tiveram irrestrita autonomia para produzirem suas colaborações. Com isso, os textos não seguem um padrão rígido, permitindo um ganho no tocante à diversidade de formas e de estilos, de posições e de olhares.

O dossiê, ao fim e ao cabo, combinou os termos que, por algum momento, suspeitamos inconciliáveis: “comemoração e crítica”. A leitura em conjunto das colaborações publicadas propicia um balanço amplo e complexo sobre a produção em História das Américas no Brasil, nas últimas décadas, e sobre o papel da ANPHLAC nesse processo. Tal balanço pondera a constatação dos êxitos ao longo dessa jornada de vinte anos com um diagnóstico dos problemas a serem enfrentados no presente e no futuro.

Torcemos para que o entusiasmo que marcou os associados da ANPHLAC ao longo desses anos seja também o dos jovens pesquisadores americanistas de todo o Brasil e do exterior que venham a se engajar nesta Associação, que é de todos nós e de Nuestra América.

Desejamos que os leitores desfrutem das interessantes reflexões que este dossiê especial traz sobre os 20 anos da ANPHLAC.


rganizadores

Fabiana de Souza Fredrigo – Universidade Federal de Goiás.

Hernán Ramiro Ramírez – Unisinos

Maria Elisa Noronha de Sá – PUC/Rio

Stella Maris Scatena Franco – Unifesp/Guarulhos


Referências desta apresentação

FREDRIGO, Fabiana de Souza; RAMÍREZ, Hernán Ramiro; SÁ, Maria Elisa Noronha de; FRANCO, Stella Maris Scatena. Apresentação. Revista Eletrônica da ANPHLAC, Dossiê Especial, p. 5-8,  jan./jun. 2013. Acessar publicação original [DR]

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