Africanos e seus descendentes no Brasil | Laboratórios de História | 2018

É com imensa alegria que apresentamos a nossa segunda edição da Revista Laboratórios de História, com o dossiê “Africanos e seus descendentes no Brasil”. Nessa nova edição abrimos espaço para publicação de trabalhos acadêmicos elaborados por graduandos do curso de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e demais instituições de ensino superior, a fim de dar maior visibilidade à produção discente sobre o tema.

Para o segundo número da Revista, convidamos a Professora Maria Regina Candido, Doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenadora do Núcleo de Estudos da Antiguidade (NEA-UERJ) e docente da cadeira de História da Antiguidade Ocidental da mesma instituição, para uma entrevista sobre o tema da África Antiga e o Ensino de História. Nela, buscamos conhecer os caminhos trilhados pela docente na articulação do ensino de história antiga ocidental às sociedades africanas do mesmo período. Também buscamos saber sua opinião sobre a iniciação em pesquisas sobre história da África antiga, especialmente no Brasil, onde a disseminação de trabalhos acadêmicos e materiais didáticos sobre o continente africano é recente numa sociedade fortemente vinculada a perspectivas historiográficas ocidentais.

Abrindo a seção de artigos do dossiê, o texto “De Comércio a Tráfico: As mudanças na província do Rio de Janeiro a partir de 1831”, de autoria de Leila Coutinho, traz um panorama geral do Rio de Janeiro e sua relação com o tráfico de escravizados. A autora mapeia a trajetória da escravidão dentro do estado fluminense, a partir das leis graduais para a abolição da escravidão e enfocando o lucro auferido com o comércio de seres humanos.

Na sequência, o artigo “As irmandades: um estudo bibliográfico sobre as associações leigas na colônia e Império do Brasil”, de Moisés Ibiapina, descreve como o associativismo, representado pelas irmandades religiosas também serviram de estratégia para os negros escravizados se articularem dentro do sistema escravocrata. Presentes desde o período colonial até o Império, essas instituições tinham como característica a prestação de ajuda mútua para negros escravizados ou não. Já o trabalho de Raphael Barros, intitulado “As críticas às festas religiosas do Império por liberais e reformadores católicos: o caso do Jornal O Apóstolo” apresenta a grande dualidade presente no início do Império entre o poder público e os costumes populares e quais as visões que os jornais emitiam em relação à população. No artigo de Rebeca Oliveira, intitulado “Poder e Medo: a importância das festas negras”, a autora apresenta como as celebrações e festas negras tinham um caráter pedagógico e político, ao mesmo tempo em que divertia e distraia o povo, reforçava as hierarquias vigentes. Finalizando essa temática, o artigo “Entrudo: Manifestações das classes populares no Rio de Janeiro no fim do Império”, de Jean Quinelato, mostra a tentativa da imprensa fluminense e dos intelectuais do período de criminalizar o entrudo e o carnaval, momentos em que a população marginalizada fazia sua releitura da sociedade, tendo como prisma as suas próprias vivências.

Dois artigos tiveram como tema as mulheres escravizadas: “Escravas urbanas do Rio de Janeiro: símbolo da luta pela liberdade na emancipação gradual da escravatura”, de Roberta Silva e “Vida Simplícia”, de Marco Baptista. Silva em seu trabalho apresenta leis anteriores à abolição e o uso delas pelas mulheres escravizadas como forma de acelerar seu processo de libertação e traz fontes referentes às condições e processos dessas mulheres, fazendo um contraponto à condição dos homens na mesma situação. Baptista, por sua vez, apresenta o processo de liberdade de Maria Simplícia e as estratégias mobilizadas por ela ao longo de sua trajetória, visando a preservação de sua condição de negra livre.

Roberta Moreira, no artigo “A Cidade do Rio de Janeiro e o Cais do Valongo”, aponta a importância do Cais como “lugar de memória” negra e o seu apagamento ao longo das reformas urbanas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Em “A Afro-brasilidade: Um estudo de caso a partir da feira de Yabás”, o autor Leandro da Silva fala sobre a presença africana na construção da cultura e da sociedade brasileira, mostrando como a culinária se tornou um elo de comunhão entre os afrodescendentes e como está presente na Feira dasYabás.

Pensando o negro e a sociedade mais especificamente no século XX, o artigo “Ações político-pedagógicas do movimento negro no Brasil”, de Roberta Pitta, traz uma cronologia muito importante da trajetória do(s) movimento(s) negro(s) no Brasil, lembrando a Frente Negra Brasileira, o Teatro Experimental do Negro e o Movimento Negro Unificado. A partir dessas organizações, Pitta enfatiza o papel de cada uma delas para a construção e a manutenção das garantias de acesso do povo negro à educação, que culminará na lei 10.639/03. Na sequência, temos o artigo “Considerações sobre racismo e branqueamento: a lei 10.639/03 como um dos mecanismos de autoafirmação da identidade negra”, de Rhuann Fernandes, Suzan Stanley e Flávio Rocha, que trazem uma abordagem de cunho sociológico sobre o desenvolvimento e manutenção da lei 10.639/03. Os autores analisaram a aplicabilidade parcial da lei, a partir da ausência de questionamento dos privilégios dos brancos.

Encerrando o dossiê e dialogando com os demais artigos que o compuseram, temos o trabalho intitulado “Minha palavra vale um tiro: uma análise dos discursos sobre resistência negra no Capão Redondo de 1990 a 1997 através da arte dos Racionais MC’s”, de Marcelo Ribeiro, que traz o hip-hop como um meio de se contar a história dos povos negros vindos para o Brasil, traçar os distanciamentos e proximidades do movimento negro com a periferia, mas principalmente mostrar como o discurso musical evidenciou o racismo e a violência como fatores geradores de exclusão para a população negra.

Na sequência, temos o depoimento da aluna Ádila Marciano Leite, bolsista PIBID/Capes. Tal depoimento, além de dialogar com a proposta da revista, nos aproximou do trabalho de extensão desenvolvido pela UERJ.

Abre a seção de artigos livres o texto intitulado “O culto dos santos e a memória na Gália Merovíngia: Childeberto I e a Igreja Saint-Germain-Des-Prés”, no qual Tomás Pessoa demonstra como o culto de São Vicente foi utilizado na Gália para perpetuar a memória do Rei Childeberto I. Já o artigo de Carlos Nicolette, “O significado de Estado para John Murra: Uma Investigação conceitual”, procura compreender como John Murra entende e trabalha com o conceito de Estado a partir da análise de seu texto intitulado “As sociedades andinas anteriores a 1532”. Na sequência, Isadora Costa em seu trabalho “Entre demônios de saias e rosas com espinhos: o ser mulher em periódicos femininos da segunda metade do XIX” faz uma comparação entre os discursos presentes nos periódicos Jornal das Senhoras (1852) e A Esperança: Semanário de recreio literário dedicado às Damas (1865), que traziam definições distintas sobre o papel da mulher na sociedade. O artigo seguinte, de Éden da Silva, intitulado “Às armas! 75 anos da entrada e participação brasileira na Segunda Guerra Mundial” aborda a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, apontando o desenvolvimento econômico que Brasil alcançou no período. Por fim, temos o artigo de Elaine Mesquita, “História e materiais didáticos: abordagens e diferentes linguagens no PNLD de 2014”, em que a autora analisa novas abordagens de ensino aprendizagem em materiais didáticos por meio do trabalho com fontes, o uso de novas tecnologias e diferentes linguagens.

Encerrando nossa segunda edição, temos duas resenhas: a primeira delas, escrita por Maria Sales e Jizar Marques, intitulada “A Queda da Bastilha, o começo da Revolução Francesa”, que apresenta a obra de Guy Chaussinand-Nogaret de mesmo nome; e a segunda, de Renata Ferreira, “Uma breve análise da obra de Gilberto Freyre no contexto atual: pensando em raça, gênero e classe”, na qual a autora apresenta uma análise do capítulo “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”, da obra “Casa Grande & Senzala”.

Os artigos presentes nesse número juntamente com a entrevista e o depoimento formam um conjunto de documentos de diversos aspectos do passado e do presente referente aos africanos e seus descendentes em diáspora. Assim, somos levados a perceber como esses lidaram com as adversidades e especificidade de suas histórias, mas principalmente como elas construíram parte de nossa história enquanto nação.

Espero que essa breve apresentação tenha fomentado um maior interesse na leitura desses trabalhos que só foram possíveis mediante muita paciência e preparo de nossos autores.

Boa leitura!

Rio de Janeiro 22 de junho de 2018.


Organizadora

Cristiane da Rosa Elias


Referências desta apresentação

ELIAS, Cristiane da Rosa. Apresentação. Laboratórios de História. Rio de Janeiro, ano 2, n. 2, p. 03-06, jun. 2018. Acessar publicação original [DR]

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