Brasil e China: Cooperação Sul-Sul e parceria estratégica | DHenrique Altemani

Nos últimos anos, intensificaram-se os debates nos meios de comunicações e na academia sobre relacionamento bilateral Brasil-China, principalmente pós-crise financeira mundial em 2008, onde as duas nações começaram a ter papel de destaque na geopolítica e nas rodadas comerciais.

No entanto, sabe-se que essa relação não se restringe a trocas comerciais, mais apresenta uma heterogeneidade de impactos e interesses. O não resumir-se as questões comerciais talvez seja o maior mérito do livro de Henrique Altemani de Oliveira, Doutor em Sociologia pela USP, Diretor do Centro de Estudos sobre o Pacífico, Professor da PUC/SP e Professor Sênior da UEPB.

Claro, sucinto e bem escrito, a obra tem por objetivo apresentar ao leitor o desenvolvimento da parceria estratégia Brasil-China, numa visão de conjunto nas dimensões política, técnico-científico, econômico e de investimentos. De forma, surpreendente, o autor também nos estimula a pensar se a “China está proporcionando uma desindustriazação, uma primarização da economia brasileira, ou se está contribuindo para a continuidade e/ou aprofundamento do desenvolvimento brasileiro”.

Assim, o livro está organizado com objetivo de avançar no entendimento do relacionamento sino-brasileiro, não somente enfatizado pela análise bilateral, mas pelos fatores estruturais e conjunturais que ampliam e restringem as possibilidades de cada um. Para tanto, a obra é dividida em quatro capítulos.

Logo na introdução o autor desenvolve a ideia de cooperação Sul-Sul na agenda internacional e do desafio político de redefinição das relações de poder e reorganização das instituições internacionais. Segundo autor, essas ações recentes dos países emergentes, juntamente com as movimentações do IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul) ou o G-20, corresponderam a uma típica percepção dos países do Sul em promover modificações na estrutura da ordem internacional e, principalmente, passam serem os fatores que embasam os fundamentos do relacionamento sino-brasileiro e seu direcionamento para uma parceria estratégica.

No primeiro capítulo, A República Popular da China: singularidade, mudanças políticas e econômicas, o autor parte da premissa que há ainda um desconhecimento sobre a China, assim ele se dedica a apresentar aos leitores a singularidade chinesa, o processo de constituição do Estado Chinês, a crise política, o avanço no processo de modernizações, a recuperação da credibilidade, seu desenvolvimento econômico e inserção internacional. Mas, o ponto alto do capítulo é quando nos leva a refletir sobre o papel da China como potência Internacional. Sobre essa questão comenta: “Apesar da maior relevância que a China assumiu nos últimos anos, expressada essencialmente após sua acessão à OMC em dezembro de 2001, o país mantém ainda uma série de problemas que impedem o raciocínio de que seja uma potência internacional consolidada”. (p.50). E mais adiante expressa: “Se a China se orientar pelo poder político e persistentemente buscar inovação institucional, então ela ascenderá para se tornar um Estado Hegemônico,” (p.52).

No segundo capítulo, Crises, estabilidade e competividade, o autor passa para análise da economia brasileira. O propósito é apresentar o ressurgimento econômico brasileiro logo após as fragilidades internas dos anos 80, com a adesão ao modelo liberal, abertura ao comércio internacional, estratégia monetária adotada pelo Plano Real, nos governos Collor de Melo e FHC, e os ajustes promovidos pelo governo Lula no plano externo, com a redução da vulnerabilidade gerada pelos déficits do comércio exterior e da balança de pagamentos. É neste panorama que o autor introduz a China como principal parceiro comercial, e a possibilidade de uma desindustrialização e primatização da economia brasileira. Sobre o assunto comenta: “O que se deduz é o fato de que este processo de desindustrialização está presente, é preocupante, mas não tem com origem na presença chinesa, ainda que seja fortemente ampliado exatamente por esta presença”. (p.68).

No terceiro capítulo, A parceria estratégica, Altemani apresenta ao leitor as bases para a construção da parceria entre Brasil e China, e sinaliza que a esse relacionamento concentra-se em dois planos de atuação: político e cientifico- -tecnológico. “O relacionamento político brasileiro com a China expressa à promoção de interesses econômicos e a necessidade percebida de reformar o sistema internacional”. (p.110). Em relação à cooperação internacional no campo cientifico-tecnológico, apresenta uma rápida visão dos planos de ação e acordos entre os dois países nesta área, tais como: o Centro de Brasil-China de Tecnologias Inovadoras, Mudanças Climáticas e Energia, CEBRS (China-Brazil Earth Resources Satelitte), Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia, além da cooperação chinesa com a EMPRAPA.

No último capitulo As relações econômico-comerciais, é examinado o desenvolvimento das relações comerciais bilaterais durante e pós Guerra Fria. Aqui o leitor terá acesso a uma excelente revisão da literatura sobre o tema, uma gama de dados quantitativos atualizados, expressos em tabelas, sobre o intercambio comercial Brasil-China e os investimentos externos diretos (IED’s). Mas o ponto chave do capitulo é a introdução de elementos que possam responder à inquietação se a China é um desafio ou uma oportunidade para o Brasil.

O livro é muito bem editado, com uma excelente referencia bibliográfica, e é uma obra que merece está em um lugar especial nas bibliotecas dos interessados na dinâmica da Cooperação Sul-Sul e da parceria estratégica Brasil-China.


Resenhista

Paulo Henrique da Silva – Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e graduado em Economia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

ALTEMANI, Henrique. Brasil e China: Cooperação Sul-Sul e parceria estratégica. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012. Resenha de: SILVA, Paulo Henrique da. Meridiano 47, v.13, n.132, p.65-66, jul./ago. 2012. Acessar publicação original [DR]

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