Brasil e China na Globalização | Marcos Cordeiro

O texto coloca a diferença de inserção do Brasil e da China no contexto neoliberal principalmente no período de 1980 a 2006, onde o primeiro cresceu cerca de 2,5% (Produto interno) e o segunda 10% (Produto interno). No Brasil, além da crise da dívida externa e crise fiscal foram adotadas as políticas neoliberais, que consistiam na liberalização do mercado, privatização de empresas, resultando em estagnação, nesse contexto o Brasil seguia o “Consenso de Washington”. Na China foi implementado um acelerado e moderno crescimento, mecanismos de mercado, tais como o investimento externo, também uma estratégia de liberalização, esses sob o controle do Estado, o modelo chamado de “Consenso de Pequim”, o mesmo também foi analisado por Joshua C Ramo, ex diretor da revista Times, que antes encontrou estruturas políticos sociais importantes por de trás de uma estratégia de desenvolvimento econômico.

Devido à recessão dos anos 70 foram aplicadas medidas neoliberais com o objetivo de recriar nos antigos países socialistas o capitalismo, essas medidas foram estendidas ao mundo inteiro provocando abertura de mercado, o acesso de empresas multinacionais que adquiriram vantagens como; cambio desvalorizado, salários, energia e matéria-prima mais barata, taxa de juros mais baixa e pequena regulamentação ambiental. O neoliberalismo se estabeleceu igualmente para Brasil e China, no entanto eles se posicionaram de maneira diferente conforme a elite dominante em cada país. As medidas tomadas pelo governo chinês passam por ações econômicas descentralizadas, retenção de grandes empresas estatais e privatização das pequenas, investimentos prioritários em educação, absorção de tecnologia, desenvolvimento tecnológico, câmbio desvalorizado medidas que se afastam do “Consenso de Washington”. Abaixo é descrita a relação dos consensos.

No entanto antes de se contraporem, é preciso reafirmar que ambos os consensos fazem parte de um mesmo processo, cada um alimentando o outro. É o”custo China” que força para baixo os custos produtivos em escala mundial. É a estrutura produtiva chinesa que leva a ruína estratégias de sindicato de trabalhadores de defender empregos e salários em cada nação. Além disso, as exportações chinesas, cuja taxa de expansão tem se situado acima de 20% […] têm permitido uma redução da inflação mundial ao baratear os bens de consumo […] grande superávit chinês […]e a elevação de suas reservas de divisas estrangeiras têm feito do país um sustentáculo da estabilidade monetária dos Estados Unidos. (Pires, 2008, p 13 ).

No final da Segunda Guerra Mundial a 1973 a economia capitalista cresceu muita era a chamada “Era do Ouro”. Os países industriais usufruíram de benesses sociais, o consumo popular, o avanço tecnológico e a duração programada dos produtos faziam girar a economia, enquanto isso apenas alguns países da América Latina e Extremo Oriente se desenvolveram, os países da África, sudoeste asiático e subcontinente indiano estavam em revoluções de independência. Nos anos 70 devido à crise de energia e as contrações do mercado a concorrência aumentou e os lucros baixaram. Os custos sociais para manter estáveis as lutas de classe estavam muito altos.

Devido à pequena duração dos ciclos de crescimento econômicos, os economistas liberais achavam que a economia deveria ser mais flexível, para estabilizar mais facilmente. Os custos sociais deveriam ser mais baixos, houve a mudança do fordismo para o just-in-time, foi adotado na gestão o modelo estoque zero criado pelos japoneses. O novo mercado segmentado substituiu o mercado massificado. O desenvolvimento da eletrônica e telecomunicações reduziu custos, o deslocamento de atividades industriais para países periféricos em busca de vantagens relativas a fatores produtivos tais como; salários mais baixos, impostos mais baratos, câmbio desvalorizado.

As operações financeiras se tornaram mais especulativas tais como; taxa de juros, câmbio e commodities, ocorreram também o crescimento das dividas públicas de diversos países, causada em parte pela queda da poupança interna, e por outro lado o mercado estabelecia as taxas de juros subjugando os governos. Em suma os novos mercados são abertos à força pelos governos dos países industriais principalmente nos países da América Latina. Os países industriais alegavam que a interação dos comércios deslocaria a riqueza excedente de pólo a pólo, desde que houvesse um alinhamento das políticas macroeconômicas havendo uma equalização entre países ricos e pobres.

As diretrizes do “Consenso de Washington” foram aplicadas nos paises da América Latina, através de políticas liberais com o objetivo de superar a crise econômica dos anos 80. Visando superar a crise da dívida externa a intervenção nos países da América Latina ocorreu em duas fases. A primeira foi a organização das políticas de estabilização econômica sob a tutela do FMI e a segunda uma reforma estrutural também coordenada pelo Banco Mundial.

A primeira pretendia atacar o déficit público, desequilíbrio na balança de pagamentos, promovendo desvalorizações cambiais, liberação de preços, desindexação dos salários (baixas nos salários, não repassando a inflação), controle da oferta da moeda, corte de gastos públicos para possibilitar pagamentos de juros da dívida, redução do investimento público.

A segunda queria promover a adequação da economia do país ao mercado internacional através da abertura da mesma. Estimulando o ”aumento da competitividade” dos produtores locais, privatizações de empresas públicas, redução da dívida pública ( para aumentar o investimento no privado). Também reforma fiscal (diminuir déficit público), extinção dos bancos públicos, atração de investimentos externos, promoção de programas assistencialistas para melhor lidar com os problemas sociais mais urgentes, implantação de “governos democráticos”. Esta política retirou totalmente o poder do governo em potencializar a capacidade produtiva do país, o mercado resolveria mais “agilmente” tudo.

Tanto Fernando Collor, como Fernando Henrique estavam comprometidos com a abertura da economia brasileira ao capital internacional. Foi nesses governos que o Brasil experimentou uma política industrial inspirada no “Consenso de Washington”, o objetivo da nova política era modernizar a indústria a fim de fazer circular com maior eficiência os bens e serviços. Medidas que aumentavam a competitividade, diminuíam a proteção tarifária e reestruturavam a indústria, tanto em termos de tecnologia como em apoio, fornecendo crédito as mesmas, foram tomadas. O BNDES foi usado para financiar as empresas que fossem mais competitivas e apresentassem mais lucro além de gerenciar o PND (programa nacional de desestatização). Este programa causou desemprego na classe trabalhadora e também nas áreas administrativas. A abertura do mercado interno provocou a falência de várias empresas nacionais que não puderam competir em “pé de igualdade” com o capital internacional apoiado pela política industrial. A política cambial levou a uma valorização do Real, transmitindo uma sensação de poder de compra temporário a classe média, sendo utilizado mais tarde como plataforma para reeleição de FHC. A apreciação cambial também favoreceu empresas multinacionais a adquirirem empresas locais com queda de rentabilidade. Além da abertura de mercado FHC também promoveu a abertura financeira, seja por tratar os bancos estrangeiros da mesma maneira que os locais sejam incentivando bancos internacionais a comprarem os bancos locais. Também emitiu papéis a juros pré-fixados oferecendo aos especuladores internacionais. Todas essas medidas causaram e pioraram problemas que prometiam resolver como a miséria e desemprego. Houve crises na balança de pagamento, o PIB dos países pobres diminuiu, as dívidas externa e interna aumentaram enormemente, instabilidade econômica e crise social se expandiram, em suma todos os países que seguiram a cartilha neoliberal sofreram conseqüências desastrosas.

De 1978 a 2002 a China cresceu 10% a. a, seu desempenho se deve em parte a sua modernização, a abertura econômica e o controle político dos mecanismos de mercado pelo Partido Comunista Chinês. Por outro lado a China como local que oferecia vantagens produtivas em relação a outros lugares do mundo e a criação de um poderoso parque industrial.

Já no governo maoísta aconteceram reformas econômicas. Em 1976 os líderes chineses começaram a investir no aumento da produtividade, domínio da tecnologia e garantia da segurança nacional e também bem estar material da população. Em 1978, Deng Xiaoping iniciou o programa de reformas econômicas com o slogan a “modernidade socialista”. De 1978 a outubro de 1984, a prioridade foi a reestruturação das propriedades do campo transformando as antigas comunas (produção controlada pelo Estado) por um sistema misto (uma parte vendida para o Estado a preços preestabelecidos e outra parte poderia ser livremente negociada), foram criadas as primeiras zonas de livre comércio (que a principio eram apenas plataformas de exportação que usavam mão de obra barata). De outubro de 1984 a setembro de 1988, a implantação de um sistema misto (planejamento central em conjunto com o mercado), inicio da liberalização dos preços, a descentralização do comércio exterior, aumento da autonomia das empresas. De setembro de 1988 a dezembro de 1991, houve problemas nos métodos de controle da liberalização da economia, falta de regulação da economia de mercado, problemas de trafego de influência e corrupção. O governo então desacelerou as reformas e adotou uma política mais dura, e legitimava seu poder através do progresso econômico e melhoria das condições de vida da população. De janeiro de 1992 a 2002, novas reformas com um novo slogan “economia socialista de mercado”, liberação dos preços, formação de preços por mecanismos de mercado, novos formas de propriedade reafirmando o papel principal do poder público reter as empresas estratégicas. Algumas empresas foram transferidas ao controle privado, outras transformadas em sociedades por ações (controladas pelo Estado e administrada de maneira autônoma por gerentes).

O autor nos coloca que o modelo chinês está muito próximo do Keynesiano, nos convida a fazer uma reflexão em relação ao modelo chinês. Poderia esse ser aplicado no Brasil? Guardando as diferenças culturais como o excesso de disciplina que não é uma característica de nossa cultura, o controle demasiado de certas individualidades. O modelo econômico poderia ser aplicado, mas para isso acontecer as elites internas e externas teriam que ser vigorosamente enfrentadas, mas se pensarmos na questão econômica, foi no governo Vargas que o Estado se fez mais presente na economia e com taxas de crescimento econômico bem maiores..Os mecanismos de mercado sob o controle do governo e as “políticas públicas e o consenso social” (Joshua C.Ramo) e políticas relativas a educação, seriam muito úteis no caso brasileiro, por que é de senso comum que falta investimentos em educação e saúde. O investimento na estrutura e capacidade produtiva seria importante, uma espécie de PAC potencializado. O fortalecimento da empresa pública como instituição de financiamento da produção, estímulos a empresas que produzissem para o mercado interno, além das exportações. A produção entre os empresários brasileiros de uma cultura de valorização do trabalhador para que ele se torne um consumidor de bom poder aquisitivo tornando a nossa dependência do mercado externo menor e o país menos suscetível a crises. Finalmente a rejeição (no caso ideal), ou a diminuição (no caso possível) das políticas neoliberais que foram e são tão danosas pra o Brasil.


Resenhista

Nei Antônio Camini – Bacharelando em Ciências Sociais UFRGS.


Referências desta Resenha

PIRES, Marcos Cordeiro. Brasil e China na Globalização. São Paulo: LCTE, 2008. Resenha de: CAMINI, Nei Antônio. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 05, n. 15, p. 165-170, dezembro, 2008. Acessar publicação original [DR]

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