China: Infra-estruturas e crescimento econômico | E. Jabbour

Trata-se da dissertação de mestrado do autor, publicada com pequenas alterações de texto e formato. O assunto, a economia chinesa, tem-se mostrado cada vez mais relevante na pauta de assuntos ligados à Economia e à História contemporâneas. O mercado editorial doméstico tem, em concordância com essa demanda, inundado as prateleiras das livrarias especializadas com títulos abordando o desempenho e as razões deste para a China, que adentra o século XXI como um país verdadeiramente emergente no cenário internacional, uma economia interna que mantém as maiores taxas de crescimento mundiais, e um parceiro comercial temido e desejado.

Como em todo boom editorial, a qualidade das obras é bastante heterogênea, com títulos realmente informativos e, por outro lado, livros que, ao refletirem pouco além do senso comum ou de pontos específicos de marketing internacional estadunidense (como no caso das traduções), praticamente deixam o leitor no mesmo lugar de onde o retiraram no início. Seria o caso deste livro?

Vejamos. Primeiramente, o tema específico. A proposta de Jabbour é honesta: analisar o fenômeno da economia chinesa a partir da constituição da infra-estrutura produtiva. Seria necessária uma só lida base de dados para atingir o objetivo proposto. Isso, felizmente, acontece.

Em segundo lugar, existe o processamento ou análise dos dados. Há uma significativa dissociação entre a teoria implícita, de cunho marxista, e a metodologia adotada de análise estrutural dos agregados macroeconômicos. Iniciativas anteriores, empreendidas por marxistas como Paul Sweezy e Paul Baran, deveriam consistir o pressuposto de análises dessa espécie. O descarte dessa opção de interface teórico-metodológica pode resultar num tratamento frouxo da relação dos agregados observados com a natureza das relações sociais de produção. Ainda que o livro padeça desse “mal congênito”, há um exame rente dos setores de infraestrutura de energia e transportes, que mostram a pujança de uma economia cujos investimentos são capitaneados pela ação do Estado. Por outro lado, a hipótese de um “socialismo planificado de mercado”, como sugerida pelo autor, precisaria de uma viso mais apurada do dispêndio do produto. A demanda doméstica recebe tratamento desigual, em relação à massa de informações sobre a oferta. O enigma chinês do “socialismo de mercado” ou do “capitalismo de Estado” sugere uma desconfortável dúvida sobre a espécie de roedores de que o gato metafórico de Deng Xiaoping estaria se alimentando. Jabbour não lança maior luz sobre esta questão. De toda forma, seu mérito argumentativo comprova o papel crucial do Estado, na promoção do desenvolvimento econômico.

Enfim, alguns aspectos editoriais e de revisão certamente devem receber maior cuidado em próximas edições. Pela abundância de dados, e como perspectiva diversa do rebanho do senso comum editorial sobre a China contemporânea, vale a pena ler o livro.


Resenhista

Luiz Eduardo Simões de Souza – Mestre em História Econômica. Doutorando em História Econômica. Universidade de São Paulo.


Referências desta Resenha

JABBOUR, E. China: Infra-estruturas e crescimento econômico. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006. Resenha de: SOUZA, Luiz Eduardo Simões de. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 03, n. 05, p.109-111, julho, 2006. Acessar publicação original [DR]

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.