Contending Economic Theories: Neoclassical, Keynesian and Marxian | R. Wolff e S. Resnick

Contending Economic Theories, escrito em sua maior parte pelos professores eméritos de Economia do Massachusetts Institute of Technology Richard Wolff e Stephen Resnick é, na verdade, uma revisão ampliada da discussão desenvolvida em uma obra anterior, de 1987. O livro se apresenta como uma proposta “única e distinta” de comparação entre teorias econômicas. Nesse sentido, um primeiro reparo se mostra necessário, quando os autores vinculam diretamente a microeconomia à economia neoclássica e a macroeconomia ao keynesianismo, deixando em aberto a contribuição do marginalista León Walras à macroeconomia, com sua noção de equilíbrio geral , a qual influenciou não apenas visões agregadas do produto de uma economia, como a elaborada por Wassily Leontief, no início dos anos 1970, mas também a própria concepção das ideias de oferta e demanda agregadas.

Feito este pequeno reparo inicial, o livro se desenvolve como uma exposição crítica e comparativa das teorias marginalista, keynesiana e marxista , em favor da última, por se apresentar , na visão dos autores, como a teoria mais crítica co capitalismo, e mais capaz, portanto, de apontar suas contradições internas, que conduzem ao que é entendido como flutuações sistêmicas nas outras duas teorias.

As críticas feitas ao marginalismo, mesmo enriquecidas pelo capítulo do prof. Yahya M. Madra, abordando os últimos desenvolvimentos dessa linha teórica, não fogem, em momento algum, do lugar estabelecido de criticismo à teoria do valorutilidade. Muitos desses argumentos estão originalmente presentes em As Limitações da Utilidade Marginal, escrito em 1905 por Thorstein Veblen, ou mesmo em Relação Entre Custo e Quantidade Produzida, de Piero Sraffa, em 1926. As críticas feitas ao keynesianismo remontam às limitações apresentadas pelos próprios neoclássicos em sua visão da teoria keynesiana, associada a alguns pontos que são visíveis já nos anos 1960 e 1970, em obras como a de John Eaton, Marx contra Keynes, por exemplo. Como um todo, o livro remonta a iniciativas como Teorias do Valor e Distribuição desde Adam Smith, de Maurice Dobb (1975), de Maurice Dobb. Assim, a proposta de originalidade e novidade da obra não é realizada.

Por outro lado, em um ambiente de massificação da linha-mestra do pensamento econômico – como teoria e prática de política econômica – uma obra que reapresente problemas irresolvidos de uma teoria imposta à academia por razões muito mais políticas do que teóricas mostram, ao mesmo tempo, a capacidade de resistir à imposição de consensos intelectuais que a academia possui, em última análise, e a reafirmação – ainda que indireta – de um pensamento crítico às teorias dominantes. Nesse sentido, ainda que carente de originalidade, o livro é mais do que bem-vindo.

A obra se inicia com uma exposição de implicações de se assumir uma das teorias em questão – neoclássica, keynesiana, marxista – apresentadas estas de maneira mais ou menos estilizada. Aqui também, o livro recende às obras dos anos 1950 e 1960. Os primeiros a serem abordados são os neoclássicos, a partir da tradição clássica. Não há maiores novidades na abordagem. Os autores vão da determinação de preços à teoria subjetiva do valor e à noção de auto-regulação dos mercados.

Quebrando a sequência cronológica, em benefício de uma continuidade metodológica – os autores consideram a crítica marxista mais contundente – capítulo seguinte vai a Keynes e à teoria keynesiana. Dessa forma, os autores consideram o keynesianismo uma crítica que visa melhorar a teoria econômica apologética do Capitalismo, sendo assim muito mais complementar do que contraposta à teoria marxista. Questões como a aplicabilidade prática e mesmo a maior conveniência das ideias de Keynes em seu contexto historico (a Grande Depressão dos anos 1930) não mostram diferenças notáveis dos melhores livros-texto do assunto. De fato, sente-se a falta de uma crítica à teoria keynesiana por sua alusão – sem maior respaldo – aos fatores psicológicos nas decisões dos agentes econômicos.

O capítulo 4 lida com a “tradição” marxista. Nesse sentido, os autores realizam uma abordagem bastante tradicional da acerca da teoria marxista, apresentando elementos já presentes em diversas obras que passaram vistas sobre Marx e suas derivações desde o início do século XX, indo de Joseph Schumpeter a Paul Sweezy e Maurice Dobb. Sequer o caráter de atualidade da teoria marxista é esquecido por Wolf e Resnick. O leitor mais familiarizado com os comentários e resumos sobre a teoria marxista pode vir a sentir certa falta de novidades na pauta desse capítulo.

Para o leitor que ainda não conhece tais autores, a apresentação das questões é bastante honesta e cumpre seu papel na obra. Ali estão presentes desde a teoria de classes e a crítica ao capitalismo, até comentários sobre os efeitos da aplicação prática do marxismo no século XX. Ali estão presentes desde a conhecida introdução ao sistema lógico de pensamento marxista até o caráter de sobrevida da teoria marxista, capaz, segundo os autores, de elucidar as diferenças entre as teorias econômicas (p. 141). Ali se apresentam, desde a teoria marxista do valor, até os aspectos desenvolvidos posteriormente acerca da competição capitalista. Sequer a estreita relação da incidência da busca pela perspectiva de análise marxista a cada irrupção de crise, é esquecida, com menção à crise mundial de 2007.

O capítulo 5, escrito por Yahra M. Madra, busca apresentar uma atualização dos desenvolvimentos da teoria neoclássica nas últimas décadas. A princípio, a inclusão desse capítulo no plano da obra pode ser justificada por duas razões. Em primeiro lugar, muitos dos desenvolvimentos apresentados pela teoria neoclássica refutariam o criticismo de que ela foi alvo durante mais de um século. Adicionalmente, muitos desses desenvolvimentos representariam, de fato, uma nova teoria econômica, distante dos pressupostos neoclássicos para se afirmar como tal nos próximos anos. Madra descarta, logo em seguida, esta segunda proposição. Em sua visão, os desenvolvimentos recentes da teoria neoclássica não representam uma ruptura com a tradição neoclássica (p. 251).

Madra também não corrobora a afirmação a priori de uma superioridade argumentativa das teses neoclássicas frente às críticas recebidas. A posição que o autor parece adotar é a da necessidade da atualização do diálogo entre as três vertentes – marxista, keynesiana e neoclássica – em especial frente à crise de 2007.

É então realizado um apanhado do criticismo sobre a teoria neoclássica. Uma questão interessante levantada por Madra é a de que as críticas de marxistas e keynesianos à teoria neoclássica foram, em sua maior medida, ataques à sua consistência lógica do que à sua aderência à maneira como as realidades econômicas são organizadas e funcionam (p. 254).

Aparecem, então, as críticas, muitas delas já detectadas na literatura econômica: o conceito de mercados e seu funcionamento; o comportamento humano e as hipóteses de racionalidade econômica; e o funcionamento real de indivíduos e organizações na economia. A partir dessas críticas, são apresentadas extensões da teoria neoclássica em resposta a tal criticismo, sem novidade substantiva aos problemas levantados a tais questionamentos. Passa-se então às contribuições da teoria neoclássica recente quanto à teoria dos jogos – com a identificação de uma ligação muito interessante entre as ideias de Nash e Pareto, quanto às escolhas e sua racionalidade – imperfeições de mercado, externalidades, competição imperfeita, custos de transação e organização do ambiente econômico, fluxos de informação e novas teorias comportamentais sobre os agentes econômicos.

Seguindo a questão do paralelo Pareto-Nash, não se observa grande mudança de método no desenvolvimento da teoria neoclássica ao longo do século XX. A quem esperava refutações mais categóricas do criticismo de marxistas e keynesianos, resta um grande anticlímax. O capítulo termina por apresentar muito mais tentativas de extensão do método neoclássico de formulação de hipóteses em reductio ad absurdum, com o intuito de intensificar a matematização de explicações econômicas e justificar uma visão que, mesmo tendo mais de um século e meio de existência ativa, não parece ter avançado na visão dos temas sociais. Ao final, a justificativa para o capítulo termina por ser o evidenciamento da necessidade de atualizar-se o discurso neoclássico para o debate frente à crise de 2007. Este é o maior mérito do capítulo de Madra no livro.

O capítulo seguinte trata das oscilações do Capitalismo, ao longo da História Econômica e entre as correntes de pensamento econômico. Por mais que o jogo de palavras sugira um capítulo de amplo escopo, e mesmo de caráter extenso, o que é oferecido em suas 34 páginas não vai além das concepções usuais das teorias estudadas no livro. Há uma mudança de eixo do pensamento econômico para a teoria econômica ao longo do capítulo, acompanhando um desenvolvimento argumentativo cronológico. O resultado, na maior parte do texto, parece-se mais com uma exposição de pontos que merecem reflexão futura do que com o produto de uma visão consolidada.

É provável que, ao longo das edições da obra, este tenha sido o capítulo mais trabalhoso para os autores. Infelizmente, ele traz muito pouco de novidade ao debate sobre o tema, sem mudar ou sugerir mudança aos atuais posicionamentos.

Melhor sorte tem o sétimo e último capítulo, que busca realizar a mesma comparação proposta pelo anterior, sem, contudo, embrenhar-se pela análise histórica ou pela arqueologia de ideias que conduziriam o debate entre as teorias neoclássica, marxista e keynesiana. De maneira surpreendente – o emprego de uma análise historicizada seria preferível a uma meramente estrutural ou epistemológica – a comparação entre os aspectos teóricos das três vertentes em sentido amplo e desconsiderando seu desenvolvimento histórico tem mais sucesso na afirmação das premissas iniciais dos autores do que por outro caminho. O ponto maior defendido pelos autores – a necessidade de conhecimento plural das teorias e da realização de um permanente diálogo entre elas – é mais do que provado.

Seria injusto, contudo, afirmar que a obra se resume a um tour de force a favor do pluralismo metodológico e teórico na ciência econômica. Há nela também posicionamentos fortemente críticos quanto à visão neoclássica, à forma pela qual a teoria marxista foi aplicada historicamente, no chamado socialismo real, e aos caminhos adotados no longo prazo pelas políticas macroeconômicas keynesianas. Sobre tais aspectos, nossa opinião é a de que tais críticas revelam-se mais procedentes no sentido de sua maior densidade que vai do pensamento e da teoria econômica até a história econômica, terreno no qual as conjecturas dos autores perdem um pouco de solidez empírica, o que não invalida, de forma alguma sua leitura. Afinal, e a obra tem o mérito de celebrar isso, o debate está aberto.


Resenhista

Luiz Eduardo Simões de Souza – Professo Doutor Adjunto Universidade Federal de Juiz de Fora. GEEPHE – Grupo de Estudos em Economia Política e História Econômica.


Referências desta Resenha

WOLFF, R.; RESNICK, S. Contending Economic Theories: Neoclassical, Keynesian and Marxian. Massachusetts: MIT Press, 2012. Resenha de: SOUZA, Luiz Eduardo Simões de. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 10, n. 32, p. 301-305, agosto, 2014. Acessar publicação original [DR]

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