Economia Internacional: teoria e experiência brasileira | Renato Baumann, Otaviano CAnuto e Reinaldo Gonçalves

Presente, com considerável importância, em toda a história brasileira e notoriamente a partir do processo de abertura ocorrido no início dos anos 90, as relações econômicas com o resto do mundo adquirem indiscutível relevância tanto na promoção de políticas públicas quanto no cotidiano dos indivíduos. O fato de que, atualmente, o comportamento de uma outra economia pode afetar as taxas de juros internas rapidamente e de que é possível adquirir facilmente bens e serviços de outros países – através da internet, por exemplo – relevam a importância da compreensão dos conceitos e das teorias sobre economia internacional.

A obra escrita por Renato Baumann, Otaviano Canuto e Reinaldo Gonçalves dirige-se, principalmente, para cursos de graduação e de pós-graduação de economia internacional. Encaixa-se na recente demanda por parte do setor público, do setor privado e da academia por indivíduos qualificados em compreender o meio internacional. Em que se reconhece a inegável preponderância do caráter econômico. Como se observa, por exemplo, no papel fundamental que tiveram as relações econômicas como fator estimulante e balizador das relações entre a sociedade internacional européia do século XIX e o resto do mundo, originando o sistema interdependente em vários aspectos que hoje se observa.

Como os demais livros-textos sobre o assunto, a obra apresenta a tradicional divisão entre comércio e finanças. Apresenta, contudo, um diferencial atraente, análise e aplicação das teorias tendo em vista o contexto e a experiência brasileira no relacionamento com as demais economias.

A primeira parte, destinada ao comércio internacional, apresenta-nos teorias que buscam explicar a composição da pauta de trocas comerciais, assim como o impacto dessas trocas no sistema produtivo interno. Teoremas como o de HecksherOhlin que afirma ser um país exportador do produto cujo processo produtivo utiliza intensamente o fator de produção no qual o país é abundante. O de Samuelson-Stopenson, em que o produto exportado possui o fator, no qual é intensivo, melhor remunerado, afetando a distribuição funcional da renda. Tais teorias ajudam a compreender a pauta de comércio exterior do Brasil, assim como os efeitos sobre os fatores internos.

O conhecimento sobre teorias de comércio internacional, permite a melhor compreensão da evolução e do impacto interno que tiveram as transações correntes da economia brasileira. Entretanto, não é suficiente para compreender as relações econômicas do Brasil com o mundo, se não se considerar as transações financeiras.

As construções teóricas sobre transações financeiras são mais recentes às sobre comércio, devido ao fato de que essas transações adquiriram relevância igual (ou talvez maior) após uma série de fatores que permitiram o aumento delas. Políticas públicas visaram atrair investimento externo, novas instituições e instrumentos do sistema financeiro internacional permitiram maior segurança para os investidores, as “dificuldades” de expansão interna das economias desenvolvidas geraram um “transbordamento” destas e as tecnologias de comunicação reduziram os custos de monitoramento e de manutenção dos investimentos.

Os autores listam duas vias da globalização que influenciam no investimento internacional. A globalização produtiva e a financeira. Esta se caracteriza pelo aumento dos fluxos financeiros, pelas razões previamente citadas para o aumento do investimento internacional; pela crescente competição no mercado de capitais, dado o aumento da concorrência e do número e da diversidade dos agentes atuantes no sistema financeiro internacional; e pelo crescimento da interação entre os sistemas financeiros nacionais, visto a busca por remuneração maior para o capital em outros países. Aquela se caracteriza pela maior internacionalização do processo produtivo, na busca por ganhos na diversificação geográfica da produção; pelo aumento da competição internacional, em função do maior número de empresas atuando no mercado internacional; e pela conseqüente maior integração do processo produtivo das diversas economias. Apesar de não desenvolverem de forma elaborada esses conceitos, os autores criam a base para discutir as conseqüências diretas desse processo para as economias nacionais, notoriamente o aumento da vulnerabilidade dos países, dado a dependência dos fluxos de investimento, mediante a crescente interação das economias.

O livro, contudo, requer um prévio conhecimento de economia e de modelos matemáticos usados em economia para o melhor entendimento de certos trechos. No restante, a obra pode ser apreciada por todos que possuírem interesse no assunto, mesmo que sob o foco político, pois o livro abrange temas como integração, negociações internacionais e política comercial.

Cumpre o papel de apresentar as informações requeridas de um livro-texto sobre economia internacional e como obra de referência para os interessados sobre o assunto. Não obstante, a discussão sobre a experiência brasileira é um diferencial dos demais livros sobre o assunto e promove uma maior proximidade por parte dos leitores brasileiros à aplicação dos modelos teóricos.


Resenhista

João Gabriel Ayello Leite – Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB e editor assistente de RelNet – Rede Brasileira de Relações Internacionais.


Referências desta Resenha

BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVES, Reinaldo. Economia Internacional: teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Resenha de: LEITE, João Gabriel Ayello. Meridiano 47, v.6, n.54, p.21-22, jan.2005. Acessar publicação original [DR]

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