Encontros entre Brasil e Itália: intercâmbios acadêmicos | Fênix | 2014

Arte Constructivo 1943 Intercâmbios Acadêmicos
Arte Constructivo (1943), de Joaquín Torres-García | Imagem: UOL

O dossiê “Encontros entre Brasil e Itália: intercâmbios acadêmicos” que ora apresentamos aos leitores da Fênix – Revista de História e Estudos Culturais é fruto do esforço de um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros interessados no que há de mais significativo no interior da pesquisa acadêmica: a possibilidade do diálogo. É impossível imaginar a constituição social sem os mais variados tipos de encontros. Não há produção humana que possa prescindir disso. Realizada no interior de uma comunidade, a pesquisa acadêmica só se concretiza tendo como pressuposto os intercâmbios de ideias, informações, análises, etc. Além dessas questões que envolvem a metodologia e a prática da pesquisa em si, os intercâmbios fazem parte da temática deste dossiê.

Em 2011 foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia o I Colóquio – Circularidades Políticas e CulturaisPercursos Investigativos que congregou pesquisadores interessados na temática. 1 Nos anos subsequentes foram realizados mais três colóquios. Em 2013, na Universidade Presbiteriana Mackenzie e, em 2012 e 2014, na Università degli Studi di Genova. O que o leitor encontrará aqui é parte das exposições ocorridas em março de 2014 na Itália. O elemento que unifica os trabalhos apresentados nos colóquios e que, obviamente está presente no dossiê, é justamente a noção de circularidade cultural entre dois países distantes geograficamente, porém próximos do ponto de vista da formação histórica.

Todo o esforço acadêmico que envolve esses debates partiu do acordo de cooperação internacional assinado em 2011 entre a Universidade Federal de Uberlândia e a Università degli Studi di Genova, coordenado pelas professoras Dra. Rosangela Patriota Ramos e Dra. Chiara Vangelista. Acreditamos que parte dos frutos desse acordo estão expressos nas reflexões a seguir e, assim esperamos contribuir para o aprofundamento da pesquisa acadêmica no Brasil e seus diálogos internacionais.

Chiara Vangelista, pesquisadora italiana preocupada com a história brasileira, no artigo Três fotografias de grupo (1909-1914): um ensaio de história visual, recupera fotografias do volume da Missão Rondon, editado em 1916, Apontamentos sobre os trabalhos realizados pela Commissão de Linhas Telegráphicas Estratégicas de Matto-Grosso ao Amazonas sob a direção do Coronel de Engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon de 1907 a 1915, publicados em artigos do Jornal do Commércio do Rio de Janeiro, e oferece ao leitor um arguta reflexão sobre as implicações interpretativas que as fotografias carregam. Calcada em ampla pesquisa acadêmica, a historiadora proporciona contundentes reflexões sobre os aspectos teóricos e metodológicos que envolvem o uso de fotografias no trabalho de pesquisa em história.

Por outro lado, tendo o teatro como fonte privilegiada de pesquisa, os historiadores Rosangela Patriota e Rodrigo de Freitas Costa realizam diferentes análises tendo por premissa as aproximações entre o teatro italiano e o Brasil. Em Diálogos Políticos e Estéticos entre Brasil e Itália: Morte Acidental de um Anarquista (Dario Fo, 1970) nos palcos brasileiros pela Companhia Estável de Repertório de Antonio Fagundes (1982), Patriota prioriza a dramaturgia de Dario Fo e suas relações com o Brasil do período da Ditadura Militar, por meio do trabalho desenvolvido pela Companhia Estável de Repertório de Antônio Fagundes, em 1982. Já a preocupação de Costa, em Luigi Pirandello no Brasil: significados teatrais e sociais por meio do diálogo entre arte e sociedade, recai sobre o processo de recepção de Luigi Pirandello no Brasil da década de 1920.

O cinema também se faz presente no interior das discussões que têm os intercâmbios culturais como mote. No artigo Diálogos: Paulo César Saraceni e o cinema italiano durante os anos 1960, Alcides Freire Ramos se debruça sobre os filmes do diretor que dialogaram com o neorrealismo italiano e realiza importantes reflexões sobre o Cinema Novo, sobretudo a partir da análise do curta-metragem Arraial do Cabo (1958). Mais preocupado com os debates contemporâneos por meio do cinema, o pesquisador Paulo Monteiro de Araújo, em A Grande Beleza ou a Beleza sem raízes, ou blá-blá-blá, utiliza-se do filme A Grande Beleza, de Paolo Sorretino, lançado em 2013 e propõe ao leitor instigantes aproximações entre a realidade brasileira e a italiana dos dias atuais.

Além das discussões sobre fotografia, teatro e cinema, compõe este dossiê o texto do pesquisador Edgar Vidal, Luigi Russolo y Joaquín Torres-García: deslizamientos musicales y circulaciones esotéricas, que se dedica à análise das interlocuções entre o pintor uruguaio Joaquin Torres-García e o pintor italiano Luigi Russolo no ambiente da revista “Cercle et Carré”, de Paris, no início do século XX. A aproximação de música e pintura no trabalho dos dois artigos é o elemento sobre o qual o pesquisador mais se dedica.

Encerrando as discussões do dossiê, o leitor entrará em contato com as reflexões da historiadora Cléria Botelho da Costa, no texto Contar Histórias: uma forma de reconhecimento do outro. Preocupada com a questão da memória e do reconhecimento do outro, a autora analisa narrativas relacionadas com a questão afro no Brasil com o intuito de apresentar as singularidades da prática da pesquisa em história.

Por fim, reiteramos que os intercâmbios culturais e acadêmicos só podem ser efetivamente valorizados quando tomamos como referência a divulgação de ideias. Esperamos que este dossiê possa aguçar o interesse dos leitores e, assim, permitir que novas proposições acadêmicas floresçam.

Nota

1 Os resultados desse evento foram publicados em: RAMOS, Alcides Freire; VANGELISTA, Chiara; PATRIOTA, Rosangela. (Orgs.). Circularidades Políticas e Culturais: percursos investigativos. São Paulo: Hucitec, 2012.


Organizadores

Rodrigo de Freitas Costa – Professor Adjunto do curso de História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (Uberaba-MG), Doutor em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia, pesquisador do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), autor do livro Tambores na Noite: a dramaturgia de Brecht na cena de Fernando Peixoto, publicado em 2010 pela Editora Hucitec e um dos editores do periódico eletrônico Fênix – Revista de História de Estudos Culturais. E-mail: [email protected]

Fulvia Zega – Doutora em História pela Università degli Studi di Genova. E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

COSTA, Rodrigo de Freitas; ZEGA, Fulvia. Apresentação. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v.11, n.2, jul./dez. 2014. Acessar publicação original [DR]

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