Familias colombianas y migración internacional: entre la distancia y la proximidad | Yolanda P. Villamizar, Amparo M. León e María C. Palacio

A obra “Familias colombianas y migración internacional: entre la distancia y la proximidad”, congrega estudiosas experimentadas tanto na pesquisa acerca da temática sobre família, quanto sobre migração. As autoras apresentam as migrações transnacionais como um dos fenômenos mais importantes do tempo presente, que tem provocado impactos sociais, econômicos, políticos e culturais, consubstanciados na alteração da dinâmica familiar e da espacialidade dos locais de origem e de destino. A partir da abordagem de Gênero, a análise rompe com a imagem do discurso social sobre a migração como responsável pelo processo de “desagregação familiar”, apontando para diferentes configurações da categoria família, e discutindo profundamente o papel das mulheres neste projeto. A noção patriarcalista é colocada em xeque diante das transformações observadas nas famílias em processo migratório, especialmente, a partir do enfoque em que as mulheres são protagonistas e participantes ativas nos processos migracionais contemporâneos.

Editado por Yolanda Puyana Villamizar, Amparo Micolta León e María Cristina Palacio, o livro apresenta os resultados de uma grande pesquisa realizada entre os anos 2008 e 2012, sendo uma colaboração entre pesquisadoras do campo das ciências sociais e humanas, que formam na Colômbia uma importante rede de articulação dos Grupos de Estudos de Famílias das Universidades: Nacional de Colombia, Cartagena, Antioquia, del Valle e Caldas. No transcurso dos seis capítulos da obra, as autoras trabalham novas e importantes categorias de análise, em particular, o conceito de “família em situação de transnacionalidade”. A partir da perspectiva metodológica qualitativa procuram entender as experiências produzidas por meio das mudanças relacionais, entre mães, pais, filhas, filhos, cuidadoras e cuidadores, analisando as condições que separam e conectam os grupos familiares colombianos em situação de migração transnacional. Através da aplicação de um questionário semi-estruturado objetivaram nas entrevistas apreender as sensibilidades, buscando abarcar os sentidos e significados construídos e atribuídos no processo em questão, tanto para os que ficam, quanto para os que partem. Foram realizadas 504 entrevistas, divididas entre as cidades de Bogotá, Cali, Manizales, Medellín, Cartagena, Barranquilla e Pereira. As pesquisadoras escutaram atentamente as vozes que provinham dos/as envolvidos/as, mas seus silêncios, diante de delicadas interrogações, foram reveladores para uma melhor compreensão do problema.

No primeiro capítulo do livro, “El contexto de las migraciones internacionales en Colombia (1990 – 2010)”, as autoras Yolanda Puyana Villamizar, Amparo Micolta e Blanca Inés León Jimenez Zuluaga, analisam as configurações e reconfigurações sociais na Colômbia, relacionando-as ao processo de globalização e, por conseguinte, aos aspectos da migração internacional. As mobilidades das populações colombianas no exterior são apontadas, em grande medida, como resultado das crises econômicas que assolam o país. As pesquisadoras afirmam que as mães e pais partem em busca de melhores condições de trabalho e de vida. Esta expectativa de melhoria é tanto para quem migra, quanto para o grupo familiar que permanece no país. Ao deixarem suas regiões de origem, seus filhos e filhas ficam com entes familiares denominados pelas investigadoras como cuidadoras e cuidadores. Esta é uma importante perspectiva que evidencia uma família mais estendida e solidária, em oposição à família nuclear. Aqueles/as comprometidos/as com o projeto enfrentam muitas dificuldades, sobretudo, as longas distâncias. A superação dá-se com base na esperança de um bem-estar futuro, em comum. As mães e pais partem do país, porque estão assolados por condições de precariedade, inerentes à informalidade profissional, baixos salários, subemprego, desemprego, ou, ainda, porque são forçados pelos violentos processos que envolvem a política. Os chamados “desplazamientos” são recorrentes e promovendo a expulsão de populações por milícias fortemente armadas. Assim, a migração colombiana no exterior pode ser mensurada como um processo significativo nas últimas décadas do século XX, que se tornou mais agudo na primeira década deste milênio. Os dados apontam que aproximadamente 10% da população deste país se encontravam, no momento da pesquisa, em situação migração internacional. Este grupo populacional tem partido para centros urbanos de países onde as oportunidades são consideradas melhores. As autoras analisam que frente a tal realidade, a Colômbia configura-se como um país expulsor de sua população, principalmente aquela que está submetida à inconsistência econômica, ou é perseguida politicamente. Os dados analisados dão conta de que os migrantes se dirigem em maior número para os Estados Unidos, Espanha e Venezuela.

No segundo capítulo, “Padres y madres en procesos migratorios internacionales: momentos previos al viaje”, María Del Pilar Morad Haydar, Mercedes Rodríguez López e Gloria Bonilla Vélez, buscam entender os fatores fundamentais que impulsionam a migração e, consequentemente, as estratégias e articulações familiares que possibilitam a configuração deste processo. De acordo com as investigadoras, o momento da partida apresenta situações que devem ser superadas, principalmente tensões e incertezas relacionadas ao local de destino e, também, ao cuidado com os filhos e filhas que permanecem no país. Neste sentido, as redes sociais são apontadas como fundamentais para mobilização das pessoas, são entendidas como suporte dos projetos de migração. Um conjunto de laços interpessoais conecta no destino os recém migrados com antigos migrantes e também com pessoas que estão no local de origem. Essas redes são possíveis através do parentesco, da amizade e da comunidade, seja no país de origem, seja no de destino. As novas tecnologias da comunicação e informação passam a sensação de encurtamento das distâncias, facilitando o fluxo de diálogo entre as pessoas e também as remessas financeiras acordadas entre os entes familiares. As redes sociais são analisadas a partir de duas perspectivas: a migratória e a familiar. No que diz respeito à migratória, pessoas e instituições contribuem para a sua formação, ou seja, outros/as migrantes, naturais, empregadores/as, organizações governamentais e não governamentais, dentre outros. Já, nas redes familiares circulam parentes próximos, tais como avós, avôs, irmãos, irmãs, tios, tias, primos e primas. Neste sentido, os laços de sangue são julgados pelos/as informantes como muito importantes, todavia essas redes podem ter ainda outros sujeitos que não são parentes consanguineos. Segundo as investigadoras, a decisão de migrar é parte de uma complexa estratégia, que corresponde a um projeto familiar, sendo necessário estabelecer acordos com todos e todas que dele participam. Todavia, algumas vezes este planejamento acontece de forma individual. Os acordos são, no prelúdio migratório, o compromisso mais forte de ligação entre o migrante e quem fica e para que este projeto dê certo, se faz necessário que o ao longo de todo o processo os acertos sejam respeitados, o que tem como resultado o fortalecimento dos laços afetivos. Parentes nos locais de origem são fundamentais para sustentar o empreendimento da família transnacional, pois ficam com a responsabilidade de cuidar dos filhos e filhas, devendo passar confiança e tranquilidade as mães e aos pais migrantes. Estes/as, por sua vez, devem, em troca, ter um compromisso rigoroso com o envio das remessas, pois a parte financeira se constitui como fundamental para manutenção do pacto. As autoras evidenciam o papel das mulheres no processo de migração, seja quando as mães ficam na Colômbia com seus/suas filhos/as, seja quando migram e deixam-nos/nas com outras mulheres do grupo familiar. As mães que migram buscam garantir o cuidado das crianças a partir de mulher do rol materno dentro da família, e mantém uma comunicação permanente, para que a migração não gere uma situação de desagregação familiar.

No capítulo três, intitulado “Vida familiar transnacional: nuevas lógicas para comprender la organización familiar”, as autoras Gloria Inés Sánchez Vinasco, Luz María López Montaño y María Cristina Palacio Valencia, identificam, delimitam, argumentam e aprofundam a denominação teórica de: “família transnacional” e “família em situação de transnacionalidade”, o discussão gira em torno da “transitoriedade familiar”. É necessário, nesta perspectiva, entender que a família pode existir sem que seus membros vivam em um único país. A família que vive na situação em que seus componentes se desterritorializam têm empreendido esforços significativos para a manutenção dos vínculos. Apesar da distância geográfica mantém os laços necessários para denominar a situação de transnacionalidade, caracterizando-se, para além da separação física, por um projeto em comum que respalda a sobrevivência e a formação de um capital social e econômico familiar. As novas tecnologias e a virtualidade contribuem para a formação de outros cenários que conectam os entes familiares, e produzem um lugar “glocal”, resultante da confluência entre o global e o local. Como explicam, é possível nomear a experiência da dinâmica familiar que ocorre quando pais e mães deixam seus filhos e filhas com cuidadoras/es e migram em busca de um futuro melhor para a família. Esta abordagem que reconfigura o olhar sobre as famílias em processo de migração, enfrenta o estigma de quê a migração é a causa da deterioração ou ruptura do casamento, ou mesmo de abandono de filhos e filhas. Uma das questões que as autoras entendem como essencial neste enleio são as perspectivas de retorno, ajustadas em um limite de tempo reconfortante e sensibilizador da manutenção dos laços mais fortes. A migração do pai ou da mãe denota uma redefinição na dinâmica relacional e vinculante entre os que saem e os que ficam. A efetivação deste projeto é fortemente focada na construção e manutenção de um patrimônio cujo foco é a melhoria das condições de vida do grupo familiar.

No quarto capítulo, “Relaciones paternofiliales en el contexto de la migración internacional”, escrito por Yolanda Puyana Villamizar e Alejandra Rojas Moreno, são analisadas as relações de pais e mães com seus filhos e filhas em situação de migração internacional a partir das propositadas mudanças e permanências. Segundo as autoras, em uma das situações de mudança: “te vas y te alejas”, as relações que eram consideradas próximas, antes da migração, se tornaram conflituosas e frustrantes, devido, sobretudo, à ausência física. Em alguns relatos é possível perceber que as crianças sofriam muito com a ausência física dos pais. Especialmente nos casos em que antes do processo migratório, os pais tinham uma grande presença afetiva, e que com a partida se arrefeceram os laços, ocasionando uma quebra emocional. De outro lado, os pais e mães que migraram relatam um sentimento de culpa por deixarem seus filhos e filhas, mesmo com a frequencia do envio dos proventos econômicos, pois o contato passa a acontecer mais esparsamente. Em alguns casos, ocorre a separação de casais em virtude do processo migratório. Em geral, são os homens que tendem a desvincularem-se, deixando também os filhos e constituindo novas possibilidades familiares no local de destino. Na segunda tendência: “te alejas y me acerco”, são analisadas situações em que os vínculos antes da migração não eram tão fortes, mas com a partida tornaram-se fortalecidos. Nesta tendência os pais migraram quando os filhos tinham ainda pouca idade, de modo que as memórias da presença, em especial, do pai eram mínimas e a relação afetiva foi se desenvolvendo na medida em que filhos e filhas iam crescendo. Assim, a distância parecia tornar-se menor. No terceiro e quarto pontos não se apresentam mudanças nas relações paternofiliais, permanecendo o relacionamento em uma mesma condição. Seja porque os vínculos afetivos antes da partida já se constituíam como muito fortes, com grande proximidade, conforme a expressão erigida pelas pesquisadoras: “aun que te vayas estoy contigo”. Ou seja, porque mesmo antes da migração os laços familiares eram frágeis, e assim continuaram como bem expressa o seguinte período: “se te vas no me importa; igual, nunca has estado”.

O quinto capítulo intitulado “El cuidado de hijos y hijas de madre y padres migrantes”, escrito Amparo Micolta León, María Cénide Escobar Serrano y María Cristina Maldonado Gómez, reforça a questão da rede familiar no processo do cuidado. As autoras concluem que as pessoas que assumem a tarefa de ficar com os filhos e filhas de pais e mães migrantes são geralmente adultas com vínculos de parentesco. Apesar das redes serem ainda compostas por amigos/as da família, as avós e tias eram as mais requeridas como cuidadoras. A partir da pesquisa foram identificadas três formas diferentes de tempo e espaço relativo ao cuidado antes e depois da migração: “o cuidado total”, dia e noite, já compartilhado na família estendida antes mesmo da migração, especialmente pelas avós; “o cuidado parcial”, somente durante o dia, quando os pais deixam seus filhos e filhas sob os cuidados das avós ou tias durante a jornada de trabalho; e o “cuidado esporádico”, que é de fins de semana, em que as/os cuidadoras/es ficam com as crianças por um tempo curto. Segundo as autoras, as redes que estavam operando antes do processo de migração tendem a manter-se facilitando a migração dos pais ao exterior. Desde a perspectiva de gênero as pessoas que atuam na rede de cuidados são principalmente mulheres. São as avós e tias que transmitem as mães e aos pais a informação sobre as crianças, suas necessidades e seu comportamento. Quando a migração é do pai, geralmente é a mãe que continua a tomar conta dos filhos/as, mas quando é a mãe que migra, a situação torna-se mais delicada, especialmente quando esta não pode contar com sua mãe ou irmã para cuidar dos filhos/as. Outra importante questão levantada está relacionada com a autoridade. Aquelas/es que ficam responsáveis pelos filhos e filhas devem exercê-la, pois entre suas atribuições estão: a organização de rotinas, envolvendo a gestão do tempo, cuidados com alimentação, educação e saúde; e o estabelecimento de normas de comportamento, quer para crianças, quer para jovens. A questão do exercício da autoridade, em alguns casos, leva a relacionamentos conflituosos tanto dos filhos e filhas com as cuidadoras e cuidadores, quanto com mães e pais migrantes.

No último capítulo do livro “Inmigración internacional forzada. Cambios y conflictos en los grupos familiares”, as autoras Blanca Inés Jiménez e Nora Cano Cardona, lidam com a experiência de migração, em que as pessoas tiveram de deixar o país em consequência do contexto de violência. Entre os fatores mais importantes que configuram a chamada “migração internacional forçada”, estão: a questão política, a extorsão, a cobrança de contas, a violência familiar e o medo de morrer. Dada a iminência do perigo, as pessoas ameaçadas e com medo intervêm nas redes familiares, que fornecem o suporte necessário para sua saída do país. Estas pessoas são obrigadas ao exílio devido à ameaça de serem assassinadas. As pesquisadoras destacam as dificuldades para obterem as 32 entrevistas que fazem parte da pesquisa, quinze delas foram realizadas com exilados, onze com filhos e filhas de exilados e seis com cuidadores/as. As histórias são chocantes e mostram que boa parte das pessoas forçadas ao exílio pertencia a grupos políticos considerados de esquerda, que faziam oposição ao governo, seja trabalhando em sindicatos, seja participando de organizações comunitárias. Estes procuravam obter no país melhores condições de vida ao exigir direitos sociais. Havia também entre os entrevistados aqueles que militavam na defesa dos direitos humanos e membros de grupos armados, alguns oriundos da guerrilha que estavam reintegrados a vida civil. Os testemunhos dão conta de que as pessoas eram ameaçadas de morte por causa de suas atividades políticas. As motivações econômicas aparecem com base nas extorsões, os chamados “cobro de vacunas” realizados por criminosos comuns, por grupos paramilitares ou mesmo pela guerrilha. O migrante forçado deparava-se com a situação de ter de deixar seus pertences ou vender a baixos valores. O “desplazamiento”, já anteriormente referido, lhes era imposto por grupos armados de narcotraficantes que tomavam as terras a fim de aumentarem a produção de entorpecentes. Outro exemplo de migração forçada é a situação de mulheres em situação de vulnerabilidade, que necessitam deixar suas casas e o país por conta de serem vítimas da violência dos maridos. As autoras concluem que a migração forçada, direta ou indireta faz parte de uma realidade política e social do país, onde os problemas de exclusão e da intolerância são muito fortes e a violência ocorre porque as vias legais onde poderiam tramitar os conflitos não estão de todo democratizadas.

Esta é uma obra fundamental para pesquisadores das áreas de ciências sociais e humanas, mas não se circunscreve somente a estes campos, pois suas abordagens e interpretações podem contribuir significativamente para as mais diversas áreas do conhecimento acadêmico, bem como para a produção de políticas públicas. Tanto a migração motivada pela questão econômica, quanto à forçada por situações políticas, são respostas familiares ou individuais para os problemas de longa data que o país enfrenta. A obra em questão é o resultado de uma importante intervenção investigativa, fundamentada com consistência teórica e estratégia metodológica. As autoras com sensibilidade canalizaram em seus artigos as diversas vozes envolvidas no processo de migração transnacional, além de trazerem novas contribuições para a análise sobre o tema da família e da migração no tempo presente. Contribuindo, por fim, de sobremaneira, para uma reflexão acerca da sociedade colombiana e das mudanças necessárias para torná-la mais justa, igualitária e democrática.


Resenhista

Antero Maximiliano Reis – Mestre em História pela UDESC. Doutorando em História Econômica pela USP. Contato: [email protected]


Referências desta Resenha

VILLAMIZAR, Yolanda Puyana; LEÓN, Amparo Micolta; PALACIO María Cristina (Editoras). Familias colombianas y migración internacional: entre la distancia y la proximidad. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia; Facultad de Ciencias Humanas Centro de Estudios Sociales (CES), 2013. Colección CES. Resenha de: REIS, Antero Maximiliano. Famílias colombianas em situação de transnacionalidade no tempo presente. Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.3, n.12, p. 213-220, 2014. Acessar publicação original [DR]

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