História Ambiental: problemas e abordagens | Sertão História | 2022

A História Ambiental vem sendo estruturada como campo historiográfico desde a década de 1970, cujo estabelecimento institucional tem sido garantido na criação de disciplinas, grupos de pesquisa e cursos de pós-graduação em diversas universidades do mundo. Embora entendida como uma resposta aos reclames por uma responsabilidade ambiental, a História Ambiental foi demarcada com vistas a evitar que a análise se limitasse ao debate ambientalista e pudesse promover uma reflexão mais profunda sobre os problemas de uma ‘História Ecológica’, ou, mais ampla no encalço de um entendimento sobre as relações historicamente estabelecidas pelo homem com o mundo natural.

A dimensão teórica desse campo foi delimitada a partir da compreensão de que a História é ‘o homem e tudo o que há em sua volta’ (Braudel), e de que era necessário aos pesquisadores da História Ambiental perceber ‘a terra embaixo dos pés dos homens’ (Worster). Nessa compreensão, a natureza é vista em sua constante produção e reprodução e como parte do processo histórico dinâmico, ainda que por vezes ela pareça um referencial estável, em virtude de seus marcos temporais sejam demarcados numa escala de tempo que extrapola muito ao do tempo humano/social.

A esta edição da Revista Sertão História interessa contribuir na continuidade nesse debate, mas também promover novos ‘incômodos’ e ricos debates no âmbito da pesquisa histórica. Para tanto, foram reunidos artigos cuja reflexão se concentram na interpretação da complexidade da ideia de Natureza e problematizem diferentes perspectivas sobre as relações natureza e cultura, em diferentes contextos, temporalidades e transformações naturais do mundo contemporâneo. Assim, importa discutir o Antigo Sistema Agrário Colonial e o ocultamento do pobres, da pequena produção e da produção da abastecimento interno da Colônia, no Recôncavo Baiano, no Século XVIII. As leituras possíveis sobre o uso da água na região do semiárido brasileiro, e, noutro contexto territorial, do uso do Rio Tapajós e suas relações com os modos de vida de populações caboclas e indígenas nos sertões amazônicos. Como ainda, as relações possíveis entre a História ambiental e o ensino de história, suas possibilidades de práticas e metodologias aplicadas, e na arte, ao estudar os diversos olhares sobre os animais não humanos na modernidade a partir das representações criadas em jogos de vídeo game.

Esta edição ainda conta com a discussão, de artigos em temática livre. Iniciamos pela luta de mulheres capixabas que, no século XIX, solicitaram a aquisição de terras devolutas no Espírito Santo, análise feita a partir de documentos existentes nos fundos do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Em seguida, a análise da construção do heroísmo sobre a figura de Bernardo Sayão, a partir do contexto brasileiro de desenvolvimento da nação brasileira marcado por projetos como a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), a rodovia Belém-Brasília e construção de Brasília. E, por fim, uma reflexão sobre o advento das mídias sociais e em que medida elas mudaram a forma como os estudantes percebem o tempo, a História e sua própria experiência.

Boa leitura!


Organizadora

Ana Isabel Ribeiro Parente Cortez Reis


Referências desta apresentação

REIS, Ana Isabel Ribeiro Parente Cortez. Apresentação. Sertão História. Crato, v.1, n.2, p.7-8, jul./dez. 2022. Acessar publicação original [DR}

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