História Ambiental | Revista Latino-Americana de História | 2013

O conjunto de textos reunidos no Dossiê de História Ambiental da Revista Latino Americana de História – RLAH – pode ser considerado um exemplo positivo do que Michel de Certeau chamou de economia escriturística. Segundo este autor, a escrita é parte de um ciclo de apropriação, significação e exteriorização de ideias e valores; e o texto – o produto da escrita – potencializa a continuidade do ciclo e da sua influência no comportamento humano.

No âmbito da historiografia, existe uma economia escriturística que influencia nas concepções teóricas e metodológicas de uma determinada pesquisa e, interfere de diversas formas, na seleção e interpretação dos temas pesquisados. Produto específico de uma economia escriturística marcada pela valorização das questões ambientais, a História Ambiental não pode ser dissociada do contexto intelectual em que ela está sendo produzida, uma vez que este contexto, materializado na forma de artigos, dissertações e teses, potencializa o seu crescimento quantitativo e qualitativo.

Diante do que foi exposto, o Conselho Editorial da RLAH está ciente de que o Dossiê reúne uma pequena parcela do que está sendo produzido no campo da História Ambiental Latino Americana. Apesar de pequena, está parcela, composta de nove artigos, é um indicativo de que acertamos na proposta do Dossiê de Ambiental e, ao mesmo tempo, é um indicativo da credibilidade da Revista.

O critério adotado para a organização dos textos foi de ordem geográfica: considerou-se a região contemplada em cada um dos respectivos textos, no sentido Sul-Norte. De acordo com este critério, os quatro primeiros artigos são os procedentes da Argentina e a presença deles no Dossiê é motivo de grande satisfação para a RLAH. O primeiro artigo trata das contribuições da Antropologia para História Ambiental; na sequência, apresentamos dois estudos que abordam, sobre diferentes perspectivas, as relações entre natureza/economia/política/tecnologia nas Províncias de Rioja, Catamarca e Missiones. O pampa argentino também foi contemplado com um artigo que destaca os impactos do cultivo da soja naquela região.

Saindo da Argentina, mas ainda no sul da América, o roteiro do Dossiê aponta para a cidade de Porto Alegre e para o seu projeto de recuperação do Rio Guaíba. Avançando para o Estado Santa Catarina, encontramos o caso do desplacamento da pedra do Morro da Mariquinha – um desastre ambiental ocorrido na Ilha de Florianópolis que foi submetido a uma interpretação histórica.

O Estado de São Paulo foi contemplado com um estudo sobre as representações do Rio Tietê na historiografia paulista. Trata-se de um texto importante para lembrarmos que a valorização da natureza é um componente antigo no pensamento historiográfico brasileiro.

Prosseguindo para longe do sul, o artigo sobre as estradas ribeiras no Ceará do século XVIII é o único que aborda o espaço geográfico do nordeste brasileiro. Espaço que antes de receber nomes e representações cartográficas contemporâneas, precisou ser construído pela interferência dos nativos e dos europeus na natureza local. E esta complexa experiência de interação entre a natureza e os colonizadores também pode ser encontrada no artigo sobre as “pragas da colônia” – expressão usada pelos autores no estudo sobre os insetos no Brasil do século XVI.

Finalizando o roteiro do Dossiê, a resenha da obra Nature’s Economia: A History of Ecological Ideas, do historiador norte americano Donald Woster, nos leva ao encontro de um clássico da História Ambiental norte americana. Um encontro mediado pela escrita da autora da resenha, uma historiadora brasileira. Um artigo livre e uma entrevista encerram a presente edição. Desejamos que os autores, colaboradores e leitores da RLAH encontrem no Dossiê, motivação

o para ampliarem seus estudos sobre a História Ambiental e subsídios para fomentar o necessário diálogo historiográfico. Desta forma, agradecemos o crédito pela cessão dos textos e reforçamos nosso compromisso com a produção e difusão do conhecimento histórico. E retomando o pensamento de Michel de Certeau, acreditamos que oferecemos, com este Dossiê, uma contribuição para economia escriturística da História Ambiental.

Ótima leitura!

Cordialmente,


Organizadores

Fabiano Quadros Ruckert – Editor da Revista Latino-Americana de História.

Anna Paula B. N. dos Santos – Editora da Revista Latino-Americana de História.

José Carlos da Silva Cardozo – Editor da Revista Latino-Americana de História.

Julio Cesar de Oliveira – Editor da Revista Latino-Americana de História.

Luis Alexandre Cerveira – Edito da Revista Latino-Americana de História.

Maicon Diego Rodrigues – Editor da Revista Latino-Americana de História.

Maria Cristina Bohn Martins – Editora da Revista Latino-Americana de História.

Paulo Roberto Staudt Moreira – Editores da Revista Latino-Americana de História.

Tiago da Silva Cesar – Editor da Revista Latino-Americana de História


Referências desta apresentação

RUCKERT, Fabiano Quadros; SANTOS, Anna Paula B. N. dos; CARDOZO, José Carlos da Silva; OLIVEIRA, Julio Cesar de; CERVEIRA, Luis Alexandre; RODRIGUES, Maicon Diego; MARTINS, Maria Cristina Bohn; MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; CESAR, Tiago da Silva. Editorial/Apresentação. Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.2, n.8, p. 5-7, 2013. Acessar publicação original [DR]

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