História & Música Popular | ArtCultura | 2016

Como que trazidos nas asas do vento que sopram do Norte em direção ao Sudeste, para não dizer aos quatro cantos do Brasil, o minidossiê História & Música Popular no Pará sela um objetivo traçado há alguns anos. Ele dá concretude a um deslocamento do centro de gravidade em torno do qual se movem, em grande parte, os estudos sobre música popular brasileira, que, como todos sabem, encontraram no Rio de Janeiro e em São Paulo o eixo sobre o qual se assentaram.

É, portanto, mais do que chegada a hora de imprimir um novo impulso aos esforços voltados para derreter as distâncias que separam os polos culturalmente alçados à condição de hegemônicos daqueles que foram por muito tempo conservados em posição subalterna, quando não silenciados. Trata-se de colocar na vitrine da produção historiográfica temas mantidos à deriva e, a partir daí, evidenciar rasuras da História pouco conhecidas da maioria dos estudiosos do campo musical.

A ArtCultura: Revista de História, Cultura e Arte já se abriu, anteriormente, para a acolhida de temáticas e de pesquisadores do Norte. Em edições recentes, Antonio Maurício Dias da Costa, da UFPA, publicou o artigo “A ‘cor local’: rádio e artistas da música popular em Belém nas décadas de 1940 e 1950” (ArtCultura 25). Relivaldo Pinho, da Unama, escreveu “A Amazônia transfigurada no teatro de João de Jesus Paes Loureiro” (ArtCultura 29). Agora damos mais um passo à frente.

Permitam-me algumas observações de ordem pessoal. Longe de refrear o ímpeto de novas pesquisas provenientes de terras paraenses, este minidossiê representa como que o coroamento parcial de uma série de contatos estabelecidos, ao vivo e em cores, com pesquisadores paraenses, desde 2008, quando lá estive a fim de proferir palestra no Seminário “A História em cantos”, organizado por Cleodir Moraes, na UFPA. Na sequência experimentei a satisfação de retornar a Belém nas demais edições desse evento, pronunciei conferência numa promoção do Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia, da mesma universidade, e participei da banca de mestrado de Edilson Mateus Costa da Silva. Ambos, Cleodir e Edilson, comparecem neste minidossiê. Cleodir, em particular, meu ex-orientando de doutorado, produziu uma das mais qualificadas teses defendidas no Programa de Pós-graduação em História na UFU. O outro pesquisador aqui presente, Tony Leão da Costa, doutor em História Social pela UFF, é também das bandas do Pará, e com ele venho mantendo frutíferos encontros em congressos nacionais e internacionais, especialmente em simpósios temáticos sobre História & Música coordenados por mim e pela Tânia da Costa Garcia, da Unesp-Franca.

Logo se vê que este minidossiê é o desaguadouro de uma rede de interlocuções que não vem de hoje. Nele as temáticas abordadas transitam pelo carnaval belenense e suas relações contraditórias com o samba, passam pelo engajamento político expresso na música popular feita no Pará à época em que a ditadura militar buscava implementar suas políticas desenvolvimentistas na Amazônia e culminam com um mapeamento analítico da carreira de Fafá de Belém e seus saltos entre uma música regional e nacional.

Evidentemente, haveria mais munição para outras batalhas da memória a respeito dos muitos caminhos, entre os quais múltiplos atalhos, que conformam a história da música popular brasileira. Por ora, paramos por aqui, acenando, no entanto, com próximas atrações para dotar de maior musculatura essa área de estudos e a inserção do Pará no âmbito de uma história da qual muitas vezes foi posto à margem. Detalhe: nesse contexto o Pará, obviamente, entra como metáfora do esquecimento que cobre outras regiões do país.


Organizador

Adalberto Paranhos – Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor do Instituto de Ciências Sociais e dos Programas de Pós-graduação em História e em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq. Autor, entre outros livros, de O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2007.  E-mail: [email protected]


Referências desta apresentação

PARANHOS, Adalberto. Nas asas do vento: sons que vêm de longe. ArtCultura. Uberlândia, v. 18, n. 32, p. 73-74,  jan./jun. 2016. Acessar publicação original [DR]

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