Homenagem a Maria do Amparo Tavares Maleval | Signum – Revista da ABREM | 2021

Homenagem, substantivo feminino que significa demonstração de admiração e respeito ou ato de deferência; tributo. Assim temos que nos sentir ao tornar público um número especial da Revista Signum no qual estão reunidos trabalhos de pesquisadoras e pesquisadores que, de diferentes formas, dialogaram com a professora Maria do Amparo Tavares Maleval. Em seu nome também tem uma palavra que define o que esta professora foi para muitas pessoas: amparo significa apoio, sustentação; pessoa que ajuda. Esse jogo de palavras será julgado lugar-comum por muitas pessoas que não conviveram com ela ou que não têm conhecimento de sua importância, inclusive, para esta revista que agora presta esta justa celebração de sua memória.

Estamos falando de uma mulher, professora, pesquisadora com intensa produtividade, consolidada nacional e internacionalmente, autora de livros como Rastros de Eva no imaginário ibérico (1995) e Fernão Lopes e a retórica medieval (2010). Seu último livro, O teatro medieval e seus congêneres em Santiago de Compostela (séculos XII-XIII) veio a público este ano, quando ela já não estava mais entre nós.

A professora Maria do Amparo foi também importante peça na história da Associação Brasileira de Estudos Medievais, a qual presidiu entre 2005 e 2009. Esta Associação, que em 2021 completou 25 anos, tem uma relação muito forte com a presença de mulheres à sua frente. Foi em 22 de março de 1996 que a professora Maria Helena Martins Ribeiro da Cunha, no ato de fundação da ABREM, e por aclamação, tornou-se a primeira presidente da ABREM. A professora Maria Helena também nos deixou recentemente, em outubro de 2020, após longos anos dedicados aos estudos de literatura portuguesa.

Na década transcorrida entre a fundação da ABREM e a eleição da professora Amparo, em 2005, o mundo acadêmico iniciou um processo de transformação na composição de seus quadros. Essa transformação se intensificou entre 2005 e 2009. Foram criados novos postos de trabalho, e avanços tecnológicos provocaram mudanças nas formas de se relacionar com o conhecimento produzido e compartilhado nas universidades. Foi nesse período que os estudos medievais produzidos no Brasil também tiveram grande visibilidade e maior presença, inclusive, no mercado editorial. Um dos exemplos disso é a série Estante Medieval, dirigida pela professora Amparo, que, entre 2006 e 2021, publicou doze títulos.

Entre 2007 e 2009 uma dura batalha foi travada na ABREM e os louros dela colhidos estão diretamente relacionados à professora Amparo e à revista Signum. Sócios e sócias mais antigos lembrarão da Assembleia Geral, no VIII Encontro Internacional de Estudos Medievais realizado em Vitória- ES. A tesouraria apresentou o balancete financeiro e a constatação de que a Signum, nos moldes em que era publicada – um número anual e impresso, que consumia 98% das receitas da ABREM – tornara-se inviável com a expansão do formato eletrônico das revistas acadêmicas, com a necessidade do acesso aberto e democrático ao conhecimento científico, em grande medida, financiado com dinheiro público. Nascia ali a Signum que conhecemos hoje e que após 10 números publicados deixaria de ser impressa – convenhamos, com a mesma altíssima qualidade gráfica e, principalmente, acadêmica. Aquela Assembleia em Vitória também encerrava o período em que a professora Amparo e sua diretoria estariam à frente da Associação. A ABREM voltaria a ter uma mulher na presidência entre 2013 e 2017, com a eleição da professora Adriana Vidotte, que tem sido, desde então e até os dias de hoje, fundamental para o fato de podermos, inclusive, escrever, ler e publicar essas linhas no site da Signum.

Tomo a liberdade de usar esse espaço para relatar duas breves memórias pessoais. Em 2009 organizamos no Rio Grande do Sul o I Encontro Estadual de Estudos Medievais. Na preparação dos Anais, publicado pela Revista Aedos, solicitamos que a presidência da ABREM enviasse um texto. A realização de eventos regionais foi uma das políticas da ABREM no período em que a professora Amparo esteve na presidência. Aquela relação que se estabeleceu entre a Associação e o GT de Estudos Medievais da ANPUH/RS teve forte impacto na minha trajetória pessoal. Dez anos depois, no EIEM realizado em Salvador, fui brindado com a presença da professora Amparo durante quase uma semana. Eram reuniões muito bem-humoradas no café da manhã ou conversas animadíssimas regadas aos bons drinks, como o de jabuticaba, que ela tanto amava.

Coube a mim, por estar à frente da ABREM no triste momento da partida da professora Amparo, escrever uma brevíssima nota, muito amarga, de difícil elaboração. Ainda nesta condição, conseguimos propor esse número especial da Signum para que a memória e a importância acadêmica de Maria do Amparo Tavares Maleval não ficasse apenas resumida naquelas poucas linhas. Capitaneado por Lênia Márcia de Medeiros Mongelli, Maria Isabel Morán Cabanas e Yara Frateschi Vieira, parceiras de vida, interlocutoras acadêmicas e igualmente importantes para o surgimento, consolidação e permanência da ABREM e da Signum, este número reúne um conjunto altamente qualificado de pesquisadoras e pesquisadores que, volto a dizer, teve e tem diferentes formas de proximidade e transversalidade com a trajetória profissional da homenageada1. Aqui estão autoras e autores que foram alunos de graduação e pós-graduação da professora Amparo, ex-colegas da diretoria da ABREM naquele período.

A professora Amparo, infelizmente, foi mais uma das mais de seiscentas mil vítimas da COVID 19 no Brasil e foi tirada de nosso convívio em janeiro de 2021. Àquela altura, tratava-se de uma doença para a qual já existia vacina e que tanto demorou a chegar ao nosso país.

Nada será capaz de amenizar tantas e diferentes dores. O que devemos fazer, como pessoas do meio acadêmico e partícipes do desenvolvimento científico, é nos fortalecer como sociedade e na condição de um dos significados possíveis para aquele substantivo, amparo: é nos colocarmos como pessoas diante de algo ou alguém para proteção.

Prof. Dr. Igor Salomão Teixeira Presidente da ABREM (2017-2021)

Nota

1 Devemos lembrar, ainda, o nome do Professor Francisco Salinas Portugal, da Universidade da Corunha, que participou de projetos em comum com a nossa colega e amiga, tanto no Brasil como na Galiza, tais como a edição de Estudos Galego-Brasileiros, e que, por motivos de caráter pessoal, não pôde colaborar no presente número.


Organizadores

Lênia Márcia Mongelli

Maria Isabel Morán Cabanas

Yara Frateschi Vieira


Referências desta apresentação

TEIXEIRA, Igor Salomão. Editorial: Homenagem a Maria do Amparo Tavares MalevaL. Signum- Revista da ABREM, v. 22, n. 2, p.7-10, 2021. Acessar publicação original [DR]

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