No Tempo da Independência | Projeto História | 2022

Prospecto da Fortaleza de Sao Joaquim Rio Branco Fonte Fereira 1971 p.67 2
Prospecto da Fortaleza de São Joaquim, Rio Branco | Fonte: Fereira, 1971, p.67

O número 74 da Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História, da PUC/SP, traz a público o dossiê intitulado No Tempo da Independência. A revista, seguindo modernas políticas editorias, sempre com dois pareceristas às cegas, cujos pareceres são respeitados, dá sequência com novo dossiê, aberto a pluralidade teórica, regional e temática.

Abrimos o dossiê com o artigo de José Rogério Beier, pesquisador de pós-doutorado do Museu Paulista-USP, cujo título é Do sertão para o mar: o papel do Rio de Janeiro na “atlantização” da economia paulista nos tempos da Independência. Nele o autor busca refletir sobre a importância da praça mercantil do Rio de Janeiro no longo processo de “atlantização” da economia paulista, iniciado ainda em 1765, com a chamada restauração da capitania de São Paulo, mas que se viu grandemente impulsionado pela chegada da corte na então capital da América portuguesa em 1808. Nesse sentido, Beier busca relacionar a consolidação da lavoura canavieira exportadora na região do planalto paulista, a oeste da capital, à formação de um subsistema de comércio terrestre-marítimo responsável por comunicar as áreas produtoras até os portos de Santos e do Rio de Janeiro.

Em seguida, apresentamos o Para além do Brasil: a comarca do Alto Rio Negro (Amazonas) na Independência, e sua inserção no Império 1822- 1828, assinado por Bruno Miranda Braga, doutorando e pesquisador do Núcleo de Estudos em História Social da Cidade, no Programa de Pósgraduação em História da PUC/SP e da professora Yvone Avelino Dias, do mesmo programa. Neste artigo os autores partem do pressuposto de que pensar as independências do Brasil é verificar as diferentes inserções das distintas regiões no correr desse processo de autonomização da antiga América portuguesa. Assim, eles buscam mostrar como esse processo se deu na região da Comarca do Alto Rio Negro, atual estado do Amazonas, à época subordinada à Província do Pará, destacando fatores que diferenciaram o processo de adesão dessa região ao império de D. Pedro.

Para encerrar o dossiê escolhemos o artigo Entre lo nuevo y lo viejo: reflexiones acerca del carácter de la independencia paraguaya en el  contexto latinoamericano (1811-1840), assinado pelo professor Ronald León Nuñez, doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Neste trabalho o autor discute o caráter revolucionário da independência do Paraguai, problematizando se este processo se caracterizou por seus aspectos eminentemente sociais ou políticos. Para tanto, León Nuñez busca examinar o grau de ruptura e continuidade no campo das relações sociais de produção, centrando o foco de sua análise nas condições de vida das classes exploradas, relacionando o caso paraguaio com os demais processos de independência americanos no âmbito do contexto histórico do século XIX.

ARTIGOS LIVRES

Abrimos o espaço dedicado aos artigos livres com o artigo intitulado Políticas de Aliança: o movimento homossexual e o movimento negro no Brasil (1981), assinado pelo pesquisador do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH-UFSC), Rhanielly Pereira do Nascimento Pinto e pela professora titular do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC, Joana Maria Pedro, também pesquisadora do LEGH. Neste trabalho os autores se propõem a analisar as tentativas de formação de alianças entre o movimento homossexual e o movimento negro em fins da década de 1970 a partir da análise de dois periódicos: o jornal Lampião da Esquina (1978-1981) e o boletim O Corpo, vinculado ao primeiro grupo político homossexual organizado, denominado Somos. A proposta do trabalho é compreender se foi possível ou não pensar a raça e a sexualidade como elementos constitutivos e inseparáveis em ambas as militâncias.

O segundo artigo livre traz o trabalho da professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a doutora Maria Luiza Ugarte Pinheiro. Intitulado Mulheres em cena: mundos do trabalho e associativismo feminino em Manaus (1900-1920), o artigo se propõe a refletir sobre o trabalho feminino e as greves produzidas pelas operárias da Fábrica de Roupas Amazonense, ocorridas entre os anos de 1912 e 1913. Nele a autora investiga os protestos, passeatas, organizações sindicais e greves operárias que marcaram a capital amazonense que, no começo do século XX, se modernizava sob o impacto das rendas auferidas com a exportação da borracha. Não surpreende, portanto, que em meio às primeiras manifestações da organização operária e do movimento operário no Amazonas, as mulheres tenham tomado parte desses protestos, a seu modo, manifestando-se contra as precárias condições de vida e trabalho e reivindicando melhorias sociais.

Em seguida, apresentamos o artigo do professor doutor Rodrigo dos Santos, da Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), intitulado Outra narrativa sobre os imigrantes do segundo pós-guerra: a representação dos suábios do Danúbio no periódico Diário da Tarde (1951-1972). Neste trabalho, o autor faz uso da perspectiva oferecida pelos Estudos Culturais para problematizar as matérias jornalísticas veiculadas no periódico Diário da Tarde, entre 1951 e 1972, acerca dos suábios do Danúbio estabelecidos em Guarapuava (Paraná). Fundado em 1889, esse jornal foi um dos mais duradouros do Paraná e suas matérias acompanhou os imigrantes do segundo pós-guerra a partir de diferentes enfoques, permitindo compreender melhor a chegada desses imigrantes, suas práticas nas lavouras de trigo, o folclore, e os discursos oficiais produzidos sobre eles.

Já em Os brasilianistas estão chegando: as contribuições dos pesquisadores estrangeiros para os estudos sobre a literatura de cordel no Brasil na segunda metade do século XX, o doutor em História Social da Amazônia, Geraldo Magella de Menezes Neto (UFPA), propõe analisar a contribuição dos brasilianistas aos estudos da literatura de cordel no Brasil a partir de cinco autores: Raymond Cantel, Mark Curran, Joseph Luyten, Candace Slater e Martine Kunz. Menezes Neto destaca a trajetória destes pesquisadores que vinham ao Brasil com apoio financeiro de suas instituições de origem, o que lhes permitia viajar pelo Brasil, visitar as feiras e as casas dos poetas, bem como adquirir folhetos para a constituição de seus acervos de pesquisa. Este trabalho, portanto, busca relevar os novos olhares e as perspectivas que as pesquisas desses brasilianistas deram ao entendimento do cordel brasileiro.

Para fechar a seção de artigos livres deste volume escolhemos o trabalho da professora Beatriz Rodrigues, da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO). Intitulado A “subversão das boas normas”: Revis(i)ta(n)do erros da língua portuguesa (1880-1930), a doutora em História e Cultura Social investiga os debates em torno da língua portuguesa que estampavam as páginas de diversos periódicos de fins do Oitocentos e princípios do Novecentos. Para tanto, a autora busca analisar uma série de textos veiculados pela imprensa brasileira entre 1880 e 1930, cujas temáticas centravam-se em torno de questões referentes ao purismo linguístico, o papel do povo na constituição do vernáculo, o lugar dos intelectuais e escritores, a difusão de novos meios de comunicação e a integração dos imigrantes. Sua escolha pela imprensa periódica como fonte desta pesquisa justifica-se em razão desta última ser um lócus catalisador dos debates ocorridos acerca da língua portuguesa, uma vez que o periodismo atravessava a vida intelectual nas primeiras décadas do século passado.

RESENHAS

O volume 74 traz ainda duas resenhas: a primeira, escrita por Nina Ingrid Caputo Paschoal, doutoranda e pesquisadora do Laboratório de Estudos Orientais e Asiáticos, da UNIFESP, intitula-se Uma abordagem multidisciplinar para os “mundos árabes”. Nela a autora se debruça sobre a obra Ahlan wa Sahlan: uma introdução aos mundos árabes, organizada por Karime Cheaito, publicada em 2021. Trata-se de uma coleção de artigos sobre os assim chamados “mundos árabes”, compilados no âmbito das efemérides de dez anos das primaveras árabes, dos vinte anos do atentado ao World Trade Center e do retorno do Talibã ao poder no Afeganistão.

A segunda resenha, por sua vez, leva o título de O Negacionismo além da história: um olhar sobre a alt-history, escrita pelo professor e pesquisador Pablo Emanuel Romero Almada, doutor em Democracia no século XXI pela Universidade de Coimbra. Nesta resenha o autor analisa a obra Far-right revisionism and the end of history: alt/histories, editada por Louie Dean Valencia-Garcia e publicada em 2020 pela Routledge e Taylor & Francis Group, de Nova York, na qual são problematizados o discurso negacionista, os diversos grupos da extrema-direita por todo o mundo e a contribuição de historiadores revisionistas para a construção da chamada alt-history.


Organizadores

Alberto Luiz Schneider

Ana Hutz


Referências desta apresentação

SCHNEIDER, Alberto Luiz; HUTZ, Ana. Apresentação. Projeto História. São Paulo, v. 74, p. 3 – 6, maio/ago. 2022. Acessar publicação original [DR]

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