O patrimônio cultural coreano | Anais do Museu Histórico Nacional | 2013

A história da institucionalização das práticas patrimoniais do mundo ocidental é bastante conhecida no universo acadêmico brasileiro, principalmente graças ao trabalho de historiadores do calibre de Dominique Poulot e Françoise Choay. No Brasil a trajetória das práticas patrimoniais foi objeto de estudos de historiadores como Márcia Chuva, Lúcia Lippi, Aline Montenegro, Leila Bianchi, entre outros. Todos os autores que se debruçam sobre o tema afirmam que o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno mundial, estando relacionado com as transformações dos modos de vida tradicionais e da modernização resultante das revoluções industriais e tecnológicas das últimas décadas.

A característica dessa “razão patrimonial”, usando aqui o termo cunhado por Poulot, leva o filósofo francês Henry Pierre Jeudy a considerar que as cidades modernas, ao passar por processos de revitalização em seus centros históricos, acabam contraditoriamente se tornando mais homogêneas e menos interessantes, configurando aquilo que ele considera uma petrificação e estetização das cidades.

Todavia, a instauração dos patrimônios culturais está intimamente relacionada com os projetos nacionais e políticos de cada país, suas experiências históricas, estratégias de afirmação de identidades, relações internacionais, entre outros. Conhecer as práticas patrimoniais distantes da nossa realidade latino-americana é um caminho para pensar como o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno global e local, fruto das relações históricas e políticas que marcam cada nação.

Assim, os Anais do Museu Histórico Nacional, v. 45, ano 2013, apresentam um dossiê cuja temática é inédita no Brasil: o patrimônio cultural coreano. A oportunidade é ímpar, uma vez que neste ano comemora-se o 50o aniversário da imigração coreana ao Brasil. O dossiê é formado por textos de autores novos e consagrados como a professora da Universidade da Califórnia, Hyung Il Pai, autora de Constructing “Korean” origins, um dos maiores best-sellers sobre o patrimônio coreano, e que gentilmente nos autorizou a traduzir um artigo seu para este volume, o pesquisador norte-americano Roger Janelli, a curadora coreana Hyeon Mi Chung, o professor italiano Andrea De Benedittis da universidade de Ca’ Foscari, o filipino Gian Carlo e o pesquisador do MHN e organizador do dossiê Rafael Zamorano Bezerra.

No ano de 2012, o historiador Rafael Zamorano Bezerra foi contemplado com uma bolsa para intercâmbio com o Korean Folk Museum, em Seul. Compartilhar conhecimentos possibilitou, além da experiência pessoal do funcionário, o estreitamento das relações museológicas entre as duas instituições. Constitui, portanto, especial satisfação inserir o dossiê dedicado ao patrimônio cultural coreano no volume 45 dos Anais, conjugando a celebração do aniversário com o reconhecimento ao acolhimento do funcionário do Museu Histórico Nacional.

Em harmonia com esse dossiê apresentamos artigos sobre práticas patrimoniais em cidades e museus brasileiros, artigos esses enviados gentilmente pelos autores para avaliação dos nossos pareceristas. A leitura do volume abre uma série de possibilidades e estudos sobre a história das trajetórias de patrimonialização em dois países que, apesar de distantes geograficamente, encontram saberes e práticas na visão do patrimônio.


Organizador

Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga e diretora do Museu Histórico Nacional.


Referências desta apresentação

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.45, p.8-10, 2013. Acessar publicação original [DR]

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