Panorama de las Relaciones Internacionales en el Paraguay actual | Diego Abente Brun e Florentín Carlos Gómez

Panorama de las Relaciones Internacionales en el Paraguay actual é um livro de acadêmicos sobre as relações internacionais contemporâneas. Organizado entre dois internacionais pesquisadores paraguaios que combinam experiência e juventude, Diego Abente Brun e Carlos Gómez Florentín, respectivamente, trata-se de uma publicação que reflete um momento de “renovação acadêmica” no Paraguai.

Fruto de discussão ocorrida em seminário realizado em dezembro de 2017 em Assunção, o livro é composto de cinco artigos, além do prólogo e da conclusão. Os professores Herib Caballero e Edgar Sánchez Báez, da Universidade Nacional de Assunção, assinam o prólogo, no qual fazem um breve e importante balanço sobre a produção paraguaia sobre as relações internacionais contemporâneas, citando diversos autores nacionais e internacionais.

No capítulo 1, Francisco Urdinez, professor da Universidade do Chile, analisa as históricas relações entre o Paraguai e Taiwan e o custo da conseqüente ausência de relações oficiais com a China. O autor argumenta que, devido à singular relação com Taiwan, o Paraguai teria deixado de receber empréstimos e investimentos da China, na contramão do fenômeno emergente registrado na maioria dos países da América do Sul. Utilizando avançados métodos econométricos, a manutenção das relações com a pequena ilha teria levado o Paraguai a deixar de receber, ao longo do período entre 2003 e 2013, valores anuais estimados em US$ 130 milhões em investimentos diretos chineses, e de US$ 224 milhões em conceito de financiamentos provenientes dos bancos estatais de desenvolvimento chineses. Estes valores contrastam com o programa de assistência de US$ 87 milhões mantido ao longo de cada período presidencial qüinqüenal paraguaio durante este intervalo. Essa diferença de montantes é o custo de oportunidade, calculado de forma inédita pelo autor, o qual é denominado de “custo-Taiwan”.

O artigo de Pedro Felihú Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo, abre a série de três artigos sobre o Paraguai no contexto regional. O autor, de forma clara e objetiva, analisa as relações entre o Congresso Nacional e o Governo de Fernando Lugo. Após explicar o funcionamento daquela casa de leis, especialmente em relação a temas internacionais, argumenta que a entrada da Venezuela no Mercosul desgastou o então presidente, ao passo que a negociação do preço da energia de Itaipu com o Brasil melhorou seus índices de popularidade. O autor conclui, ainda, que a agenda legislativa de Lugo em seu relacionamento com o Congresso terminou sendo dominado por dois temas: orçamento e política externa.

No capítulo 3, os professores Dawisson Belém Lopes, da Universidade Federal de Minas Gerais, e Camilo Burian, da Universidade de la República (Uruguai), fazem uma análise da política externa do Brasil no século XXI. Argumentam que o processo de “des-ocidentalização” pós-Guerra Fria levou os formuladores brasileiros a pensar e executar a política externa para além da histórica afinidade com os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Internamente, o governo brasileiro pós-2002 abriu uma arena de disputa pela definição da política externa por atores até então considerados não hegemônicos, inclusive no interior do Itamaraty. Consequentemente, sugere que as relações Brasil- Paraguai sejam interpretadas considerando as transformações internas e externas apontadas.

No que se refere a estabelecer uma relação com o presente mais imediato, a tarefa coube à professora Anabella Busso, da Universidade Nacional de Rosário. A autora contribui com reflexão sobre o futuro próximo das relações internacionais regionais. Argumenta que a “tendência de governos de direita” no Brasil e na Argentina, com Michel Temer e Maurício Macri, respectivamente, impacta em projetos regionais importantes ao Paraguai, como é o caso do Mercosul. A “nova direita”, que compartilha o discurso da “luta contra a corrupção”, retoma as “mesmas lógicas econômicas (liberais) dos anos 1990”, que registraram um pequeno interregno no Paraguai apenas durante os quatro anos da interrompida presidência de Lugo.

O quinto artigo é assinado pelo já mencionado Diego Abente Brun. O experiente professor paraguaio se propõe a revisar criticamente os aportes da teoria tradicional das Relações Internacionais, aplicadas ao caso da América do Sul e do Paraguai. Partindo de conceitos como hegemonia global dos Estados Unidos e hegemonia regional do Brasil, propõe-se a apontar alternativas para o Paraguai e a postular premissas para os tomadores de decisões no país.

A conclusão da obra ficou por conta de Carlos Gómez Florentín, da Universidade Nacional de Assunção, e Gustavo Rojas de Cerqueira, do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (CADEP). As palavras finais reafirmam o caráter duplo da publicação: provocativo e informativo. Para os autores, se espera que a inédita contribuição acadêmica inspire novas abordagens e, ao mesmo tempo, assegure informações corretas aos tomadores de decisão da política externa do Paraguai.

O breve resumo descritivo dos capítulos indica que o livro atende ao seu propósito básico: a análise das relações internacionais contemporâneas do Paraguai. Transitando de um tema pouco comum, como as relações com China e Taiwan, passando por inovadores estudos de caso sobre processos de formulação de política externa na região e análise das recentes transformações do contexto regional, a obra encerra-se com um brilhante ensaio teórico, levando o leitor a encontrar-se com perspectivas diversas e complementarias que permitem uma visão panorâmica sobre distintos temas da agenda de formulação de política externa.

Ademais, o livro contribui para fomentar conexões entre os estudos internacionais paraguaios e uma recente iniciativa acadêmica na região da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). No Paraguai, o desenvolvimento da pesquisa ocorre fundamentalmente em torno de instituições privadas de interesse público (GALEANO, GARCÍA, et al., 2014). Na área das ciências humanas, o trabalho do já mencionado CADEP, por exemplo, é considerado como importante espaço de difusão de um pensamento político e sociológico de viés paraguaio (ROLON, 2011). Por sua vez, no lado brasileiro da Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu, funciona, desde 2010, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). A possibilidade de acesso à pós-graduação em nível de especialização e mestrado em Relações Internacionais, pode ter um grande potencial de contribuir no preenchimento das lacunas existentes nos estudos internacionais no Paraguai, mencionadas no início do livro. Trata-se de uma obra importante, que abre novas possibilidades de debates e contatos entre diferentes perfis de pesquisadores, fomentando a abertura de novas fronteiras de possibilidades de cooperação acadêmica regional.

Referências

GALEANO, L. A. et al. Estudio país: Paraguay. In: RIED, J. J. B.; CADEÑO, O.; ALBUJA, A. Más Saber América Latina: potenciando el vínculo entre think tanks y universidades. Quito: Universidad Diego Portales y Grupo FARO, 2014.

ROLON, J. A. Paraguai: Transição Democrática e Política Externa. São Paulo: Annablume, 2011.


Resenhista

Micael Alvino da Silva – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Adjunto na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).


Referências desta Resenha

BRUN, Diego Abente; FLORENTÍN, Carlos Gómez (Orgs.). Panorama de las Relaciones Internacionales en el Paraguay actual. Asunción: UNA, 2018. Resenha de: SILVA, Micael Alvino da. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. Dourados, v.7, n.14, p.375-378, jul./dez. 2018. Acessar publicação original [DR]

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