Patrimônio Histórico e Cultural – CAMARGO (PL)

Haroldo Leitão Camargo possui Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo e é pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos – NEE da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

Atua como docente de Patrimônio e Turismo em cursos e programas de pós-graduação. Trabalhou como historiador do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT; além de atuar como pesquisador e apresentador na divisão de ensino da TV Cultura, Fundação Padre Anchieta.

O livro Patrimônio Histórico e Cultural está dividido em quatro partes, as quais são detalhadas adiante:

– Um mapa para descobrir o patrimônio;

– Um guia para descobrir as relações entre turismo e patrimônio;

– Inventando o patrimônio e o turismo no Brasil;

– Em síntese, rematando sem concluir.

A primeira parte fala da queda da Bastilha (na França) que segundo (CAMARGO, 2005, p. 9) “é apenas um fato, um acontecimento dentre muitos outros”.

No entanto, a interpretação deste acontecimento adquire contornos simbólicos: assinala o início da contemporaneidade.

A queda da Bastilha marcou o fim do governo absolutista monárquico francês e o aparecimento das ideias republicanas. Hoje são vendidas miniaturas da Bastilha como souvenirs.

O autor esclarece que embates ideológicos podem produzir a necessidade de destruir ou preservar monumentos, pois estes bens representam as ideias de povos ou não.

Segundo Camargo, um exemplo disso é a destruição de obras clássicas, que os cristãos atribuíam aos bárbaros que invadiram a Europa.

Entretanto, sabe-se que os próprios europeus destruíram muralhas por considera-las desnecessárias, urbanizaram cidades, reformaram igrejas românicas substituindo-as por construções góticas em várias regiões.

De acordo com o autor a Revolução Francesa concentrou-se no período de 1789 a 1799 e teve como um de seus resultados a formação de um modelo de preservação do patrimônio cultural, que foi posteriormente reconhecido e copiado por diversas nações.

Em 1794 foram iniciadas as primeiras ações para preservação do patrimônio na França, com a atuação reconhecida do padre juramentado Henri Gregóire, que fez campanha pela preservação do patrimônio.

A ideia de patrimônio tem a ver com ao pensamento de que herança é o que um indivíduo recebe de seu pai, o que no caso do cidadão que nasceu no território francês e adquiriu a cidadania após a Revolução Francesa, representava a herança do mesmo pai, ou seja, o Estado Nacional. Portanto os monumentos passaram a ser encarados como a materialização da identidade nacional.

Para o autor, na acepção comum do termo, os monumentos são edificações ou construções que pretendem perpetuar a memória de um fato, de uma pessoa, de um povo.

Camargo esclarece que nem sempre os bens patrimoniais não são sempre eruditos, ou seja, nem sempre são soluções destinadas à elites sociais, como é o caso da Casa do Grito, uma construção humilde ao lado do Museu do Ipiranga, em São Paulo- SP.

O autor destaca que a beleza das construções históricas se constitui num forte apelo ao turismo, pois em cidades como Roma, Paris e Veneza, percebe-se um grande fluxo de turistas desde o século XVII, tomando-se como base um texto de Richard Lassels em que há a orientação de que a pedagogia pode ser reforçada por meio de viagens.

Assim, a aristocracia britânica, por exemplo, enviava seus jovens para conhecerem a França e Itália, a fim de terem contato com as peças da antiguidade clássica, conhecida apenas pelos relatos em livros. Este tipo de viagem foi classificado como Grand Tour.

No Brasil o turismo iniciou-se de forma gradual, pois a maior parte da população não tinha condições para promover viagens, pois possuíam normalmente os recursos básicos para alimentação e moradia.

A família real portuguesa com D. Pedro I e depois D. Pedro II, pode ser um exemplo da elite que viajava por prazer, deixando frequentemente a cidade do Rio de Janeiro, para curtir as temperaturas mais amenas da cidade que veio a se chamar Petrópolis-RJ.

Atualmente, no Brasil, podem-se realizar viagens em busca de prazer e aprendizado. Este fenômeno ganhou impulso com a Semana de Arte Moderna de 1922, pois os intelectuais brasileiros, com destaque para os paulistas chamaram a atenção sobre a necessidade de valorização do patrimônio histórico e artístico nacional, com destaque para Mário de Andrade, que utilizou sua inteligência e influência para criar uma estrutura do poder púbico para proteção do patrimônio cultural brasileiro, culminando na criação do SPHN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que posteriormente passou a ser um instituto, recebendo a denominação de IPHAN.

O autor informa que em 1924, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Paulo Prado e Blaise Cendrars viajaram para Ouro Preto-MG e outras cidades mineiras, dando destaque ao patrimônio destas regiões, os quais deveriam ser preservados como monumentos da história do Brasil.

Camargo termina o livro reforçando que a parceria entre patrimônio e turismo é uma alternativa eficaz para a criação de novos postos de trabalho em um mundo com esgotamento do emprego na indústria e em muitos setores saturados da economia mundial.

Renato Rodrigues Lima –  Universidade de Santo Amaro – UNISA. Universidade de São Paulo-USP. E-mail: [email protected]

CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. 3ª. ed. São Paulo: Aleph, 2002. Resenha de: LIMA, Renato Rodrigues. A importância do patrimônio cultural na sociedade moderna. Ponta de Lança, São Cristóvão, v.9, n.17, p.89-91, jul./dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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