Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal | Milton Santos

A obra por uma outra globalização tem como objetivo principal discutir o atual processo de globalização, abordando questões que trata da constituição da globalização; quais indivíduos de fato esta atual globalização beneficia? E se é possível dar novos rumos a atual história social no período da globalização?

O livro é organizado em seis partes, todas subdivididas em capítulos. A primeira parte é a introdução. Nesta compreende-se que o autor procurou introduzir os três eixos temáticos do livro, sendo a possibilidade de considerarmos pelo menos três mundos em um só: a Globalização como fábula; a Globalização como perversidade e a Globalização tal como pode ser, sendo esta pautada na solidariedade humana.

A segunda parte tem por título: A produção da Globalização. Nesta Santos norteia a partir do pressuposto de que tanto o estado das técnicas, como, o da política, são elementos fundamentais na análise da formação da globalização. Somente a partir destes, que foi possível a criação de condições para a produção da globalização. Assim, a produção da globalização atual se dá através dos seguintes fatores: a unicidade da técnica (conjunto de técnicas que se dá em todo o mundo), a convergência dos momentos (conhecimento instantâneo dos fatos), o motor único (mais valia global). Esta última possibilitada pela mundialização do produto, do dinheiro, da dívida e da informação.

Na terceira parte Santos apresenta a Globalização Perversa. A informação e o dinheiro são pontos categóricos da perversidade. A informação é usada por alguns poucos atores para interesses próprios, com o objetivo de manipular e convencer a população global de seus interesses. Para Santos esta informação é uma manipulação de convencimento dos atos perversos mascarados por uma cordialidade do mercado e do sistema financeiro global. Afinal, a informação que chega para as massas é totalmente manipulada, que em vez de esclarecer, confunde.

O dinheiro se torna nesse mundo perverso o centro de todas as ações. Sendo assim, o homem perde importantes valores de humanidade, por exemplo, a compaixão e a solidariedade. Atualmente, o outro é visto como um inimigo a ser vencido, um obstáculo. A competitividade tem como norma a guerra, e o consumo tornou-se um verdadeiro regime totalitário, o que Santos chamou de Globaritarismo. Paralelo a isso, aumenta a cada dia o desemprego, a pobreza, a fome, a infelicidade e o egoísmo das pessoas. De fato, é essa forma perversa de se realizar a globalização que atualmente existe e, não qualquer outra.

Na quarta parte, Santos aborda a questão do Território do Dinheiro e da Fragmentação, para tanto, avalia que as novas configurações territoriais estão intrinsecamente relacionadas ao dinheiro, “o dinheiro é, cada vez mais, um dado essencial para o uso do território” (SANTOS, 2010).

O dinheiro se tornou global e as ambições se manifestam em todas as regiões, a partir de macroatores. Com isso, o conteúdo do território escapa a regulação interna. Os territórios acabam por se tornarem fragmentos de exercício de poder, de absolvição de técnicas e desenvolvimento, ou seja, há territórios que se desenvolve e outros não. O referido autor apresenta o exemplo da agricultura moderna cientifizada que se desenvolveu no Brasil como caso de fragmentação territorial.

A quinta parte tem por título, Limites à Globalização Perversa, na qual há uma análise dos processos diversos, que nos autoriza a pensar nos atuais indícios de limites da globalização, para assim, termos a possibilidade de imaginar e buscar uma nova globalização. O autor explica que todo período histórico apresenta variáveis descendentes e variáveis ascendentes, que por vez levam a produção de um novo período. Dessa forma, ele observa que as variáveis ascendentes estão em alta no atual período. Verificando-se um desencanto com as técnicas a medida que o acesso a elas cada vez mais é menor. A racionalidade hegemônica se tornou totalitária e perdeu a razão, surgindo uma irracionalidade que nada mais é do que outra racionalidade, produzida e pensada pelos pobres, pois, estes últimos com a experiência da escassez, tomam consciência que existe uma dicotomia entre o discurso formal da atual globalização e, a realidade vivida no cotidiano.

O autor concluiu sua obra com otimismo, falando da Transição em Marcha. Observa os vários acontecimentos vindos, tanto por parte dos atores hegemônicos como também dos hegemonizados, que se constituem em um processo de transição da atual globalização para uma mais humana. Argumenta que os países do sul possuem um papel central na metamorfose da atual globalização, através da cultura popular.

Cabe ainda dizer que nessa parte final da obra, apresenta-se também uma pequena idealização do que seria essa nova globalização pensada por Santos. Nesse caso, todas as ações teriam como centro o homem, deixando este de ser visto como um “simples” objeto.

Conclui-se que, diante dos objetivos propostos pelo autor, este fez uma “boa” argumentação. Entende-se que introduziu uma base de discussão teórico/crítica para o momento em que vivemos, fazendo com que seus leitores possam ver o mundo de hoje sobre a lente da crítica e da possibilidade. A obra pode ser indicada para todos aqueles que queiram ver a realidade como ela é, e também, como muitas vezes pensamos que esta seja. Essa obra nos trás uma esperança de como deve e pode ser um novo mundo, criado a partir das realidades já existente.

Reges Sodré da Luz Silva Dias – Professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT). E-mail: sodré@bol.com.br

Eliseu Pereira de Brito – Professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT).  E-mail: [email protected]


SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal. 19ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. Resenha de: DIAS, Reges Sodré da Luz Silva; BRITO, Eliseu Pereira de. Escritas. Palmas, v.3, p. 135-137, 2011. Acessar publicação original [DR]

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