Resource Wars: the new landscape of global conflict | Michael Klare

Publicado em 2001, o livro “Resource Wars: The New Landscape of Global Conflict”, alvo desta resenha, foi escrito por Michael T. Klare, atualmente professor de Estudos de Segurança e Paz Mundial na Hampshire College (Amherst, Massachusetts, EUA). Além disso, o autor é diretor de cinco programas na mesma universidade sobre segurança e paz, bem como tem diversas obras publicadas relacionadas à mudança da natureza da guerra, tais como: “Blood and Oil: The Dangers and Consequences of America’s Growing Dependency on Imported Petroleum (American Empire Project)” e “The Race for What’s Left: The Global Scramble for the World’s Last Resources”. Todos sem tradução para o português.

Ao longo de 290 páginas, subdivididas em nove capítulos e apêndices, o autor nos remete as mudanças estratégias dos Estados no que se refere a políticas de segurança e controle de recursos naturais estratégicos. De mudanças dos parâmetros da segurança global a exemplos de cenários de conflitos que atravessam todos os continentes, o leitor é levado a analisar como, especialmente a partir do início do século XX, os Estados começaram a focar e conflitar por possessões estratégicas, cada qual com as suas peculiaridades e necessidades.

A ideia central do livro, apresentada no já no título do Capítulo 1 (Riqueza, recursos e poder: alteração de parâmetros de segurança global), é entender que a disputa de recursos e poder é uma constante no mundo atual mas que foi maximizada pelo 11 de setembro em uma rede mundial encabeçada pelos EUA visando destruir o controle islâmico do grande suprimento de petróleo. As principais estratégias utilizadas tem sido a proteção de aliados e a garantia de acesso a recursos, o que fez com que conflitos no Oriente Médio ficassem mais constantes e que novos panoramas, atores e forças surgissem em troca de apoio militar por acesso a óleo. Essas disputas por recursos estratégicos podem incluir não apenas petróleo, mas também água e minérios.

Entre as décadas de 1940 e 1990, a estratégia predominante foi a de criar e manter alianças capazes de conter e, se necessário, destruir a URSS. Com o fim da Guerra Fria as alianças são mantidas, mas os objetivos são diferentes. A proteção de recursos globais e o acesso aos mesmos passam a ser mais focados.

Alguns dos principais focos tem sido o desenvolvimento de operações com o objetivo de apoiar ex-repúblicas soviéticas e assim mostrar a força de ação dos EUA para com estas no Mar Cáspio, local onde se encontra 12,5% do gás e 6,6% de todo petróleo mundial, por exemplo. Essa atenção se deve ao fato de o Golfo Pérsico tender mais a conflitos e, nesse caso, os recursos cáspios supririam a demanda estadunidense. Assim, uma intervenção na área demonstra um exemplo do processo de transformação da política de segurança dos EUA. Essa política é atribuída ao fato de que a prosperidade dos EUA depender também da estabilidade das regiões-chave das quais extrai seus recursos estratégicos.

Entende-se, a partir disso, que os novos estresses do sistema internacional são a expansão da demanda mundial, a emergência de recursos vitais e a proliferação de contestações fronteiriças. As duas primeiras frutos da competição entre Estados e a última como geradora de conflitos. “Resource Wars” então reúne conflitos que envolvem um grau significativo a posse e controle de materiais críticos vitais e que serão, ou poderão ser, motivos de grandes conflitos no século XXI.

Uma das principais hipóteses do livro é a de que nenhum recurso ocasionará tantos conflitos nesse século quanto o óleo. É o que nos é apresentado no Capítulo 2 (Óleo, geografia e guerra). Com um papel central na economia global, nenhum acordo já firmado tenderá a resistir ao uso das armas. Um exemplo disso é o Oriente Médio ou o Mar Cáspio ou, de um modo mais geral, tudo que afete o ambiente de segurança global, principalmente em se falando de recursos controlados por adversários.

Todos os conflitos por óleo começaram no século XX, quando ele se tornou essencial para a guerra, especialmente após a Primeira Guerra Mundial, quando os veículos de combate começaram a empregar óleo para locomoção. Essa afirmativa se deve ao fato de que ter um recurso significa impactar em um conflito, como por exemplo, usá-lo como elemento de barganha ao embargar exportações e assim sufocar o inimigo. Isso influencia permanentemente a estratégia europeia e americana ou em se falando da dependência, ou em se falando do controle e no desenvolvimento de políticas estratégicas.

A busca pelo controle de reservas de óleo tomou força principalmente depois da crise do petróleo dos anos 70. Com o assustador crescimento do consumo, a relação entre crescimento e demanda ficou cada vez mais acirrada. Isso porque o óleo é um dos combustíveis mais versáteis que existe e cerca de 95% dos transportes circulam com derivados dele.

A demanda pacífica de petróleo uma hora não poderá mais ser mantida pela indústria, em especial a partir de 2020, quando metade das reservas em exploração já estiver sido consumida. É por isso que novas tecnologias, se desenvolvidas, permitirão um consumo cada vez mais rentável. Uma grande parte do problema reside também no fato de que poucos países controlam a maior parte das reservas e o epicentro disso tudo é o Oriente Médio. Atrelado a isso, conflitos por rotas comerciais e fronteiras completam o rol de principais disputas por recursos em locais conhecidos como chockepoints.

A ocorrência ou não de um conflito por recursos está assim condicionada a um triângulo estratégico formado pela soma da política de segurança em relação ao óleo, pela dinâmica da demanda e do suprimento disponível para o Estado analisado e pela questão geográfica. Mediante a isso, o autor passa a desenvolver exemplos de conflitos dos mais variados tipos nos Capítulos seguintes.

O primeiro exemplo a ser analisado é o do Golfo Pérsico1 , tema do Capítulo 3 (Conflito por óleo no Golfo Pérsico). Local onde são produzidos quase 70% de todo petróleo processado do mundo. A região também sofre interferência de atores globais como EUA e Reino Unido graças a interesses estratégicos na área que detém 65% de todas as reservas mundiais de petróleo. Somente os EUA dobrarão a importação de petróleo da região até 2020.

Qualquer cenário que se desenhe nos leva a áreas de instabilidade constantes bem como aponta para conflitos periódicos que podem estar por vir. O desafio principal para a estabilidade reside em administrar alianças e acordos entre lideranças pós-URSS e seus Estados. Outro desafio seria administrar as tensões constantes entre países pobres e ricos no entorno do Mar Cáspio com suas instabilidades políticas internas.

Levando o leitor da Ásia para a África no Capítulo 6 (Conflito por água na Bacia do Nilo), passa a nos apresentar as disputas históricas e até bíblicas na Bacia do Nilo devido aos seus sistemas hídricos. Como fatores complicadores temos o crescimento populacional, os projetos de irrigação e o desenvolvimento descontrolado das cidades. O autor afirma que cenários de uma escassez de água em curto prazo completam o rol de agravantes. A questão que se faz mediante a isso é: será que o mundo poderá suportar esse crescimento? Questiona.

Em um quadro de crescimento sustentável sim, responde. O problema, na verdade, é crônico e global, aponta. Atualmente mais de 145 nações se incluem em casos de disputas fronteiriças nas quais existem fontes de água. Com essa conjuntura, intersecções políticas, econômicas e militares serão presentes nos conflitos.

Na parte final da obra, Klare nos mostra no Capítulo 9 (A nova geografia do conflito) como há diversos cenários que podem ser observados a partir da análise de conflitos por recursos naturais. Aponta que há todo um sistema geopolítico interconectado e a expansão do controle de recursos naturais nas sociedades industriais modernas se tornou fundamental. Ainda assim, não se pode precisar um local, ou área, ou então tempo no qual um conflito ocorrerá ao certo, mas áreas fronteiriças tenderão a serem os maiores causadores de conflitos. O fato é que desenvolvimento requer recursos e muitas fontes estão em Estados com governos corruptos e instituições fracas. Assim, o uso da força para protegê-los será cada vez mais necessário. Para evitar esse processo, seria necessária uma cooperação global usada para provar que esse é o melhor canal de resolução de conflitos e acesso a recursos. Uma distribuição equiparada unida a um projeto mundial de pesquisa e desenvolvimento de recursos alternativos é fundamental para a conservação de materiais escassos em nosso mundo.

É necessário um protagonismo de instituições internacionais científicas e tecnológicas que estudem o uso sustentável da água, óleo e minérios. Não que isso resolvesse tudo, nem evitasse todos os conflitos, mas ao menos ajudaria a amenizar a ocorrência dos mesmos, afirma o autor.

A chave do fim de conflitos por recursos se chama cooperação devido a ser uma forma mais saudável de exploração. Entre disputa e gerenciamento de recursos no século XXI, devemos optar pela segunda opção para assim podermos construir um sistema global de conservação e colaboração de recursos, conclui Klare.

Nota

1 Santos e Matai (2010) nos dizem no artigo “A importância da industrialização do xisto brasileiro frente ao cenário energético mundial” que, atualmente, as análises sobre a geopolítica do petróleo mostram que a maior parte da oferta de petróleo mundial está localizada em países de forte instabilidade política, como nos países do Golfo Pérsico, na Rússia ou nos países do Golfo da Guiné, pontos que, na última década, têm colocado em discussão a vulnerabilidade do sistema de energia mundial.

Referência

KLARE, Michael T. (2001). Resource Wars: the new landscape of global conflict. Nova York: Metropolitan Books. 289p.


Resenhista

Carlos Crespo – Doutorando em Ciência Política (UFPE).


Referências desta Resenha

KLARE, Michael T. Resource Wars: the new landscape of global conflict. Nova York: Metropolitan Books, 2001. Resenha de: CRESPO, Carlos. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. Dourados, v.4, n.8, p.233-236, jul./dez. 2015. Acessar publicação original [DR]

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