Teoria das Relações Internacionais | Daniel Jatobá e Carlos Antônio Lessa

A obra Teoria das Relações Internacionais de autoria de Daniel Jatobá é parte de um projeto coordenado por Antônio Carlos Lessa e Henrique Altemani de Oliveira cujo objetivo é aproximar o leitor interessado nos diversos assuntos que permeiam os estudos das relações internacionais situando-os na evolução da construção teórica das Relações Internacionais.

O livro é dividido em quatro capítulos, os quais serão citados porém sem aprofundar nos detalhes constituintes de cada capítulo. Antes de fazer as devidas observações a respeito dos capítulos da obra faz-se necessário apresentar um breve comentário a respeito da introdução do livro.

A área de Relações Internacionais, doravante RI, tem apresentado um crescimento significativo no Brasil nos últimos 20 anos. Durante um longo período, os estudos das relações internacionais (os fenômenos que constituem objeto de estudo da área de RI), estavam incorporados a outras áreas devido a sua característica indissociável de multi-interdisciplinaridade. No período que precede a esses 20 anos de expansão, também houve um monopólio exercido pela Universidade de Brasília, o curso mais antigo de RI no Brasil. Cabe observar que o monopólio tem aqui sentido positivo, não pela ausência forçada e eliminada de concorrência, mas pelo simples fato de a UnB ser a única instituição de ensino superior brasileira que ofertava o curso e destinou esforços para a estruturação de um quadro profissional dedicado exclusivamente a área de estudo. E sobre tal questão, permito-me discordar da expressão usada pelo autor de que “as RI possuem um objeto de estudo próprio e mais ou menos definido, que não se confunde com os objetos de outras áreas do conhecimento”. A área de RI é notabilizada por ser multi-interdisciplinar e por ter em seu quadro de pesquisadores e docentes formações das mais distintas, isso sem dizer que os problemas e objetos de estudo das RI´s são compartilhados, seja na origem seja no final, com uma plêiade de pesquisadores oriundos de outras áreas do conhecimento.

Finalizada a observação a respeito da introdução, passa-se para o primeiro capítulo. O primeiro capítulo traz um overview sobre os principais debates teóricos das RI´s no século XX, que serão detalhados nos capítulos posteriores, descreve o surgimento da disciplina e a evolução da pesquisa na área das RI´s e apresenta uma cronologia da evolução da disciplina. Nesse primeiro capítulo faz-se necessário dizer que o autor trabalha sustentado na perspectiva da autoimagem, segundo a contribuição de Steve Smith (1995), que afirma que “de um modo ou outro, as autoimagens de RI buscam descrever o desenvolvimento do campo ao longo do tempo ou o estado de coisas em um dado momento. Sendo que tal perspectiva tende a privilegiar a consolidação de algumas interpretações e campos teóricos em detrimento de outros, estabelecendo assim os chamados “grandes debates”. Reconhece-se aqui a importância dos grandes debates, mas o estabelecimento de privilégios no que tange a certas perspectivas cria uma visão de mundo e uma interpretação dos fatos sujeitos a viés. Assim, percebe-se os debates citados pelo autor (idealistas versus realistas, o debate metodológico, o debate interpragmático, e por fim, positivistas versus vertentes pós-positivistas) como uma busca hegemônica pela posição central na construção e evolução das RI´s.

O segundo capítulo perfaz o caminho tradicional de um livro de Teoria das Relações Internacionais. Sua contribuição é apresentar as leituras clássicas pelas quais todos aluno ou interessado pelo estudo das relações internacionais deve passar. Nas palavras de Rocha (2002), são texto produzidos a muito tempo que não perdem seu coeficiente de contribuição para o estudo das relações internacionais. O capítulo compreende o realismos em suas diversas derivações, assim como a teoria liberal e suas derivações funcionalistas e neofuncionalista. Passa pela teorias de que enxergam o cenário, ou seja, o ambiente onde se dão as relações internacionais, como mais complexo e menos racional e cartesiano, tal como a interdependência complexa finalizando com as teorias tributárias do viés marxista como o globalismo, imperialismo, teoria da dependência e teoria do sistema mundo. Fato relevante a ser notado é que os autores não se furtam de nomear os principais nomes das correntes apresentadas, ponto esse que é de grande valia para o estudante das RI´s.

Os dois capítulos finais da obra (3 e 4) tratam das teorias contemporâneas: teoria crítica, construtivismo social, pós-estruturalismo, pós-modernismo e pós-colonialismo. Optou-se por dar destaque a tais capítulos por se tratar de construções teóricas de maior complexidade, que propõem metodologias alternativas para o estudo dos fenômenos internacionais. Não será possível detalhar cada uma das contribuições presentes nas correntes citadas no livro. Mas cabe informar ao leitor interessado que são dois capítulos que ressaltam a relevância teórica dessas teorias contemporâneas, ressaltando suas origens e bases constitutivas. Todas as perspectivas citadas de formas distintas e/ou complementares apresentam o argumento de que uma teoria tem finalidade, logo interesses envolvidos. Interesses estão relacionados ao real, que pode ser concretizado por um discurso que se pretende dominante ou por condições estruturais de produção, de organização e de constituição de instituições e regras. Para tanto, bebem nas contribuições de Habermas, Gramsci, Horkheimer, Foucault, Bourdieu, levinas, Lyotard, entre outros autores tão importantes para a constituição da Teoria das Relações Internacionais como um espaço de debate entre correntes teóricas. Por fim, cabe sublinhar a grande contribuição dos autores ao trazer o pós-colonialismo, pós-estruturalismo e o pós-modernismo à tona com seus autores (e suas origens formativas) visto que há, atualmente, um enorme campo de estudo e novos temas que possuem um nova forma de tratamento. A obra é, por essas questões citadas aqui, entre outras de similar relevância, de grande valia para aqueles que desejam iniciar seus estudos em relações internacionais e, sobretudo, dedicar-se ao estudo da evolução teórica das Relações Internacionais.

Referências

ROCHA, Antônio Jorge Ramalho. Relações Internacionaisteorias e agendas. Brasília: IBRI, 2002.

SMITH, Steve. The self-image of a discipline: a genealogy of international relations theory, In: BOOTH, Ken, SMITH, Steve, (ed.). International Relations Theory Today. Pensylvania: the Penn State University, 1995.


Resenhista

Alexandre Cesar Cunha Leite – Professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

JATOBÁ, Daniel; LESSA, Antônio Carlos; OLIVEIRA, Henrique Altemani de (coords.). Teoria das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2013. Resenha de: LEITE, Alexandre Cesar Cunha. Meridiano 47, v.15, n.142, p.71-72, mar./abr. 2014. Acessar publicação original [DR]

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