Gêneros Textuais: Mediadores no ensino e aprendizagem de línguas | Ana Silvia Moço Aparicio e Silvio Ribeiro da Silva

Mapa de generos Mediadores no ensino e aprendizagem de línguas
Recorte sobre “Mapa de gêneros textuais” | Imagem: Bia Mapas

APARICIO Generos Mediadores no ensino e aprendizagem de línguasO artigo Texto não é pretexto: gêneros, habilidades, competência e ensino de leitura, publicado no livro Gêneros Textuais: mediadores no ensino e aprendizagem de línguas, de Robson Santos de Carvalho (2018), desenvolve o tópico de ensino de leitura. Ao discutir o uso dos textos como um mero pretexto, o doutor em Linguística aponta que os textos, geralmente, são usados para se ensinar outro tema do português e, raramente, focam no ensino da leitura em si, prejudicando o desenvolvimento do pensamento crítico do aluno e o conhecimento de novos conceitos.

Sendo assim, o principal objetivo deste texto é resenhar o capítulo de Carvalho (2018), mencionado anteriormente. Desse modo, serão realizados, de forma sucinta, comentários críticos relacionados ao modo como a leitura é ensinada atualmente. O texto é destinado, principalmente, ao público acadêmico de Letras que possui interesse pela área de leitura, e professores de Educação Básica, nos níveis Fundamental e Médio, com o intuito de aprofundar seus conhecimentos no ensino da prática leitora.

Carvalho (2018), ao longo do capítulo, aborda o conceito de texto, o processo de escolha dos textos para trabalhar nas salas de aulas e as atividades que poderiam ser elaboradas a partir de tais textos, as habilidades de leitura e, claro, o ensino da leitura. O capítulo é dividido em quatro seções: Introdução; A compreensão leitora a partir dos conceitos de suporte e de gênero; O ensino da leitura: quando o texto não é pretexto e a Conclusão.

Na primeira seção, há um breve resumo sobre o conteúdo a ser abordado ao longo do texto. Tendo como foco o ensino da leitura, o autor pretende mostrar como o texto, na maioria das vezes, é utilizado como pretexto, o que implica na aprendizagem dos alunos. O uso do texto como pretexto faz com que o aluno aprenda outros conteúdos – como gramática, regras da construção textual, localização dos personagens como participantes da história -, dificultando o desenvolvimento da compreensão do texto e da opinião crítica por parte do aluno.

Ao buscar a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), compreende-se que o eixo da leitura deve conter textos que possibilitam o ensino de conhecimento elevado, fazendo com o que os alunos possam criar projetos e debater sobre temas sociais recorrentes na sociedade. Através do texto de Carvalho (2018), pode-se perceber que a maioria dos livros didáticos não apresentam tais características, pois muitas atividades são voltadas para outros temas do português.

Na segunda seção, por sua vez, Carvalho (2018), discorre sobre os gêneros textuais, relatando que cada um possui sua característica individual quando é utilizado nas interações sociais no cotidiano, isto é, depende do cenário em que é empregado para se construir o seu significado.

Cada texto, de um determinado gênero, é utilizado pelas pessoas em suas interações sociais, para cumprir propósitos bem específicos da comunicação nas situações que os interlocutores compartilham (CARVALHO, 2018, p. 157).

Além disso, o autor assegura que, para que se alcance a uma boa compreensão leitora dos alunos, é necessário que o professor escola os textos que serão trabalhados, pensando na atualidade destes. Carvalho (2018) justifica tal necessidade enfatizando que os livros didáticos não possuem publicações de textos recentes, isto é, acontecimentos atuais no dia a dia não estarão presentes nos textos disponibilizados pelos materiais de apoio nas escolas.

Dessa forma, é essencial que o professor busque textos extras para complementar as aulas. Além disso, deve-se expor que muitas aulas de leitura não possuem atividades que estimulam a interpretação ou a compreensão de textos e quando são acompanhadas por falhas graves. Esse mesmo tema sobre a falha das atividades de compreensão leitora é criticado por Luiz Antônio Marcuschi, em seu artigo Compreensão de texto: algumas reflexões. O autor argumenta que os livros didáticos não focam no texto propriamente dito “As questões típicas de compreensão vêm misturadas com uma série de outras que nada têm a ver com o assunto. Esta simples mistura já atesta a falta de noção do tipo de atividade” (MARCUSCHI, 2001 p. 49). Desse modo, segundo Carvalho, (2018) é essencial que o professor faça uma seleção de textos em outros locais, a fim de se ensinar a leitura de modo a desenvolver, de forma afetiva, a compreensão leitora dos alunos.

Seguidamente, na mesma seção, Carvalho (2018) aborda as habilidades que estão vinculadas aos “Procedimentos de Leitura”, isto é, aquelas que garantem a construção das competências que todos os leitores devem possuir para atingir o entendimento de um texto. Por exemplo, encontrar as informações explícitas e implícitas, inferências, intertextualidade, identificar a variação linguística utilizada, entre outras diversas habilidades que são mobilizadas durante a leitura do texto.

Na terceira seção do capítulo, o autor apresenta alguns exemplos de atividades de leitura que poderiam ser empregadas a partir de um panfleto. Para isso, Carvalho (2018) salienta que é importante que os professores ensinem aos alunos a ler e compreender o texto que leem. Desse modo, “é necessário que os textos sejam socialmente relevantes e, além disso, a tarefa do ensino (que é de responsabilidade do professor) seja planejada de forma adequada, com foco sempre no texto” (CARVALHO, 2018, p.162).

Adiante, na mesma seção, continuando com o exemplo do panfleto citado anteriormente, de acordo com Carvalho (2018), valendo-se desse gênero de texto o professor poderá empregar perguntas do tipo “qual é o assunto principal tratado nesse texto?” (CARVALHO, 2018, p.164). Tal questão fará com que os alunos possam responder de diferentes maneiras e, por meio delas, o professor poderá realizar um diagnóstico para verificar se o aluno possui a habilidade de leitura global do texto, ou seja, identificar o tema central tratado.

Ainda utilizando o exemplo do panfleto, há diversas atividades que podem ser aplicadas, envolvendo questões de vocabulário, a finalidade, ou propósito comunicativo, a questão de causa-consequência, aplicar questões sobre o uso de conectivos. Porém, Carvalho (2018) relembra a importância de se evitar perguntas relacionadas às classes de palavras

Mas faço um alerta! Evite perguntar sobre a classe dessas palavras ou mandar fazer sua classificação gramatical (morfológica e/ ou sintática). O que interessa é a produção dos sentidos a partir do emprego desses elementos como operadores discursivos (CARVALHO, 2018, p. 165-166).

Por fim, a última seção se refere à conclusão do capítulo, na qual o autor afirma que as atividades propostas por ele foram testadas e obtiveram resultados satisfatórios na formação de alunos leitores, e enfatiza que “o professor que usa o texto como pretexto para ensinar gramática normativa, pontuação ou crase está prestando um verdadeiro desserviço à educação” (CARVALHO, 2018, p. 166-167), pois não está valorizando o conhecimento crítico do aluno. Esse capítulo do livro, em específico, possibilita o entendimento acerca do ensino da leitura, visto que utilizou uma linguagem clara e objetiva, de fácil acessibilidade, permitindo assim a compreensão dos conceitos relacionados à prática do ensino da leitura pelos professores.

Com esta leitura, é possível compreender como se deve ensinar a leitura nas salas de aulas, para que haja uma valorização do pensamento crítico do aluno e ao mesmo tempo entender que as atividades empregadas na aula de leitura devem ser como um recurso de verificação da aquisição das habilidades de leitura. Desta forma, este texto pode útil para àqueles que procuram materiais relacionados com a Linguística, Linguística Textual e Semântica, afinal, o tema do ensino da leitura envolve essas áreas para alcançar a compreensão total do conceito de texto. Assim sendo, o artigo também é recomendado para todos os professores da Educação Básica, nos níveis Fundamental e Médio, que desejam conhecer novas formas de estimular a leitura nas escolas.

Referências

BRASIL, BNCC. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. 2018. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em 05 de maio de 2020.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Compreensão de texto: algumas reflexões. In: DIONISIO, Angela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). O Livro Didático de Português. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. cap. 2, p. 33-45.


Resenhista

Carolina Adriana Rodrigues – Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) e atua como bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). Atualmente, desenvolve pesquisa na área de Linguística Textual e Literatura Antiga. E-mail: [email protected]


Referências desta Resenha

CARVALHO, Robson Santos de. Texto não é pretexto: gêneros, habilidades, competência e ensino de leitura. In: APARICIO, Ana Silvia Moço; SILVA, Silvio Ribeiro da (Org.). Gêneros Textuais: Mediadores no ensino e aprendizagem de línguas. Campinas – SP: Pontes, 2018. cap. 7, p. 155-167. Resenha de: RODRIGUES, Carolina Adriana. Resenhando. Alfenas, v.3, n.3, 2021. Acessar publicação original [DR]

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