Viagem às colônias italianas do Espírito Santo: onde estão e como vivem os camponeses italianos no Espírito Santo – 1902 | Arrigo de Zettiry

No último quarto do século XIX o Espírito Santo recebeu mais de 35 mil colonos italianos. Vieram em busca de novas oportunidades na América: far la Mèrica, como sonhavam os pobres camponeses da Itália Setentrional. Em 1895, após 21 anos da chegada da Expedição Tabacchi à província capixaba, que inaugurou a imigração em massa de italianos para o Brasil, o Governo italiano proibiu novos embarques de famílias ao Espírito Santo, em função das péssimas condições a que estavam submetidos os camponeses nas colônias e fazendas de café do Estado. Tal decisão teve por base o relatório do Cav. Carlo Nagar, Cônsul Real em Vitória (1895) no qual relatou o drama dos italianos em terras capixabas (Coleção Canaã, volume 1).

Sete anos depois, no alvorecer do século XX, a Itália envia emissários ao Brasil para visitar esses imigrantes, a fim de conhecer a condição de vida deles. Para o Espírito Santo e Minas Gerais foi enviado o comissário, jornalista, Arrigo De Zettiry. A imigração havia cessado, o preço do café havia despencado, valendo dez vezes menos que na década anterior. É nesse contexto que se dá a visita de De Zettiry ao Brasil, com a incumbência de manter contato com seus compatriotas.

A edição em português do relatório de Arrigo De Zettiry é o volume 28 da Coleção Canaã. De Zettiry percorreu a capital e o interior do Espírito Santo em fevereiro de 1902, no encargo de comissário oficial do governo italiano, para visitar as colônias e fazendas de café onde se encontravam as famílias camponesas italianas, em terras mineiras e capixabas. O livro é a tradução da visita que fez ao Espírito Santo em fevereiro de 1902, ou seja, há 120 anos.

O viajante observou que enquanto algumas famílias progrediam, outras lutavam contra as doenças, a falta de recursos e as dívidas, por conta da baixa do preço do café, mas ainda firmes no sonho de far la Mèrica.

O comissário esteve em contato com seus conterrâneos em Santa Teresa, percorrendo o Vale do Canaã, até São João de Petrópolis. Na baía de Vitória conheceu a Hospedaria dos Imigrantes de Pedra ’Água. De trem, seguiu em direção ao interior de Alfredo Chaves, em áreas das antigas colônias de Rio Novo e Castello. Passou por Cachoeiro de Itapemirim em direção ao interior de Castelo, onde manteve contados com famílias de Monte Alverne e das proximidades. No retorno, visitou a fazenda Monte Líbano, em Cachoeiro, onde concluiu seu trabalho.

No prefácio à obra, o jornalista e sociólogo Renzo M. Grosselli, avalia a narrativa de De Zettiry como “interessante e bem escrita, num Espírito Santo que sofria como o resto do Brasil pela grave crise do mercado internacional do café em que se passou em pouco tempo dos 21 ou até 23 mil reis por arroba pelas frutas da rubiácea a 1 mil reis, máximo 1,5, daquele janeiro de 1902. Um desespero para os produtores, tanto para os pequenos agricultores que viviam nos territórios das ex-colônias, ou que trabalhavam as próprias propriedades, quanto para os seus irmãos que foram para o Sul do Estado e trabalhavam sob o domínio dos patrões.”

Havia cerca de 20 mil italianos naquela época no Espírito Santo (aos quais se devem acrescentar milhares de filhos e netos) de acordo com as fontes de De Zettiry que, quase todos ou a grande maioria, eram obrigados a enfrentar a variação do preço café e, portanto, sofrendo num país em que, muitas vezes, as ruas eram intransitáveis e não haviam médicos e padres. E as escolas, que surgiram nas primeiras décadas após a chegada no Brasil, já estavam fechadas, quase todas, porque o Estado estava quebrado e o setor privado não tinha dinheiro para investir em educação.

Grosselli afirma ainda que “sobre De Zettiry não sabemos muita coisa. Era um jornalista e conhecedor, a sua maneira, estudioso do fenômeno migratório italiano, principalmente, para Argentina e Brasil. Trabalhou como jornalista para a Prensa de Buenos Aires e se mudou para o Brasil, onde havia sido convidado pelo diretor do Jornal do Commércio para fazer uma investigação sobre as condições de vida dos italianos que trabalhavam nas plantações de café.”

Para a mesma tarefa, foi contratado o jornalista Adolfo Rossi para percorrer as colônias e fazendas de São Paulo, que também produziu seu relato. Com base no “Relatório Rossi” o governo italiano baixou o Decreto Prinetti, ainda em 1902, que proibiu a emigração subvencionada dos seus camponeses para o Brasil. Decerto, o relatório de De Zettiry também contribuiu para essa decisão.

“Viagem às colônias italianas do Espírito Santo – onde estão e como vivem os camponeses italianos do Espírito Santo – 1902”, é a versão do original em italiano Condizioni dei coloni italiani negli stati di Spirito Santo e di Minas Geraes (Brasile). Tradução de Nerina Bortoluzzi Herzog, com prefácio do sociólogo Renzo M. Grosselli.


Resenhista

Cilmar Franceschetto – Jornalista (UFES), pesquisador da imigração no Espírito Santo.


Referências desta Resenha

DE ZETTIRY, Arrigo. Viagem às colônias italianas do Espírito Santo: onde estão e como vivem os camponeses italianos no Espírito Santo – 1902. Vitória: APEES (Coleção Canaã n.28), 202. Resenha de: FRANCESCHETTO, Cilmar. Viagem às colônias italianas do Espírito Santo. A dura situação dos camponeses italianos em terras capixabas. Revista do Arquivo Público do Estado do Espirito Santo. Espirito Santo, v.5, n.9, 2021. Acessar publicação original [DR]

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