Escritos sobre a história do Piauí – pesquisas e abordagens contemporâneas / Vozes Pretérito & Devir / 2013

Vozes: fenômeno plural e mimético que ecoa como um sopro no ouvido, trazendo o susto, a dúvida, a indagação. Um resoar inquietante que nos leva a re-pensar o fazer. Por outro lado, as vozes também podem surgir como facho de luz lançado por um farol distante em meio à escuridão do mar longínquo e soturno, ou se apresentar como um brilho resplandecente que ilumina o caminho pelo qual iremos trilhar em nossa incursão intelectual com empenho e avidez, assim como faz o ogro faminto em busca de sua caça [1].

Pretérito: estilhaço da dádiva de Chronos: o tempo. Dimensão onde se situa o que já se foi, o que se pode sondar, o cogito, e o que jamais se saberá. Caverna incógnita, gélida e sombria, na qual dormitam espectros de outrora, que, desdenhosamente, despertam para nos assombrar no presente [2]. Mas é nesta extensão / redução de tempo que montamos o ‘‘maquinário’’, tecemos e desmanchamos utopias. É nesta dimensão irregular, onde se edifica a morada do historiador, sua oficina ou seu tear [3].

Devir: metamorfose incessante que subtrai o regular, o estável, aquilo que era, que se dizia “certo”. Força que traciona as engrenagens das curvas das horas e dissipa a natureza torpe da inércia no tempo. A mesma força que escava caminhos para outras possibilidades, remodelando e diluindo as certezas, pois, nos campos e canteiros da história [4], se lança dúvida a quem se diz deter a verdade e presta-se tributo àquele que sempre se encontra à sua procura, num incessante ato de perscrutar o “vir a ser”.

Vozes, Pretérito e Devir três elementos que se apresentam forjados pela áurea da subjetividade, categorias com as quais o historiador se depara como entidades inerentes ao seu oficio. Por tal fato, pareceu-nos sugestivo fazer desta tríade o nome que chancela a primeira revista eletrônica de história filiada à Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Por meio deste periódico, de operacionalidade semestral, almejamos dar feição a um veículo interativo que venha oportunizar a possibilidade de divulgação e aferir visibilidade às produções acadêmicas e suas implicações com a realidade social. Nosso público alvo está centrado em professores, estudantes e demais pesquisadores de áreas das ciências humanas que tenham interesse em pesquisar e / ou publicar produções de seus respectivos estudos e trabalhos no campo da história local, regional ou (inter)nacional.

Os artigos presentes no corpo desta edição inaugural são resultados de estudos e pesquisas históricas nas mais variadas perspectivas. Todavia, ao tempo em que se propõem enquanto contribuições que constituirão a feitura deste exemplar, suas relevâncias vão para além de escritos que estabelecem o conhecimento sobre uma determinada abordagem historiográfica, pois eles também estarão territorializando a abertura de um novo espaço de interação intelectual. Um domínio voltado à produção do saber histórico em diálogo com suas propriedades epistemológicas e com outras áreas do conhecimento.

Em sua composição, a revista se encontra dividida por seções. Através das mesmas, procuramos contemplar as seguintes proposições de análise: dossiê temático, artigos, seção especial, resenha e monografias: resumos expandidos. Elegemos “Escritos sobre a história do Piauí – pesquisas e abordagens contemporâneas” como proposta inicial de discussão temática. A partir deste dossiê, iremos nos deparar com as mais diversas pesquisas e discussões incorporadas a distintos objetos de estudos situados na dimensão local. A seção de artigos se oferece como espaço para a publicação de temáticas livres, ampliando assim a inclusão de discussões concernentes ao conteúdo proposto para composição deste periódico.

Ainda contamos com uma seção especial, que estará aberta a produções que possam adicionar materiais de relevância para a reflexão do pensamento na história. A ela também irá se destinar outros trabalhos, como traduções, publicação de fontes, entrevistas, e artigos de outras áreas que possam subsidiar um diálogo com a história. A seção de resenhas será dedicada à análise e comentários de obras contemporâneas e de relevância para os estudos históricos. A última seção é dedicada a resumos expandidos de trabalhos monográficos, por meio desta seção objetivamos abrir espaço para que os estudantes recém-graduados possam divulgar o resultado de suas pesquisas acadêmicas.

Muito do que confrontamos ao itinerar pelas edificações desta revista, é fruto do apoio e trabalho coletivos. Por esse fato, aproveitamos tal momento para ressaltar a inestimável colaboração daqueles que se propuseram a contribuir com opiniões, avaliações e diálogos acerca das diretrizes pelas quais poderíamos trilhar através deste periódico. Assim sendo, agradecemos aos professores que aceitaram prontamente o convite para compor os conselhos editorial e consultivo. Também gostaríamos de agradecer a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente para a efetivação deste projeto, em especial, citamos o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Piauí – FAPEPI – pela liberação do espaço on-line para armazenar o conteúdo digital, à Pro- Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis – PREX / UESPI – pelo apoio institucional neste empreendimento.

Do mesmo modo, agradecemos às pessoas de Gustavo Lima, pelo fundamental auxílio na configuração do espaço on-line, Jairon James, pelo auxílio no desenvolvimento da logomarca e layout da revista, Domingos Cavalcante Carvalho Jr., pela catalogação e encaminhamento de registro do periódico junto à biblioteca nacional. Agradecemos também a Dennison de Oliveira, pelas conversas iniciais e sugestões para a estrutura composicional da revista, e à Méri Frotscher – eterna gratidão – pelas consultas, orientações, e inspiração do modelo de trabalho que aqui foi impresso (muito deste projeto se deve a você).

Por fim, fica o convite à toda comunidade acadêmica, e geral, para apreciar nossa edição inaugural. Esperamos que esta seja a primeira de muitas edições a serem produzidas no exercício de elaboração do conhecimento histórico. Encerramos esta apresentação colocando em tela a simplória e clássica indagação de Michel de Certeau, a qual nos remete à meditação sobre o papel do historiador em seu exercício intelectual. Afinal, “o que fabrica o historiador quando ‘faz história’?” [5].

Notas

1. BLOCH, Marc. Apologia da História, ou o Ofício do Historiador, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2002.

2. ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

3. ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. O Tecelão dos Tempos: o historiador como artesão das temporalidades. Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 4, Nº19, Rio de Janeiro, 2009.

4. BOUTIER, Jean & JULIA, Dominique (orgs). Passados recompostos: campos e canteiros da História. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.

5. CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982.

Francisco Chagas O. Atanásio

02 de Janeiro de 2013.


ATANÁSIO, Francisco Chagas O. Apresentação. Vozes Pretérito & Devir. Teresina, v.1, n.1, 2013. Acessar publicação original [DR]

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