500 anos do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente | Signum – Revista da ABREM | 2017

Como já nos ensinou Ítalo Calvino, “clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”1. Por isso, novos leitores e leituras de um texto dito clássico estão sempre em demanda daquilo que ainda não foi dito, numa busca intensa e renovada por atualizações e ressignificações. Como comprova este Dossiê, o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, é uma obra clássica da dramaturgia em língua portuguesa, e, somando-se ao que já foi dito por sua longa fortuna crítica, vários foram os colegas que aceitaram nosso chamado em demanda do ainda não dito ou de renovação do já dito sobre Inferno. Alinhado à tradição do teatro produzido na Idade Média europeia, constituindo-se como Moralidade, gênero dos mais frutíferos da dramaturgia medieval, renovando e ressignificando a representação do momento de passagem da vida para a morte, a partir da cristianização do tema proveniente da Antiguidade da travessia do Lette, rio do Esquecimento, e encenando um assunto caro a sua época, o julgamento final a que toda alma terrestre deve se submeter no pós-morte, Inferno é um clássico extremamente atual. As inquietações que movem suas personagens são ainda nossas, pois como nos lembram, ao final do auto, os Cavaleiros de Cristo, “na vida perdida/ se perde a barca da vida”. Leia Mais