O objeto de estudo da Museologia – MENSCH (C-RMAX)

MENSCH, Peter van. O objeto de estudo da Museologia. Tradução de Débora Bolsanello e Vânia Dolores Estevam de Oliveira. Rio de Janeiro: Uni-Rio/UFG, 1994. 22p. Resenha de: SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Canindé – Revista do Museu de Arqueologia de Xingó, Xingó, n.2, dez. 2002.

Fabrícia de Oliveira Santos – Mestranda em Geografia na Área de Concentração II – Formas e Processos Tradicionais de Ocupação Territorial – Estudos Arqueológicos.

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Paleoclimatology, reconstructing climates of the quaternary – BRADLEY (C-RMAX)

BRADLEY, Raymond S. Paleoclimatology, reconstructing climates of the quaternary. International Geophysics Séries. Volume 64. Second Edition. Massachusetts: Amberst, 1996. Resenha de: PINTO, Josefa Eliane Santana de Siqueira. A importância da Paleoclimatologia para os estudos arqueológicos. Canindé – Revista do Museu de Arqueologia de Xingó, Xingó, n.1, dez. 2001.

A Paleoclimatologia é o estudo do clima no período anterior as medidas instrumentais. Os registros instrumentais dão uma cobertura apenas de uma pequena fração da história do clima da terra, promovendo uma perspectiva inadequada na evolução do clima atual. Uma longa perspectiva na variabilidade do clima pode ser obtida através do estudo de fenômenos naturais dependentes ou relacionados com o clima, por aproximação.

Na flutuação climática a possibilidade de identificar causas e mecanismos de variações do clima é aumentada. Assim os dados de Paleoclimatologia promovem a base para testes de hipóteses sobre as causas de mudanças do clima. Somente quando as causas da variação passada dos climas forem entendidas será possível prever antecipadamente o clima do futuro.

É nesta perspectiva que a obra Paleoclimatologia, Reconstruindo Climas do Quaternário, de Raymond S. Bradley, em sua segunda edição, se propõe a discutir as inferências da pesquisa paleoclimatológica, em doze capítulos, explorados em 613 páginas, volume 64 da Série Internacional de Geofísica Bradley prefacia sua obra justificando a ampliação da segunda edição, pela explosão de interesses pela matéria e o avanço das pesquisas. É interessante acreditar que no início dos anos oitenta, a datação de carbono era usada com dificuldade e pouco se conhecia sobre a circulação atmosférica do Atlântico Norte. As primeiras medidas do dióxido de carbono e gelo foram formadas e depois não permaneceram mais da mesma forma. Os modelos de circulação geral eram primários e a simulação paleoclimática era rara. Em contrapartida, hoje é um campo de grande pesquisa sobre o sistema da terra e de vital importância para permitir esta possibilidade de mudanças futuras globais. Como resultado, a literatura sobre o assunto tem crescido imensamente e tem se tornado abundante. Isso é muito difícil no topo de todo o tempo no campo de pesquisa.

Nesta edição, o autor promove uma visão geral e contemporânea do campo, mas reconhece que, inevitavelmente haverão tópicos que ele possa não ter revisado adequadamente. Afirma que certamente existem tópicos que não foram debatidos e representados devidamente. Alguns outros tópicos foram omitidos ou tratados de forma superficial, apenas numa introdução, tais são os perigos de tentar cobrir sobre este enorme campo. Contudo, acredita que existem vantagens em ter uma lente através da qual envolva o campo que está sendo visto.

Inicia a Reconstrução Paleoclimática, com uma introdução, informações sobre a origem do Paleoclima; análises sobre os níveis paleoclimáticos; pesquisa de modelos em paleoclimas. O capítulo dois aborda o clima e as variações climáticas e trata da natureza do clima e suas variações, sistema climático, mecanismos de trocas, balanço de energia entre a superfície e atmosfera, variação climática e variações dos parâmetros orbitais da Terra.

Nos capítulos três e quatro, são discutidos os princípios, as aplicações, alguns problemas e erros dos métodos de datação. Em seguida, dedica um capítulo à contribuição das análises da criosfera para a reconstrução da Paleoclimatologia. Informações paleoclimáticas sobre os sedimentos marinhos e corais mereceram um capítulo, incluindo um levantamento a respeito de estudos sobre materiais biológicos nos oceanos, com referências ao Atlântico Norte, Pacífico e Índico. Aborda outrossim as informações sobre os materiais inorgânicos dos oceanos, importantes registros dos climas passados.

Os capítulos sete e oito exploram as evidências geológicas não marinhas, pelos solos, espeleologia, distribuição e formas de vegetação, fósseis.

Estudos dos pólens também foram contemplados com um capítulo, introduzindo as bases de análise e os métodos, reconduzindo à Paleoclimatologia de registros longos de pólens no quaternário na Europa, nas Savanas de Bogotá, na Colômbia, Amazônia, na África Equatorial e na Flórida.

O décimo capítulo introduz os fundamentos da Dendroclimatologia, evoluindo, no capítulo seguinte, para o registro histórico e sua interpretação. Conclui com modelos climáticos, tipos, simulações e experimentos, relações oceano-atmosfera.

Deve-se considerar que o autor, Raymond S. Bradley, ao apresentar discussão de métodos e técnicas propícias para a Paleoclimatologia, tenta desvendar os segredos da previsão eficaz dos climas atuais e futuros, contemplando uma expressiva gama de tópicos, incluindo novas referências que deve inspirar obras similares de interesse específico ao sul dos Equador. Espera-se que os especialistas saibam como trabalhar e também o que fazer com os objetivos gerados pelo livro em mente, sem substitutos originais.

Josefa Eliane Santana de Siqueira Pinto – – 1 Professora do NPGEO/UFS.

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Geologia do quaternário e mudanças ambientais – SUGUIO (C-RMAX)

SUGUIO, Kenitiro. Geologia do quaternário e mudanças ambientais. São Paulo: Editora Paulo’s Comunicações e Artes gráficas, 1999. 366p. Resenha de: FONTES, Aracy Losano. Estudos arqueológicos e do quaternário. Canindé – Revista do Museu Arqueológico de Xingó, Xingó, n.1, dez., 2001.

O desenvolvimento das geociências no Brasil ganhou intensidade maior com a instalação dos cursos de Geologia, a partir do segundo lustro da década de 50. A formação de sucessivas turmas de geólogos propiciou pessoal habilitado para acelerar o conhecimento sobre o território brasileiro e favorecer a expansão da dinâmica Sociedade Brasileira de Geologia (SBG).

Os estudos do Quaternário embora fossem realizados em algumas áreas específicas das geociências, como a geomorfologia e a geotecnia, as primeiras tentativas de integração dessas pesquisas foram iniciadas com o Primeiro Simpósio do Quaternário do Brasil que ocorreu juntamente com o XXV Congresso Brasileiro de Geologia, em 1971 na cidade de São Paulo.

O Professor Doutor kenitiro Suguio é conhecido como autor de vários livros, docente e conferencista de temas ligados às geociências. O compêndio intitulado “Geologia do Quaternário e Mudanças Ambientais” oferece ampla revisão sobre os vários registros do Quaternário – paleoclimático, geológico, geomorfológico, biológico e arqueológico, e apresenta considerações específicas do período em termos de Brasil. Ao tratar do passado e do presente, o Professor se remete a considerações acerca do futuro neste último período do Cenozóico.

A seqüência de treze capítulos trabalhados com a necessária individualidade e a devida interdependência abordam, didaticamente, um Quaternário geológico e antrópico, não descuidando das bases científicas que suportam os fatos ocorridos nesse período da história recente da Terra.

Dando ênfase ao “Período Quaternário”, o autor inicia a obra com noções gerais sobre os seus vários significados a partir do século XVI, subdivisão e duração. Observa-se o cuidado do autor em assinalar as técnicas e os métodos de estudo do Quaternário. A teoria do uniformitarismo, cujo enunciado “O presente é a chave do passado” e a pesquisa integrada são consideradas básicas para estabelecer o elo de ligação entre o passado geologicamente pouco remoto e o presente levando, em situações favoráveis, a tentar estabelecer cenários futuros. Ainda no primeiro capítulo fez um retrospecto histórico dos estudos do Quaternário no Brasil desde a sua descoberta até os dias atuais. Neste item, o enfoque está em apresentar fatos cronológicos ligados ao desenvolvimento dos trabalhos de pesquisadores estrangeiros e nacionais de cunhos multi e interdisciplinar, que constituem uma das características marcantes dos estudos do Quaternário.

“As Grandes Glaciações , os Seus Depósitos e as Suas Causas” constituem o tema do segundo capítulo. Após breve caracterização sobre os processos de formação e os tipos principais de geleiras, com indicação de algumas terminologias mais comumente utilizadas, são sucessivamente analisados a topografia glacial (fiordes, circos glaciais, estrias glaciais), os depósitos sedimentares (till, morenas, drumlins e eskers) e a distribuição das geleiras no presente e no passado atribuídas, principalmente, a expansão e retração das geleiras Escandinava, Cordilheirana, Laurenciana e Alpina. São analisados os efeitos múltiplos das variáveis de Milankovitch nas mudanças paleoclimáticas que deixaram inúmeras evidências sobre a Terra.

Assim, segue-se o capítulo III sobre as “Mudanças Paleoclimáticas Quaternárias e os Seus Registros”. Ao lado das glaciações quaternárias outros fenômenos periglaciais pretéritos foram relatados como permafrost, crioturbação molde de cunha de gelo e solifluxão, assim como evidências de fases pluviais na África e no Oeste dos Estados Unidos . As pesquisas biológicas dos estádios glaciais e interglaciais do Quaternário, onde incluem-se as mudanças florísticas e faunísticas, constituem temas de subitens. O autor finaliza o capítulo demonstrando as evidências utilizadas na reconstituição dos climas passados, que vão desde os registros históricos até às feições geomórficas e discorrendo sobre o clima no Holoceno e as questões relativas ao futuro do Homem e de outras espécies de seres vivos quanto ao clima global.

O capítulo IV “As Mudanças de Nível do Mar no Quaternário e os Seus Registros” explicita as bases conceituais – eutasia, isostasia, movimentos crustais – para analisar as variações de nível do mar desde o Último Máximo Glacial (UMG) no Pleistoceno, passando pela fase tardiglacial e terminando no pós-glacial. Focaliza as regiões do mar das Caraíbas onde foram obtidas numerosas datações situadas no intervalo entre 60.000 e 66.000 anos A.P da série de urânio e o litoral da Península de Huon (Nova Guiné) onde foram também reconstruídas as variações dos paleoníveis do mar durante os últimos 120.000 anos, baseadas nas faciologias de recifes de coral. Finaliza díscutindo os indicadores de níveis do mar pretéritos – geológicos, biológicos e arqueológicos.

Ao tratar da “Geomorfologia e dos Depósitos Quaternários” no capítulo V, a preocupação inicial é conceituar e classificar as superfícies geomorfológicas de acumulação e de erosão, enfatizando os processos fluviais e marinhos na formação dos terraços. Mostra que a classificação morfoestratigráfica é uma metodologia muito importante nos estudos estratigráficos do Quaternário porém adverte que se não for devidamente acompanhada por dados fornecidos pelas camadas – chave e informações geocronológicas, pode-se chegar a um quadro equivocado da evolução geomorfológica da área. Finaliza mostrando a relevância da aloestratigrafia na identificação e classificação dos dépositos quaternários.

O capítulo VI versa sobre a “Neotectônica e a Tectônica Quaternária”, iniciando pela exploração dos conceitos do termo neotectônica. Considerações são apresentadas sobre os cinturões móveis, ou seja, as áreas de rochas geologicamente mais novas onde os movimentos crustais pósterciários são intensos, núcleos continentais, fundos submarinos e cadeias mesoceânicas A seguir são discutidas as peculiaridades dos movimentos crustais quaternários em faixas móveis, as fontes de dados para estudos da neotectônica de natureza geológica, geomorfológica, geodésica e histórica ou arqueológica e os métodos de datação usados em estudos neotectônicos.

O capítulo VII direciona-se para a “Estratigrafia do Quaternário”, iniciando por analisar as técnicas de datação relativa – estudo paleontológico, técnicas geomorfológicas e grau de intemperismo químico – e as de datação absoluta – dendocronologia, varvecronologia e radiocronologia. O autor focaliza, ainda nas correlações estratigráficas, a tefrocronologia, a edafoestratigrafia, a bioestratigrafia baseada em microorganismos e a estratigrafia isotópica. Os problemas dos limites estratigráficos do Quaternário são discutidos no final do capítulo.

A temática relacionada com a “Reconstituição de Cenários do Quaternário” ocupa o capítulo VIII. Iniciando por tratar dos registros de fundos submarinos de águas profundas, o autor prossegue analisando a estratigrafia do loess e as pesquisas ambientais desenvolvidas pelo Projeto CLIMAP (Climate Long Range Investagion Mapping and Prediction), a partir de 1971.

O capítulo IX sobre “Relevo Cárstico e a Geoespeleologia”, transmite ensinamentos básicos como definições, tipos de carstes, condições para formação do relevo cárstico e morfologias características. A inserção deste capítulo encontra-se justificada por chamar a atenção para as mudanças paleoambientais, principalmente as de natureza paleoclimática, durante o Quaternário.

“As Mudanças do Nível Relativo do Mar e Paleoclimáticas Durante o Quaternário Tardio no Brasil e a Neotectônica” são temas dos três capítulos seguintes, em 81 páginas. No capítulo X ganham realce as variações relativas do nível do mar e suas conseqüências na sedimentação costeira, as reconstruções e evidências de paleoníveis marinhos na costa brasileira. Os principais estágios da construção das planícies da costa brasileira encerram o capítulo. As mudanças paleoclimáticas durante o Quaternário tardio no Brasil representa o tema do capítulo XI, abordando os estudos palinológicos, antracológicos e arqueológicos, em diferentes áreas do país. Um exemplo citado por Suguio assinala que os dados obtidos na serra de Carajás (PA) podem ser comparados com as informações obtidas sobre a evolução paleoclimática da África Ocidental, nos últimos 20.000 anos, isto é, entre o Último Máximo Glacial e o início do estágio interglacial atual. A neotectônica na Amazônia, na região sudeste e na costa brasileira constituem temas de subitens sobre a Tectônica Quaternária no Brasil, no capítulo XII.

“As Pesquisas Aplicadas do Quaternário” representam o tema do último capítulo, abordando os conceitos fundamentais da geologia ambiental, encarada como uma disciplina destinada a encontrar soluções para os conflitos resultantes da interação do Homem com o ambiente físico.

Diversos aspectos denunciam o cuidadoso preparo da obra. O texto surge com clareza e a preocupação didática também transparece na estrutura dos capítulos e encadeamento dos temas. Vários quadros são apresentados reunindo e sumariando conceitos, as fontes de referência e a aplicabilidade dos mesmos; gráficos e figuras esclarecem, devidamente, muitas das noções expostas. Nos finais dos capítulos encontram-se referências orientando sobre as contribuições importantes e pertinentes ao assunto versado.

Não só pelo aspecto formal, mas principalmente pela amplitude e riqueza de abordagem, a obra “Geologia do Quaternário e Mudanças Ambientais”, de Kenitiro Suguio surge como de grande importância para os cursos de Geografia, Geologia, Biologia e Arqueologia e a muitos outros interessados nos problemas ambientais do Quaternário.

Aracy Losano Fontes – Professora do NPGEO/UFS.

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Sentido oculto dos ritos mortuários: morrer é morrer? – BAYARD (C-RMAX)

BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos ritos mortuários: morrer é morrer? Tradução: Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 321 págs. Resenha de: CARVALHO, Fernando Lins de. Simbologia dos ritos funerários na Pré-História. Canindé – Revista do Museu Arqueológico de Xingó, Xingó, n.1, dez., 2001.

Há, na racionalidade humana, a maior das angústias: a consciência da finitude. A morte, enquanto rito de passagem implica em uma estrutura de sinalização. O rito, profano em sua aparência, abre-se para o sagrado. Na relação entre o caos (morte) e o equilíbrio (vida), os ritos funerários são possuidores da perturbação da morte mas instauram uma nova ordem. A morte introduz a desorganização no processo da vida diária.

As escavações arqueológicas revelam o culto prestado aos mortos na perspectiva de uma continuidade, de uma outra vida. A posição fetal do corpo, dominante nas culturas pré-históricas, simbolizaria um (re) nascimento, na mãe terra e seu fértil útero.

Nas culturas humanas, desde a neanderthal às contemporâneas, há modelos de ritualização do cadáver: aceleração da decomposição, inumação, defumação, embalsamamento, ingestão canibalesca, cremação e outros. Os ritos funerais estão em correspondência com os quatro elementos: o ar, com o cadáver exposto; a inumação no elemento terra, a mais praticada; a imersão no elemento água e , finalmente, o elemento fogo, com a incineração, praticada já no Neolítico. No fundo, apesar de suas múltiplas formas no tempo e espaço, as condutas apresentam um discurso manifesto: a aceitação de uma forma de sobrevivência.

Trata-se da luta humana para dominar simbolicamente a morte, negando a nossa finitude. Em 1968, Arlette Leroi-Gourhan, examinando o chão da tumba neandertalense de Shanidar, no Iraque, mostrou que o corpo fora posto sobre leito de folhas de pinheiro e coberto de flores.

Jean-Pierre Bayard, importante semiólogo francês, disserta com propriedade sobre o assunto, talvez porque “falar da morte é o meio mais eficaz para superar nossa angústia”. Entendamos, portanto, o rito mortuário como um rito de passagem, configurando-se o esquema integração-separação-integração.

O entendimento da morte como um rito de passagem foi genialmente sintetizado por Marguerite Yourcenar em as Memórias de Adriano: “procuremos entrar na morte com os olhos abertos”.

Torna-se necessário morrer para renascer. Esse o constante diálogo homem-natureza em seu eterno cântico de renovação. Somos apenas um momento da vida eterna.

Para algumas culturas aceita-se a reencarnação, baseada na continuidade da consciência. Contos de inúmeros povos exprimem a crença na imortalidade da alma, que passa por diversas fases antes de voltar à terra: a cosmologia primitiva aceita a doutrina dos mundos superpostos.

A reencarnação é o retorno do princípio espiritual a um novo invólucro carnal.

O enterro sistemático dos corpos humanos remonta, pelo menos, a cem mil anos do presente, na cultura neandertalense. Os corpos eram depositados em posições variadas, com o arranjo das sepulturas modificado de acordo com as ferramentas, vestígios de fogueira e restos de animais. Em alguns sepultamentos os corpos eram salpicados de ocre.

Nos sepultamentos o esqueleto passa sempre a ser acompanhado de mobiliário funerário, característica cultural dos sapiens sapiens. As sepulturas passam também a ser agrupadas.

A prática funerária mais utilizada é a do enterramento primário, em covas pouco profundas (0,5m). Quatro as posições principais dadas aos corpos: alongada, semidobrada, amarrada e em flexão forçada (feto).

Em geral, a posição do esqueleto é orientada na linha leste-oeste, com a cabeça voltada para o sol poente. Trata-se, simbolicamente, do reconhecimento dos ciclos da finitude na natureza: o nascer e o morrer do sol. “O sol morre todas as noites, atravessa o mundo das trevas e ressuscita todas as manhãs”. Luz e trevas passam também a estar associadas à vida e morte. Os mortos devem encontrar o caminho do além, o qual, muitas vezes, é situado no oeste, lugar em que o sol desaparece e parece morrer.

Algumas culturas registram também o sepultamento em dois tempos (enterramentos secundários). Os ossos, perdidas as carnes, são exumados e lavados, sendo submetidos a novos funerais. Para Bayard, o rito cinde toda a relação do defunto com a vida terrestre pois é necessário que a carne deixe os ossos para libertar a alma.

No mobiliário funerário os adornos e suas forças simbólicas faziam-se e ainda se fazem presentes em larga escala, caracterizando classe ou posição social do defunto. É provável que flores, penas, agasalhos de pele e outros tenham acompanhado o corpo mas, restam-nos somente conchas, dentes de animais ou humanos, vértebras de peixes, pérolas, seixos, ossos, marfim como vestígios do mobiliário fúnebre, notadamente das culturas pré-históricas. Esses objetos formavam colares, braceletes, pendentes e anéis. Nos vasos funerários restos de comidas que permitiriam ao defunto empreender sua longa viagem. O fogo, em geral símbolo da vida é bem presente nessas cerimônias. Pela oferenda depositada sobre ou na sepultura estabelece-se um vínculo entre os vivos e os mortos.

Os artefatos líticos, pingentes de conchas e outros foram executados para embelezar a sepultura e nunca usados.

Todas as civilizações, desde os tempos mais remotos afirmam que o homem tem vários corpos invisíveis (almas), os quais, na hora da morte, separam-se do corpo físico e continuam a viver em outro espaço cósmico.

Para o autor, segundo os ritos funerários das diversas religiões, a alma do defunto comporta-se como o faria a de um mortal: procura um lugar privilegiado, atravessa países desconhecidos e empreendem viagem longa e penosa; depois de muitas armadilhas, o defunto chega a outro mundo, cuja organização assemelha-se à do clã do qual ele provém e no qual a vida é muito mais feliz. Em todas as épocas o homem procurou penetrar esse mistério e aprofundar essa tênue faixa imprecisa entre a vida e a morte. Todos os povos, em todos os tempos, dedicaram e dedicam, com o culto dos antepassados uma festa ou data específica anual, a fim de honrarem seus mortos.

Para o ser humano primitivo a morte definitiva não existia e continuava sua vida em outro mundo. A relação dialogada com o universo cósmico e os reinos vegetal e animal comprovam essas transformações constantes: o que nasce, morre e renasce. A imortalidade se identifica com o princípio de todas as coisas, restaurado em seu estado primordial.

Humanos, não somos mais que um instante na eternidade. A vida terrestre é somente uma parcela de nossa vida cósmica.

Bastante inspirador, o livro SENTIDO OCULTO DOS RITOS MORTUÁRIOS: MORRER É MORRER?, numa apresentação elegante e uso de ilustrações, peca em um ponto específico: não verticalizar alguns tópicos que são essenciais e ser repetitivo em outros. No entanto, o que não falta na obra de Bayard é matéria de reflexão e debate. Tais lacunas não comprometem a continuação da obra para os estudos da interface entre a vida e a morte em suas múltiplas linguagens. Há ainda um longo caminho a percorrer.

Fernando Lins de Carvalho – Professor do Departamento de Ciências Sociais.

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Canindé | UFS | 2001-2008

Caninde1 Canindé | UFS | 2001-2008

O Projeto Arqueológico de Xingó editou, entre 1997 e 1998, 14 números de sua publicação seriada CADERNOS DE ARQUEOLOGIA que, apesar das limitações de forma, cumpriram seu papel na divulgação de partes do relatório do salvamento arqueológico realizado nessa área do Baixo São Francisco.

Quando da criação, pela Universidade Federal de Sergipe, do Museu de Arqueologia de Xingó – MAX, e da elaboração do seu plano qüinqüenal de consolidação e desenvolvimento, foi prevista a continuidade de publicação dos CADERNOS. A realidade do Museu mostrou, todavia, a necessidade de ser dado um salto de qualidade em sua publicação seriada, com apresentação compatível com a posição do MAX no cenário científico nacional e capaz de agregar a produção técnica dos seus arqueólogos e de outros centros de pesquisa do país e do exterior.

Assim, em substituição aos Cadernos de Arqueologia, nasceu a Canindé – Revista do Museu Arqueológico de Xingó (2001-2008), com um número anual e constituída de artigos, notas e resenhas. Destina-se à divulgação, sobretudo, de trabalhos na área de Arqueologia, sem esquecer temas correlatos de Geografia, Antropologia, História e outros de interesse.

A publicação da nova revista tornou-se possível graças ao patrocínio da PETROBRAS e ao expressivo apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Canindé de São Francisco e da CHESF/Programa Xingó.

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