An Empire of Print: The New York Publishing Trade in the Early American Republic – SMITH (THT)

SMITH, Steven Carl. An Empire of Print: The New York Publishing Trade in the Early American Republic. University Park, PA: The Pennsylvania State University Press, 2017. 264p. Resenha de: ARENDT, Emily J. The History Teacher, v.52, n.4, p.727-728, ago., 2019.

New York City has long been considered the center of the American publishing industry. Although scholars have examined the mid-nineteenth-century figures— titans like George Palmer Putnam and the Harper Brothers—who are often credited with establishing the Big Apple’s preeminence in the book trade, Steven Carl Smith offers a rewarding glimpse into the lesser-known figures who preceded them and laid the crucial groundwork for print culture to flourish in the United States. Tracing the rise of New York’s publishing industry from the 1780s through the 1820s, Smith demonstrates how those involved in the book trade (printers, publishers, and booksellers) built local, regional, and national networks that allowed them to supply domestically manufactured books to a “population that had an insatiable appetite for knowledge” (p. 5).

Smith accomplishes this task through five extraordinarily well-researched case studies, most of which are organized around a key figure in the industry. The first looks at Samuel Loudon, an on-again, off-again state printer, to illustrate how printers helped rebuild political communication networks following the Revolution. Next, Smith uses William Gordon’s history of the American Revolution and its roundabout path to publication in the United States to argue that the domestic publishing industry played a vital role in the project of nation building. His next chapter reveals the power of printers to divide rather than unite Americans by exploring the bookshop politics of John Ward Fenno, a devoted Federalist who challenged Republican competitors and reflected the growing partisan spirit gripping the country by the late 1700s. The next case study focuses on the literary fairs that proved pivotal in crafting the trade into a movement for national self-sufficiency, as printers and publishers convinced booksellers and consumers to buy American-made rather than imported texts. The final chapter surveys the emergence of a national book trade as exemplified in the work of Evert Duyckinck, an enterprising capitalist involved in the sale and distribution of texts—especially cheap schoolbooks—that he solicited based on a keen understanding of what American readers wanted and needed. These examples demonstrate the key role played by early printers, publishers, and merchants in making New York’s publishing trade nationally significant.

Although An Empire of Print primarily offers an in-depth look at some major players in the emergence of a domestic publishing industry, Smith also provides a useful contribution to bigger debates over the rise of the market economy and the creation of a national print culture that connected Americans together through the act of reading. Indeed, he very successfully shows that the distribution networks built by men like Fenno and Duyckinck helped shape a national market for printed works well before 1830. Although it is intuitive that the creation of a national print market would entail the emergence of an “imagined community” of diverse readers, further examination of reception alongside distribution is warranted. In all, however, Smith’s impressive use of newspapers, personal correspondence, estate inventories, account books, and other financial records offers ample evidence to support his contentions.

While this monograph will prove essential reading to scholars interested in the history of the book in early America, it is probably not appropriate reading for most students at the secondary level or in college survey courses. I can imagine, however, that motivated educators would find much of interest and use in preparing lessons on the early republic. In particular, the chapters on print and ideology could be used as background for really excellent lessons incorporating primary sources into the classroom. For instance, Gordon’s History of the Rise, Progress, and Establishment, of the Independence of the United States, the topic of Chapter 2, is readily available in digitized forms and could be excerpted for students to explore how printers in the late 1700s “helped shape the new nation’s understanding of its history and its possibilities for the future by creating a national reading public attentive to its recent past” (p. 46). The third chapter on Federalist John Ward Fenno could likewise provide inspiration for educators interested in helping students explore the rancorous partisan print culture of the 1790s so readily apparent in periodicals from the time. Well-written and meticulously researched, this volume offers an important look at how New York’s publishing industry helped shape the social, economic, and political life of the early republic.

Emily J. Arendt – Montana State University Billings.

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Brasil fora de si: experiências de brasileiros em Nova York / José C. S. B. Meihy

Desde a última década, o tema Migrações Internacionais tem tido cada vez mais destaque na imprensa nacional e internacional através de notícias, reportagens especiais e, mais recentemente, da telenovela. A cada dia novos números e informações são divulgados, mostrando faces até então desconhecidas do fenômeno emigratório.

No Brasil, o tema vem sendo estudado por pesquisadores de diferentes universidades, o que tem colaborado para a ampliação do número de livros sobre o assunto.

Entre os estudos publicados recentemente sobre as Migrações Internacionais, um dos mais instigantes é, sem dúvida, o do historiador e professor da Universidade de São Paulo, José Carlos Sebe Bom Meihy.

Lançado em 2004 pela Parábola Editorial, Brasil fora de si: experiências de brasileiros em Nova York, é o resultado de mais de cinco anos de pesquisas e de milhares de horas de convívio do autor junto a brasileiros residentes na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Ao todo foram cerca de 700 entrevistas gravadas com emigrantes oriundos de diferentes regiões do Brasil.

O que fazem estes brasileiros na quarta maior cidade do mundo? Como chegaram até ela? Como se relacionam com os espaços da cidade e seus diversos habitantes? Como vêem o Brasil a partir dos Estados Unidos? Para responder a estas e outras perguntas, José Carlos Bom Meihy busca, através da história oral, “dar ouvidos” aos sujeitos envolvidos no processo emigratório. Segundo ele, seu principal diálogo não foi com a historiografia, mas sim com vidas plenas de contradições, de “certezas provisórias” e pontilhadas de “mas”. De fato, ao longo do livro não há aquelas intermináveis citações ou mesmo diálogos codificados com outros autores, os quais aparecem com freqüência em muitos escritos acadêmicos.

Nas quatro partes que compõem o livro, ganham voz inúmeros personagens que, em sua maioria, enfrentam diariamente os desafios de viver na ilegalidade, fugindo o tempo todo dos agentes da Imigração Americana. Boa parte destes brasileiros ou “brasucas”, conforme os designa Bom Meihy, tem dificuldades em aceitar a sua condição de imigrantes, preferindo se dizer “de passagem” ou “em trânsito”, mantendo a idéia de um “retorno iminente” e desenvolvendo uma “saudade crônica” do Brasil, que só é aliviada nas gerações que se sucedem, as quais crescem com outros problemas.

Segundo o autor, falta a estes “brasucas” coragem de assumir que suas experiências fora do Brasil extrapolam os limites da aventura episódica e se constituem em um processo emigratório de grandes proporções. Esta falta de “consciência emigratória” deve-se em parte à tradição de que imigrantes foram os europeus e demais grupos que chegaram no Brasil especialmente no século X IX e não os atuais imigrantes que são brasileiros de nascimento e de aceitação irrestrita.

Muitos destes novos imigrantes, segundo Bom Meihy, deixaram o Brasil no final dos anos 80 e início dos anos 90 em meio a planos econômicos e políticas de governo fracassados. A maioria deles recebeu influência de notícias que mostravam o exemplo de pessoas que alcançaram sucesso ao sair do país. Estas notícias, em um contexto mundial de crescente desemprego, acabaram surtindo muito efeito. No entanto, somente as notícias e as razões econômicas não explicam a presença de brasileiros em Nova York. Conforme mostra o autor através de suas entrevistas, existe uma teia complexa de justificativas que extrapolam as macro-explicações acadêmicas.

Entre as estratégias usadas atualmente por milhares de migrantes para entrar em território estadunidense estão os “vistos de entrada”, a fronteira com o Canadá e, principalmente, a fronteira do México, onde age uma rede de coiotes transportando migrantes de um lado ao outro. Destas estratégias, Bom Meihy destaca em seu livro o uso sistemático do visto de turista como uma das formas mais utilizadas até 2001, quando ocorreram os atentados de 11 de Setembro. Após entrarem nos Estados Unidos como turistas, muitos migrantes ali permaneciam depois de vencidos os prazos, colocando-se na condição de ilegais ou regularizando sua situação através da mudança para a condição de estudante, conseguindo autorização de trabalho ou arranjando casamentos de fachada. Depois do 11 de Setembro, no entanto, aumentaram as dificuldades para entrar naquele país.

Da mesma forma, aumentou o número de brasileiros presos ao tentar atravessar clandestinamente a fronteira via México.1 De todas as cidades destino nos Estados Unidos, uma das que mais possuem brasileiros é Nova York. É esta também uma das cidades menos estudadas por pesquisadores brasileiros interessados em entender o processo de deslocamento Brasil-Estados Unidos, segundo Bom Meihy.

Nova York constitui um “expressivo campo de provas” que acolhe multidões de diferentes países. É nela que há a “reinvenção de nichos culturais” materializada em restaurantes, lojas, mercados, escolas, hospitais e igrejas que servem para afirmação e constituição de identidades de grupos étnicos, num jogo de resistência e negociação em que, ao invés da cópia perfeita, os imigrantes se valem de um “arremedo” da cultura do seu país. No caso dos brasileiros de Nova York, isto ocorre, entre outros lugares, em um espaço chamado Uttle Brasil, nome dado à rua 46, no centro de Manhattan, onde acontecem anualmente as comemorações do Sete de Setembro.

Na segunda parte do seu livro, intitulada Sobreviver e Sobre o Viver, o autor mostra que o trabalho é um dos temas recorrentes quando o assunto é a manutenção dos brasileiros nos Estados Unidos. Nesse país, a aceitação da mudança de profissão e da condição de trabalho antes exercido é uma condição incontornável para aqueles que estão determinados a ficar. “Os brasucas, como também outros participantes de fluxos imigratórios, quase sempre, partem do princípio de que, pelo menos em uma fase introdutória, têm de aceitar a mudança de função, fazendo o que aparecer”. Assim, advogados lavam pratos, engenheiros entregam pizza, assistentes sociais fazem faxina, dentistas viram dançarinas.

Os depoimentos colhidos pelo autor, ao mesmo tempo em que mostram a tentativa de superação das dificuldades enfrentadas, também denunciam o lado trágico da emigração: longas jornadas de trabalho sem direito a descanso, subemprego e, em alguns casos, formas de trabalho escravo. O índice dos que falam inglês é baixíssimo. Por isso, muitos têm que se submeter a outros brasileiros, limitando-se a “trabalhos silenciosos” em que se pode fazer algo sem muitas palavras.

O envio de dinheiro para os que ficaram no Brasil é uma das práticas mais comuns entre os imigrantes. Há os que remetem dinheiro porque têm e querem, e os demais que, mesmo não podendo, acabam por fazer sacrifícios inacreditáveis “tanto para satisfazer a fantasia dos familiares quanto pela própria incapacidade de admitir o fracasso”.

Entre os trabalhos exercidos por brasileiros em Nova York e que foram estudados por Bom Meihy estão os de engraxate, empregados de restaurantes, motoboys, pedreiros, jardineiros, dançarinas e dançarinos e a faxina. Em cada um desses casos, o autor revela vidas em meio à compra e venda e disputas por “companhias” ou pontos de trabalho, “aluguel de empregos”, com subcontratação entre os próprios brasileiros, envolvimentos com redes internacionais de prostituição, além de inúmeros outros desafios.

Na terceira parte de seu livro, o autor faz um exercício metodológico de costura de histórias de vida distintas. Nesta parte, assim como nas anteriores, alguns depoimentos são transcritos na íntegra, dando ao leitor a possibilidade de conhecer mais do que apenas fragmentos de entrevistas. No entanto, para além dos depoimentos orais, agora também são utilizados outros documentos, como são os casos das cartas e do diário de uma jovem brasileira a que o autor teve acesso.

J á na quarta e última parte do seu trabalho, Bom Meihy mostra a situação dos brasileiros nos Estados Unidos após o 11 de Setembro. Nesta parte, ele trata, entre outros assuntos, daqueles que decidiram voltar ao Brasil e mostra que muitos retornados percebem que tudo mudou e, em muitos casos, que se equivocaram ou tiveram uma “saudade traída”, como afirmou um dos entrevistados, quanto ao que imaginavam que iriam encontrar na volta ao país de origem. Depois disso, já não conseguiam ficar “nem lá, nem cá”, pois suas identidades, memórias e percepções sobre ambos os espaços foram abaladas. Na opinião do autor esta é a dura realidade de uma comunidade “transterrada e em febril transe cultural”, cujas memórias estão “em constante ebulição”.

O autor conclui seu trabalho criticando o que ele chama de “clã intelectual”, ou seja, aqueles que se preocupam apenas com o debate teórico, deixando de lado experiências vivas do fenômeno emigratório.

Brasilfora de si é, sem dúvida, um convite à reflexão e mudança de atitude, tanto por parte de historiadores e demais pesquisadores, quanto por parte de governos e autoridades públicas que sistematicamente têm fechado os olhos e ouvidos para o dilema de milhares de seres humanos que deixaram e continuam deixando o nosso país.

Notas

1 Somente entre outubro de 2004 c março de 2005, de acordo com reportagem do jornal Correio Bra^iliense, publicada em 24 de abril deste ano, foram mais de 10 mil brasileiros presos, muitos de uma mesma família, inclusive crianças.


Adriano Larentes da Silva – Universidade Federal de Santa Catarina MEIHY, José Carlos S. B. Brasil fora de si: experiências de brasileiros em Nova York. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. Resenha de: SILVA, Adriano Larentes. Textos de História, Brasília, v.13, n.1/2, p.239-243, 2005. Acessar publicação original. [IF]