História e histórias do léxico: diferentes perspectivas | LaborHistórico | 2020

“[…] o léxico representa a janela através da qual uma comunidade pode ver o mundo, uma vez que esse nível de língua é o que mais deixa transparecer os valores, as crenças, os hábitos e costumes de uma comunidade […]” (OLIVEIRA; ISQUERDO, 2001, p. 9)1

Justamente por vermos o mundo de uma forma singular, através de janelas diferentes, este dossiê recebeu muitos textos sobre temas das ciências do léxico em diferentes perspectivas. O presente número da revista LaborHistórico inclui um dossiê temático sob o mote de “História e histórias do léxico: diferentes perspectivas”. A esse dossiê se somam, sob o mesmo tema, um glossário relativo a uma fonte linguística e, também, a resenha de uma obra de referência na área da Lexicologia.

No dossiê temático são reunidos 22 artigos que representam vários âmbitos, domínios e abordagens das chamadas “ciências do léxico” − lexicologia, lexicografia e terminologia, com as suas sub-especialidades −, abrangendo quer uma perspectiva diacrônica quer uma perspectiva sincrônica. Plasmada no índice, a organização dos textos obedeceu a uma dupla lógica: arrolar, por um lado, os trabalhos que tratam de problemáticas ou assuntos de cariz geral em algumas das três áreas acima mencionadas e considerar, por outro, tanto quanto possível, o arco cronológico contemplado em cada trabalho.

Assim, o dossiê abre com um artigo de Susana Maria Duarte Martins (Universidade Nova de Lisboa) sobre A definição enquanto elemento nuclear na organização do conhecimento: das teorias epistemológicas à formulação de definições em Língua Natural (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35130), trabalho no qual a autora tece considerações epistemológicas a propósito do conceito de “definição”, que é fundamental na investigação desenvolvida no âmbito das ciências do léxico.

A seguir, no trabalho intitulado Ideofones e realia em um dicionário bilíngue Santome/Português (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.33700), Gabriel Antunes de Araújo (Universidade de Macau, Universidade de São Paulo) detém-se na aplicação de dois conceitos linguísticos (“ideofone” e “realia”) a uma obra lexicográfica bilingue que confronta o crioulo sãotomense e o português.

Fenômeno transversal e comum às várias disciplinas que estudam o léxico, a variação lexical coloca problemas de várias naturezas não só aos lexicógrafos como a outros estudiosos do léxico, seja este considerado numa perspectiva histórica, seja numa perspectiva sincrônica. O artigo de Américo Venâncio Lopes Machado Filho (Universidade Federal da Bahia), Ivan Pedro Santos Nascimento (Universidade Federal da Bahia) e Lisana Rodrigues Trindade Sampaio (Universidade Federal do Recôncavo Baiano) contribui precisamente para a reflexão e problematização sobre a Variação lexical no contexto das obras lexicográficas (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.33469).

O contato entre línguas é outro aspecto transversal às disciplinas específicas do estudo do léxico, já que todas elas lidam com os efeitos do contato interlinguístico, vale dizer, da influência das línguas sobre outras. Desse fenômeno trata o artigo Vías de entrada de los lusismos al léxico español (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35098), de Alejandro Fajardo (Universidad de La Laguna), cujo foco está na influência do português sobre o léxico espanhol.

No âmbito da lexicografia, inscreve-se igualmente o trabalho Questões diacrônicas das Ciências do Léxico: a dicionarização de brasileirismos no campo semântico da fauna e flora (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.31887), de Manoel Messias Alves da Silva (Universidade Estadual de Maringá) e Luana Vitoriano (Universidade Estadual de Maringá), que, retomando um tema já clássico nos estudos lexicológicos e lexicográficos do português do Brasil – os “brasileirismos” –, se debruçam sobre o campo semântico da fauna e da flora.

Em seguida, no artigo Tendências metafóricas no léxico português: o que os dicionários não dizem (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35048), Esperança Cardeira (Universidade de Lisboa) e Alina Villalva (Universidade de Lisboa) tratam das tendências metafóricas no léxico português e trazem uma contribuição sobre um tópico candente nos estudos lexicológicos e lexicográficos do português.

Inscrito no domínio da morfologia lexical, o artigo O método histórico-comparativo e a sua validade para o estudo da morfologia lexical: síntese de uma proposta de aplicação ao galego-português e ao castelhano (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35118), de Mailson Lopes (Universidade Federal da Bahia), questiona o método histórico-comparativo como modelo para uma proposta de aplicação a duas línguas, o galego-português e o castelhano, procurando mostrar a validade do referido método.

Na área da lexicologia e, em concreto, no domínio da neologia técnico-científica e no da neologia expressiva (expressiva, humorística e lúdica), insere-se o estudo Renovação do Léxico no Português brasileiro e europeu. Da neologia técnico-científica à neologia expressiva, humorística, lúdica (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.33323), de Graça Rio-Torto (Universidade de Coimbra), que atenta no processo de renovação lexical tanto no português brasileiro como no português europeu.

No âmbito da lexicologia histórica, o artigo Léxico e História da Escravatura: reflexões críticas a partir de documentos históricos (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35125), de Eliana Correia Brandão Gonçalves (Universidade Federal da Bahia), trata do léxico relacionado com a história da escravatura no Brasil, baseando-se em documentos históricos relativos ao Brasil.

Exemplo de uma abordagem histórica em lexicologia, o trabalho Histórias de famílias de palavras: o caso de “laranja” e “cidra” (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35389), de Alina Villalva (Universidade de Lisboa), centra-se no estudo da história de famílias de palavras e, em concreto, nos casos das unidades “laranja” e “cidra”, constituindo um exemplo de investigação de microssistemas lexicais.

No âmbito da lexicologia inscreve-se também o estudo The magic words: Lexicon of the associative field of magic in the medieval cantigas (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35283), de Sandro Marcío Drumond Alves Marengo (Universidade Federal de Sergipe) e de Rafael Marques Ferreira Barbosa Magalhães (Universidade Federal da Bahia), que trata das palavras do campo da magia em cantigas medievais.

Ainda nessa área de especialidade, na interface filologia e ciências do léxico, integra-se a análise realizada por Fidel Pascua Vílchez (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Sermo de vinculis sancti Petri apostoli: un estudio sobre los folios 165v y 166r del manuscrito Ms528 de Cambrai (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.34383), sobre alguns fólios de um manuscrito latino do século XII de autoria desconhecida.

Também no domínio da lexicologia, o artigo de Renata Ferreira Costa (Universidade Federal de Sergipe), de Larissa Pinheiro Santos (Universidade Federal de Sergipe) e de Letícia Santos (Universidade Federal de Sergipe) (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35305) aborda um campo semântico específico, o do curandeirismo, com base inquéritos policiais do século XIX.

Tomando o jornal “A Tarde” (1914-2014) como corpus lexical, Liviane Gomes Ataíde Santana (Universidade Estadual de Feira de Santana) estuda a variação lexical e a implementação da mudança no campo semântico do roubo no material em apreço. O artigo A variação lexical e a implementação da mudança no campo semântico do roubo no jornal “A Tarde” (1914-2014) (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.34021) expõe os resultados do referido estudo.

O trabalho intitulado De “toxicomania” a “dependência química”: uma análise na perspectiva da lexicologia sócio-histórica (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.31526), de autoria de sete pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais – André de Sousa Figueiredo Freitas, Bárbara Vieira de Oliveira, Daiane Soares Bertolino, Leopoldina Aparecida Lopes, Mayta Ferreira Machado, Vinícius Ramede de Paula Pinto e César Nardelli Cambraia –, é um exemplo da uma perspectiva sóciohistórica no âmbito da lexicologia. Nesse artigo, os autores analisam o processo que, da “toxicomania”, conduziu à “dependência química”.

Centrado no romance “Cascalho”, o texto de Antonio Marcos de Almeida Ribeiro (Universidade Estadual de Feira de Santana) – Os tabus linguísticos no romance “Cascalho” de Herberto Sales (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35108) – trata de um problema linguístico e cultural que envolve a sexualidade: os “tabus linguísticos”.

De caráter lexicológico e dialetológico, o trabalho Pelos caminhos do Ceará, por meio das frestas do léxico (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35141), de Expedito Eloísio Ximenes (Universidade Estadual do Ceará) e de Ticiane Rodrigues Nunes (Universidade Estadual do Ceará), explora as “frestas do léxico” no território do Ceará por meio de duas fontes documentais de período distintos.

Da perspectiva dialetológica nos estudos do léxico, temos outro exemplo no trabalho As marcas regionais lexicais do português falado em Colíder – MT (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.34945), de Maria José Basso Marques (Universidade Federal de Mato Grosso) e de Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida (Universidade de São Paulo), no qual os autores recenseiam e estudam os regionalismos do português falado em Colíder, no estado do Mato Grosso.

Em seguida, apresenta-se um trabalho sobre um outro campo das Ciências do Léxico. Da antroponímia, como especialidade no âmbito da onomástica, é exemplo o artigo Recuperando a história do léxico antroponímico brasileiro (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35110), de Juliana Soledade (Universidade de Brasília), que visa recuperar a história de parte do léxico antroponímico brasileiro.

Ainda na esfera da Onomástica, explorando a relação entre antroponímia e toponímia, Jeander Cristian da Silva (Universidade Federal de Minas Gerais) estuda a origem do nome “Betim”, um (antropo)topônimo (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35087).

O artigo Contributos para o estudo da potamonímia portuguesa a norte do Mondego (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.33930), de Carlos Rocha (Ministério da Educação Portugal, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), também traz contribuições para os estudos onomásticos, de forma particular para os estudos sobre a potamonímia portuguesa a norte do Mondego, texto que representa o domínio especializado dos nomes de rios.

Por fim, Thyago José da Cruz (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) apresenta um trabalho Fraseografia: perspectivas históricas, contemporâneas e grau de autonomia (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.34767), que considera as unidades lexicais no plano fraseográfico, avaliando o seu grau de autonomia e trazendo achegas tanto históricas como contemporâneas.

Além dos artigos ora apresentados, o dossiê “História e histórias do léxico: diferentes perspectivas” inclui um glossário e uma resenha. O Glosario de términos astronómicos y astrológicos del Lybro de magyka (Ms. 5.2.32, Biblioteca Colombina, Sevilla) (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.34263), elaborado por Aléxia Teles Duchowny (Universidade Federal de Minas Gerais) e Giovana Figueiredo Santos (Universidade Federal de Minas Gerais), cuja função é registrar e popularizar itens lexicais, compõe-se de unidades extraídas do manuscrito quinhentista “Lybro de magyka”, da Biblioteca Colombina em Sevilha, Espanha. Já a resenha de Cezar Alexandre Neri Santos (Universidade Federal de Alagoas) apresenta e comenta, de forma crítica, a obra “The Oxford Handbook of Names and Naming”, editada por Carole Hough e publicada pela Oxford University Press, em 2016 (https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.32696).

Para realçarmos os temas abordados neste volume, a partir da multiplicidade de domínios e de perspectivas no âmbito das ciências do léxico incluídos neste dossiê, elaboramos uma nuvem com todas as palavras-chave dos trabalhos aqui publicados, sendo que essas palavras foram visualmente hierarquizadas em função do número de ocorrências.

Esse infográfico nos permite reafirmar a diversidade temática de que o léxico é objeto, em “diferentes perspectivas” e, ao mesmo tempo, perceber as múltiplas convergências e cruzamentos possíveis/necessários nessa área de estudo.

Nota

1 OLIVEIRA, A. M. P. P. de; ISQUERDO, A. N. Apresentação. In: OLIVEIRA, A. M. P. P. de; ISQUERDO, A. N. (Orgs.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2. ed. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2001.


Organizadores

Maria Filomena Gonçalves – Universidade de Évora.

Marcus Vinícius Pereira das Dores – Universidade de São Paulo.


Referências desta apresentação

GONÇALVES, Maria Filomena; DORES, Marcus Vinícius Pereira das. Apresentação. LaborHistórico. Rio de Janeiro, v.6, n.3, p. 10-15, set./ dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Encontros com a Filologia | LaborHistórico | 2019

Somos muito solitários nas inúmeras horas de pesquisa com manuscritos velhos (por vezes empoeirados), nas frustrantes tentativas de compreensão das caligrafias, nas leituras interrompidas pelas rasuras, nas dificuldades de acesso aos documentos de processo e de sua publicação […].

(GAMA, 2017, p. 135)1

A Filologia é uma área multidisciplinar com interfaces com diferentes áreas científicas. Prova disso é que não encontramos uma única definição para essa área. Em um sentido lato, o qual nem utilizamos muito no Brasil, Bluteau em seu Vocabulario Portuguez e Latino apresenta a seguinte definição:

Philologia. He palavra Grega composta de Philos, Amigo, e Logos, discurso; e Philologia val o mesmo que Estudo das letras humanas, começando da Grammatica, (que antigamente era a parte principal da Phililogia,) e proseguindo com a eloquencia Oratoria e Poetica, com as noticias da Historia antiga, e moderna, com a intelligencia, interpretação, e Critica dos Authores, com a erudição sagrada, e profana, e géralmente com a comprehensaõ, e aplicação de todas as cousas, que podem ornar o engenho, e discurso humano. Rigorosamente fallando, Philologia he a parte das sciencias, que tem por objecto as palavras, e propriedade dellas. (BLUTEAU, ano, p. 482)2.

Já o Dicionário Houaiss traz, no verbete Filologia, algumas definições com graus de diferenças umas das outras:

Filologia é (1) estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos; (2) estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, baseado em documentos escritos nessas línguas; (3) estudo científico de textos e estabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritos e edições; (4) lat. philologìa,ae ‘amor às letras, erudição, literatura’, do gr. philología,as ‘necessidade de falar, conversação’; (5) parte da linguística diacrônica que trata do estudo comparado das línguas, através de sua origem e evolução, e do confronto com línguas modernas; gramática comparada, linguística comparada. (HOUAISS; VILLAR, 2009, eletrônico, s/p)3.

Castro (1992, p. 124)4, por sua vez, define Filologia como

a ciência que estuda a gênese e a escrita dos textos, a sua difusão e a transformação dos textos no decurso da sua transmissão, as características materiais e o modo de conservação dos suportes textuais, o modo de editar os textos com respeito máximo pela intenção manifesta do autor.

Ao compararmos as definições ora apresentadas encontramos um ponto de convergência: a Filologia como estudo dos textos e dos documentos. Tendo em vista o foco da revista LaborHistórico – estudos desenvolvidos a partir de fontes escritas nos quais se destaque o labor do pesquisador diante de seu material de trabalho – sem excluir as outras definições, tomamos a Filologia como ciência que se ocupa do estudo dos textos e dos documentos para delimitar esse dossiê temático que apresentamos.

O número 2 do volume 5 da LaborHistórico traz a público 16 artigos, três fontes primárias – seção que inauguramos este ano – uma resenha, uma tradução e um trabalho de popularização do conhecimento científico – seção que publicamos pela primeira vez neste número. Contamos com a participação de investigadores de diferentes instituições nacionais e internacionais: Arquivo Nacional (AN/Brasil), Fundação Biblioteca Nacional (FNB/Brasil), Universidade da Beira Interior (UBI), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Tocantins (UFT) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

O primeiro trabalho deste número (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.22954), de autoria do filólogo César Nardelli Cambraia (UFMG), traz uma importante reflexão acerca da proteção dos direitos autorais de um trabalho de edição de fontes documentais. Segundo Cambraia, trata-se de “uma atividade de criação, conferindo o estatuto de autor ao editor e de obra intelectual à sua edição”.

O segundo artigo, de autoria de Elisa Hardt Leitão Motta e Vanessa Martins do Monte (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.29110), apresenta a edição e algumas interessantes reflexões sobre “A carta de Françisca Maria Xavier de Castro Castro”. Esse documento é custodiado pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo e faz parte do corpus do Projeto M.A.P. – Mulheres na América Portuguesa.

No terceiro artigo (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.25097), Juliana Pereira Guimarães disponibiliza, por meio de uma edição diplomático-interpretativa de cartas de comércio do século XVIII, informações de sua pesquisa de Iniciação Científica – ainda em andamento. A autora apresenta alguns comentários paleográficos e diplomáticos que enriquecem o seu trabalho e nos dão mais informações das fontes documentais com as quais trabalha.

No artigo seguinte, de Beatriz Dias Mikhail (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.28873), temos a edição e o estudo paleográfico de um contrato matrimonial do século XVIII. Trata-se de um recorte do trabalho de conclusão de curso da autora que se debruçou sobre parte do registro matrimonial – hoje sob responsabilidade do Museu Imperial (Petrópolis, Rio de Janeiro) – de Dona Maria Ana Vitória de Bragança com Dom Gabriel de Bourbon.

Felipe Veras Andrade e Stephanne Martini Pastore, no artigo “Comparando edições de ‘Senhora’, de José de Alencar: um exercício de Crítica Textual” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.29067), realizam um trabalho de comparação – seguindo as etapas de recensio, collatio codicum e estemática. Os autores fazem uso de dez edições distintas, disponíveis em diferentes suportes, do romance urbano “Senhora”, publicado em 1875 por José de Alencar.

Em “Análise filológica e histórica do Acervo Família Benjamin Constant” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.25039), Catarina da Silva Romeiro e Ana Beatriz Resende de Oliveira apresentam uma etapa metodológica do trabalho que desenvolveram, dentro do projeto “Posição do sujeito e estrutura informacional da sentença na história do Português Brasileiro”. Trata-se de uma pesquisa realizada no Laboratório de História da Língua Portuguesa (HistLing/UFRJ), com algumas cartas pessoais trocadas entre os familiares de Benjamin Constant.

No artigo seguinte, “A Paleografia em prática: a leitura da escrita antiga na contemporaneidade” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.26450), Carolina de Oliveira compartilha um uso efetivo da Paleografia no Arquivo Nacional, mais particularmente no serviço de emissão de certidões e de outros documentos realizado pelo setor de transcrição. Por meio da leitura e transcrição de documentos dos séculos XIX e XX, profissionais que trabalham nessa instituição federal atestam o valor de verdade de informações registradas nessas fontes.

Ana Lúcia Merege, autora do artigo “Desafios e perspectivas frente aos manuscritos da Biblioteca Nacional” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.24922), compartilha com os leitores um incômodo que teve durante o I Colóquio Luso-Brasileiro de Paleografia, realizado no Arquivo Nacional em maio de 2017. Segundo a autora, um palestrante, ao elencar as “várias instituições mantenedoras de documentos antigos ou modernos cuja leitura exige conhecimentos de Paleografia”, deixou de fora a Fundação Biblioteca Nacional, importante instituição custodiadora de uma vasta documentação. Mais que manifestar esse incômodo, Ana Lúcia Merege propõe uma reflexão sobre os possíveis motivos dessa invisibilidade e apresenta algumas relações que a Biblioteca Nacional estabeleceu com outras instituições nacionais e extrangeiras.

O próximo artigo foi escrito por Cila Verginia da Silva Borges, Solange Ribeiro Viegas e por Rosângela Coutinho da Silva (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31099). Essas autoras, de forma a popularizar informações da Biblioteca José de Alencar, na Faculdade de Letras/UFRJ, escrevem o artigo “A Biblioteca José de Alencar: sua história, memória e patrimônio”, que apresenta um histórico da fundação dessa instituição, da inclusão de alguns relevantes acervos e da realização de alguns projetos importantes.

Daví Lopes Franco, Letycia Dias Mallet e Maria Elisa Lima de Souza escrevem o artigo “O Trabalho Filológico de Edição de Textos desenvolvido no Laboratório de Estudos Filológicos da UFRJ” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.30481) com o intuito de divulgar os trabalhos quem vêm sendo desenvolvidos no LabEFil. Esse laboratório, coordenado pelo Prof. Dr. Leonardo Marcotulio, é “um espaço destinado ao exercício e reflexão da prática filológica de edição de textos”5.

“Um Laboratório de Ecdótica no Estado do Rio de Janeiro ou Transmissão e Inovação de uma Tradição Filológica” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.25060), trabalho de autoria de Ceila Maria Ferreira, corresponde a uma apresentação da autora sobre o seu percurso acadêmico e sobre a criação do Laboratório de Ecdótica da Universidade Federal Fluminense no I EnFil: Encontros com a Filologia. Nesse texto, com um certo perfil autobiográfico, Ceila também apresenta uma proposta metafórica de Walter Benjamin, com a qual ela, como filóloga, trabalha: “escovar a história a contrapelo”.

Na sequência, temos o artigo de Maria Gabriela Gomes Pires: “Considerações léxico-culturais da Vila de Catalão (GO): uma análise de Autos de partilhas manuscritos do século XIX” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31083). Nesse trabalho, Maria Gabriela, por meio da análise de dois processos de partilha e inventário de bens e de um processo de conto de testamento de bens, estabelece uma relação indissociável entre léxico e cultura.

O artigo “Amostras históricas do português escrito nos séculos XIX e XX: orientações metodológicas” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.24452), de autoria de Márcia Cristina de Brito Rumeu e seus orientandos – Ana Luisa Póvoa de Souza, Erenildo Queiroz de Souza, Igor dos Reis Alcântara, Gabriela Vilela Souza Martins, Juliana Sander Diniz, Marcos Alexandre dos Santos, Natália Figueiredo Silva, Natália Gontijo Alves, Nayara Domingues Cardoso, Raissa Figueiredo – apresenta o trabalho de construção de corpora históricos. Por receberem um tratamento filológico fidedigno, esses materias podem ser usados como fontes de investigações de diferentes áreas como, por exemplo, pesquisas sobre a “língua portuguesa em terras mineiras no decorrer dos séculos XIX e XX”.

O artigo de autoria de Álvaro Alfredo Bragança Júnior (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.26580 ) apresenta a importância dos estudos de filologia germânica na formação do profissional de Letras. Segundo o autor, é essencial que profissionais das áreas de Letras – em especial de Língua e Literaturas de Língua Alemã e de Língua e Literaturas de Língua Inglesa – tenham uma sólida formação nesse campo dos estudos diacrônicos.

No artigo “O nacionalismo linguístico em obras didáticas do Maranhão do século XIX” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.26901), Yasmine Louro propõe um estudo historiográfico com destaque para os quatro principais materiais didáticos que circularam no Maranhão durante o século XIX. A autora reflete, também, por meio da seleção de alguns vocábulos, sobre a presença de nacionalismo linguístico nas obras analisadas.

O último artigo deste dossiê temático é de autoria do crítico literário e historiador da literatura brasileira, o Professor João Adolfo Hansen. Em “Francisco Suárez e Antônio Vieira: metafísica, teologia-política católica e ação missionária no Brasil e no Maranhão e Grão Pará” (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.29834), Hansen estabelece uma relação entre alguns discursos do padre Antônio Vieira e dois tratados do jesuíta Francisco Suárez sobre “a doutrina do poder da política católica contra as teses do poder político de Lutero, Calvino e Maquiavel”.

Na seção Fontes Primárias, contamos com um trabalho de Leonardo Fontes e Genílcia Silva (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31413) – com um manuscrito de uma carta de brasão de 1563, pertencente ao Arquivo Nacional –; Alberto Martín Chillón (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31134) – com um manuscrito de 1838 conservado no Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro –; e, por fim, um trabalho de Anttony Patrick Dantas da Cruz (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.30735) – que apresenta duas Cartas de chamada, de 1911, pertencentes ao Arquivo Público de São Paulo.

Há, também, neste número, a tradução do texto clássico Diógenes Laércio, livro X: Epicuro, elaborada por Reina Marisol Troca Pereira (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.29961) e a resenha, de autoria de Marcelo Módolo e Maria de Fátima Nunes Madeira (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31061), do volume 1 do livro Crítica textual, de Mendes e Ambrosili, publicado em 2015 pela Fundação CECIERJ.

Fecha este número da LaborHistórico um trabalho de popularização do conhecimento científico, elaborado pelo Professor Carlos Alberto Faraco (https://doi.org/10.24206/lh.v5i2.31122). Nessa seção – pela primeira vez publicada na LaborHistórico – divulgamos o depoimento de relevantes pesquisadores que, por meio de uma linguagem acessível, compartilham um pouco sobre a sua vida como professor-pesquisador e sobre os seus principais trabalhos.

Este número e alguns trabalhos nele publicados foram inspirados no I EnFil: Encontros com a Filologia. Trata-se de um evento acadêmico organizado por alunos de graduação da Faculdade de Letras da UFRJ – todos eles, atualmente, integrantes da equipe editorial da LaborHistórico, que viabilizou “o diálogo entre pesquisadores das diversas áreas do conhecimento em torno ao trabalho filológico e suas interfaces”6.

Quem acompanha a LaborHistórico percebeu que, em 2019, a revista passou por diversas modificações. Com o auxílio de organizadores convidados, publicamos em 2019, em quatro números, 62 trabalhos em seções variadas. Homenageamos duas importantes pesquisadoras brasileiras: a Profa. Dra. Célia Lopes – por ocasião de sua promoção a Professora Titular de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – e a Profa. Dra. Suzana Cardoso (UFBA) – in memoriam.

Isso tudo dá testemunho de como estamos de fato preocupados com a popularização das pesquisas desenvolvidas “a partir de fontes escritas nos quais se destaque o labor do pesquisador diante de seu material de trabalho”7 e com a valorização dos pesquisadores dessas áreas inter e transdisciplinares. Fechamos esse embaraçoso e fatigante ano para a ciência – sobretudo humanas – e para a educação, com um saldo positivo. Se isso que fazemos é “balbúrdia”, precisamos, se já não o fizemos, atribuir um novo significado a essa palavra.

Notas

1 GAMA, M. Como ter leitores para sua pesquisa com manuscritos?. Manuscrítica – Revista de Crítica Genética, n. 32, 2017. p. 135-135. Disponível em: http://revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/view/2813/2391.

2 BLUTEAU, R. Vocabulario portuguez, e latino. Coimbra : Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1713, v. 4.

3 HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Elaborado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. (Eletrônico).

4 CASTRO, I. Enquanto os escritores escreverem… Atas do IX Congresso Internacional da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina. Campinas: UNICAMP, 1992, v. I – Conferências Plenárias.

5 Apresentação do laboratório, disponível em: https://labefil.letras.ufrj.br.

6 Apresentação do evento, disponível em: https://encontroscomafilologia.wordpress.com/.

7 Apresentação da revista LaborHistórico, disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/lh.


Organizadores

Marcus Vinícius Pereira das Dores

Leonardo Lennertz Marcotulio


Referências desta apresentação

DORES, Marcus Vinícius Pereira das; MARCOTULIO, Leonardo Lennertz. Apresentação. LaborHistórico. Rio de Janeiro, v.5, n.2, p. 10-16, jul./ dez. 2019. Acessar publicação original [DR]

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