O ensino de História em questão / Tempos históricos / 2008

Viver “Tempos Históricos” é também uma oportunidade de reflexão sobre as nossas práticas no que se refere ao ofício de Historiador, nos seus diversos desdobramentos, mas notadamente na articulação, que julgamos indissociável, entre ensino e pesquisa.

Mais indissociável, para muitos de nós, é o compromisso social, a partir de um lugar social que formula projetos e alternativas, enquanto uma, senão a principal, razão de ser do nosso oficio.

Afinal, instituir sentidos e significados no presente, a partir do diálogo com experiências e situações vividas em outros tempos, concebemos como parte da luta – e um campo de disputas – que visa estabelecer não só “novas histórias”, mas outras realidades, outros presentes que não este que julgamos marcado e constituído na desigualdade e na exploração de uns sobre outros.

Nesta perspectiva, ensinar história, por exemplo, visa estabelecer oportunidades de interlocução entre sujeitos portadores de conhecimentos e experiências, por vezes, distintas, mediados pela problematização de outras práticas e sujeitos que viveram, em outros tempos e lugares, problemas e situações às quais queremos entender com vistas aos enfrentamentos que elegemos no presente.

Para além de mera escolha de técnicas e metodologias que tornem palatáveis velhas lições e projetos políticos, ensinar história configura-se numa possibilidade de viabilizar críticas à produção de conhecimento, às construções apresentadas como eternas e imutáveis.

Afinal, se algo nos distingue enquanto disciplina é a reflexão sobre as mudanças ou, mais propriamente, as transformações, ao mesmo tempo em que a buscamos na superação de um presente que não nos contempla, ou seja, intentamos entendendo as mudanças / transformações, construí-las.

Assim, não é compatível com a perspectiva de História que propugnamos estabelecer o mesmo, a perpetuação de formulações e entendimentos, ainda que revestidos de belas roupagens, de recursos pirotécnicos, na repetição de velhos conteúdos que fizeram o entendimento do presente de gerações após gerações, com este objetivo: a permanência desta sucessão, tornando a História um campo de especialistas, dos que estão credenciados a dizer, em nome de um poder que alija, o que é e o que não é “histórico”, como um dado universal, que não prescinde de tempo e lugar social.

A vista destes aspectos é que publicamos neste número da “Tempos Históricos” um dossiê sobre ensino de História, visando contribuir com os debates que possibilitem uma reflexão sobre uma dimensão da nossa prática que julgamos de fundamental importância na constituição dos sujeitos promotores de transformações, por eles concebidas, avaliadas e construídas, na superação de divisões que hierarquizam os pensam em os que fazem, em todos os níveis.

Por fim, gostaríamos de dedicar este número da “Tempos Históricos” à Professora Déa Ribeiro Fenelon, que em sua trajetória, participando ativamente – e por meio de diversas práticas que não só a acadêmica – na formação de muitos de nós, fez-se construtora desta História que pensando a transformação, transforma o presente, com vistas a uma sociedade justa e igualitária. Uma historiadora que a partir da sua atuação nos orientou na realização do comprometimento e do engajamento que constitui o profissional de História.

Conselho Editorial da “Tempos Históricos”

Conselho editorial. Apresentação. Tempos Históricos, Paraná, v.12, n.1, 2008. Acessar publicação original [DR]

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