Etno-história indígena: abordagens interdisciplinares / Diálogos / 2017

Com grande satisfação, apresentamos o dossiê “Etno-História Indígena: abordagens interdisciplinares”. Nas últimas três décadas, acompanhamos o crescimento da pesquisa sobre a história dos povos indígenas no Brasil, posicionando-os enquanto protagonistas da história e não apenas como vítimas da inexorabilidade histórica. Essa abordagem trouxe a lume questões e problemas relacionados ao uso de conceitos, e de metodologias. Hoje, existe certo consenso entre os pesquisadores da área de que a reflexão sobre a história indígena deve destacar a importância da conjugação de dados e métodos de várias disciplinas como história, antropologia, arqueologia, linguística, geografia, ecologia, dentre outras, metodologia que chamamos de EtnoHistória. Além disso, é fundamental que se valorize as tradições orais e os conhecimentos desses povos.

Os artigos publicados no dossiê apresentam uma diversidade importante de temas e abordagens, reveladoras do vigor crescente e da atualização da historiografia no Brasil do começo do século XXI, especialmente quando se trata dos povos indígenas na formação da sociedade e do território nacional (ou mesmo para períodos anteriores à chegada dos europeus, com métodos comparados sobre fontes históricas e abordagens multidisciplinares). Tal diversidade é salutar para perceber e dar conta da multiplicidade de eventos e processos ocorridos no Brasil desde o começo do século XVI. Junto com ela é necessário estar disposto a aprender e trocar conteúdos com os desenvolvimentos teóricos e metodológicos realizados em outros países, renovando os eixos temáticos tradicionais que foram estruturados no século XIX.

Ao todo trazemos onze artigos que contemplam diferentes recortes temporais, regionais e diversos povos indígenas.

Lúcio Tadeu Mota, com o artigo “A invasão dos territórios do povo Xetá na Serra dos Dourados/PR em meados do século XX”, apresenta os processo de apropriação e comercialização fundiária no território Xetá na região da Serra dos Dourados, no noroeste do Paraná das décadas de 1940 e 1950.

Em “Caciques sem poder e cacicados negociados nas missões do Chaco”, Guilherme Galhegos Felippe apresenta uma discussão sobre como os missionários, no século XVIII, em busca de uma liderança geral para os indígenas do Chaco, acabaram por constituir o cacicado, anteriormente inexistente, e como os indígenas, nessas relações, se apropriaram e se beneficiaram dessa construção.

O trabalho de João Paulo Peixoto da Costa, “Os índios do Ceará na Revolução Pernambucana de 1817” discute o recrutamento e a participação de indígenas na repressão à Revolução Pernambucana. Os indígenas, na condição de súditos da Coroa portuguesa lutaram em sua defesa. Este artigo dá uma grande contribuição para a compreensão da presença indígena na História do Brasil, fato que merece destaque, pois ainda hoje os indígenas, com muita frequência, são invisibilizados por nossa historiografia não especializada.

Carlos Alexandre Barros Trubiliano, com o artigo “Exploração da força de trabalho indígena na formação dos seringais em Rondônia”, nos leva para a Amazônia do final do século XIX e da primeira metade do século XX. O autor discute as formas de utilização do trabalho indígena nos seringais do atual estado de Rondônia, bem como a expansão das relações capitalistas na região e seu impacto sobre os povos indígenas.

Em “Natureza e Civilização: a resistência indígena e as políticas de aldeamento nas margens dos rios Tocantins e Araguaia (1822-1850)”, Fabíula Sevilha analisa as políticas de aldeamento promovidas pelos presidentes da Província de Goiás entre 1822 e 1850. Para a autora, tais aldeamentos foram uma reação à resistência imposta pelos indígenas à transformação da natureza em “bens de capital”.

Flávio Braune Wiik e Rafael Pereira Simonetti abordam a temática dos discursos e representações produzidos pela imprensa sobre os indígenas. No artigo “Discursos na imprensa sobre índios e caboclos durante o Contestado: o caso do Diário da Tarde”, os autores analisam os discursos publicados no jornal O Diário da Tarde sobre indígenas e caboclos na região do Contestado durante o período da guerra de mesmo nome, ocorrida entre 1912-1916.

Em “A justiça contra o índio Kaiowá, Lucas Antônio Barros: conflitos interétnicos e cotidiano no Aldeamento do Paranpanema, Paraná (1867)”, a partir da análise de um processo crime, Jaisson Teixeira Lino e Ana Paula Galvão de Meira fazem uma análise de conflitos e relações interétnicas no Aldeamento Paranapanema.

“Entre a catequese e a tutela, do aldeamento à povoação: os indígenas de São Jerônimo – PR”, Éder da Silva Novak, demonstra a agência indígena para se manterem em seus territórios diante do avanço da colonização entre 1889 e 1922.

Alexandre Navarro em “As cidades lacustres do Maranhão: as estearias sob um olhar histórico e arqueológico” nos apresenta os resultados de um projeto arqueológico sobre habitações indígenas palafíticas localizadas na Baixada Maranhense, lançando de uma perspectiva multidisciplinar no uso de fontes históricas.

O texto de Francisco Torres Cancela, “Política indigenista e políticas indígenas na antiga Capitania de Porto Seguro no governo de José Marcelino da Cunha (1810 -1819), valorizando o protagonismo indígena, analisa o embate entre as políticas indigenistas e indígenas na Capitania de Porto Seguro durante as primeiras décadas do século XIX.

Fechando o dossiê, em “De aculturado exótico a raiz profunda: indigenismo e história indígena em narrativas de Ailton Krenak”, Cristiane de Assis Portela busca no pensamento do reputado intelectual e ativista das causas indígenas reflexões sobre importantes oposições semânticas presentes no discurso do indigenismo brasileiro.

Uma boa leitura aos colegas estudantes e pesquisadores da história dos povos indígenas.

Francisco Silva Noelli –  Professor aposentado da Universidade Estadual de Maringá, Paraná, pesquisador no Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história (LAEE) da UEM. E-mail: [email protected]

Lucio Tadeu Mota –  Doutor em História pela UNESP/Assis-SP, professor no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Pesquisador no Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história (LAEE) da UEM. Maringá, PR, Brasil. E-mail: [email protected]

Thiago Leandro Vieira Cavalcante –  Doutor em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2013). Atualmente é professor da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD onde atua no curso de Licenciatura e Bacharelado em História e no Programa de Pós-Graduação em História. E-mail: [email protected]

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