Germanismo, barbárie, identidade e alteridade no Ocidente medieval / Brathair / 2015

Germanismo – Barbárie – Identidade – Alteridade no Ocidente medieval / Brathair / 2015

Este Dossiê tem como foco estudos relativos à constituição do Ocidente medieval, com frequência tratados pela historiografia em meio aos debates sobre Antiguidade Tardia ou Primeira Idade Média. Tal campo de estudos encontra-se em afirmação no cenário nacional, impulsionado mesmo por uma nova geração de autores que tem debatido e construído novas abordagens sobre esta temática.

Nas últimas décadas, pesquisadores brasileiros ampliaram suas participações em congressos internacionais e intensificaram o debate com pesquisadores europeus e norte-americanos, dos quais resulta um mútuo crescente interesse de ambos os lados do Atlântico. Este número é uma aposta no desenvolvimento e consolidação de alguns destes nomes na historiografia brasileira, apontando um quadro de renovação e introdução de novos paradigmas, consolidando esta atuação nas áreas da História Antiga e Medieval, em particular.

Apesar das profícuas discussões animadas pela antropologia e pelo panorama político pós-colonial, termos como ‘germanismo’ e ‘barbárie’ costumam ser tratados pela historiografia como princípios cristalizados, muitas vezes antagônicos ao ‘romanismo’ e à ‘civilização’ – todos sendo, ao cabo, ‘mediados’ pelo cristianismo, de acordo com a perspectiva historiográfica tradicional.

Diante de um quadro amplo de discussões pertinentes ao período, a proposta deste Dossiê é a releitura deste binômio não mais como central, mas explorando suas interpretações e características diante de propostas teorizadas que discutam em especial elementos de identidade e alteridade na construção do panorama do Ocidente Medieval no período em questão. Iniciamos nosso com os artigos do professor Paulo Duarte e Nathália Xavier, que comparam o papel dos ‘cristianismos’ galaico e britânico na construção dos regna, “bárbaros”, Suevo e de Kent. Dando continuidade à percepção sobre o papel eclesiástico, devemos destacar como os reinos, comumente chamados germânicos, tiveram na consolidação dos monacatos uma de suas mais importantes bases sociais e políticas de consolidação. Assim os artigos de Alex Oliveira e, em seguida, de Juliana Rafaelli, promovem um quadro complexo da percepção do monasticismo naquele momento.

Uma vez discutido o papel do cristianismo na construção destes reinos, seguimos por caminhos historiográficos que nos permitam consolidar o entendimento da formação destes reinos, assim como as identidades afirmadas e as negadas diante deste processo. Com este fim apresentamos primeiro o artigo do professor Bruno Uchôa, que tem o olhar específico sobre as limitações e potencialidades das pesquisa vinculadas à história da medicina, mas o faz diante do quadro social da chamada Primeira Idade Média. Ainda sob a percepção historiográfica a professora Verônica Silveira, sob um debate que dá tons à controvérsia da identidade, e Otávio Pinto, sob o viés da alteridade, se detêm, respectivamente, nos processos de (re)constituição da identificação de godos e hunos em meio à instalação destes grupos.

Seguem os artigos dos professores Eduardo Daflon e Rodrigo Rainha fazem um abordagem específica sobre ao organização do reino visigodo. Enquanto o primeiro discute as formas de organização do campesinato adotadas no reino, Rainha discute sobre o papel da educação no domínio visigótico, realçando o papel do idoso e suas relações de poder.

A identificação dos “bárbaros” durante a Idade Média não se deteve aos momentos da Alta Idade Média, a identificação do outro foi levada ao outros grupos da Europa Ocidental, esta é abordagem que as professores Célia Danielle, abordando o olhar para os muçulmanos e Marta Silveira sobre os judeus.

Ainda nesta edição apresentamos as resenhas de Jonathas Oliveira sobre o livro de Igor Salomão, que dialoga sobre as relações de poder e a criação da identidade medieval vinculada ao santo; ainda temos a resenha de João de Lupi sobre Maria Antonieta Costa, sobre questões vinculadas a arqueologia atlântica, uma das vanguardas do estudo no século XXI.

Rodrigo dos Santos Rainha – Professor Adjunto – UERJ. E-mail: [email protected]

Paulo Duarte Silva – Professor Adjunto UFRJ. E-mail: [email protected]


RAINHA, Rodrigo dos Santos; SILVA, Paulo Duarte. Editorial. Brathair, São Luís, v.15, n.2, 2015. Acessar publicação original [DR]

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