História & Culturas de Classe | ArtCultura | 2009

Edward Palmer Thompson já assinalou que, com sua confortável evocação da idéia de consenso e compartilhamento, a noção de cultura, tal como freqüentemente foi e/ou é utilizada, pode nos conduzir a perder de vista as fraturas, os conflitos, enfim, as contradições que se manifestam no interior de um determinado conjunto social ou cultural. Percebê-la como algo que no move dentro de um campo de forças é, por isso mesmo, o propósito do dossiê que a ArtCultura 19 oferece aos seus leitores.

Para tanto, é necessário revolver as múltiplas camadas de sentido que, historicamente, se colaram ao conceito de cultura e, cavando mais fundo, remover as crostas que o aprisionaram a uma bitola estreita. Ao quebrar a rigidez de uma visão de corte elitista, o dossiê História & Culturas de Classe — organizado por Paulo Fontes, professor e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDoc/FGV-RJ) — trabalha, à la Raymond Williams, com uma concepção distendida de cultura como modo de vida, ao qual se incorporam, como sujeitos culturais, integrantes das classes trabalhadoras. Se os trabalhadores, como acentuou Gramsci, são, igualmente, intelectuais e filósofos, à sua moda, aqui eles despontam como portadores de práticas reveladoras de culturas de classe, concebidas no plural e entrecortadas pelas relações de gênero. Trata-se, pois, numa palavra, de promover o desencapsulamento de uma dada noção de cultura. Nessa trilha, este número de ArtCultura tem o orgulho de ser aberto, na seção Tradução, por ninguém menos que E. P. Thompson, sem favor algum um dos mais importantes historiadores do planeta, referência e influência marcante nos estudos na área de Ciências Humanas a partir da segunda metade do século XX. Leia Mais